6.6.- Conflito na Jugoslávia
O conflito na Jugoslávia atinge em 1992 proporções tais que a intervenção da comunidade internacional passa a ser imprescindível. Em 1992, Miterrand dá um impulso à CEE para que esta se transforme numa potência política principal do mundo, com a intenção de que a Europa deveria voltar a protagonizar o papel de outroral. O centro do mundo seria a UE que com a sua experiência, reorganizaria o resto do mundo. Assim, a nova UE parte para a cena internacional tentando resolver o conflito na Jugoslávia, com mediadores europeus entre os vários povos e uma conferência que é um fracasso e demonstra que a Europa não consegue resolver o problema da Jugoslávia. A ideia de Miterrand era que através da guerra, os países uniam-se na Europa com um objectivo comum mas isso não acontece.
As forças na Jugoslávia eram nacionalistas extremistas: os croatas só querem a independência e a Sérvia só quer a federação, sem encontro ao meio. Todos têm posições muito extremas, tanto sérvios como croatas como muçulmanos. A UE também não teve meios para os pressionar: pôde dar dinheiro mas não consegue manter a Paz pois falta-lhes os "capacetes azuis" para se instalarem no local. Enviam os "capacetes brancos", que usavam uma farda branca e são gozados pelos jugoslavos, que lhes chamam "vendedores de gelados", associando a eles os albaneses, que tinham essa profissão por hábito e eram considerados menos desenvolvidos. Por outro lado, o Reino Unido opôe-se à existência de um exército europeu, fazendo a vontade aos americanos, que são quem se opôe de verdade a esse exército.
A guerra na Bósnia dura três anos porque se trata de uma guerra entre EUA e UE, ambos dizendo que não podem haver duas super-potências a mandar no mundo. Em 1992, Bill Clinton ganha as eleições de surpresa, dada a má situação da economia norte-americana, e os EUA governam o mundo como única super-potência, estando o mundo inteiro à espera que após décadas de Guerra Fria, estes optem por uma política de democratização do mundo. Porém tal não acontece e há antes a teoria do domínio, do império, a partir do segundo mandato de Bill Clinton, que é caracterizado pela imposição da vontade dos EUA conta o resto do mundo. E quem se opôe enfrenta o exército americano: Madeleine Allbright fica famosa pela frase: 'para que serve o exército senão para o utilizar'. Enquanto a UE propôe uma negociação, os EUA bombardeiam.
E é assim que entram na Jugoslávia. Em 1992, ainda restavam algumas bolsas de comunismo no mundo e os EUA encarregam-se de as exterminar. Consideram Milosevic comunista e portanto afirmam que têm de o destruir. Contudo, Milosevic era director de um banco, capitalista, passando grande parte da sua vida nos EUA, onde aprendeu tudo. Já a sua esposa é marxista e é considerada ideologicamente como a líder do regime na Sérvia. Milosevic, porém, era tão comunista quanto qualquer outro dos "ex-comunistas" que assumiram governos na Europa de Leste depois da queda do muro. No entanto, a comunicação social continua a associá-lo ao comunismo de estado e ao partido. Os sérvios da Bósnia, porém, eram ferozes anti-comunistas, como Karadic, por exemplo, ligados à extrema-direita e à religião.
Outra ideia que é apontada nesta altura é de que os EUA querem continuar a destruir a URSS e para isso têm que debilitar a Rússia para que estes nunca mais apareçam. A Sérvia é considerada uma aliada natural da Rússia, segundo o Ocidente representa uma ilha de interesses russos. Contudo, Sérvia e Rússia são foram aliadas na I Guerra Mundial e desde então têm chocado de frente, nomeadamente durante todo o séc.XX e o comunismo de Tito. Estas e outras razões levam os EUA a considerar os sérvios os maus da fita e a ter de os neutralizar.
Em 1992, a Croácia parou a guerra porque os croatas não tinham dinheiro e os sérvios ficaram satisfeitos com a decisão. Porém, em Agosto de 1995 os croatas recebem ajuda militar e económica maciça dos EUA e da Alemanha. O exército croata é preparado pela OTAN, por oficiais na reserva e por isso não oficialmente na OTAN, numa agência contratada pela Croácia. Do outro lado, os sérvios da Croácia, com um exército pequeno mas armado. Nesta altura, Milosevic colabora com Bill Clinton, tomando medidas económicas contra os sérvios da Croácia. Quando novamente o exército croata ataca os sérvios no seu território, o exército foge em dois dias, seguidos por todo o povo sérvio da Croácia. Trata-se de uma limpeza étnica em que 250 mil pessoas são expulsas das suas terras (apenas 50 mil croatas tinham sido expulsos da Sérvia), nunca mais voltaram e foram apagados do mapa da Croácia, tendo-se espalhado um pouco por toda a parte. Após a guerra, a Croácia transformou-se num país corrupto, com problemas económicos e com créditos exagerados.
Na Bósnia, os EUA dizem que os sérvios são de novo os maus e os muçulmanos as vítimas, pelo que intervêm para neutralizar os sérvios. Após uma conferência de Paz, negoceia-se a Paz dividindo a Bósnia em duas partes: a República Sérvia da Bósnia e a Federação Muçulmano-Croata da Bósnia (não se dividem muçulmanos e croatas em nome da tolerância multi-étnica). Ou seja, uma federação dentro doutra. A partir de então, assiste-se de novo a um clima de violência, nomeadamente em Sarajevo, com os sérvios a expulsar os muçulmanos e croatas. Antes, porém, a convivência era tranquila entre todas as religiões. Hoje em dia, as mesquitas brilham em todo o lado, em Sarajevo, pagas pelo Irão e pela Arábia Saudita, no meio da pobreza da cidade e gerando ódio entre os povos. Há, em Sarajevo, um verdadeiro apartheid entre os três povos, que é obra de Clinton e Allbright e representa um rotundo falhanço da política norte-americana. E um falhanço de um presidente que está hoje em dia conectado com todos os negócios escuros em ditaduras latinas, africanas, etc.
Em 1999 acontece a última guerra na Jugoslávia, no Kosovo. Este é uma província sérvia onde a maioria da população é albanesa. É o território onde nasceu a Sérvia medieval, considerado o berço do país. Com o passar dos anos, os albaneses do Kosovo vão aceitando a religião islâmica, favorecidos pelos turcos que os incentivam a ocupar aquela zona. Teve uma situação jurídica de província autónoma, com um Parlamento e autonomia jurídica mas não é República, ou seja, na federação não teve o direito de se separar. Vários conflitos entre albaneses e sérvios faz com que não haja uma tradição de bom entendimento entre os dois povos, ao longo da História. Confitos que reincidem nos anos 80, após a morte de Tito e são despoletados pelos albaneses do Kosovo.
A Sérvia vai conseguindo controlar os separatistas mas em 1991 o Kosovo assume que se quer tornar independente da Sérvia, proclamando a independência e escolhendo um Parlamento. Milosevic manda mais exército para a região e os albaneses estão com pouca ajuda- o líder do Kosovo pode apenas almejar uma resistência pacífica pois não possui armas.
Em 1998, o Kosovo começa a tornar-se interessante. Estávamos numa altura em que Clinton se vê envolvido no escândalo de Monica Lewinsky, que o leva a jurar em falso na televisão, prestando falso testemunho quanto ao seu envolvimento com a estagiária. Há-que desviar as atenções mundiais e, como sempre, isso foi feito pelos americanos provocando uma guerra. Assim, a guerra do Kosovo teve apenas a ver com o facto dos EUA quererem apagar o caso Lewinsky: não há outra razão significativa, seja económica ou de outra índole. Por um lado, o Kosovo é um território sem nenhuns recursos e por outro a Sérvia nunca se opôs aos americanos no seu território, seja com bases militares ou com a compra de indústrias (Milosevic vendera três grandes fábricas sérvias aos americanos...)
Contudo, a resistência militar é organizada no Kosovo, a partir de um grupo de narcotraficantes e outro grupo de radicais de esquerda, albaneses hoxhistas. Os americanos dão-lhes armas e estes atacam Milosevic, provocando uma escalada de violência. É organizada a conferência de Rambouillet, em que os sérvios aceitam todas as exigências norte-americanas no prazo definido. Allbright resolve então adicionar mais uma exigência, a de que a OTAN pudesse permanecer no território sérvio quando quisesse. Milosevic não aceita esta perda de independência formal e a OTAN ataca Belgrado. Não se trata de uma guerra porque a Sérvia não tem qualquer força e o seu armamento é obsoleto- os generais sérvios optam por esconder-se dos americanos.
Contudo, os sérvios conseguem abater o famoso avião invisível norta-americano e há uma cena de um filme, famosa, em que um grupo de ciganos dança em cima desse avião (Kusturica). Milosevic não se rende e a OTAN deixa de destruir o exército e passa a destruir indústrias e a televisão de Belgrado, com a desculpa de que estavam a emitir mentiras e destruindo anos de evolução da Sérvia enquanto país. É o actual prémio Nobel da Paz que leva Milosevic a render-se, sendo levado para Haia para ser julgado por um Tribunal contra crimes de guerra e onde acaba por morrer.
Em Fevereiro de 2008 o Kosovo proclama a independência unilateralmente, imediatamente reconhecida pelos EUA. Portugal não reconheceu durante muito tempo por causa do testemunho de um general português, com uma posição de chefia no terreno, que informa o país de que o território jamais poderá ser independente pois é governado por máfias de interesses. Foi por interferência de Condolezza Rice que, em Outubro de 2008, Portugal reconhece a independência do Kosovo. Contudo, nem um terço dos países do mundo reconhece ainda o Kosovo como país. Este reconhecimento constitui um precedente grave na medida em que pela primeira vez se aceita uma declaração de independência unilateral e é aberta assim uma "caixa de Pandora".
Hoje em dia, a Eslovénia está bem na UE, com um nível de vida muito superior ao português. A Croácia começou bem mas agora é corrupta e não tem dinheiro. Sérvia e Croácia continuam a acusar-se mutuamente. Na Bósnia, os sérvios da Bósnia ganharam um argumento, com o Kosovo, para a proclamação da independência unilateral. Sob estes estados, a Rússia recuperou e tenta recuperar zonas de influência, estando a relançar-se no mundo. A única forma de "salvar" a ex-Jugoslávia é integrar a zona na UE para que haja crescimento económico e esperança de Paz. Hoje em dia, Rússia e muçulmanos estão mais fortes e podem reagir: está de novo tudo "a ferver" para aqueles lados. Tendo em conta que os valores europeus são diferentes dos americanos, defendendo a negociação e não o bombardeamento, a UE poderia e deveria ser muito melhor para a Paz no mundo e daí a importância de ser aprovado o Tratado de Lisboa.
25/11/08
24/11/08
HMC - Aula 15
6.6. Conflito na Jugoslávia
Após a I Guerra Mundial, a Sérvia lidera o processo de integração da Jugoslávia, sendo desde esta altura que começam os conflitos entre sérvios e croatas: os croatas têm tradições ocidentais, religião cristã católica, enquanto os sérvios se identificam com o império oriental, escrevem em cirílico e são cristãos ortodoxos. Existe portanto uma diferença grande entre croatas e sérvios, que nunca fizeram parte de um estado comum. Em relação à Jugoslávia, os sérvios entendem a Jugoslávia como uma "Grande Sérvia" enquanto os croatas entendem o estado como partilha de poder, baseado no federalismo. O novo estado criado, a Jugoslávia, é palco de conflitos permanentes, embora seja uma monarquia parlamentar. Apenas como exemplo, um dos episódios ais característicos desta instabilidade foi o assassinato de três croatas no Parlamento, por um montenegrino e o assassínio do rei sérvio em França, pelos croatas.
Estes episódios demonstram que o relacionamento entre sérvios e croatas não funciona. Porém durante a II Guerra, perante o perigo de Hitler, sérvios e croatas entendem-se e pedem a Hitler neutralidade. Porém, Churchill incentiva o golpe de estado em Belgrado e proclamam guerra a Hitler, incentivando as forças Aliadas ao rompimento do pacto de neutralidade com Hitler. Em 1941, Hitler invade a Sérvia, perdendo assim dois ou três meses preciosos para atacar a URSS. A Jugoslávia é desmembrada, passando parte para o III Reich, outra para Mussolini, Hungria, Bulgária, Roménia, Albânia, etc.
Assim, a Jugoslávia desaparece do mapa, ficando apenas uma pequena parte da Sérvia, dominada por Hitler e o estado independente da Croácia, construído e liderado por um grupo nazi que obedece a Hitler e faz tudo o que os nazis faziam, incluindo uma brutal perseguição aos sérvios. Deste modo, o fim da II Guerra é também a terrível guerra civil na Jugoslávia, com forças nacionalistas extremistas, prontas a matar. No entanto, aparece uma nova força neutral, reconciliadora, anti-fascista de libertação nacional, liderada pelos comunistas e por Tito.
Tito é um croata, comunista, que esteve em Moscovo e que lidera depois o movimento de libertação nacional. De facto, a Jugoslávia é libertada por comunistas nacionais, sem a ajuda do exército Vermelho, facto que dá a Tito grande independência face à URSS e lhe permite uma forma autónoma de interpretação própria do Comunismo, impondo-se a Stalin. São organizadas eleições e ganham os comunistas, implementando-se um regime duro para depois do conflito com Stalin, Tito adoptar uma interpretação diferente do marxismo. Baseia-se na descentralização, com maior respeito pelos direitos do Homem e alguma iniciativa privada.
Nos anos 60, a Jugoslávia conhece um progresso extraordinário e pratica uma política de não-agressão entre os dois blocos. A Jugoslávia é muito importante também para Portugal: Tito foi conselheiro das forças revolucionárias em Portugal no pós 25 de Abril, sendo amigo próximo de Ramalho Eanes. Goza de uma imagem positiva em todo o mundo, tendo levado nos anos 60 e 70 a Jugoslávia a um bom crescimento económico e a um socialismo de rosto humano.
Nos anos 80, porém, e após a morte de Tito, a Jugoslávia começa a enfrentar novos problemas. Finalmente a crise norte-americana dos anos 70 chega à Europa. Durante o Comunismo, a Jugoslávia era uma federação, um espaço onde se resolviam todos os problemas internos. Era constituída por seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um Partido. Os seis estados eram a Eslovénia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedónia. Este último, parte é eslavo, parte grego e daí hoje em dia os gregos impedirem o novo país de se chamar Macedónia: chama-se FYROM porque os gregos não autorizam a que se chame Macedónia, embora estes tenham apresentado uma queixa no Tribunal Internacional contra a Grécia. Na Bósnia-Herzegovina, convivem sérvios, croatas e eslavos muçulmanos. Os comunistas resolvem o conflito entre os povos, dando a cada povo um estado e fazendo a federação, onde os interesses seriam proporcionalmente respeitados.
Porém, nos anos 80 a crise económica chega à Jugoslávia, uma vez que dois terços do comércio jugoslavo era feito com um Ocidente em crise. O sistema já não consegue responder e começam os problemas económicos, renascendo fantasmas políticos com forças extremistas de Direita a tentar tomar o poder. A crise económica e política fragiliza muito as ligações entre os povos e em 1989, os comunistas jugoslavos têm de abandonar o poder, contra a vontade de muitos dos habitantes da federação. A luta na Jugoslávia é mais complicada do que noutros países e provoca o conflito entre os diferentes povos. A resolução passou pela realização de eleições em cada estado da Federação, em 1990, onde participam muitos partidos mas onde as eleições se discutem entre os ex-comunistas (SD) e os anti-comunistas (nacionalismo e extrema-direita).
Na Eslovénia ganham os anti-comunistas mas houve uma reconciliação- o presidente da Eslovénia é um ex-comunista, coligado com vários partidos. Na Croácia ganham os anti-comunistas, nacionalistas e a favor da independência da Croácia, que consideram ser a continuação do estado independente da altura nazi. Na Sérvia, vencem os ex-comunistas, com o novo Partido Socialista de Slobodan Milosevic. Na Bósnia, vencem os nacionalistas de cada povo. Estes novos poderes são legitimados pelas eleições: alguns querem o prolongamento da Jugoslávia mas outros querem que esta acabe e se façam estados independentes. Há um empate técnico: 4 querem continuar a federação, 4 não querem e há um impasse, sem decisão, fomentada por propaganda de cada um dos lados e um papel odioso dos meios de comunicação.
Na Primavera de 1991, duas das repúblicas ocidentais proclamam a independência unilateral - Eslovénia e Croácia. As outras repúblicas não aceitam e há um desentendimento. Na Eslovénia não há grande problema pois esta é vista desde há muito tempo como a nona província da Áustria. Acontece aí uma "guerra de fim de semana", de 4 ou 5 dias em que há cerca de 40 mortos. A justificação para a guerra é de que ao proclamar a independência, a Eslovénia alterou as fronteiras da federação e um dos papéis do exército é defender as fronteiras: a declaração eslovena seria assim um acto ilegítimo que seria preciso anular pela força. Mas por outro lado, segundo a constituição da federação, a Eslovénia tem direito a separar-se. Sem consenso, recorre-se à força e ao choque entre o exército federal e os eslovenos, que têm o apoio da Áustria e da OTAN. A Eslovénia derrota o exército federal destacado (com pouca força) e a guerra é pouco importante, com a Eslovénia a tornar-se independente.
Já a guerra da Croácia é bastante mais complicada pois aí vivem sérvios e croatas. A Croácia proclama a separação da Jugoslávia e os sérvios da Croácia dizem que o acto é ilegal e alegam que se os croatas têm direito à independência, eles também têm direito a proclamar independência da região da Croácia onde vivem. Croatas e sérvios não se entendem quanto ao território que acaba de proclamar a independência e dá-se uma segunda guerra na Jugoslávia, no território da Croácia. Os sérvios da Croácia têm o apoio da Sérvia enquanto os croatas não têm grande apoio externo- todos se aproveitam da situação para lhes vender armas ilegais, inclusivé Portugal, que vende armas à Croácia através de um esquema ilegal com a Colômbia.
No Verão de 1991, dá-se um conflito sério entre sérvios e croatas que envolve forças sérvias. Primeiro, o episódio de Dubrovnik, uma zona de património protegido, a "Veneza do Adriático", zona de elites. Os sérvios cercam a cidade e bombardeiam-na, segundo o Ocidente. O que aconteceu de facto não se sabe ainda mas a situação é exagerada e aproveitada pelo Ocidente. Outro episódio dá-se em Bukova, onde vivem conjuntamente sérvios e croatas em número igual e onde acontecem batalhas populares, entre vizinhos que sempre se tinham dado bem. A partir desta altura o exército federal passa a actuar do lado da Sérvia, ficando abertamente do seu lado e expulsando os croatas desta cidade. Os sérvios ganham esta guerra mas perdem no plano internacional, factor que é muito discutível.
Em Janeiro de 1992, Tujman e Milosevic entendem-se e assinam o cessar-fogo: os sérvios controlam o território onde vivem, crca de 30% da Croácia. Esta decisão foi possível porque aos croatas faltava-lhes dinheiro e apoio ocidental. Mas isto apenas porque os americanos ainda não sabem o que fazer e que posição tomar: era ano de eleições e sem EUA a situação não se resolve. A ONU entra no território para recolher armas mas tem um papel tão fraco que os capacetes azuis ficam desacreditados de tal forma que ainda não recuperaram: a força que iria impor a paz é responsável por prostituição, contrabando, etc.
Em 1992, dá-se novo conflito, desta vez na Bósnia. Os croatas querem a independência da Bósnia e os sérvios querem que esta permaneça na federação. Os muçulmanos estão do lado dos croatas. Mais tarde, declarada a independência da Bósnia, os sérvios querem a independência dos sérvios da Bósnia, à semelhança do que se passou na Croácia. Estava prestes a começar uma guerra, em Abril de 1992, que dura três anos e tem consequências terríveis. Tal como refere Ivo Andreas, escritor galardoado com o Prémio Nobel, "quando se agitam as águas, a porcaria sobe" e foi o que aconteceu na Jugoslávia nesta altura, com tudo o que existia de mau nas várias facções a ser trazido à superfície. O Ocidente falou de 14 mil sérvios mortos e 250 mil bósnios. Já sabemos que estes números são falsos porque o número total de mortos foi de 90 mil, de forma quase equivalente entre sérvios e muçulmanos. Tanto é falso que hoje em dia os muçulmanos da Bósnia se opôem ao recenseamento da população...
Após a I Guerra Mundial, a Sérvia lidera o processo de integração da Jugoslávia, sendo desde esta altura que começam os conflitos entre sérvios e croatas: os croatas têm tradições ocidentais, religião cristã católica, enquanto os sérvios se identificam com o império oriental, escrevem em cirílico e são cristãos ortodoxos. Existe portanto uma diferença grande entre croatas e sérvios, que nunca fizeram parte de um estado comum. Em relação à Jugoslávia, os sérvios entendem a Jugoslávia como uma "Grande Sérvia" enquanto os croatas entendem o estado como partilha de poder, baseado no federalismo. O novo estado criado, a Jugoslávia, é palco de conflitos permanentes, embora seja uma monarquia parlamentar. Apenas como exemplo, um dos episódios ais característicos desta instabilidade foi o assassinato de três croatas no Parlamento, por um montenegrino e o assassínio do rei sérvio em França, pelos croatas.
Estes episódios demonstram que o relacionamento entre sérvios e croatas não funciona. Porém durante a II Guerra, perante o perigo de Hitler, sérvios e croatas entendem-se e pedem a Hitler neutralidade. Porém, Churchill incentiva o golpe de estado em Belgrado e proclamam guerra a Hitler, incentivando as forças Aliadas ao rompimento do pacto de neutralidade com Hitler. Em 1941, Hitler invade a Sérvia, perdendo assim dois ou três meses preciosos para atacar a URSS. A Jugoslávia é desmembrada, passando parte para o III Reich, outra para Mussolini, Hungria, Bulgária, Roménia, Albânia, etc.
Assim, a Jugoslávia desaparece do mapa, ficando apenas uma pequena parte da Sérvia, dominada por Hitler e o estado independente da Croácia, construído e liderado por um grupo nazi que obedece a Hitler e faz tudo o que os nazis faziam, incluindo uma brutal perseguição aos sérvios. Deste modo, o fim da II Guerra é também a terrível guerra civil na Jugoslávia, com forças nacionalistas extremistas, prontas a matar. No entanto, aparece uma nova força neutral, reconciliadora, anti-fascista de libertação nacional, liderada pelos comunistas e por Tito.
Tito é um croata, comunista, que esteve em Moscovo e que lidera depois o movimento de libertação nacional. De facto, a Jugoslávia é libertada por comunistas nacionais, sem a ajuda do exército Vermelho, facto que dá a Tito grande independência face à URSS e lhe permite uma forma autónoma de interpretação própria do Comunismo, impondo-se a Stalin. São organizadas eleições e ganham os comunistas, implementando-se um regime duro para depois do conflito com Stalin, Tito adoptar uma interpretação diferente do marxismo. Baseia-se na descentralização, com maior respeito pelos direitos do Homem e alguma iniciativa privada.
Nos anos 60, a Jugoslávia conhece um progresso extraordinário e pratica uma política de não-agressão entre os dois blocos. A Jugoslávia é muito importante também para Portugal: Tito foi conselheiro das forças revolucionárias em Portugal no pós 25 de Abril, sendo amigo próximo de Ramalho Eanes. Goza de uma imagem positiva em todo o mundo, tendo levado nos anos 60 e 70 a Jugoslávia a um bom crescimento económico e a um socialismo de rosto humano.
Nos anos 80, porém, e após a morte de Tito, a Jugoslávia começa a enfrentar novos problemas. Finalmente a crise norte-americana dos anos 70 chega à Europa. Durante o Comunismo, a Jugoslávia era uma federação, um espaço onde se resolviam todos os problemas internos. Era constituída por seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um Partido. Os seis estados eram a Eslovénia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedónia. Este último, parte é eslavo, parte grego e daí hoje em dia os gregos impedirem o novo país de se chamar Macedónia: chama-se FYROM porque os gregos não autorizam a que se chame Macedónia, embora estes tenham apresentado uma queixa no Tribunal Internacional contra a Grécia. Na Bósnia-Herzegovina, convivem sérvios, croatas e eslavos muçulmanos. Os comunistas resolvem o conflito entre os povos, dando a cada povo um estado e fazendo a federação, onde os interesses seriam proporcionalmente respeitados.
Porém, nos anos 80 a crise económica chega à Jugoslávia, uma vez que dois terços do comércio jugoslavo era feito com um Ocidente em crise. O sistema já não consegue responder e começam os problemas económicos, renascendo fantasmas políticos com forças extremistas de Direita a tentar tomar o poder. A crise económica e política fragiliza muito as ligações entre os povos e em 1989, os comunistas jugoslavos têm de abandonar o poder, contra a vontade de muitos dos habitantes da federação. A luta na Jugoslávia é mais complicada do que noutros países e provoca o conflito entre os diferentes povos. A resolução passou pela realização de eleições em cada estado da Federação, em 1990, onde participam muitos partidos mas onde as eleições se discutem entre os ex-comunistas (SD) e os anti-comunistas (nacionalismo e extrema-direita).
Na Eslovénia ganham os anti-comunistas mas houve uma reconciliação- o presidente da Eslovénia é um ex-comunista, coligado com vários partidos. Na Croácia ganham os anti-comunistas, nacionalistas e a favor da independência da Croácia, que consideram ser a continuação do estado independente da altura nazi. Na Sérvia, vencem os ex-comunistas, com o novo Partido Socialista de Slobodan Milosevic. Na Bósnia, vencem os nacionalistas de cada povo. Estes novos poderes são legitimados pelas eleições: alguns querem o prolongamento da Jugoslávia mas outros querem que esta acabe e se façam estados independentes. Há um empate técnico: 4 querem continuar a federação, 4 não querem e há um impasse, sem decisão, fomentada por propaganda de cada um dos lados e um papel odioso dos meios de comunicação.
Na Primavera de 1991, duas das repúblicas ocidentais proclamam a independência unilateral - Eslovénia e Croácia. As outras repúblicas não aceitam e há um desentendimento. Na Eslovénia não há grande problema pois esta é vista desde há muito tempo como a nona província da Áustria. Acontece aí uma "guerra de fim de semana", de 4 ou 5 dias em que há cerca de 40 mortos. A justificação para a guerra é de que ao proclamar a independência, a Eslovénia alterou as fronteiras da federação e um dos papéis do exército é defender as fronteiras: a declaração eslovena seria assim um acto ilegítimo que seria preciso anular pela força. Mas por outro lado, segundo a constituição da federação, a Eslovénia tem direito a separar-se. Sem consenso, recorre-se à força e ao choque entre o exército federal e os eslovenos, que têm o apoio da Áustria e da OTAN. A Eslovénia derrota o exército federal destacado (com pouca força) e a guerra é pouco importante, com a Eslovénia a tornar-se independente.
Já a guerra da Croácia é bastante mais complicada pois aí vivem sérvios e croatas. A Croácia proclama a separação da Jugoslávia e os sérvios da Croácia dizem que o acto é ilegal e alegam que se os croatas têm direito à independência, eles também têm direito a proclamar independência da região da Croácia onde vivem. Croatas e sérvios não se entendem quanto ao território que acaba de proclamar a independência e dá-se uma segunda guerra na Jugoslávia, no território da Croácia. Os sérvios da Croácia têm o apoio da Sérvia enquanto os croatas não têm grande apoio externo- todos se aproveitam da situação para lhes vender armas ilegais, inclusivé Portugal, que vende armas à Croácia através de um esquema ilegal com a Colômbia.
No Verão de 1991, dá-se um conflito sério entre sérvios e croatas que envolve forças sérvias. Primeiro, o episódio de Dubrovnik, uma zona de património protegido, a "Veneza do Adriático", zona de elites. Os sérvios cercam a cidade e bombardeiam-na, segundo o Ocidente. O que aconteceu de facto não se sabe ainda mas a situação é exagerada e aproveitada pelo Ocidente. Outro episódio dá-se em Bukova, onde vivem conjuntamente sérvios e croatas em número igual e onde acontecem batalhas populares, entre vizinhos que sempre se tinham dado bem. A partir desta altura o exército federal passa a actuar do lado da Sérvia, ficando abertamente do seu lado e expulsando os croatas desta cidade. Os sérvios ganham esta guerra mas perdem no plano internacional, factor que é muito discutível.
Em Janeiro de 1992, Tujman e Milosevic entendem-se e assinam o cessar-fogo: os sérvios controlam o território onde vivem, crca de 30% da Croácia. Esta decisão foi possível porque aos croatas faltava-lhes dinheiro e apoio ocidental. Mas isto apenas porque os americanos ainda não sabem o que fazer e que posição tomar: era ano de eleições e sem EUA a situação não se resolve. A ONU entra no território para recolher armas mas tem um papel tão fraco que os capacetes azuis ficam desacreditados de tal forma que ainda não recuperaram: a força que iria impor a paz é responsável por prostituição, contrabando, etc.
Em 1992, dá-se novo conflito, desta vez na Bósnia. Os croatas querem a independência da Bósnia e os sérvios querem que esta permaneça na federação. Os muçulmanos estão do lado dos croatas. Mais tarde, declarada a independência da Bósnia, os sérvios querem a independência dos sérvios da Bósnia, à semelhança do que se passou na Croácia. Estava prestes a começar uma guerra, em Abril de 1992, que dura três anos e tem consequências terríveis. Tal como refere Ivo Andreas, escritor galardoado com o Prémio Nobel, "quando se agitam as águas, a porcaria sobe" e foi o que aconteceu na Jugoslávia nesta altura, com tudo o que existia de mau nas várias facções a ser trazido à superfície. O Ocidente falou de 14 mil sérvios mortos e 250 mil bósnios. Já sabemos que estes números são falsos porque o número total de mortos foi de 90 mil, de forma quase equivalente entre sérvios e muçulmanos. Tanto é falso que hoje em dia os muçulmanos da Bósnia se opôem ao recenseamento da população...
HMC - Aula 14
7.2. Conflito israelo-árabe
7.3. Guerra Iraque – Irão (Primeira Guerra do Golfo, 1980-1988)
7.4. Segunda Guerra do Golfo (1991)
7.5. Terceira Guerra do Golfo (2003)
O Médio Oriente reúne todas as condições propícias, como vimos, para a origem de conflitos, seja por razões económicas, religiosas ou políticas.
Em 1947, após a II Guerra, o protectorado britânico da Palestina é transformado em estado da Palestina e estado de Israel, onde se alojam os judeus. São traçadas fronteiras e tenta-se satisfazer os dois em linhas gerais. A 14 de Maio de 1948 é proclamado o estado de Israel e logo a 15 de Maio começam os conflitos entre judeus e árabes: estes não estão satisfeitos com os dois estados e a solução não é pacífica. A primeira guerra israelo-árabe dura um ano e acaba com a vitória de Israel pela força, ocupando os territórios que a ONU tinha decidido atribuir à Palestina. Trata-se, portanto, de uma situação irregular, de territórios ocupados que nunca deveriam pertencer aos israelitas. As terras foram ocupadas sob o pretexto da protecção e segurança à zona mas oculta verdadeiros interesses económicos.
As guerras seguintes vieram significar mais ocupação e controlo por parte de Israel, tendo sido provocadas com a intenção de que Israel abandone os territórios que ocupou. Israel acabou por desocupar alguns dos territórios que ocupou, tendo destruído todas as infraestruturas criadas durante os anos de ocupação, antes da entrega dos territórios aos árabes.
A segunda guerra israelo-árabe acontece em 1956 e o iniciador foi Israel, sendo o adversário o Egipto. Antes, Nasser tinha feito um golpe de estado no Egipto, destituindo o rei e nacionalizando o canal do Suez. Os ingleses, descontentes com esta situação, incentivam Israel a atacar o Egipto, para depois, juntamente com os franceses, irem em auxílio dos egípcios e ocuparem o canal do Suez. Contudo, URSS e EUA dizem que britânicos e franceses estão lá ilegalmente e mandam capacetes azuis da ONU para o Suez.
A terceira guerra é a Guerra dos 6 Dias e acontece em 1967. Enquadra-se no contexto da Guerra Fria e da cruzada anti-comunista. Vários países da zona chegam a ser governados por generais pró-soviéticos, que pensam já estar bem equipados para derrotar Israel em 1967: contudo, numa ofensiva que artiu da Síria e Egipto, os aviões soviéticos nem chegam a levantar, tendo sido eliminados por Israel logo nos aeroportos. Ajudados pelos EUA, os israelitas possuem novos materiais de guerra, como helicópteros e os mísseis de fio. Como resultuado desta guerra, os árabes acabam por perder mais territórios, os Montes Golã.
A quarta guerra israelo-árabe acontece em 1973, quando no dia do Yom Kippur (Dia de Grande Persão), os árabes atacam Israel. Neste dia, os israelitas estão retirados em casa, dedicando-se a rezar e a contemplar: é um bom dia para os inimigos atacarem o país. Egipto, Síris, Iraque, Marrocos, Líbia estão unidos e mais preparados, tendo ido a Moscovo aprender novas artes bélicas. E de facto conseguem surpreender , avançando no primeiro e segundo dia com grandes prejuízos ao governo israelita. Os árabes têm mísseis soviéticos e conseguem abater cerca de cem aviões israelitas. Porém, ao terceiro dia os norte-americanos já lá estão e começa o contra-ataque israelita, que acaba por derrotar a ofensiva árabe.
Novo conflito acontece aquando da Guerra Civil do Líbano. Em 1945, os franceses não conseguem continuar no Médio Oriente, tendo dado a independência à Síria, que se torna totalmente muçulmana. Porém, os franceses separam uma parte da Síria onde a maioria é cristã e declaram aí o estado do Líbano. Assim, a França continua a ter grande influência na zona, tendo até apelidado a capital do Líbano, Beirute, da "Paris do Médio Oriente. O Líbano torna-se assim num pequeno país controlado pela França e EUA, com certa prosperidade. No entanto, há várias facções muçulmanas que ganham força, assim como facções cristãs. Em 1975, dá-se uma guerra entre cristãos e muçulmanos com várias milícias de ambas as partes. De um lado e do outro não faltam armas e a guerra dura vários anos. Os palestinianos refugiam-se na zona muçulmana do Líbano em campos de refugiados, onde mais tarde os cristãos radicais, apoiados por Israel, são culpados de um massacre terrível contra os árabes refugiados e desarmados. As facções continuam a lutar entre si, sem encontrarem a Paz.
Em 1982, os israelitas, com a preocupação de manter a segurança, ocupam preventivamente uma parte do território do Líbano para impedir as forças radicais islâmicas de entrar no seu território. Em 2002 dá-se a última batalha no Líbano, com o Hamas a ser financiado pelo Irão e atacando permanentemente forças israelitas. Israel retira-se do território do Líbano e é substituído pela ONU. Em 2006, o Hamas raptou um soldado israelita- Israel exige a sua libertação e prepara a guerra para libertar o soldado e destruir a base militar do Hezbollah. Entra no Líbano e aí fica dois meses: não realiza nem nem outro objectivo e é obrigado a retirar-se do Líbano, sofrendo pela primeira vez uma derrota numa guerra, em Agosto de 2006. O soldado israelita ainda não foi libertado e o movimento do Hezzbolah reforçou-se, indo governar o Líbano. Israel perdeu porque os árabes tinham armas que fizeram dano: os chamados aviões "cachuchas" que em russo significa Catarina, trsnaportam os mísseis rocket que levam pouco explosivo mas têm a capacidade de entrar em cidades israelitas. Nesta guerra, a situação altera-se porque Israel é pela primeira vez derrotado.
A guerra continua ainda hoje, com várias tentativas de assinar a Paz. O Egipto reconciliou-se com Israel e os EUA financiam ambos os países com dinheiro e armas. Em 1992, Israel reconciliou-se com a Jordânia porém ainda não foram feitas as pazes com a Síria e, claro, com o Líbano.
A Primeira Guerra do Golfo acontece entre o Iraque e o Irão, dois dos mais antigos povos do mundo, que habitam um território desenvolvido desde muito cedo: quando na Europa ainda éramos caçadores nómadas, na Mesopotâmia havia já uma civilização organizada. O Irão é continuador do grande império persa, com tradições muito diferentes das muçulmanas: no séc. XVIII livram-se do império Otomano. No período entre guerras, têm uma independência formal, funcionando como um protectorado inglês e francês. Só depois da II Guerra têm a verdadeira independência: durante a II Guerra, o Irão foi ocupado pela URSS e Reino Unido, para evitar que Hitler lá chegasse e conseguisse vencer. No fim da guerra, as duas potências hesitam bastante em sair do território e há tensão entre elas: a URSS sai mas a província do Azerbaijão declara-se independente e entra na URSS. O resto fica britânico mas dada a incapacidade destes tomarem conta do território, são substituídos pelos EUA.
Assim, durante a Guerra Fria, o Irão fica na zona de influência ocidental. Realizam-se eleições multipartidárias, em que o rei ganha (é nesta altura que vive a princesa Soraia, ícone mundial de beleza, que não pode ter filhos e por isso que se divorciar do rei, que se casa com outra). Porém, acontece nesta altura que o rei vende o petróleo aos americanos e gasta o dinheiro proveniente nos países europeus, nos casinos, levando o seu povo à miséria.
No Iraque, em 1958, jovens coronéis que estudaram em Moscovo fazem um golpe de estado e impementaram um regime nacionalista. Em 1968, dá-se um novo golpe de estado feito em nome do partido político Baas, que pretende conciliar as ideias marxistas com a religião árabe, naquilo que é conhecido como o socialismo árabe: o governo pro-socialista gasta o dinheiro para constuir escolas e comprar armas de defesa para o país. Em 1979, chega ao poder Saddam Hussein, com uma orientação socialista. Saddam, de forma a conseguir negociar com o Ocidente, introduz no país várias reformas de democratização, como eleições livres e partidos políticos. O regime político de Saddam Hussein é nesta altura, no Médio Oriente, o mais parecido com o Ocidente e torna-se amigo próximo dos EUA. Ramsfeld é grande amigo de Saddam Hussein e é ele que vende o gás tóxico ao regime de Saddam.
Ao mesmo tempo, o Iraque mantem amizade com a URSS, por causa do petróleo e com a Jugoslávia: os jugoslavos pagam o petróleo iraquiano com mão-de-obra e por curiosidade, foram os jugoslavos que construíram o bunker onde foi descoberto Saddam. Por isso, na altura, enquanto no Irão sofriam, no Iraque prosperavam, estando nas boas graças de todo o mundo, inclusivé dos dois oponentes da Guerra Fria.
Em 1979, acontecimentos críticos dão-se na região. No Irão, a polícia secreta controlava o povo mas aparece uma oposição religiosa, nas mesquitas, que não conseguem controlar e que vai terminar numa Revolução Islâmica. O povo é todo organizado contra o governo e vêm no aiatola Kheomeini o seu líder. A visão deste aiatola de como deve ser organizado o estado é radical e a Lei Sharia é introduzida no estado, que passa a ser uma república islâmica: trata-se de um regime reaccionário que pretende incluir guerras islâmicas.
Para todos os efeitos, o regime no Irão realiza eleições, com vários partidos políticos. No entanto as eleições não têm valor pois quem confirma os vencedores são os molahs- a última palavra cabe sempre ao conselho religioso, que pode escolher quem vence. Também nesta altura, a posição da mulher altera-se no Irão; a elite estabelece um radicalismo islamita feroz e nasce um anti-americanismo em que se considera que a pobreza é culpa dos EUA, que apoiavam o rei, gastador do dinheiro iraniano no Ocidente. Nasce o conflito entre Irão e EUA que culmina com a ocupação da embaixada dos EUA por jovens revolucionários islâmicos, que fazem os funcionários da embaixada reféns. Trata-se de um episódio não permitido pela lei da diplomacia internacional, consistindo numa grande violação. Os EUA tentam libertar os reféns mas a investida é um fracasso estrondoso (cf. força delta).
Contudo, se a revolução islâmica se espalha, é criada uma região muito perigosa para a hegemonia dos EUA no mundo.E por isso, os americanos instigam Saddam Hussein a atacar o Irão: Saddam está muito bem, tem o apoio do povo, comprou muitas armas e tem um conflito fronteiriço com o Irão há anos. Por outro lado, quando o aiatola entrou teve resistência dos comunistas, que tentavam subir ao poder- Kheomeini teve que lutar contra os comunistas para se impor no país. Em 1980, Saddam ataca o Irão e começa a primeira Guerra do Golfo.
Em 1979, a URSS ocupara o Afeganistão, para impedir que a revolução islâmica atingisse o Paquistão. A guerra na zona dura oito anos porque no início Saddam ganha mas no Irão, o fervor religioso organiza-se e consegue neutralizar o ataque iraquiano. Em 1986 Saddam prepara e executa um ataque e parece ganhar, fortalecendo o seu poder na região. Nesta altura, os EUA mudam de posição e passam a ajudar o Irão pois convem-lhes não um Irão fraco e um Iraque forte mas ambos os países fracos e dependentes. Em 1988, a região está num impasse: a guerra acabou mas ambos os lados estão sem forças para nada: URSS e EUA ficam contentes.
Contudo, Saddam diz que entrou na guerra para fazer um favor e alguém tem de o ressarcir. No entanto, ninguém quer pagar as perdas da guerra a Saddam e este diz que há uma forma de o compensarem e será entregando o pequeno território do Koweit. O Koweit era uma parte do território iraquiano até 1961 e como Saddam entrou na guerra para salvar o Koweit, quer instalar-se lá. Manda o exército ocupar o pequeno país em Agosto de 1990, com uma claro intenção de lá ficar a indeminizar-se com petróleo.
Um ano antes desta invasão, tinha caído o Muro de Berlim e a URSS está de rastos: quando o Iraque invade o Koweit, os cinco membros permanentes da ONU estão de acordo e contra o Iraque, ou seja, tanto Bush como Gorbachov concordam com a ofensiva ao Iraque. A ONU diz que o Iraque cometeu uma violação do direito internacional e que tem que abandonar o Koweit. O ultimato é dado e no dia 17 de Janeiro de 1991 começam os bombardeamentos do Iraque pela ONU, principalmente pelos EUA. Bombardeiam em poucos dias o Iraque, numa batalha sobretudo terrestre onde em poucos dias Saddam é totalmente derrotado. Os EUA afirmam que esta é uma guerra de estrelas, com um novo tipo de armas, as bombas inteligentes e mísseis guiados por satélite. Contudo, apenas 30% dos mísseis eram inteligentes e por isso há muitas mortes civis. Perpassa a imagem de apenas uma super-potência, os EUA, que metem medo e que podem fazer no mundo o que lhes apetece.
Outro aspecto desta segunda guerra do Golfo é de que nenhum jornalista viu a guerra: a opinião pública virou-se contra o governo na altura da Guerra do Vietname e por isso desta vez a imprensa é controlada: só acontece o que a CNN nos mostra. No fim da guerra, Bush não retirou Saddam do poder porque a ordem da ONU era a de repor a ordem anterior à invasão do Koweit.
Já em 2000, George W. Bush ganha as eleições contra Al Gore, numa batalha renhida em que o Presidente apontado não é o que tem mais votos. Em 2000, antes da decisão final, o presidente dos EUA foi temporariamente o juíz do Tribunal Supremo: W.Bush entra já fragilizado. Porém, após os ataques de 11 de Setembro, W.Bush torna-se muito popular, chegando a ser o Presidente americano mais popular de sempre. No poder, Bush declara o eixo do mal como sendo o Irão, o Iraque e a Coreia do Norte, estados segundo ele patrocinadores do terrorismo. No entanto, já se provou que isto era mentira: Saddam nunca teve armas de destruição maciça e nunca patrocinou a actividade da Al Qaeda. A questão é que Bush opta por controlar e conquistar o Médio Oriente, de forma a controlar o petróleo e a instalar regimes favoráveis a Washington. Em Março de 2003, invade o Iraque e inicia a 3ª Guerra do Golfo.
A apoiar Bush estão, entre outros, Blair e Aznar. Reunem-se juntamente com Durão Barroso na cimeira das Lajes e aí planeiam a invasão do Iraque. Hoje, Barroso já admitiu que a invasão do Iraque foi um erro e na altura Jorge Sampaio não queria enviar tropas portuguesas para a guerra. Por isso, Barroso manda apenas a GNR, força da responsabilidade do governo que não está debaixo da alçada do Presidente. Entre outros episódios de (des)preparação dos GNR portugueses, a entrega por Berlusconi de blindados à GNR. Sócrates retirou discretamente todos os portugueses presentes no Iraque.
Hoje, esta Guerra no Golfo não acabou e está longe disso. Ao longo do séc.XX, o conflito israelo-árabe foi também um conflito entre os EUA e aURSS, que acabou ficando a ser substituída pelas forças radicais islâmicas. Se dentro deste panorama, o Irão conseguir a bomba atómica, o cenário mundial fica seriamente ameaçado.
7.3. Guerra Iraque – Irão (Primeira Guerra do Golfo, 1980-1988)
7.4. Segunda Guerra do Golfo (1991)
7.5. Terceira Guerra do Golfo (2003)
O Médio Oriente reúne todas as condições propícias, como vimos, para a origem de conflitos, seja por razões económicas, religiosas ou políticas.
Em 1947, após a II Guerra, o protectorado britânico da Palestina é transformado em estado da Palestina e estado de Israel, onde se alojam os judeus. São traçadas fronteiras e tenta-se satisfazer os dois em linhas gerais. A 14 de Maio de 1948 é proclamado o estado de Israel e logo a 15 de Maio começam os conflitos entre judeus e árabes: estes não estão satisfeitos com os dois estados e a solução não é pacífica. A primeira guerra israelo-árabe dura um ano e acaba com a vitória de Israel pela força, ocupando os territórios que a ONU tinha decidido atribuir à Palestina. Trata-se, portanto, de uma situação irregular, de territórios ocupados que nunca deveriam pertencer aos israelitas. As terras foram ocupadas sob o pretexto da protecção e segurança à zona mas oculta verdadeiros interesses económicos.
As guerras seguintes vieram significar mais ocupação e controlo por parte de Israel, tendo sido provocadas com a intenção de que Israel abandone os territórios que ocupou. Israel acabou por desocupar alguns dos territórios que ocupou, tendo destruído todas as infraestruturas criadas durante os anos de ocupação, antes da entrega dos territórios aos árabes.
A segunda guerra israelo-árabe acontece em 1956 e o iniciador foi Israel, sendo o adversário o Egipto. Antes, Nasser tinha feito um golpe de estado no Egipto, destituindo o rei e nacionalizando o canal do Suez. Os ingleses, descontentes com esta situação, incentivam Israel a atacar o Egipto, para depois, juntamente com os franceses, irem em auxílio dos egípcios e ocuparem o canal do Suez. Contudo, URSS e EUA dizem que britânicos e franceses estão lá ilegalmente e mandam capacetes azuis da ONU para o Suez.
A terceira guerra é a Guerra dos 6 Dias e acontece em 1967. Enquadra-se no contexto da Guerra Fria e da cruzada anti-comunista. Vários países da zona chegam a ser governados por generais pró-soviéticos, que pensam já estar bem equipados para derrotar Israel em 1967: contudo, numa ofensiva que artiu da Síria e Egipto, os aviões soviéticos nem chegam a levantar, tendo sido eliminados por Israel logo nos aeroportos. Ajudados pelos EUA, os israelitas possuem novos materiais de guerra, como helicópteros e os mísseis de fio. Como resultuado desta guerra, os árabes acabam por perder mais territórios, os Montes Golã.
A quarta guerra israelo-árabe acontece em 1973, quando no dia do Yom Kippur (Dia de Grande Persão), os árabes atacam Israel. Neste dia, os israelitas estão retirados em casa, dedicando-se a rezar e a contemplar: é um bom dia para os inimigos atacarem o país. Egipto, Síris, Iraque, Marrocos, Líbia estão unidos e mais preparados, tendo ido a Moscovo aprender novas artes bélicas. E de facto conseguem surpreender , avançando no primeiro e segundo dia com grandes prejuízos ao governo israelita. Os árabes têm mísseis soviéticos e conseguem abater cerca de cem aviões israelitas. Porém, ao terceiro dia os norte-americanos já lá estão e começa o contra-ataque israelita, que acaba por derrotar a ofensiva árabe.
Novo conflito acontece aquando da Guerra Civil do Líbano. Em 1945, os franceses não conseguem continuar no Médio Oriente, tendo dado a independência à Síria, que se torna totalmente muçulmana. Porém, os franceses separam uma parte da Síria onde a maioria é cristã e declaram aí o estado do Líbano. Assim, a França continua a ter grande influência na zona, tendo até apelidado a capital do Líbano, Beirute, da "Paris do Médio Oriente. O Líbano torna-se assim num pequeno país controlado pela França e EUA, com certa prosperidade. No entanto, há várias facções muçulmanas que ganham força, assim como facções cristãs. Em 1975, dá-se uma guerra entre cristãos e muçulmanos com várias milícias de ambas as partes. De um lado e do outro não faltam armas e a guerra dura vários anos. Os palestinianos refugiam-se na zona muçulmana do Líbano em campos de refugiados, onde mais tarde os cristãos radicais, apoiados por Israel, são culpados de um massacre terrível contra os árabes refugiados e desarmados. As facções continuam a lutar entre si, sem encontrarem a Paz.
Em 1982, os israelitas, com a preocupação de manter a segurança, ocupam preventivamente uma parte do território do Líbano para impedir as forças radicais islâmicas de entrar no seu território. Em 2002 dá-se a última batalha no Líbano, com o Hamas a ser financiado pelo Irão e atacando permanentemente forças israelitas. Israel retira-se do território do Líbano e é substituído pela ONU. Em 2006, o Hamas raptou um soldado israelita- Israel exige a sua libertação e prepara a guerra para libertar o soldado e destruir a base militar do Hezbollah. Entra no Líbano e aí fica dois meses: não realiza nem nem outro objectivo e é obrigado a retirar-se do Líbano, sofrendo pela primeira vez uma derrota numa guerra, em Agosto de 2006. O soldado israelita ainda não foi libertado e o movimento do Hezzbolah reforçou-se, indo governar o Líbano. Israel perdeu porque os árabes tinham armas que fizeram dano: os chamados aviões "cachuchas" que em russo significa Catarina, trsnaportam os mísseis rocket que levam pouco explosivo mas têm a capacidade de entrar em cidades israelitas. Nesta guerra, a situação altera-se porque Israel é pela primeira vez derrotado.
A guerra continua ainda hoje, com várias tentativas de assinar a Paz. O Egipto reconciliou-se com Israel e os EUA financiam ambos os países com dinheiro e armas. Em 1992, Israel reconciliou-se com a Jordânia porém ainda não foram feitas as pazes com a Síria e, claro, com o Líbano.
A Primeira Guerra do Golfo acontece entre o Iraque e o Irão, dois dos mais antigos povos do mundo, que habitam um território desenvolvido desde muito cedo: quando na Europa ainda éramos caçadores nómadas, na Mesopotâmia havia já uma civilização organizada. O Irão é continuador do grande império persa, com tradições muito diferentes das muçulmanas: no séc. XVIII livram-se do império Otomano. No período entre guerras, têm uma independência formal, funcionando como um protectorado inglês e francês. Só depois da II Guerra têm a verdadeira independência: durante a II Guerra, o Irão foi ocupado pela URSS e Reino Unido, para evitar que Hitler lá chegasse e conseguisse vencer. No fim da guerra, as duas potências hesitam bastante em sair do território e há tensão entre elas: a URSS sai mas a província do Azerbaijão declara-se independente e entra na URSS. O resto fica britânico mas dada a incapacidade destes tomarem conta do território, são substituídos pelos EUA.
Assim, durante a Guerra Fria, o Irão fica na zona de influência ocidental. Realizam-se eleições multipartidárias, em que o rei ganha (é nesta altura que vive a princesa Soraia, ícone mundial de beleza, que não pode ter filhos e por isso que se divorciar do rei, que se casa com outra). Porém, acontece nesta altura que o rei vende o petróleo aos americanos e gasta o dinheiro proveniente nos países europeus, nos casinos, levando o seu povo à miséria.
No Iraque, em 1958, jovens coronéis que estudaram em Moscovo fazem um golpe de estado e impementaram um regime nacionalista. Em 1968, dá-se um novo golpe de estado feito em nome do partido político Baas, que pretende conciliar as ideias marxistas com a religião árabe, naquilo que é conhecido como o socialismo árabe: o governo pro-socialista gasta o dinheiro para constuir escolas e comprar armas de defesa para o país. Em 1979, chega ao poder Saddam Hussein, com uma orientação socialista. Saddam, de forma a conseguir negociar com o Ocidente, introduz no país várias reformas de democratização, como eleições livres e partidos políticos. O regime político de Saddam Hussein é nesta altura, no Médio Oriente, o mais parecido com o Ocidente e torna-se amigo próximo dos EUA. Ramsfeld é grande amigo de Saddam Hussein e é ele que vende o gás tóxico ao regime de Saddam.
Ao mesmo tempo, o Iraque mantem amizade com a URSS, por causa do petróleo e com a Jugoslávia: os jugoslavos pagam o petróleo iraquiano com mão-de-obra e por curiosidade, foram os jugoslavos que construíram o bunker onde foi descoberto Saddam. Por isso, na altura, enquanto no Irão sofriam, no Iraque prosperavam, estando nas boas graças de todo o mundo, inclusivé dos dois oponentes da Guerra Fria.
Em 1979, acontecimentos críticos dão-se na região. No Irão, a polícia secreta controlava o povo mas aparece uma oposição religiosa, nas mesquitas, que não conseguem controlar e que vai terminar numa Revolução Islâmica. O povo é todo organizado contra o governo e vêm no aiatola Kheomeini o seu líder. A visão deste aiatola de como deve ser organizado o estado é radical e a Lei Sharia é introduzida no estado, que passa a ser uma república islâmica: trata-se de um regime reaccionário que pretende incluir guerras islâmicas.
Para todos os efeitos, o regime no Irão realiza eleições, com vários partidos políticos. No entanto as eleições não têm valor pois quem confirma os vencedores são os molahs- a última palavra cabe sempre ao conselho religioso, que pode escolher quem vence. Também nesta altura, a posição da mulher altera-se no Irão; a elite estabelece um radicalismo islamita feroz e nasce um anti-americanismo em que se considera que a pobreza é culpa dos EUA, que apoiavam o rei, gastador do dinheiro iraniano no Ocidente. Nasce o conflito entre Irão e EUA que culmina com a ocupação da embaixada dos EUA por jovens revolucionários islâmicos, que fazem os funcionários da embaixada reféns. Trata-se de um episódio não permitido pela lei da diplomacia internacional, consistindo numa grande violação. Os EUA tentam libertar os reféns mas a investida é um fracasso estrondoso (cf. força delta).
Contudo, se a revolução islâmica se espalha, é criada uma região muito perigosa para a hegemonia dos EUA no mundo.E por isso, os americanos instigam Saddam Hussein a atacar o Irão: Saddam está muito bem, tem o apoio do povo, comprou muitas armas e tem um conflito fronteiriço com o Irão há anos. Por outro lado, quando o aiatola entrou teve resistência dos comunistas, que tentavam subir ao poder- Kheomeini teve que lutar contra os comunistas para se impor no país. Em 1980, Saddam ataca o Irão e começa a primeira Guerra do Golfo.
Em 1979, a URSS ocupara o Afeganistão, para impedir que a revolução islâmica atingisse o Paquistão. A guerra na zona dura oito anos porque no início Saddam ganha mas no Irão, o fervor religioso organiza-se e consegue neutralizar o ataque iraquiano. Em 1986 Saddam prepara e executa um ataque e parece ganhar, fortalecendo o seu poder na região. Nesta altura, os EUA mudam de posição e passam a ajudar o Irão pois convem-lhes não um Irão fraco e um Iraque forte mas ambos os países fracos e dependentes. Em 1988, a região está num impasse: a guerra acabou mas ambos os lados estão sem forças para nada: URSS e EUA ficam contentes.
Contudo, Saddam diz que entrou na guerra para fazer um favor e alguém tem de o ressarcir. No entanto, ninguém quer pagar as perdas da guerra a Saddam e este diz que há uma forma de o compensarem e será entregando o pequeno território do Koweit. O Koweit era uma parte do território iraquiano até 1961 e como Saddam entrou na guerra para salvar o Koweit, quer instalar-se lá. Manda o exército ocupar o pequeno país em Agosto de 1990, com uma claro intenção de lá ficar a indeminizar-se com petróleo.
Um ano antes desta invasão, tinha caído o Muro de Berlim e a URSS está de rastos: quando o Iraque invade o Koweit, os cinco membros permanentes da ONU estão de acordo e contra o Iraque, ou seja, tanto Bush como Gorbachov concordam com a ofensiva ao Iraque. A ONU diz que o Iraque cometeu uma violação do direito internacional e que tem que abandonar o Koweit. O ultimato é dado e no dia 17 de Janeiro de 1991 começam os bombardeamentos do Iraque pela ONU, principalmente pelos EUA. Bombardeiam em poucos dias o Iraque, numa batalha sobretudo terrestre onde em poucos dias Saddam é totalmente derrotado. Os EUA afirmam que esta é uma guerra de estrelas, com um novo tipo de armas, as bombas inteligentes e mísseis guiados por satélite. Contudo, apenas 30% dos mísseis eram inteligentes e por isso há muitas mortes civis. Perpassa a imagem de apenas uma super-potência, os EUA, que metem medo e que podem fazer no mundo o que lhes apetece.
Outro aspecto desta segunda guerra do Golfo é de que nenhum jornalista viu a guerra: a opinião pública virou-se contra o governo na altura da Guerra do Vietname e por isso desta vez a imprensa é controlada: só acontece o que a CNN nos mostra. No fim da guerra, Bush não retirou Saddam do poder porque a ordem da ONU era a de repor a ordem anterior à invasão do Koweit.
Já em 2000, George W. Bush ganha as eleições contra Al Gore, numa batalha renhida em que o Presidente apontado não é o que tem mais votos. Em 2000, antes da decisão final, o presidente dos EUA foi temporariamente o juíz do Tribunal Supremo: W.Bush entra já fragilizado. Porém, após os ataques de 11 de Setembro, W.Bush torna-se muito popular, chegando a ser o Presidente americano mais popular de sempre. No poder, Bush declara o eixo do mal como sendo o Irão, o Iraque e a Coreia do Norte, estados segundo ele patrocinadores do terrorismo. No entanto, já se provou que isto era mentira: Saddam nunca teve armas de destruição maciça e nunca patrocinou a actividade da Al Qaeda. A questão é que Bush opta por controlar e conquistar o Médio Oriente, de forma a controlar o petróleo e a instalar regimes favoráveis a Washington. Em Março de 2003, invade o Iraque e inicia a 3ª Guerra do Golfo.
A apoiar Bush estão, entre outros, Blair e Aznar. Reunem-se juntamente com Durão Barroso na cimeira das Lajes e aí planeiam a invasão do Iraque. Hoje, Barroso já admitiu que a invasão do Iraque foi um erro e na altura Jorge Sampaio não queria enviar tropas portuguesas para a guerra. Por isso, Barroso manda apenas a GNR, força da responsabilidade do governo que não está debaixo da alçada do Presidente. Entre outros episódios de (des)preparação dos GNR portugueses, a entrega por Berlusconi de blindados à GNR. Sócrates retirou discretamente todos os portugueses presentes no Iraque.
Hoje, esta Guerra no Golfo não acabou e está longe disso. Ao longo do séc.XX, o conflito israelo-árabe foi também um conflito entre os EUA e aURSS, que acabou ficando a ser substituída pelas forças radicais islâmicas. Se dentro deste panorama, o Irão conseguir a bomba atómica, o cenário mundial fica seriamente ameaçado.
21/11/08
Counting Contents
Na análise qualitativa, podemos querer estabelecer a frequência com a qual algumas histórias aparecem na imprensa ou o nível a que estão ligadas a determinada perspectiva. Queremos assim ter uma visão panorâmica larga do fenómeno que estudamos, olhando de perto a estrutura de uma qualquer história de jornal, para ver como as palavras, frases e parágrafos interagem de forma a privilegiar um significado particular para o evento. É como se pusessemos um texto ou parte dele ao microscópio de forma a revelar formas que muitas vezes não vemos.
Esta pesquisa pode ser levada a cabo de diferentes métodos, nunca se devendo temer a utilização de métodos diferentes ou ângulos de abordagens distintos no mesmo problema: o ecletismo metodológico traz benefícios ao estudo. Os métodos quantitativos ganham valor quando utilizados com outros que têm um grau mais qualitativo.
O termo análise de conteúdo cobre qualquer método que dia respeito ao acto de analisar um qualquer conteúdo mas também, de outro ponto de vista, diz respeito a uma particular perspectiva específica. Berelson descreve como uma "técnica de pesquisa que leva a descrição objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação." Coloca-se o ênfase na objectividade do observável e foi desenhada para trazer o rigor e a autoridade dos métodos naturais ao estudo do fenómeno urbano e social. O segundo ímpeto que teve a análise de conteúdo prendeu-se com o crescimento e a influência das indústrias de media de massas: antes acreditava-se que as massas estavam grandemente expostas e eram muito influenciáveis pelas mensagens dos média. Estas técnicas transformam-se então em maneiras de analisar as arenas simbólicas da cultura de massas e em particular de detectar a presença e a influência da propaganda.
Max Weber propôe uma nova sociologia da imprensa baseada na análise dos jornais, os quais deveriam ser medidos de forma pormenorizada com "tesouras e compassos", de forma a medir as alterações quantitativas nos conteúdos do jornal. O domínio da análise de conteúdos torna-se assim a comunicação e os estudos culturais por excelência, propondo-se a quantificar aspectos salientes e manifestos de um grande número de textos e a estatística usada de forma a conseguir fazer-se inferências relativas aos processos e políticas de representação.
Definir as nossas preocupações
É preciso estar certo desde o início acerca do que nos interessa e do que estamos a investigar: a análise de conteúdo é um método extremamente directivo, dando respostas a perguntas que colocamos. Assim, o resultado vai apenas confirmar, qualificar ou reprovar as perguntas inicias. Uma vez que a análise de conteúdo procura criar uma "big picture", definindo padrões, tendências e ausências de um largo número de textos, lida bem com a massividade dos mass media, podendo levar a conclusões políticas essenciais.
Contudo, a análise de conteúdo tende a "passar" pelo texto e não a "entrar" no texto e por esta razão este método não se coaduna com o estudo de questões mais profundas acerca das formas discursivas e textuais. Não serve para expor nuances retóricas ou estéticas de cada texto.
Um exemplo de um estudo onde se poderia recorrer à análise de conteúdo: existirão disparidades graves entre a representação da actividade criminal na imprensa e o nível de crime na sociedade?
Amostragem
Os estudos de análise de conteúdos podem ter como objecto apenas um texto, relevante para cumprir os objectivos. Muitos requerem o desenvolvimento de uma estratégia de amostragem, sendo necessário definir primeiro a gama de conteúdo sobre o qual queremos fazer inferências. Queremos ver apenas imprensa ou também ficção? E dentro da ficção, todos os géneros? Estes assuntos devem estar claros desde o início pois eles vão guiar a estratégia de amostragem e circunscrever as eventuais inferências que se desenha.
Em segundo lugar, precisamos de definir a unidade de amostra: alguns estudos são muito específicos e analisam a palavra ao pormenor em cada texto; outros são mais lados e analisam temas ou ideias. Uma vez escolhida, a unidade de amostra constitui o anfitrião para todos os elementos textuais que vão ser depois quantificados. Algumas unidades de amostra são dificeis de determinar: não existem respostas certas ou erradas para este tipo de dilemas , é necessário apenas fazer uma opção firme e levá-la até ao fim do estudo.
Em terceiro lugar, a quantidade de população que é preciso analisar de forma a construir uma amostra credivel e representativa. Em primeiro lugar, pensando quanto para trás ou para a frente queremos analisar a informação: o ideal seria extender o tempo ao máximo mas muitas vezes existem problemas de arquivo. Podemos recolher a amostra à medida que investigamos mas é um processo mais moroso e arriscado. Por outro lado, devemos ver qual a extensividade da população que queremos analisar: vamos falar com todos os elementos da população? O benefício de seleccionar é que reduz a logística da investigação mas por outro lado corre-se o risco de comprometer a representatividade da amostra.
Relativamente à amostragem, quanto mais, melhor. Mas muitas vezes o investigador tem que se limitar ao que é "fazível" e não ao que é "desejável".
Decidir o que contar
Esta estádio exige um planeamento cuidado e alguma imaginação uma vez que não existe uma lista standard do que deve ser contado. O que contamos deve sempre ser determinado pelos nossos objectivos e o nosso objectivo é responder às perguntas que fizemos. Nunca se deve contar coisas apenas por contar: se não se consegue dar um uso à variável, devemos livrar-nos dela. Devemos também perguntar-nos até que ponto determinada variável é passível de ser contada. A categorização por exemplo de "ironia" requer um julgamento baseado numa análise detalhada de estruturas de cada texto. De uma forma geral, a análise de conteúdo não funciona quando é preciso ler entre linhas.
Para saber o que contar temos que regressar aos objectivos do nosso estudo. Alguns items que poderiam ser quantificados na análise do crime, por exemplo, seriam: o meio onde a notícia é apresentada, o lugar do item no programa ou jornal, o tamanho, a idade dos intervenientes, o género dos intervenientes, a etnia, a idade das vítimas, o seu género, etnia e os crimes mencionados.
Regra geral devemos quantificar quem aparece no artigo, ou seja, os actores da história, que têm um papel decisivo na mesma. A forma como aparecem na história e a sua apresentação e factores avaliativos da sua intervenção na história, sendo esta uma premissa difícil de conseguir sem antes estabelecer as definições.
Decidir acerca de critérios de qualificação
É importante agora decidir quanto ao critérios de classificação das unidades da nossa amostra. Que tipo de crimes devemos analisar? É útil estabelecer critérios, que existam na realidade ou não, de forma a balizar e classificar os tipos de unidades que vamos analisar e assim decidir se os vamos incluir na investigação ou não. Mais uma vez é necessário tomar decisões firmes quanto a este "set" e manter-se agarrado a elas de forma firme e consistente.
Desenhar uma grelha
Depois de tudo isto decidido, estamos prontos para começar a nossa análise. Precisamos então de estabelecer em primeiro lugar uma "agenda de codificação", uma folha pro-forma onde se inserem os valores de cada uma das nossas variáveis. Uma grelha onde se vão introduzir todos os dados referentes às nossas unidades de análise. Em segundo lugar, é preciso estabelecer um "manual de codificação", contendo todos os códigos em número para cada uma das variáveis listadas na grelha. Algumas coisas são mais fáceis de categorizar do que outras. É fácil codificar o género da vítima (1=feminino; 2=masculino) mas já o tipo de crime requer mais cuidado, sendo necessário recorrer a grelhas instituídas que depois devem ser trabalhadas por nós.
Estes pontos são importantes uma vez que um dos objectivos da nossa pesquisa é contrastar a análise de conteúdo com informação, neste caso, real, de dados oficiais da criminologia, de forma a levantar questões acerca do cruzamento ou enviezamento das informações. A codificação é necessária de forma a aumentar a coerência interna das categorias. É importante testar a nossa grelha de forma a poder adaptá-la às reais necessidades da pesquisa.
Recolher informação
Tendo monitorizado a agenda de codificação e o manual de forma consistente, podemos começar a nossa análise de conteúdo e podemo-nos surpreender com quanta interpretação poderá estar envolvida quando se aplica uma grelha a um conteúdo. Mais uma vez devemos ser consistentes e sistemáticos ao aplicar os instrumentos de pesquisa. É possível, ao descobrir uma solução de codificação, aplicá-la em sítios diferentes, pelo que se deve anotá-la e guardar.
A questão da consistência e repetitividade é bastante importante quando há mais de uma pessoa envolvida na análise. É preciso confirmar o nível de confiança entre os vários codificadores, comparando diferentes peças e o seu encaixe na interpretação. Mesmo quando trabalhamos sozinhos é importante prestar atenção à "reliability": estaremos seguros que aplicamos a grelha da mesma forma, do início ao fim da análise? Será que a nossa interpretação das categorias não mudou ao longo do processo de recolher os dados?
Analisar os resultados
Uma vez analisada a amostra, devemos começar a fazer com que os números façam sentido. Para isso é útil utilizar um programa de computador que faça a análise estatística. A análise consiste em descrever e interpretar as descobertas que se fez pelo cruzamento dos números, chegando às implicações dos resultados. Devemos ter em atenção os seguintes pontos:
1- deve haver um período de "digestão" entre a análise da amostra e a análise dos resultados, de forma a poder reflectir sobre toda a investigação e os seus resultados
2- devemos ser direccionados na nossa análise desde o início, lembrando as questões iniciais, reportando-nos a elas de forma organizada e evitando gerar números só porque sim
3- os resultados podem confirmar as nossas expectativas primeiras, podem confundir o que nós acreditávamos como certo e podem ainda revelar-se inconclusivas. Os resultados estatísticos são mais complexos do que aquilo que parecem e devemos vê-los antes como possibilidades do que como problemas. Não devemos contudo evitar alguma evidência estatística que seja clara, sob o risco de prejudicarmos a integridade e propósito da nossa pesquisa.
4- devemos confiar na nossa intuição e se algo nos parecer estranho, voltar a estudar e ver o que possa estar mal naqueles resultados
5- uma vez analisado tudo, podemos passar para a análise de informação menos directa
Objectividade a que preço?
São estes os passos envolvidos na análise de conteúdo quantitativa e as principais questões que se levantam ao estudar este método. Mas as grelhas claras de codificação trazem-nos sempre resultados objectivos e ausentes de qualquer valoração? Não. Há sempre o cunho do investigador, seja na medida em que decide o que contar, quanto ou na interpretação que traz sempre a subjectividade do julgamento próprio. Não devemos assim reificar os nossos resultados mas sim ser explícitos quanto à nossa gama de amostra, à forma como operacionalizamos variáveis, os critérios de classificação, etc, de forma a que os leitores vejam mérito na obra que produzimos.
Esta pesquisa pode ser levada a cabo de diferentes métodos, nunca se devendo temer a utilização de métodos diferentes ou ângulos de abordagens distintos no mesmo problema: o ecletismo metodológico traz benefícios ao estudo. Os métodos quantitativos ganham valor quando utilizados com outros que têm um grau mais qualitativo.
O termo análise de conteúdo cobre qualquer método que dia respeito ao acto de analisar um qualquer conteúdo mas também, de outro ponto de vista, diz respeito a uma particular perspectiva específica. Berelson descreve como uma "técnica de pesquisa que leva a descrição objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação." Coloca-se o ênfase na objectividade do observável e foi desenhada para trazer o rigor e a autoridade dos métodos naturais ao estudo do fenómeno urbano e social. O segundo ímpeto que teve a análise de conteúdo prendeu-se com o crescimento e a influência das indústrias de media de massas: antes acreditava-se que as massas estavam grandemente expostas e eram muito influenciáveis pelas mensagens dos média. Estas técnicas transformam-se então em maneiras de analisar as arenas simbólicas da cultura de massas e em particular de detectar a presença e a influência da propaganda.
Max Weber propôe uma nova sociologia da imprensa baseada na análise dos jornais, os quais deveriam ser medidos de forma pormenorizada com "tesouras e compassos", de forma a medir as alterações quantitativas nos conteúdos do jornal. O domínio da análise de conteúdos torna-se assim a comunicação e os estudos culturais por excelência, propondo-se a quantificar aspectos salientes e manifestos de um grande número de textos e a estatística usada de forma a conseguir fazer-se inferências relativas aos processos e políticas de representação.
Definir as nossas preocupações
É preciso estar certo desde o início acerca do que nos interessa e do que estamos a investigar: a análise de conteúdo é um método extremamente directivo, dando respostas a perguntas que colocamos. Assim, o resultado vai apenas confirmar, qualificar ou reprovar as perguntas inicias. Uma vez que a análise de conteúdo procura criar uma "big picture", definindo padrões, tendências e ausências de um largo número de textos, lida bem com a massividade dos mass media, podendo levar a conclusões políticas essenciais.
Contudo, a análise de conteúdo tende a "passar" pelo texto e não a "entrar" no texto e por esta razão este método não se coaduna com o estudo de questões mais profundas acerca das formas discursivas e textuais. Não serve para expor nuances retóricas ou estéticas de cada texto.
Um exemplo de um estudo onde se poderia recorrer à análise de conteúdo: existirão disparidades graves entre a representação da actividade criminal na imprensa e o nível de crime na sociedade?
Amostragem
Os estudos de análise de conteúdos podem ter como objecto apenas um texto, relevante para cumprir os objectivos. Muitos requerem o desenvolvimento de uma estratégia de amostragem, sendo necessário definir primeiro a gama de conteúdo sobre o qual queremos fazer inferências. Queremos ver apenas imprensa ou também ficção? E dentro da ficção, todos os géneros? Estes assuntos devem estar claros desde o início pois eles vão guiar a estratégia de amostragem e circunscrever as eventuais inferências que se desenha.
Em segundo lugar, precisamos de definir a unidade de amostra: alguns estudos são muito específicos e analisam a palavra ao pormenor em cada texto; outros são mais lados e analisam temas ou ideias. Uma vez escolhida, a unidade de amostra constitui o anfitrião para todos os elementos textuais que vão ser depois quantificados. Algumas unidades de amostra são dificeis de determinar: não existem respostas certas ou erradas para este tipo de dilemas , é necessário apenas fazer uma opção firme e levá-la até ao fim do estudo.
Em terceiro lugar, a quantidade de população que é preciso analisar de forma a construir uma amostra credivel e representativa. Em primeiro lugar, pensando quanto para trás ou para a frente queremos analisar a informação: o ideal seria extender o tempo ao máximo mas muitas vezes existem problemas de arquivo. Podemos recolher a amostra à medida que investigamos mas é um processo mais moroso e arriscado. Por outro lado, devemos ver qual a extensividade da população que queremos analisar: vamos falar com todos os elementos da população? O benefício de seleccionar é que reduz a logística da investigação mas por outro lado corre-se o risco de comprometer a representatividade da amostra.
Relativamente à amostragem, quanto mais, melhor. Mas muitas vezes o investigador tem que se limitar ao que é "fazível" e não ao que é "desejável".
Decidir o que contar
Esta estádio exige um planeamento cuidado e alguma imaginação uma vez que não existe uma lista standard do que deve ser contado. O que contamos deve sempre ser determinado pelos nossos objectivos e o nosso objectivo é responder às perguntas que fizemos. Nunca se deve contar coisas apenas por contar: se não se consegue dar um uso à variável, devemos livrar-nos dela. Devemos também perguntar-nos até que ponto determinada variável é passível de ser contada. A categorização por exemplo de "ironia" requer um julgamento baseado numa análise detalhada de estruturas de cada texto. De uma forma geral, a análise de conteúdo não funciona quando é preciso ler entre linhas.
Para saber o que contar temos que regressar aos objectivos do nosso estudo. Alguns items que poderiam ser quantificados na análise do crime, por exemplo, seriam: o meio onde a notícia é apresentada, o lugar do item no programa ou jornal, o tamanho, a idade dos intervenientes, o género dos intervenientes, a etnia, a idade das vítimas, o seu género, etnia e os crimes mencionados.
Regra geral devemos quantificar quem aparece no artigo, ou seja, os actores da história, que têm um papel decisivo na mesma. A forma como aparecem na história e a sua apresentação e factores avaliativos da sua intervenção na história, sendo esta uma premissa difícil de conseguir sem antes estabelecer as definições.
Decidir acerca de critérios de qualificação
É importante agora decidir quanto ao critérios de classificação das unidades da nossa amostra. Que tipo de crimes devemos analisar? É útil estabelecer critérios, que existam na realidade ou não, de forma a balizar e classificar os tipos de unidades que vamos analisar e assim decidir se os vamos incluir na investigação ou não. Mais uma vez é necessário tomar decisões firmes quanto a este "set" e manter-se agarrado a elas de forma firme e consistente.
Desenhar uma grelha
Depois de tudo isto decidido, estamos prontos para começar a nossa análise. Precisamos então de estabelecer em primeiro lugar uma "agenda de codificação", uma folha pro-forma onde se inserem os valores de cada uma das nossas variáveis. Uma grelha onde se vão introduzir todos os dados referentes às nossas unidades de análise. Em segundo lugar, é preciso estabelecer um "manual de codificação", contendo todos os códigos em número para cada uma das variáveis listadas na grelha. Algumas coisas são mais fáceis de categorizar do que outras. É fácil codificar o género da vítima (1=feminino; 2=masculino) mas já o tipo de crime requer mais cuidado, sendo necessário recorrer a grelhas instituídas que depois devem ser trabalhadas por nós.
Estes pontos são importantes uma vez que um dos objectivos da nossa pesquisa é contrastar a análise de conteúdo com informação, neste caso, real, de dados oficiais da criminologia, de forma a levantar questões acerca do cruzamento ou enviezamento das informações. A codificação é necessária de forma a aumentar a coerência interna das categorias. É importante testar a nossa grelha de forma a poder adaptá-la às reais necessidades da pesquisa.
Recolher informação
Tendo monitorizado a agenda de codificação e o manual de forma consistente, podemos começar a nossa análise de conteúdo e podemo-nos surpreender com quanta interpretação poderá estar envolvida quando se aplica uma grelha a um conteúdo. Mais uma vez devemos ser consistentes e sistemáticos ao aplicar os instrumentos de pesquisa. É possível, ao descobrir uma solução de codificação, aplicá-la em sítios diferentes, pelo que se deve anotá-la e guardar.
A questão da consistência e repetitividade é bastante importante quando há mais de uma pessoa envolvida na análise. É preciso confirmar o nível de confiança entre os vários codificadores, comparando diferentes peças e o seu encaixe na interpretação. Mesmo quando trabalhamos sozinhos é importante prestar atenção à "reliability": estaremos seguros que aplicamos a grelha da mesma forma, do início ao fim da análise? Será que a nossa interpretação das categorias não mudou ao longo do processo de recolher os dados?
Analisar os resultados
Uma vez analisada a amostra, devemos começar a fazer com que os números façam sentido. Para isso é útil utilizar um programa de computador que faça a análise estatística. A análise consiste em descrever e interpretar as descobertas que se fez pelo cruzamento dos números, chegando às implicações dos resultados. Devemos ter em atenção os seguintes pontos:
1- deve haver um período de "digestão" entre a análise da amostra e a análise dos resultados, de forma a poder reflectir sobre toda a investigação e os seus resultados
2- devemos ser direccionados na nossa análise desde o início, lembrando as questões iniciais, reportando-nos a elas de forma organizada e evitando gerar números só porque sim
3- os resultados podem confirmar as nossas expectativas primeiras, podem confundir o que nós acreditávamos como certo e podem ainda revelar-se inconclusivas. Os resultados estatísticos são mais complexos do que aquilo que parecem e devemos vê-los antes como possibilidades do que como problemas. Não devemos contudo evitar alguma evidência estatística que seja clara, sob o risco de prejudicarmos a integridade e propósito da nossa pesquisa.
4- devemos confiar na nossa intuição e se algo nos parecer estranho, voltar a estudar e ver o que possa estar mal naqueles resultados
5- uma vez analisado tudo, podemos passar para a análise de informação menos directa
Objectividade a que preço?
São estes os passos envolvidos na análise de conteúdo quantitativa e as principais questões que se levantam ao estudar este método. Mas as grelhas claras de codificação trazem-nos sempre resultados objectivos e ausentes de qualquer valoração? Não. Há sempre o cunho do investigador, seja na medida em que decide o que contar, quanto ou na interpretação que traz sempre a subjectividade do julgamento próprio. Não devemos assim reificar os nossos resultados mas sim ser explícitos quanto à nossa gama de amostra, à forma como operacionalizamos variáveis, os critérios de classificação, etc, de forma a que os leitores vejam mérito na obra que produzimos.
20/11/08
MIC - Aula 5
SECÇÃO 3: ANÁLISE DE DADOS QUALITIATIVOS E QUANTITATIVOS
I ANÁLISE DE DADOS QUALITATIVOS
1. Análise de textos
1.1 Análise de conteúdo
A análise de conteúdo é uma análise objectiva (científica) e não interpretativa. Quantificar aspectos manifestos e mostrar tendências, padrões ou ausências são os objectivos da análise de conteúdo. A análise de conteúdo é útil para estabelecer padrões e representações e estabelecer enviezamentos. Por exemplo, existe enviezamento entre a criminalidade nos media e a que realmente existe? Outro exemplo, a posição dos jornalistas face ao uso da canabis versus o tipo de notícias veiculadas.
A amostragem de uma análise de conteúdo faz-se através de uma série de critérios de selecção: o tipo de publicações que se analisa, a situação temporal dessa análise, a situação das fotografias. Estudamos o conteúdo relativamente a palavras-chave, temas, tipos de artigos, tipos de jornais. A abordagem pode ser mais ou menos ampla, sendo necessário elaborar um manual de planificação. Perante um grande universo de notícias construímos uma amostragem que deve ser o mais aleatória possível.
Por exemplo, se quero estudar os alunos de jornalismo não basta ficar à porta para ver os alunos que entram pela porta por volta das 18h- estou a enviezar todos aqueles que chegam atrasados, os que faltam, etc. Da mesma forma, se quero analisar um grande período de tempo, por exemplo uma publicação periódica durante um ano, vou realizar uma semana construída.
É preciso elaborar uma grelha de análise do conteúdo. Numa coluna o objecto estudado (revista nºx), a data, a secção e, por exemplo, a etnia das pessoas entrevistadas nesses artigos estudados na última coluna. Deve-se esclarecer a priori o que considero um texto, neutro ou negativo, qual o código presente no texto (fiability, realibility e fidelity).
Por exemplo, se quero analisar como os jornalistas vêm e tratam pa pobreza, faço entrevistas aos jornalistas. No final das entrevistas tenho muitos textos e para cada texto escolho um extracto representativo, elaborando uma grelha para caracterizar, numa palavra, o extracto do texto. Vamos depois cruzar informação, também. Analiso jornalistas experientes e menos experientes e cruzo, primeiro entre o grupo sénior e a perspectiva negativa e depois entre o grupo jovem e a sua perspectiva negativa. A partir daí leio a validade qualitativa.
(completar com análise do texto: "Counting Contents")
I ANÁLISE DE DADOS QUALITATIVOS
1. Análise de textos
1.1 Análise de conteúdo
A análise de conteúdo é uma análise objectiva (científica) e não interpretativa. Quantificar aspectos manifestos e mostrar tendências, padrões ou ausências são os objectivos da análise de conteúdo. A análise de conteúdo é útil para estabelecer padrões e representações e estabelecer enviezamentos. Por exemplo, existe enviezamento entre a criminalidade nos media e a que realmente existe? Outro exemplo, a posição dos jornalistas face ao uso da canabis versus o tipo de notícias veiculadas.
A amostragem de uma análise de conteúdo faz-se através de uma série de critérios de selecção: o tipo de publicações que se analisa, a situação temporal dessa análise, a situação das fotografias. Estudamos o conteúdo relativamente a palavras-chave, temas, tipos de artigos, tipos de jornais. A abordagem pode ser mais ou menos ampla, sendo necessário elaborar um manual de planificação. Perante um grande universo de notícias construímos uma amostragem que deve ser o mais aleatória possível.
Por exemplo, se quero estudar os alunos de jornalismo não basta ficar à porta para ver os alunos que entram pela porta por volta das 18h- estou a enviezar todos aqueles que chegam atrasados, os que faltam, etc. Da mesma forma, se quero analisar um grande período de tempo, por exemplo uma publicação periódica durante um ano, vou realizar uma semana construída.
É preciso elaborar uma grelha de análise do conteúdo. Numa coluna o objecto estudado (revista nºx), a data, a secção e, por exemplo, a etnia das pessoas entrevistadas nesses artigos estudados na última coluna. Deve-se esclarecer a priori o que considero um texto, neutro ou negativo, qual o código presente no texto (fiability, realibility e fidelity).
Por exemplo, se quero analisar como os jornalistas vêm e tratam pa pobreza, faço entrevistas aos jornalistas. No final das entrevistas tenho muitos textos e para cada texto escolho um extracto representativo, elaborando uma grelha para caracterizar, numa palavra, o extracto do texto. Vamos depois cruzar informação, também. Analiso jornalistas experientes e menos experientes e cruzo, primeiro entre o grupo sénior e a perspectiva negativa e depois entre o grupo jovem e a sua perspectiva negativa. A partir daí leio a validade qualitativa.
(completar com análise do texto: "Counting Contents")
19/11/08
MIC - Aula 6
SECÇÃO 3:
ANÁLISE DE DADOS QUALITIATIVOS E QUANTITATIVOS
I ANÁLISE DE DADOS QUALITATIVOS
1.2 Etnografia
1.3 Análise de discurso
A etnografia é uma metodologia de investigação que é simultaneamente o produto da investigação. Por outras palavras, uma descrição escrita de uma cultura com base nos resultados do trabalho de campo. Podendo ser tanto qualitativa como quantitativa, é normalmente qualitativa. Surge no sentido de perceber como é que as pessoas lidam com determinado ambiente. O trabalho etnográfico está carregado de documentação visual: antropologia da urgência fala-nos de uma necessidade de preservar através da imagem uma forma de qualquer coisa que seja. Um problema surge no trabalho etnográfico: como sou capaz de viver numa determinada cultura e ao mesmo tempo distanciar-me dela, o meu objecto de estudo? Não sendo possível encontrar culturas isoladas ou isolarmo-nos das mesmas, os investigadores voltam-se para o estudo das suas próprias culturas.
A análise etnográfica propôe-se a descobrir as estruturas de significado disponíveis, sistematizar a realidade que caracteriza e distingue o grupo, tornar a realidade do grupo inteligível e mais disponível para considerações. Fala-se também de etnografia virtual, em que se analisa a cultura de determinada comunidade online, por exemplo, ou de utilizadores de um jogo.
Tudo o que forma uma comunidade desenvolve uma cultura própria possível de ser estudada e é possível caracterizar a cultura de determinado grupo. Assim, qualquer prática organizada permite a realização de um estudo etnográfico.
Existem dois tipos de etnografia. Em primeiro lugar, a descritiva ou convencional, que se centra na descrição das comunidades ou grupos, procura descobrir padrões, tipologias e categorias através da análise. E a etnografia crítica, que estuda factores macro-sociais, como o poder, examinando pressupostos comuns e "agendas escondidas"; procura levar a cabo uma mudança e tem objectivos políticos, como dar voz aos desfavorecidos, chamar a atenção para uma dada situação social, etc.
As etapas de um estudo etnográfico passam por procurar uma amostra adequada de entre o grupo em estudo, definir depois o probema, assunto ou fenómeno a explicar, examinar a forma como os indivíduos interpretam a situação e o significadoo que lhe dão, descrever as acções dos indivíduos e a forma como comunicam, documentar o processo etnográfico, monotorizar a implementação do processo e fornecer informação que sustente a explicação dos resultados da investigação.
O texto de uma investigação etnográfica é o equivalente a uma literatura de viagem. Por vezes, é necessário fazer a triangulação, de forma a que se cruze determinados registos sobre um assunto, de forma a ganhar objectividade.
A amostragem de um estudo etnográfico realiza-se através da escolha de um grupo específico de acordo com o propósito de cada estudo. A selecção é feita de acordo com critérios específicos e deve também proceder-se à selecção de informadores-chave sobre o grupo em questão, assim como ter-se em conta a amostra no que respeita ao tempo e ao contexto em que se insere.
A investigação etnográfica compreende um certo número de limitações e problemas: em primeiro lugar, exige tempo e empenho por parte do investigador. Pode ser cansativa e frustrante quando a integração no grupo é dificultada e nem sempre é fácil para o investigador colocar-se na posição do "cultural stranger". Por outro lado, a investigação etnográfica não pode ser generalizada de um modo simplista.
A observação etnográfica levanta questões éticas, entre elas questões relativamente à possibilidade de estudar um comportamento em determinado contexto ou se é ético ou não estudar o comportamento de determinado grupo em determinado contexto. Os registos de observações etnográficas são notas de campo, que envolvem a descrição, relatos, etc de contextos, pessoas, acções, actividades individuais, comportamentos, significados e perspectivas.
Um exemplo de estudo etnográfico são os "digital natives", ou seja, pessoas que já nascem na era digital e por isso formam dimensões da cultura diferentes das nossas e que é interessante estudar. A análise de discurso bem como a etnografia são muito aplicadas ao contexto das organizações.
Em relação à análise de discurso, existem várias correntes que defendem várias análises de discurso. Em primeiro lugar, a "speech act theory", que coloca a ênfase nos aspectos da acção social e da linguagem, tentando perceber em que medida as palavras nos levam a determinadas acções. Em segundo lugar, a etnometodologia, que se focaliza na forma como as pessoas utilizam a linguagem no dia-a-dia de forma a fazerem sentido no seu mundo: trata-se da partilha de significados comuns, sendo que a conversa só faz sentido se houver entendimento entre os intervenientes. Temos muitos implicitos culturais nas formas como agimos e o sentido da palavra extrai-se a partir doutras dimensões. Em terceiro lugar, a semiótica social e hermenêutica, ou seja, a multiplicidade de sentidos de determinado texto.
Foucault fala de constrangimentos do discurso, ou seja, constrangimentos de dimensões simbólicas do próprio discurso. Por exemplo o discurso da ciência constrange determinados comportamentos.
A análise de discurso define-se pelo facto da linguagem realizar uma série de funções no mundo para além da simples representação no mundo. O discurso é definido como um sistema de afirmações que constrói um objecto, suporta instituições, reproduz relações de poder e tem efeitos ideológicos (Parker, 1990).
Como pressupostos, a análise de discurso prevê uma linguagem orientada para a acção/ função, afirmando que as pessoas utilizam uma linguagem intencional para construir relatos ou versões do mundo social. Este processo activo de construção é demonstrado na variabilidade da linguagem (o conceito de variabilidade é fundamental para a análise, já que o discurso varia sistematicamente dependendo da função que lhe está a ser exigida que realize. Trata-se, no fundo, de uma visão da linguagem como lugar de construção do mundo social.
No que respeita à metodologia, a análise de discurso pode ser realizada com textos formais ou informais: a amostragem não é fundamental pois o interesse reside na forma como a linguagem é utilizada: grandes variações com padrões linguísticos podem emergir de um pequeno número de pessoas. Os repertórios interpretativos têm implicação na acção e são empregues em análise de discurso. Trata-se de descobrir como o texto está estruturado de forma que nos convença e ver daí implicações que nos conduzam pela nossa análise.
A instância accional define que toda a comunicação é uma acção simbólica e social: o sujeito usa sempre a linguagem, seja para ordenar ou para pedir. Para identificar a pessoa que ocupa o sujeito da acção devemos questionar-nos sobre quem fala, que posição tem diante do interlocutor e o que objectiva. Na análise do discurso é fundamental pensarmos o que um discurso constroi, que actores e relações existem, que dimensões estão presentes e nas metáforas e hipérboles que reforçam os processos.
ANÁLISE DE DADOS QUALITIATIVOS E QUANTITATIVOS
I ANÁLISE DE DADOS QUALITATIVOS
1.2 Etnografia
1.3 Análise de discurso
A etnografia é uma metodologia de investigação que é simultaneamente o produto da investigação. Por outras palavras, uma descrição escrita de uma cultura com base nos resultados do trabalho de campo. Podendo ser tanto qualitativa como quantitativa, é normalmente qualitativa. Surge no sentido de perceber como é que as pessoas lidam com determinado ambiente. O trabalho etnográfico está carregado de documentação visual: antropologia da urgência fala-nos de uma necessidade de preservar através da imagem uma forma de qualquer coisa que seja. Um problema surge no trabalho etnográfico: como sou capaz de viver numa determinada cultura e ao mesmo tempo distanciar-me dela, o meu objecto de estudo? Não sendo possível encontrar culturas isoladas ou isolarmo-nos das mesmas, os investigadores voltam-se para o estudo das suas próprias culturas.
A análise etnográfica propôe-se a descobrir as estruturas de significado disponíveis, sistematizar a realidade que caracteriza e distingue o grupo, tornar a realidade do grupo inteligível e mais disponível para considerações. Fala-se também de etnografia virtual, em que se analisa a cultura de determinada comunidade online, por exemplo, ou de utilizadores de um jogo.
Tudo o que forma uma comunidade desenvolve uma cultura própria possível de ser estudada e é possível caracterizar a cultura de determinado grupo. Assim, qualquer prática organizada permite a realização de um estudo etnográfico.
Existem dois tipos de etnografia. Em primeiro lugar, a descritiva ou convencional, que se centra na descrição das comunidades ou grupos, procura descobrir padrões, tipologias e categorias através da análise. E a etnografia crítica, que estuda factores macro-sociais, como o poder, examinando pressupostos comuns e "agendas escondidas"; procura levar a cabo uma mudança e tem objectivos políticos, como dar voz aos desfavorecidos, chamar a atenção para uma dada situação social, etc.
As etapas de um estudo etnográfico passam por procurar uma amostra adequada de entre o grupo em estudo, definir depois o probema, assunto ou fenómeno a explicar, examinar a forma como os indivíduos interpretam a situação e o significadoo que lhe dão, descrever as acções dos indivíduos e a forma como comunicam, documentar o processo etnográfico, monotorizar a implementação do processo e fornecer informação que sustente a explicação dos resultados da investigação.
O texto de uma investigação etnográfica é o equivalente a uma literatura de viagem. Por vezes, é necessário fazer a triangulação, de forma a que se cruze determinados registos sobre um assunto, de forma a ganhar objectividade.
A amostragem de um estudo etnográfico realiza-se através da escolha de um grupo específico de acordo com o propósito de cada estudo. A selecção é feita de acordo com critérios específicos e deve também proceder-se à selecção de informadores-chave sobre o grupo em questão, assim como ter-se em conta a amostra no que respeita ao tempo e ao contexto em que se insere.
A investigação etnográfica compreende um certo número de limitações e problemas: em primeiro lugar, exige tempo e empenho por parte do investigador. Pode ser cansativa e frustrante quando a integração no grupo é dificultada e nem sempre é fácil para o investigador colocar-se na posição do "cultural stranger". Por outro lado, a investigação etnográfica não pode ser generalizada de um modo simplista.
A observação etnográfica levanta questões éticas, entre elas questões relativamente à possibilidade de estudar um comportamento em determinado contexto ou se é ético ou não estudar o comportamento de determinado grupo em determinado contexto. Os registos de observações etnográficas são notas de campo, que envolvem a descrição, relatos, etc de contextos, pessoas, acções, actividades individuais, comportamentos, significados e perspectivas.
Um exemplo de estudo etnográfico são os "digital natives", ou seja, pessoas que já nascem na era digital e por isso formam dimensões da cultura diferentes das nossas e que é interessante estudar. A análise de discurso bem como a etnografia são muito aplicadas ao contexto das organizações.
Em relação à análise de discurso, existem várias correntes que defendem várias análises de discurso. Em primeiro lugar, a "speech act theory", que coloca a ênfase nos aspectos da acção social e da linguagem, tentando perceber em que medida as palavras nos levam a determinadas acções. Em segundo lugar, a etnometodologia, que se focaliza na forma como as pessoas utilizam a linguagem no dia-a-dia de forma a fazerem sentido no seu mundo: trata-se da partilha de significados comuns, sendo que a conversa só faz sentido se houver entendimento entre os intervenientes. Temos muitos implicitos culturais nas formas como agimos e o sentido da palavra extrai-se a partir doutras dimensões. Em terceiro lugar, a semiótica social e hermenêutica, ou seja, a multiplicidade de sentidos de determinado texto.
Foucault fala de constrangimentos do discurso, ou seja, constrangimentos de dimensões simbólicas do próprio discurso. Por exemplo o discurso da ciência constrange determinados comportamentos.
A análise de discurso define-se pelo facto da linguagem realizar uma série de funções no mundo para além da simples representação no mundo. O discurso é definido como um sistema de afirmações que constrói um objecto, suporta instituições, reproduz relações de poder e tem efeitos ideológicos (Parker, 1990).
Como pressupostos, a análise de discurso prevê uma linguagem orientada para a acção/ função, afirmando que as pessoas utilizam uma linguagem intencional para construir relatos ou versões do mundo social. Este processo activo de construção é demonstrado na variabilidade da linguagem (o conceito de variabilidade é fundamental para a análise, já que o discurso varia sistematicamente dependendo da função que lhe está a ser exigida que realize. Trata-se, no fundo, de uma visão da linguagem como lugar de construção do mundo social.
No que respeita à metodologia, a análise de discurso pode ser realizada com textos formais ou informais: a amostragem não é fundamental pois o interesse reside na forma como a linguagem é utilizada: grandes variações com padrões linguísticos podem emergir de um pequeno número de pessoas. Os repertórios interpretativos têm implicação na acção e são empregues em análise de discurso. Trata-se de descobrir como o texto está estruturado de forma que nos convença e ver daí implicações que nos conduzam pela nossa análise.
A instância accional define que toda a comunicação é uma acção simbólica e social: o sujeito usa sempre a linguagem, seja para ordenar ou para pedir. Para identificar a pessoa que ocupa o sujeito da acção devemos questionar-nos sobre quem fala, que posição tem diante do interlocutor e o que objectiva. Na análise do discurso é fundamental pensarmos o que um discurso constroi, que actores e relações existem, que dimensões estão presentes e nas metáforas e hipérboles que reforçam os processos.
MIC - Aula 4
Parte I (Profª Helena Santos)
3. Inquérito por questionário
A entrevista estruturada pode ser feita por administração directa ou indirecta (com recurso a entrevistadores). As questões que um inquérito levanta prendem-se com a comparabilidade: resultados eventualmente generalizáveis porque aplicáveis a grandes conjuntos populacionais. Um inquérito pode ser feito com vários tipos de questões: as questões abertas (por exemplo para análise de conteúdo), fechadas (com pré-respostas), semi-abertas, questões escalas (com escalas de atitudes), questões cenários, questões com suportes imagéticos (desenhos ou fotos) e questões filtro.
As questões abertas fazem-se quando queremos inferir sentido ou não sabemos que pré-respostas colocar. As questões escala, coloca-se uma escala de valor, por exemplo de um a cinco, com variáveis ordinais e por vezes evitando o ponto médio. As questões cenário propôem ao inquirido um determinado cenário: há-que ter cuidado com os cenários porque as pessoas têm percepções diferentes e por outro lado deve-se evitar cenários complicados. As questões com suporte imagético servem para identificar o nome de um produto através da imagem, por exemplo no Marketing ou na Psicologia. As questões filtro filtram o inquirido e remetem-no por vezes para perguntas mais abaixo ou para o fim.
Relativamente à ordem das perguntas, devemos começar nas mais genéricas e acabar nas mais incisivas. Devemos também ter em atenção a extensão das perguntas. Alguns problemas surgem nas respostas: a questão das não-respostas e os problemas de interpretação das perguntas. Daí a importância de um pré-teste ao questionário, para evitar a rigidez e a superficialidade das questões.
Parte II (Prof. José Azevedo)
As componentes de um projecto dividem-se em quatro etapas:
1- Introdução e questões gerais na investigação
2- Averiguação da significância da investigação,
3- Revisão da Literatura
4- Design da investigação, ou seja, os métodos de investigação.
Em relação ao segundo ponto, a significância da investigação, é preciso que o nosso tema avance no conhecimento, na originalidade e haja indicadores sociais que mostrem que é importante estudar essa temática. Devemo-nos perguntar a quem é que este domínio de investigação pode interessar, o que é que sabemos sobre o tópico, o que é que ainda não foi respondido adequadamente na investigação anterior e em que medida é que esta nova investigação acrescenta conhecimento a esta área. Se estas questões não se verificarem, o projecto dificilmente será aprovado.
O terceiro ponto remete-nos para saber o que já foi escrito sobre o assunto e acrescentar ao que já existe. A base da ciência diz-nos que não se faz um projecto sem revisão da literatura já feita. Esta literatura tem quatro funções: demonstrar pressupostos subjacentes (questões de investigação); demonstrar que somos conhecedores das investigações relacionadas e das tradições intelectuais que rodeiam o estudo; demonstrar que o investigador demonstrou falhas na investigação anterior que o presente estudo procura colmatar; definir as questões de investigação pela integração em tradições empíricas mais alargadas.
Quanto ao quarto ponto, pode-se fazer o design da investigação através de quatro tipos de análise de realidades: a análise de conteúdo, a análise de discurso, a análise do género (genre) e os estudos etnográficos. A análise de género diz respeito a um conjunto de códigos e convenções estabelecidas para um determinado género: armas capazes de detectar determinados tipos de estruturas. A análise de conteúdo prende-se com uma grelha analítica que vou aplicar a cada um dos episódios, por exemplo, de uma série. A análise de discurso remete-nos para os efeitos de utilização de uma determinada linguagem, com dimensões contextuais fundamentais para perceber o texto. A análise etnográfica estuda a forma como as pessoas se relacionam, a cultura dos utilizadores de determinado artefacto ou espaço através da observação.
3. Inquérito por questionário
A entrevista estruturada pode ser feita por administração directa ou indirecta (com recurso a entrevistadores). As questões que um inquérito levanta prendem-se com a comparabilidade: resultados eventualmente generalizáveis porque aplicáveis a grandes conjuntos populacionais. Um inquérito pode ser feito com vários tipos de questões: as questões abertas (por exemplo para análise de conteúdo), fechadas (com pré-respostas), semi-abertas, questões escalas (com escalas de atitudes), questões cenários, questões com suportes imagéticos (desenhos ou fotos) e questões filtro.
As questões abertas fazem-se quando queremos inferir sentido ou não sabemos que pré-respostas colocar. As questões escala, coloca-se uma escala de valor, por exemplo de um a cinco, com variáveis ordinais e por vezes evitando o ponto médio. As questões cenário propôem ao inquirido um determinado cenário: há-que ter cuidado com os cenários porque as pessoas têm percepções diferentes e por outro lado deve-se evitar cenários complicados. As questões com suporte imagético servem para identificar o nome de um produto através da imagem, por exemplo no Marketing ou na Psicologia. As questões filtro filtram o inquirido e remetem-no por vezes para perguntas mais abaixo ou para o fim.
Relativamente à ordem das perguntas, devemos começar nas mais genéricas e acabar nas mais incisivas. Devemos também ter em atenção a extensão das perguntas. Alguns problemas surgem nas respostas: a questão das não-respostas e os problemas de interpretação das perguntas. Daí a importância de um pré-teste ao questionário, para evitar a rigidez e a superficialidade das questões.
Parte II (Prof. José Azevedo)
As componentes de um projecto dividem-se em quatro etapas:
1- Introdução e questões gerais na investigação
2- Averiguação da significância da investigação,
3- Revisão da Literatura
4- Design da investigação, ou seja, os métodos de investigação.
Em relação ao segundo ponto, a significância da investigação, é preciso que o nosso tema avance no conhecimento, na originalidade e haja indicadores sociais que mostrem que é importante estudar essa temática. Devemo-nos perguntar a quem é que este domínio de investigação pode interessar, o que é que sabemos sobre o tópico, o que é que ainda não foi respondido adequadamente na investigação anterior e em que medida é que esta nova investigação acrescenta conhecimento a esta área. Se estas questões não se verificarem, o projecto dificilmente será aprovado.
O terceiro ponto remete-nos para saber o que já foi escrito sobre o assunto e acrescentar ao que já existe. A base da ciência diz-nos que não se faz um projecto sem revisão da literatura já feita. Esta literatura tem quatro funções: demonstrar pressupostos subjacentes (questões de investigação); demonstrar que somos conhecedores das investigações relacionadas e das tradições intelectuais que rodeiam o estudo; demonstrar que o investigador demonstrou falhas na investigação anterior que o presente estudo procura colmatar; definir as questões de investigação pela integração em tradições empíricas mais alargadas.
Quanto ao quarto ponto, pode-se fazer o design da investigação através de quatro tipos de análise de realidades: a análise de conteúdo, a análise de discurso, a análise do género (genre) e os estudos etnográficos. A análise de género diz respeito a um conjunto de códigos e convenções estabelecidas para um determinado género: armas capazes de detectar determinados tipos de estruturas. A análise de conteúdo prende-se com uma grelha analítica que vou aplicar a cada um dos episódios, por exemplo, de uma série. A análise de discurso remete-nos para os efeitos de utilização de uma determinada linguagem, com dimensões contextuais fundamentais para perceber o texto. A análise etnográfica estuda a forma como as pessoas se relacionam, a cultura dos utilizadores de determinado artefacto ou espaço através da observação.
18/11/08
HMC - Aula 13
VII – CONFLITOS NO MÉDIO ORIENTE
7.1. Complexidade do Médio Oriente
O Médio Oriente aparece na cena internacional como um território onde a guerra ainda não parou, desde a II Guerra Mundial. Nenhum conflito do Golfo está resolvido: apenas nãos e fala tanto deles por causa da recente guerra na Geórgia e das eleições americanas. Mas o território é tão problemático ao ponto de ter causado o primeiro conflito com dimensões substanciais depois da II Guerra.
A complexidade do Médio Oriente prende-se com razões históricas, religiosas e civilizacionais ou económicas. A nível histórico, é palco de conflitos frequentes, a nível religioso, co-abitam no médio oriente as 3 grandes religiões, que continuam num conflito permanente; a nível económico, é a zona no mundo onde existe mais petróleo, sendo isso considerado um milagre e uma maldição.
Em termos de definições, existem "3 Orientes": o Oriente Longínquo (Índia, China, Japão), o Próximo Oriente (Turquia e Balcãs, segundo uns, ou Magrebe segundo outros) e o Médio Oriente, que tem origem na divisão estratégica que Churchill fez na II Guerra e que compreende a zona à volta da Península Arábica, entre eles o Egipto, Turquia, Irão, Afeganistão, Paquistão e alguns países do Cáucaso.
Tratam-se neste último caso de povos incluídos no Império Romano, que acaba no séc. VI, VI. São sucedidos pelo Império Árabe, no séc.VI, com o Profeta Maomé como figura central, organizando toda a população desse território num reinado. No séc. VIII, o Império Árabe chega à Península Ibérica, ao Norte de África e à Índia. É um império baseado na ciência, que deixa muitas marcas, entre elas a Matemática, a Astronomia e o astrolábio. Quando chega ao fim, inicia o Império Otomano, depois de uma série de guerras civis que levaram ao controlo Otomano de todo o Médio Oriente.
Os Otomanos ficam na zona até ao fim da I Guerra Mundial, onde por terem estado ao lado da Alemanha saem derrotados: Reino Unido e França tomam conta do território. É nesta ocasião que se fala de Lawrence da Arábia, que anima os árabes para expulsar os turcos da região. Nesta altura, os britânicos e franceses são os donos da região mas têm de partir por não disporem de capital para sustentar aquele vasto território. São subsituídos na região pelos EUA e durante a Guerra Fria há uma luta constante entre as duas potências para se impor nas guerras da região. Do lado soviético, a Síria, o Egipto e o Iraque. Do lado americano, Israel. Esta divisão impôe também uma divisão religiosa: os judeus com os americanos e os árabes com os soviéticos. A história da região traz assim conflitos permanentes.
No que respeita à religião, há 3 grandes religiões em Jerusalém, sendo que encaramos a religião no sentido estreito do termo, como uma crença num Deus omnipotente e presente. São essas religiões o Judaísmo (clássicos ou ortodoxos e moderados), o Cristianismo (ortodoxos, católicos e protestantes) e o Islão (chiitas e sunitas, estes representando 80%).
Para perceber a problemática da religião naquela zona, é preciso perceber a figura de um profeta. Um profeta é um homem que consegue perceber a verdade de Deus. O profeta mais importante do judaísmo é Moisés, do cristianismo Jesus e do Islão, Maomé. Os judeus e os cristãos nunca se deram bem: os judeus rejeitam Jesus como filho de Deus; os cristãos consideram que foram os judeus quem matou Jesus e daí perseguem-nos. Os judeus culpam o Papa de Roma de ser aliado dos Nazis na II Guerra. E de facto a Igreja nunca condenou nem pediu desculpa pela perseguição aos judeus.
Os judeus foram expulsos do Médio Oriente no séc. VII e VI a.C. aquando daquilo que apelidam a catástrofe, em que perderam os seus estados. Espalham-se pelo mundo todo e continuam muito fiéis à sua religião. As sociedades judaicas são sempre de bom sucesso: estudam muito mais do que os outros e pelas circunstâncias em que viviam tinham que ser mais solidários e poupados. Aliando estas duas coisas, percebem cedo o que é a tecnologia e fundam os primeiros bancos. Conseguem ganhar dinheiro e tornar-se os melhores em várias profissões e vários países, como médicos americanos, por exemplo.
No séc. XIX, os judeus formam o seu próprio movimento nacionalista, o Sionismo, sendo Sião uma das sete colinas de Jerusalém. O objectivo era reconstruir o estado de Israel na Terra Prometida. No início do séc. XX, quando acaba a I Guerra, os americanos favorecem os judeus na região, de modo a terem lá um aliado fiel. Após a II Guerra, o movimento sionista tem o apoio da maioria do mundo. O território de Israel, antes Palestina, é dividido entre árabes e judeus. Hoje, o estado de Israel tem menos de 4 milhões de habitantes, sendo constituído por judeus que vieram de todo o mundo e é um território pequeno. Porém, tem informalmente 100 bombas atómicas ilegais (ilegais porque apenas os membros do Conselho de Segurança da ONU podem supostamente ter). Porém, calcula-se que 36 países tenham armamento atómico, entre os quais o Paquistão e a Índia. Graças ao apoio dos EUA, Israel é uma força militar extraordinária.
No que respeita aos cristãos, não existem muitos no Médio Oriente, embora considerem o local como território santo.
O Islão divide-se entre os muçulmanos (versão persa que quer dizer fiel e é igual a muslim) e mouros, árabes do Norte de África que conquistaram a Península Ibérica. Islão significa a religião dos que são fiéis. Foi criada pelo profeta Maomé, que é o último e mais importante profeta do Islão. Reconhecem a existência de mais profetas como Moisés e Jesus mas a crença e de que Maomé é que trouxe a palavra verdadeira. Maomé era de uma família pobre, trabalhou desde cedo como pastor com um primo que morre e deixa uma viúva, com quem Maomé se casa e tem Fátima, filha única desse casamento. Casa-se mais 19 vezes e tem mais 19 filhas. Como não deixa nenhum filho varão, quando Maomé morre, há o problema da sucessão: ao longo da sua vida Maomé, que era muito inteligente e convincente, criou um grande império em todo o mundo, o Império Árabe.
É aqui que tem início a guerra entre sunitas e xiitas. Os sunitas querem a sucessão pelos reis, pelos califa de cada região; os xiitas querem a sucessão por sangue e dizem que quem deve suceder a Maomé é Ali, marido de Fátima. Este é assassinado pelos sunitas para não se tornar sucessor e desde então os xiitas celebram o aniversário da sua morte. Em Medina, uma batalha sangrenta conta com o apoio dos judeus aos adversários de Maomé, no séc. VII: desde então há um conflito de desconfiança que não cessa.
Antes, porém, Maomé casa-se e começa a sentir a sua ligação com Deus, tornando-se profeta. O transmissor da palavra entre Deus e Maomé foi ditada pelo anjo Gabriel para escrever o Corão (todo escrito em versos, pronunciados de forma solena, que parece que está a cantar, sendo que existe entre Imãs uma competição para ver quem lê o texto de forma mais solene.) É esta a origem da força do Irão, um sistema de professar onde não há igrejas nem padres, cada um professa a religião se quiser. A mesquita não é uma igreja, é um centre de reunião para oração- é eleita na comunidade uma pessoa letrada, o Imã, que não é um padre, é um leitor do livro de Deus, financiado pela comunidade. Os aiatolas também não são bispos: são bons interpretadores da palavra de Deus. O Islão espalhou-se pelo mundo e é hoje a segunda religião com mais fiéis, com fiéis em África, Europa, Ásia.
Entre os cristãos e os muçulmanos, há também conflitos: os cristãos dizem que os muçulmanos são fundamentalistas, agressores e terroristas. É um conflito recente que surge por culpa de uma interpretação fundamentalista do Islão, a Sharia. O Corão não é apenas o livro sagrado, ele tem também a ambição de organizar a sociedade, de ser a lei, perseguindo determinados tipos de comportamentos. Porém, são adoptados na maior parte dos países e culturas árabes outros livros jurídicos, desde o séc. X e XII. Há no entanto uma minoria absoluta que acham que a Lei Sharia deveria ser aplicada. É uma minoria tão escassa como a dos Evolucionistas, na religião cristã. Mas segundo os norte-americanos, quem quer esta lei são os xiitas do Irão- esta premissa é falsa, uma vez que há radicais em todo o lado mas neste caso são minorias absolutas. Tal como os talibãs, uma minoria fundamentalista criada e financiada pelos EUA para destruir a URSS.
Assim, apenas uma parte muito pequena dos muçulmanos quer a Sharia e a Jihad, a guerra islâmica. O que acontece é que de tanto espalharem a mentira que diz o contrário, esta se torna verdade. Outros mitos são apenas isso: cada muçulmano, segundo o Corão, pode casar-se no máximo com quatro mulheres. Porém têm que mostrar à comunidade que têm capacidade de sustentar a segunda mulher. As mulheres no Islão podem divorciar-se e se a primeira mulher não aceitar, não pode haver segunda mulher. O homem tem de indminizar a mulher que se quer divorciar. Contudo, apenas 1% dos muçulmanos está casado com mais do que uma mulher. A situação da mulher no Islão não é perfeita mas não é também como se diz: a maioria das mulheres já não andam de lenço e, por exemplo no Irão, as mulheres representam 33% do Parlamento.
Nas religiões, Deus é igual, o que muda é a interpretação da sua palavra e essa é uma das razões pela qual não existe Paz.
Quanto à economia, o petróleo surge como factor de disputa. Já se conhece a sua existência desde há muito tempo mas só se tornou importante quando aparece o motor de explosão interna- é do petróleo que se extrai o combustível para movimentar este motor. Descobre-se pela primeira vez no Texas e começam depois a procurá-lo em todo o lado, sendo na Arábia Saudita onde existe mais, no mundo todo. Nos anos 30, com o avanço na refinação do petróleo, este torna-se imprescindível para a civilização, utilizando-se para o combustível, aquecimento, vários tipos de gordura e lubrificantes. O petróleo entra na produção de 29 tipos de produtos, sendo que o adubo artificial, insubstituível na produção de comida, é a sua principal utilização. Seguem-se os pesticidas, os produtos de higiene, etc.
O problema do petróleo é que um dia vai acabar, dentro de 20 anos dizem alguns, e daí a corrida para o Polo Norte, porque abaixo do gelo haverá petróleo. Sabe-se que vai acabar, não se sabe quando e por isso até lá a luta para controlar o petróleo é também uma luta pela civilização. Não há substituto que permita manter um nível de vida tão alto. Porém, em 1970 o petróleo custava 1,08 dólares por barril e em 2008 chegou a custar 160 dólares. O Médio Oriente e o Cáspio têm 80% do petróleo mundial e daí a tentativa por parte das potências dominantes de controlar aquelas zonas.
Por todas estas razões, o Médio Oriente vai continuar a ser uma zona de conflito permanente.
7.1. Complexidade do Médio Oriente
O Médio Oriente aparece na cena internacional como um território onde a guerra ainda não parou, desde a II Guerra Mundial. Nenhum conflito do Golfo está resolvido: apenas nãos e fala tanto deles por causa da recente guerra na Geórgia e das eleições americanas. Mas o território é tão problemático ao ponto de ter causado o primeiro conflito com dimensões substanciais depois da II Guerra.
A complexidade do Médio Oriente prende-se com razões históricas, religiosas e civilizacionais ou económicas. A nível histórico, é palco de conflitos frequentes, a nível religioso, co-abitam no médio oriente as 3 grandes religiões, que continuam num conflito permanente; a nível económico, é a zona no mundo onde existe mais petróleo, sendo isso considerado um milagre e uma maldição.
Em termos de definições, existem "3 Orientes": o Oriente Longínquo (Índia, China, Japão), o Próximo Oriente (Turquia e Balcãs, segundo uns, ou Magrebe segundo outros) e o Médio Oriente, que tem origem na divisão estratégica que Churchill fez na II Guerra e que compreende a zona à volta da Península Arábica, entre eles o Egipto, Turquia, Irão, Afeganistão, Paquistão e alguns países do Cáucaso.
Tratam-se neste último caso de povos incluídos no Império Romano, que acaba no séc. VI, VI. São sucedidos pelo Império Árabe, no séc.VI, com o Profeta Maomé como figura central, organizando toda a população desse território num reinado. No séc. VIII, o Império Árabe chega à Península Ibérica, ao Norte de África e à Índia. É um império baseado na ciência, que deixa muitas marcas, entre elas a Matemática, a Astronomia e o astrolábio. Quando chega ao fim, inicia o Império Otomano, depois de uma série de guerras civis que levaram ao controlo Otomano de todo o Médio Oriente.
Os Otomanos ficam na zona até ao fim da I Guerra Mundial, onde por terem estado ao lado da Alemanha saem derrotados: Reino Unido e França tomam conta do território. É nesta ocasião que se fala de Lawrence da Arábia, que anima os árabes para expulsar os turcos da região. Nesta altura, os britânicos e franceses são os donos da região mas têm de partir por não disporem de capital para sustentar aquele vasto território. São subsituídos na região pelos EUA e durante a Guerra Fria há uma luta constante entre as duas potências para se impor nas guerras da região. Do lado soviético, a Síria, o Egipto e o Iraque. Do lado americano, Israel. Esta divisão impôe também uma divisão religiosa: os judeus com os americanos e os árabes com os soviéticos. A história da região traz assim conflitos permanentes.
No que respeita à religião, há 3 grandes religiões em Jerusalém, sendo que encaramos a religião no sentido estreito do termo, como uma crença num Deus omnipotente e presente. São essas religiões o Judaísmo (clássicos ou ortodoxos e moderados), o Cristianismo (ortodoxos, católicos e protestantes) e o Islão (chiitas e sunitas, estes representando 80%).
Para perceber a problemática da religião naquela zona, é preciso perceber a figura de um profeta. Um profeta é um homem que consegue perceber a verdade de Deus. O profeta mais importante do judaísmo é Moisés, do cristianismo Jesus e do Islão, Maomé. Os judeus e os cristãos nunca se deram bem: os judeus rejeitam Jesus como filho de Deus; os cristãos consideram que foram os judeus quem matou Jesus e daí perseguem-nos. Os judeus culpam o Papa de Roma de ser aliado dos Nazis na II Guerra. E de facto a Igreja nunca condenou nem pediu desculpa pela perseguição aos judeus.
Os judeus foram expulsos do Médio Oriente no séc. VII e VI a.C. aquando daquilo que apelidam a catástrofe, em que perderam os seus estados. Espalham-se pelo mundo todo e continuam muito fiéis à sua religião. As sociedades judaicas são sempre de bom sucesso: estudam muito mais do que os outros e pelas circunstâncias em que viviam tinham que ser mais solidários e poupados. Aliando estas duas coisas, percebem cedo o que é a tecnologia e fundam os primeiros bancos. Conseguem ganhar dinheiro e tornar-se os melhores em várias profissões e vários países, como médicos americanos, por exemplo.
No séc. XIX, os judeus formam o seu próprio movimento nacionalista, o Sionismo, sendo Sião uma das sete colinas de Jerusalém. O objectivo era reconstruir o estado de Israel na Terra Prometida. No início do séc. XX, quando acaba a I Guerra, os americanos favorecem os judeus na região, de modo a terem lá um aliado fiel. Após a II Guerra, o movimento sionista tem o apoio da maioria do mundo. O território de Israel, antes Palestina, é dividido entre árabes e judeus. Hoje, o estado de Israel tem menos de 4 milhões de habitantes, sendo constituído por judeus que vieram de todo o mundo e é um território pequeno. Porém, tem informalmente 100 bombas atómicas ilegais (ilegais porque apenas os membros do Conselho de Segurança da ONU podem supostamente ter). Porém, calcula-se que 36 países tenham armamento atómico, entre os quais o Paquistão e a Índia. Graças ao apoio dos EUA, Israel é uma força militar extraordinária.
No que respeita aos cristãos, não existem muitos no Médio Oriente, embora considerem o local como território santo.
O Islão divide-se entre os muçulmanos (versão persa que quer dizer fiel e é igual a muslim) e mouros, árabes do Norte de África que conquistaram a Península Ibérica. Islão significa a religião dos que são fiéis. Foi criada pelo profeta Maomé, que é o último e mais importante profeta do Islão. Reconhecem a existência de mais profetas como Moisés e Jesus mas a crença e de que Maomé é que trouxe a palavra verdadeira. Maomé era de uma família pobre, trabalhou desde cedo como pastor com um primo que morre e deixa uma viúva, com quem Maomé se casa e tem Fátima, filha única desse casamento. Casa-se mais 19 vezes e tem mais 19 filhas. Como não deixa nenhum filho varão, quando Maomé morre, há o problema da sucessão: ao longo da sua vida Maomé, que era muito inteligente e convincente, criou um grande império em todo o mundo, o Império Árabe.
É aqui que tem início a guerra entre sunitas e xiitas. Os sunitas querem a sucessão pelos reis, pelos califa de cada região; os xiitas querem a sucessão por sangue e dizem que quem deve suceder a Maomé é Ali, marido de Fátima. Este é assassinado pelos sunitas para não se tornar sucessor e desde então os xiitas celebram o aniversário da sua morte. Em Medina, uma batalha sangrenta conta com o apoio dos judeus aos adversários de Maomé, no séc. VII: desde então há um conflito de desconfiança que não cessa.
Antes, porém, Maomé casa-se e começa a sentir a sua ligação com Deus, tornando-se profeta. O transmissor da palavra entre Deus e Maomé foi ditada pelo anjo Gabriel para escrever o Corão (todo escrito em versos, pronunciados de forma solena, que parece que está a cantar, sendo que existe entre Imãs uma competição para ver quem lê o texto de forma mais solene.) É esta a origem da força do Irão, um sistema de professar onde não há igrejas nem padres, cada um professa a religião se quiser. A mesquita não é uma igreja, é um centre de reunião para oração- é eleita na comunidade uma pessoa letrada, o Imã, que não é um padre, é um leitor do livro de Deus, financiado pela comunidade. Os aiatolas também não são bispos: são bons interpretadores da palavra de Deus. O Islão espalhou-se pelo mundo e é hoje a segunda religião com mais fiéis, com fiéis em África, Europa, Ásia.
Entre os cristãos e os muçulmanos, há também conflitos: os cristãos dizem que os muçulmanos são fundamentalistas, agressores e terroristas. É um conflito recente que surge por culpa de uma interpretação fundamentalista do Islão, a Sharia. O Corão não é apenas o livro sagrado, ele tem também a ambição de organizar a sociedade, de ser a lei, perseguindo determinados tipos de comportamentos. Porém, são adoptados na maior parte dos países e culturas árabes outros livros jurídicos, desde o séc. X e XII. Há no entanto uma minoria absoluta que acham que a Lei Sharia deveria ser aplicada. É uma minoria tão escassa como a dos Evolucionistas, na religião cristã. Mas segundo os norte-americanos, quem quer esta lei são os xiitas do Irão- esta premissa é falsa, uma vez que há radicais em todo o lado mas neste caso são minorias absolutas. Tal como os talibãs, uma minoria fundamentalista criada e financiada pelos EUA para destruir a URSS.
Assim, apenas uma parte muito pequena dos muçulmanos quer a Sharia e a Jihad, a guerra islâmica. O que acontece é que de tanto espalharem a mentira que diz o contrário, esta se torna verdade. Outros mitos são apenas isso: cada muçulmano, segundo o Corão, pode casar-se no máximo com quatro mulheres. Porém têm que mostrar à comunidade que têm capacidade de sustentar a segunda mulher. As mulheres no Islão podem divorciar-se e se a primeira mulher não aceitar, não pode haver segunda mulher. O homem tem de indminizar a mulher que se quer divorciar. Contudo, apenas 1% dos muçulmanos está casado com mais do que uma mulher. A situação da mulher no Islão não é perfeita mas não é também como se diz: a maioria das mulheres já não andam de lenço e, por exemplo no Irão, as mulheres representam 33% do Parlamento.
Nas religiões, Deus é igual, o que muda é a interpretação da sua palavra e essa é uma das razões pela qual não existe Paz.
Quanto à economia, o petróleo surge como factor de disputa. Já se conhece a sua existência desde há muito tempo mas só se tornou importante quando aparece o motor de explosão interna- é do petróleo que se extrai o combustível para movimentar este motor. Descobre-se pela primeira vez no Texas e começam depois a procurá-lo em todo o lado, sendo na Arábia Saudita onde existe mais, no mundo todo. Nos anos 30, com o avanço na refinação do petróleo, este torna-se imprescindível para a civilização, utilizando-se para o combustível, aquecimento, vários tipos de gordura e lubrificantes. O petróleo entra na produção de 29 tipos de produtos, sendo que o adubo artificial, insubstituível na produção de comida, é a sua principal utilização. Seguem-se os pesticidas, os produtos de higiene, etc.
O problema do petróleo é que um dia vai acabar, dentro de 20 anos dizem alguns, e daí a corrida para o Polo Norte, porque abaixo do gelo haverá petróleo. Sabe-se que vai acabar, não se sabe quando e por isso até lá a luta para controlar o petróleo é também uma luta pela civilização. Não há substituto que permita manter um nível de vida tão alto. Porém, em 1970 o petróleo custava 1,08 dólares por barril e em 2008 chegou a custar 160 dólares. O Médio Oriente e o Cáspio têm 80% do petróleo mundial e daí a tentativa por parte das potências dominantes de controlar aquelas zonas.
Por todas estas razões, o Médio Oriente vai continuar a ser uma zona de conflito permanente.
10/11/08
CP - Aula 3
I - INTRODUÇÃO
1.2. Enquadramento teórico-conceptual
Como vimos, Thomas Hobbes, filósofo inglês do sec. XVI, foi uma das personalidades que inspiraram os Liberalistas, no que respeita à instalação de uma ordem baseada na Lei, como forma de regular as liberdades individuais: "Limita-se a liberdade mas traz-se a Liberdade respeitando a ordem."
Também Emanuel Kant, no sécu. XVIII e XIX, fala de um idealismo moral no qual se baseia a direita conservadora. Kant afirma que a moral acompanha o homem de forma inata e que procuramos fazer sempre o bem, apesar de fazermos sempre o errado. Kant fala de uma transformação democrática, pacífica, afirmando que os estados deveriam ser cada vez mais democráticos e que uma vez totalmente democráticos apareceria a Paz perpétua naquela que seria uma grande federação a nível mundial. Kant afirma que países democráticos não lutal entre si mas está enganado, como vimos várias vezes ao longo da História.
Adam Smith, filósofo inglês, realiza uma investigação sobre a Natureza e a causa da riqueza das nações, chamada precisamente "Riqueza das Nações", em 1776. Smith diz que na economia existe também a lei divina e que é a lei da oferta e da procura. Esta lei é apenas regulada por uma mão invisível de auto regulação do mercado: as leis são imutáveis e ao Homem cabe-lhe apenas o papel de tentar percebê-las. Assim, para Adam Smith, o estado não deve interferir na economia, apenas cuidar para que a iniciativa capitalista seja livre e a lei divina funcione. É ele quem está na origem do capitalismo moderno, com o seu "laissez faire laissez passer" que significa precisamente deixar passar a mercadoria sem limitar, não limitar a sua venda e não pagar impostos sobre as vendas. Segundo ele, este é o garante do progresso da nação.
No séc.XIX, o Liberalismo é dominante no mundo ocidental. A nível político, o Liberalismo Radical vai ganhando terreno no panorama mundial: a tendência para dar o direito de voto a todos os cidadãos, progressivamente. Todos os homens brancos têm o direito de voto na segunda metade do séc.XIX mas apenas no séc.XX essa liberdade é alargada às mulheres. O Liberalismo ganha liberdade formal com o direito de voto e as constituições mas a liberdade efectiva continua a ser apenas para as classes privilegiadas.
No séc.XX dão-se duas grandes crises do liberalismo. A primeira é a Crise dos anos 30, ou Grande Recessão, que começa nos EUA e se alastra à Europa. Uma crise da qual só se sai graças a Maynard Keynes, um filósofo e economista que reformula o liberalismo. Uma vez que a alternativa ao liberalismo em 1929 era o socialismo, Keynes pergunta-se qual será a melhor forma de combater isso mesmo e chega à conclusão de que a forma mais eficaz para combater o socialismo é aceitar algumas das suas formas. Keynes instala reformas no sistema, muitas delas aproveitadas ainda hoje pelos neo-liberalistas, e que afirmam sobretudo que a política fiscal tem que ser em função do desenvolvimento e com uma função social. Passa-se a fazer assim uma tributação progressiva. Em relação a esta tributação progressiva surge depois a pergunta sobre o que fazer com o dinheiro dos impostos. A resposta vai para o investimento para criação de emprego, para que haja mais dinheiro a circular.
Os neo-liberalistas, como Cavaco Silva, que são mais à esquerda no sentido liberal reformador, apoiam-se nas ideias de Keynes. Também na altura do New Deal norte-americano se recorre a Keynes e até Hitler adopta as medidas socialistas de Keynes, no início. O estado do bem-estar é aplicado depois da 2ª Guerra Mundial e dá um progresso extraordinário à Europa Ocidental.
A outra crise do Liberalismo aconteceu nos anos 70 e é em tudo idêntica à crise que se vive hoje. Começou com os EUA enfraquecidos devido à Guerra do Vietname, decidindo proteger-se e diminuir o valor do dólar. É acompanhada de um forte choque petrolífero. A resposta à crise veio à direita, desta vez, nas ideias de Adam Smith, protagonizada por Margaret Tatcher e Ronald Reagan. O estado não tem dinheiro para financiar gastos com saúde, educação e reformas, pelo que se opta por se diminuir os gastos sociais. Opta-se também por uma desregulamentação em relação a leis que proibiam despedir, obrigavam os estados a ter uma reserva de ouro e por outro lado fazem-se novas leis, privatizações, revisões de leis de trabalho, etc. A palavra de ordem era "quanto menos estado, melhor estado" e quanto menos houver intervenção do estado melhor.
Em suma, o Liberalismo surge para destruir o Antigo Regime, propondo uma nova sociedade, liberdades individuais e não tanto direitos políticos ou sociais. É uma ideologia que cresce e vai tendo crises cíclicas.
Dentro da direita, e mais à direita do que o Liberalismo há o Conservadorismo. Edmund Burke, um filósofo inglês, publicou um livro com reflexões sobre a Revolução Francesa. Trata-se de uma reacção eclíptica do Liberalismo, que diz que este é uma ilusão e um erro histórico. Burke refere que não há igualdade entre os homens, que existem classes sociais que são o resultado de uma evolução lógica e natural ao longo dos séculos. As classes sociais são uma evolução que se confirma ao longo do tempo.
Na base do conservadorismo está a "tradition", ou seja, a manutenção e fundamento de relações na sociedade baseadas na tradição. Num caso judicial, por exemplo no Reino Unido, uma vez tomada uma decisão num caso judicial adopta-se noutros por tradição. Não obstante, o Reino Unido é uma das sociedades mais justas e tolerantes da história.
O Conservadorismo aparece numa altura em que surgem vários partidos políticos que são contra os liberalistas e a favor de se manter as diferenças entre classes e grupos sociais: consideram a sociedade desigual e criam formas políticas para defender essas desigualdades. Depois da 2ª Guerra estes partidos ficam postos de parte mas renascem depois da queda do Muro de Berlim. Actualmente fala-se dos "neo-con", entre os quais George W. Bush é o mais famoso. Bush privilegiou toda a elite tecnológica, executivos de grandes empresas, vistos como um Deus que cria riqueza e que portanto é preciso manter rico pois ele merece. Bush e os neo-conservadores afirmam que estes grandes gestores estão a levar a riqueza ao mundo e como tal devem ser privilegiados.
Entre Liberalismo e Conservadorismo organizam-se as principais tendências da Direita. A divisão esquerda/ direita tem várias explicações: antes da Revolução Francesa são convocadas reuniões gerais para burgueses e nobres: os que querem alterações sentam-se à esquerda, os que querem preservar sentam-se à direita. Também a imagem do Parlamento britânico separa à esquerda os Trabalhistas e à direita os Conservadores, tendo o "speaker" ao centro. Também em Portugal os partidos se organizam à direita ou à esquerda do Presidente da Assembleia da República (actualmente Jaime Gama).
Em Portugal existe o centro direita, a direita e a extrema direita, com várias flutuações. O centro direita proclama um Liberalismo reformado, tipo Keynes, respeitando as liberdades individuais, a propriedade privada, a liberdade de empreendimento e a possibilidade de intervenção do estado em caso de crise. O Liberalismo reformador português é representado pelo PSD, onde mesmo assim Manuela Ferreira Leite está mais à esquerda e Durão Barroso e Pedro Santana Lopes mais à direita. Sá Carneiro era o representante principal deste centro direita.
A direita defende o conservadorismo e admite diferenças na sociedade. Diz que se deve privilegiar o grande capital pois este dá emprego e desenvolve a sociedade. É representada em Portugal pelo PP, embora Freitas do Amaral fosse um conservador tolerante e Manuel Monteiro tivesse virado à direita para um PP de Paulo Portas quase extremo.
A extrema-direita compreende neo-fascistas, neo-nazis, entre outros extremos, e são contra qualquer forma de individualismo. Existem em Portugal pelo PNR, embora as manifestações de índole fascista ou nazi estejam proibidas por lei. Fazem parte do governo, por exemplo, na Áustria.
No que respeita à esquerda, existe um sem número de -ismos associados a movimentos ideologicamente considerados de esquerda. Vamos estudar o socialismo, comunismo e anarquismo e depois algumas figuras importantes no pensamento da esquerda.
O Socialismo nasce na década de 30 do séc.XIX. Nasce de dois filósofos, um francês e um inglês. Desde cedo começa a confusão entre socialismo, comunismo e anarquismo, conceitos que aparecem separados no Manifesto Comunista de 1848. Em 1890, numa das edições do manifesto, Engels escreve um prefácio: "socialistas são charlatões que querem fazer a reforma do comunismo. Os comunistas são os verdadeiros reformadores, que querem fazer a reforma da sociedade e anular o liberalismo. É na década de 20 do séc.XX que Lenine começa a utilizar definitvamente a palavra Comunismo e é definitiva a dissociação entre os dois movimentos.
Existem pelo menos 300 definições de socialismo, pelo que a definição da palavra não é fácil. Nasce no séc.XIX em reacção ao Liberalismo pois devido a este algumas classes tornaram-se ainda mais ricas e outras ainda mais pobres. Diz que a sociedade se deve organziar para determinar um mínimo de sobrevivência do social, da sociedade que está a sofrer com o Liberalismo. Na primeira metade do séc.XIX, o socialismo surge assim com a inspiração de proteger os mais fracos. As ideias são reformuladas na 2ª metade do séc.XIX, afirmando-se que o direito à propriedade privada tem que ser limitado e não anulado: limitar apenas onde há actividade social para que a sociedade em conjunto tenha garantias. Afirma também que os principais recursos económicos devem estar sob controlo dos trabalhadores, num grande banco principal que é propriedade estatal que tem que ser controlada e não servirá para enriquecer os privados. A gestão da riqueza nacional deve ser no sentido de promover igualdade e justiça social- a fraternidade que proclamou a Revolução Francesa.
O Comunismo é uma ideia utópica que existe há muitos séculos, desde o Evangelho, que proclama que todos somos iguais e que tudo o que existe na Natureza deve ser repartido. Platão, na "Republica" ou Thomas Moore na "Utopia" falam já do que mais tarde se chamou Comunismo. Trata-se de criar uma sociedade sem conflitos, onde todos são tratados de igual forma. No Ocidente, Comunismo aparece ligado ao regime Soviético ou a partidos que querem criar um regime soviético porém na Europa de Leste Comunismo é algo bem diferente.
Para os povos de Leste, Comunismo é a fase última a que chega a evolução da Humanidade e da qual o Socialismo é o nível intermédio. O Comunismo pretende eliminar conflitos e como Marx explicou que a verdadeira causa de conflito é a propriedade privada, o objectivo do comunismo passa a ser o de eliminar a propriedade privada. O Comunismo é originalmente a favor de todas as liberdades do Homem, tendo-as escritas. Porém, na prática, o Leninismo veio limitar as liberdades individuais.
O Comunismo é assim uma sociedade sem classes, sem propriedade privada, onde a riqueza vai sendo distribuída segundo as necessidades: trabalhar segundo as capacidades, receber segundo as necessidades.
O Anarquismo prevê uma liberdade total. Afirma que quando o Homem apareceu não havia nenhuma lei nem instituição, pelo que esse mesmo Homem pode viver sem governo, sem lei, sem instituições. Uma anarquia seria uma sociedade totalmente livre, onde o Homem poderá ser feliz. Assim, querem destruir o estado mas não pela via pacífica e progressiva: querem destruí-lo através de atentados, terrorismo e lutas e daí recorrerem frequentemente a actos terroristas, numa ideia trotskyana de revolução permanente.
Em suma, o Socialismo critica o liberalismo, protege a maioria e reforma o liberalismo, preservando a sociedade actual mas limitanto a propriedade privada. O controlo é feito através das instituições. O Socialismo prevê alguma actividade pública. O Comunismo afirma que definitivamente o liberalismo não serve, é precisa uma nova sociedade sem conflitos e para isso querem anular a propriedade privada, mantendo as liberdades individuais. O Anarquismo varia relativamente à diferença sobre como chegar ao comunismo: querem destruir, romper, matar... Seja como for, toda a esquerda gira em torno de Karl Marx.
Marx era um judeu alemão que foi morar para Inglaterra e que viveu entre 1818 e 1883. A sua obra principal chama-se "O Capital". A filosofia de Marx baseia-se na dialética materialista: a dialética prevê uma lei fundamental de progresso e negação, de luta entre dois pólos. Para Marx, toda a dialética é sobre matéria uma vez que não existe espírito, não existe Deus. Existe sim um conflito permanente, nomeadamente na área que Marx refere acontecerem as relações mais importantes, ou seja, na economia. Para Marx, existe uma permanente exploração duns pelos outros, que apenas se altera na forma de exploração: escravidão ou capitalismo é a mesma coisa. Diz que essa relação tem de ser alterada e deu fundamento científico às suas afirmações para se distanciar da religião, a que chama o "ópio do povo".
O seu socialismo científico afirma que a sociedade está a progredir, num progresso tecnológico que não tem limites e que levará a que um dia as máquinas produzam tudo e que o homem não precise de trabalhar. Para haver lucro e eficácia há necessidade de integração das empresas e do capital: o número de proprietários será cada vez mais pequeno (como já se verifica desde há muito tempo com o desaparecimento do comércio local) e o número de proletários vai ser absurdamente grande. Esse número reduzido de grandes proprietários torna-se absurdo e há necessidade de alterar a relação na sociedade. Porém, a burguesia não deixará que essa alteração seja feita de forma pacífica e daí ser necessária uma revolução.
Em 1871, na Comuna de Paris, os comunistas assumem o comando e fazem demasiada violência. É aí que Marx se torna a favor de uma alteração não violenta na sociedade: revolução sim mas violência não. Este ponto torna-o diferente de Lenine, que chega ao poder de forma violenta. Marx propôe eleições democráticas a fim de iniciar aquilo que apelida de social democracia.
A social democracia original pretende uma reforma do Liberalismo pela via não violenta. Deve ser feita pela via democrática, indo a eleições, formando governos, introduzindo na sociedade as ideias socialistas. Em 1875, em Gotha, reunem-se representantes dos partidos socialistas, que discutem como se organizar e de que forma. Dividem-se em dois grupos: uns para fazer reformas de forma pacífica (sociais democratas) e outros não. Ambos formam a I Internacional Socialista, uma associação dos partidos socialistas europeus. Na I Internacional, quem domina é a social democracia, força que funciona até ao fim da I Guerra Mundial.
Uma nova discussão em 1919 forma a II Internacional, que continua a ser dominada pela social-democracia mas já lá está Lenine e os seus revolucionários que formam a III Internacional, desta vez dominada pelos comunistas e Lenine.
Outra figura de proa na esquerda e em particular na social democracia, é Karl Kautsky, um alemão, seguidor de Marx, que diz que as reformas que pretendem os socialistas e comunistas podem fazer-se pela via democrática.
O socialismo era a força política predominante depois da II Guerra Muncial mas hoje já não é. Oque afirma o socialismo contemporâneo é que se deve fazer um reforço do estado social, ou seja mais serviço público, mais funcionários públicos, mais médicos, mais bolsas de estudo, etc. Deve-se conseguir através da intervenção do estado na sociedade e na economia controlar grande parte da riqueza nacional no sentido de a distribuir- estado como actor social. A política fiscal deve ser prograssiva: quem ganha mais, paga mais.
No entanto, a esquerda fica órfã com a queda do Muro de Berlim: os socialistas não sabem o que fazer, uma vez que tudo o que defendiam parece não ter resultado. À espreita está o perigo dos neo-liberais, as verdadeiras ameaças a uma sociedade comunista. Uma das soluções que ganha nos anos 90 e 00 é a 3ª via de Tony Blair: diz-se socialista mas mente, uma vez que impôe um liberalismo puro e duro. É uma fórmula que serve para ganhar eleições e que se repete no PS português, que implementou algumas das receitas de Tony Blair. Com o avançar dos anos, avançam também os liberais, perde o socialismo original e tudo converge para o centro.
Vladimir Lenine é outra das figuras mais presentes na esquerda. Faz uma interpretação própria sobre o pensamento marxista, a que chama marxismo-leninismo. O marxismo afirma que a revolução acontecerá quando houver tecnologia e indústria em grande quantidade- Lenine adapta a teoria da revolução a uma Rússia onde ainda não havia indústria. Afirma que tem que se chegar ao poder de forma violenta e fala de um centralismo democrático, ou seja, dentro da sociedade há um grupo que tem consciência e que é a vanguarda do proletariado: são membros do proletariado que emergem e fazem parte do Partido Comunista. Esse PC é a vanguarda da sociedade que a vai conduzir e guiar. Lenine necessita do Estado forte e introduz a ditadura de um grupo de vanguarda, ou seja, a Ditadura do Proletariado. Aqui, vai contra a teoria de Marx que refere que o estado irá morrer, uma vez que a sua função de apagar o conflito irá cessar.
Porém, a realidade da Rússia é outra: Lenine interpreta as palavras de Marx para uma situação que ele tem necessidade de moldar e adaptar.
Leon Trotsky é o chefe do exército vermelho, partidário do PC, defensor da ideia de uma revolução permanente, a chamada 3ª via além da bolchevique e da menchevique. Trotsky afirma que é necessário fazer a revolução não pela violência- a democracia tem que estar presente e tem que haver uma mudança permanente de forma a que todo o mundo se transforme segundo os princípios comunistas. Trotsky entra em conflito com Estaline, que afirma que basta haver comunismo na URSS, não é precisa a propagação. Trotsky afirma que é necessário exportar a revolução, pois só quando o mundo inteiro se tornar comunista esta é válida. Trotsky quer uma revolução permanente e global.
Josef Estaline é responsável por seu lado por uma Ditadura do Proletariado, ouseja, uma ditadura da burocracia, afirmando, como vimos que quem deve exercer o poder nessa ditadura é o Comité Central, os burocratas do partido.
Mao Tse Tung, outra das figuras de proa do Comunismo. Mao consegue uma vitória militar na guerra civil chinesa, fazendo a sua revolução com os camponeses e não com os operários, como os russos: reinterpreta Marx, neste sentido, uma vez que a China era sobretudo agrícola e a força comunista estava nos campos. Faz uma guerrilha de desgaste, com poucos soldados e menos armas do que o adversário mas que consegue vencê-lo passados dez anos de desgaste. Mao instala uma Revolução Cultural na sua luta pelo poder, com os guardas vermelhos, os livros e outros esquerdismos radicais suficientes para neutralizar adversários políticos na sua luta pelo poder. Rapidamente consegue industrializar a China, desenvolvendo-a e produzindo comida suficiente para todos os chineses. Mao desenvolve um pensamento esquerdista na população, que traz primeiro o comunismo na cabeça e só depois pensa em comer e beber, sem questionar nunca a liderança de Mao.
Quanto ao comunismo ocidental, ou Eurocomunismo, fala de uma chegada ao comunismo por via pacífica, dentro do sistema político plural partidário. Desenvolve-se depois da II guerra através de partidos comunistas ocidentais muito fortes, como o italiano ou o francês.
Hoje em dia, aparecem neo-marxistas, da Escola de Frankfurt, uma escola formada no tempo entre guerras e que continua a ser hoje em dia um centro essencial do pensamento marxista. Afirmam também que é possível chegar ao comunismo através da participação no sistema eleitoral. Em Portugal, por exemplo, os neo-marxistas são representados pelo Bloco de Esquerda, que se afirmam diferentes do PCP, que mantém as raízes marxistas-leninistas mas abandonam a ideia de revolução violenta. O BE afirma-se também como os defensores do verdadeiro socialismo, reformador do Liberalismo e introdutor de novas políticas.
A esquerda actualmente esqueceu estes conceitos e divide-se antes em centro esquerda, esquerda e esquerda radical. Os primeiros são os sociais democratas, representados em Portugal pelo PS e, por exemplo, no Brasil, pelo PT. A esquerda, que refere a redução da propriedade privada e o controlo dos trabalhadores sobre a riqueza, é representada em Portugal pelo Bloco de Esquerda e a esquerda mais radical está nas mãos do PCP, que continuam a falar em marxismo, leninismo, revolução, etc.
Actualmente, as ideias de Marx estavam a perder força política até à intervenção por parte dos governos aquando da crise financeira. Sócrates evitava mesmo utilizar a palavra socialismo, preferindo colocar-se cada vez mais ao centro. Entre Liberalismo e Socialismo, Esquerda ou Direita, já não existem grandes diferenças, como se vê entre o PS e o PSD.
As principais diferenças entre os dois partidos do centro residem nas liberdades fundamentais, como por exemplo, o aborto, a eutanásia, os casamentos gay, a utilização de drogas leves na medicina, etc. Também na economia há grandes diferenças: o PSD é contra qualquer intervenção do estado na economia, enquanto o PS quer essa intervenção, muito embora após a queda do Muro de Berlim sejam muito discretos quanto a essa intervenção e a usem apenas agora, em tempo de crise. Também a propriedade privada separa os dois partidos, com o PSD a querer uma propriedade totalmente privada e o PS a querer a propriedade pública de algumas instituições.
Na esquerda, surgem vários movimentos para maior justiça social. Movimentos anti-globalização e outros, que procuram equilíbrio. A ecologia também está geralmente associada à esquerda uma vez que todos os movimentos ecologistas são de esquerda ("Verdes") e a esquerda é sempre contra a poluição, as emissões de CO2 e a favor das fontes de energia renovável. Também o feminismo, que exige a igualdade entre homens e mulheres, é típico de esquerda, assim como os movimentos pacifistas.
Para além destas ideologias, que podem compactuar com um sistema democrático, existem outro tipo de ideologias políticas, as ideologias totalitárias, ligadas à não-democracia. O totalitarismo abarca o nacionalismo, o fascismo, o nazismo e o neo-fascismo e diz que o estado deve controlar toda a sociedade, não deixando ninguém escapar ao seu controlo. Há totalitarismos de direita e de esquerda (estes, os mais conhecidos são os de Estaline e Mao).
O Nacionalismo não é necessariamente totalitarista- quando aparece é uma força nacional contra um império. Quando os movimentos nacionalistas começam são movimentos progressivos, como por exemplo a emancipação das colónias que leva à descolonização. Porém, no séc. XIX o nacionalismo alinha-se com ideias totalitárias e no séc.XX o fascismo e o nazismo vêm-lhe trazer uma forte força conservadora.
O Nacionalismo tem várias formas de manifestação: o patriotismo, que é um nacionalismo positivo e que significa apenas alguém gostar da sua pátria, nação ou país. O chauvinismo, que nasce no séc.XVIII, de um líder de um movimento da Alsácia que quer expulsar os estrangeiros: chauvinismo é já uma primeira forma de intolerância com os estrangeiros. A xenofobia, que quer expulsar os estrangeiros pela violência e que reaparece na direita extrema contra os imigrantes, na Europa. E o por fim o racismo, que considera que uma raça é superior às outras.
O Nacionalismo cria um estado-nação, ou seja, um estado baseado na ideia da raça e da nação como únicos objectos válidos. O nacionalismo controla toda a sociedade para a única finalidade de criar um estado-nação. Porém, a nação forma-se do ponto de vista cultural (uma língua e uma mesma identidade cultural), jurídico (escreve-se a lei e a constituição) e político (forma de governo que comunica à nação que é um estado). Em Portugal não é um problema mas todos os estados da Europa têm no seu território estrangeiros vizinhos e vivem todos misturados.
O Fascismo é um sistema corporativo, ou seja, uma forma de organizar a sociedade que existe desde do Antigo Regime: faz-se uma sociedade de uma respectiva função, a pessoa entra pelo patamar mais baixo dessa corporação e vai subindo na organização. O Liberalismo destroi estas corporações e os fascistas têm uma nostalgia por este Antigo Regime e acham que devem restabelecer o sistema corporativo. A Igreja, por seu lado, apoia a ideia de devolver corporações à sociedade.
O Fascismo aparece com Mussolini e é em Itália que se forma o primeiro governo fascista. A maioria dos estados europeus vão ser, posteriormente, estados fascistas, sendo que poucos estados europeus ficam liberais (Nórdicos, franceses, britânicos, jugoslávia e pouco mais). O carácter do Fascismo é totalitário: o líder e o governo controlam tudo, num sistema hierárquico que vai desde baixo até ao grande chefe, que pode ser o Duce, o Fuhrer, o Caudillo, etc. É profundamente anti-liberal e anti-individual, contra a cooperação no interior de uma classe, como forma de combater o socialismo e comunismo.
O sistema corporativo é um regime expansionista, ou seja, afirma que as nações são pobres e que devem por isso conquistar territórios dos ricos. Mobilizam também massas, incentivando-as a juntar-se no culto do líder. A economia é controlada, com tendência a ser planificada, pelo que já não existe empresários nem iniciativa privada. O Fascismo aniquila qualquer oposição, que embora exista é impedida de chegar ao poder.
O Nazismo, nacional socialismo, provém do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Os nazis proferem uma raça pura, ariana, descendente de um povo antigo, próximo da Índia, que em nada tem a ver com a imagem dos alemães como raça pura. A ideia da raça ariana provém de Nietsche, que afirma que "Deus morreu" e que como tal não existe limitação para o Homem- Hitler pega nesta ideia do super-homem para criar uma raça que, no seu entender, deve ser purificada e daí iniciar a expulsão de raças e condições consideradas inferiores daquele que é o espaço vital alemão.
Os neo-nazis e neo-fascistas, ou também pós-fascistas, evoluem do fascismo e têm igualmente como símbolos a ideia da raça superior. Aparecem actualmente um pouco por toda a Europa mas é na Áustria e em Itália que a situação é mais grave pois estas forças chegaram já ao poder.
1.2. Enquadramento teórico-conceptual
Como vimos, Thomas Hobbes, filósofo inglês do sec. XVI, foi uma das personalidades que inspiraram os Liberalistas, no que respeita à instalação de uma ordem baseada na Lei, como forma de regular as liberdades individuais: "Limita-se a liberdade mas traz-se a Liberdade respeitando a ordem."
Também Emanuel Kant, no sécu. XVIII e XIX, fala de um idealismo moral no qual se baseia a direita conservadora. Kant afirma que a moral acompanha o homem de forma inata e que procuramos fazer sempre o bem, apesar de fazermos sempre o errado. Kant fala de uma transformação democrática, pacífica, afirmando que os estados deveriam ser cada vez mais democráticos e que uma vez totalmente democráticos apareceria a Paz perpétua naquela que seria uma grande federação a nível mundial. Kant afirma que países democráticos não lutal entre si mas está enganado, como vimos várias vezes ao longo da História.
Adam Smith, filósofo inglês, realiza uma investigação sobre a Natureza e a causa da riqueza das nações, chamada precisamente "Riqueza das Nações", em 1776. Smith diz que na economia existe também a lei divina e que é a lei da oferta e da procura. Esta lei é apenas regulada por uma mão invisível de auto regulação do mercado: as leis são imutáveis e ao Homem cabe-lhe apenas o papel de tentar percebê-las. Assim, para Adam Smith, o estado não deve interferir na economia, apenas cuidar para que a iniciativa capitalista seja livre e a lei divina funcione. É ele quem está na origem do capitalismo moderno, com o seu "laissez faire laissez passer" que significa precisamente deixar passar a mercadoria sem limitar, não limitar a sua venda e não pagar impostos sobre as vendas. Segundo ele, este é o garante do progresso da nação.
No séc.XIX, o Liberalismo é dominante no mundo ocidental. A nível político, o Liberalismo Radical vai ganhando terreno no panorama mundial: a tendência para dar o direito de voto a todos os cidadãos, progressivamente. Todos os homens brancos têm o direito de voto na segunda metade do séc.XIX mas apenas no séc.XX essa liberdade é alargada às mulheres. O Liberalismo ganha liberdade formal com o direito de voto e as constituições mas a liberdade efectiva continua a ser apenas para as classes privilegiadas.
No séc.XX dão-se duas grandes crises do liberalismo. A primeira é a Crise dos anos 30, ou Grande Recessão, que começa nos EUA e se alastra à Europa. Uma crise da qual só se sai graças a Maynard Keynes, um filósofo e economista que reformula o liberalismo. Uma vez que a alternativa ao liberalismo em 1929 era o socialismo, Keynes pergunta-se qual será a melhor forma de combater isso mesmo e chega à conclusão de que a forma mais eficaz para combater o socialismo é aceitar algumas das suas formas. Keynes instala reformas no sistema, muitas delas aproveitadas ainda hoje pelos neo-liberalistas, e que afirmam sobretudo que a política fiscal tem que ser em função do desenvolvimento e com uma função social. Passa-se a fazer assim uma tributação progressiva. Em relação a esta tributação progressiva surge depois a pergunta sobre o que fazer com o dinheiro dos impostos. A resposta vai para o investimento para criação de emprego, para que haja mais dinheiro a circular.
Os neo-liberalistas, como Cavaco Silva, que são mais à esquerda no sentido liberal reformador, apoiam-se nas ideias de Keynes. Também na altura do New Deal norte-americano se recorre a Keynes e até Hitler adopta as medidas socialistas de Keynes, no início. O estado do bem-estar é aplicado depois da 2ª Guerra Mundial e dá um progresso extraordinário à Europa Ocidental.
A outra crise do Liberalismo aconteceu nos anos 70 e é em tudo idêntica à crise que se vive hoje. Começou com os EUA enfraquecidos devido à Guerra do Vietname, decidindo proteger-se e diminuir o valor do dólar. É acompanhada de um forte choque petrolífero. A resposta à crise veio à direita, desta vez, nas ideias de Adam Smith, protagonizada por Margaret Tatcher e Ronald Reagan. O estado não tem dinheiro para financiar gastos com saúde, educação e reformas, pelo que se opta por se diminuir os gastos sociais. Opta-se também por uma desregulamentação em relação a leis que proibiam despedir, obrigavam os estados a ter uma reserva de ouro e por outro lado fazem-se novas leis, privatizações, revisões de leis de trabalho, etc. A palavra de ordem era "quanto menos estado, melhor estado" e quanto menos houver intervenção do estado melhor.
Em suma, o Liberalismo surge para destruir o Antigo Regime, propondo uma nova sociedade, liberdades individuais e não tanto direitos políticos ou sociais. É uma ideologia que cresce e vai tendo crises cíclicas.
Dentro da direita, e mais à direita do que o Liberalismo há o Conservadorismo. Edmund Burke, um filósofo inglês, publicou um livro com reflexões sobre a Revolução Francesa. Trata-se de uma reacção eclíptica do Liberalismo, que diz que este é uma ilusão e um erro histórico. Burke refere que não há igualdade entre os homens, que existem classes sociais que são o resultado de uma evolução lógica e natural ao longo dos séculos. As classes sociais são uma evolução que se confirma ao longo do tempo.
Na base do conservadorismo está a "tradition", ou seja, a manutenção e fundamento de relações na sociedade baseadas na tradição. Num caso judicial, por exemplo no Reino Unido, uma vez tomada uma decisão num caso judicial adopta-se noutros por tradição. Não obstante, o Reino Unido é uma das sociedades mais justas e tolerantes da história.
O Conservadorismo aparece numa altura em que surgem vários partidos políticos que são contra os liberalistas e a favor de se manter as diferenças entre classes e grupos sociais: consideram a sociedade desigual e criam formas políticas para defender essas desigualdades. Depois da 2ª Guerra estes partidos ficam postos de parte mas renascem depois da queda do Muro de Berlim. Actualmente fala-se dos "neo-con", entre os quais George W. Bush é o mais famoso. Bush privilegiou toda a elite tecnológica, executivos de grandes empresas, vistos como um Deus que cria riqueza e que portanto é preciso manter rico pois ele merece. Bush e os neo-conservadores afirmam que estes grandes gestores estão a levar a riqueza ao mundo e como tal devem ser privilegiados.
Entre Liberalismo e Conservadorismo organizam-se as principais tendências da Direita. A divisão esquerda/ direita tem várias explicações: antes da Revolução Francesa são convocadas reuniões gerais para burgueses e nobres: os que querem alterações sentam-se à esquerda, os que querem preservar sentam-se à direita. Também a imagem do Parlamento britânico separa à esquerda os Trabalhistas e à direita os Conservadores, tendo o "speaker" ao centro. Também em Portugal os partidos se organizam à direita ou à esquerda do Presidente da Assembleia da República (actualmente Jaime Gama).
Em Portugal existe o centro direita, a direita e a extrema direita, com várias flutuações. O centro direita proclama um Liberalismo reformado, tipo Keynes, respeitando as liberdades individuais, a propriedade privada, a liberdade de empreendimento e a possibilidade de intervenção do estado em caso de crise. O Liberalismo reformador português é representado pelo PSD, onde mesmo assim Manuela Ferreira Leite está mais à esquerda e Durão Barroso e Pedro Santana Lopes mais à direita. Sá Carneiro era o representante principal deste centro direita.
A direita defende o conservadorismo e admite diferenças na sociedade. Diz que se deve privilegiar o grande capital pois este dá emprego e desenvolve a sociedade. É representada em Portugal pelo PP, embora Freitas do Amaral fosse um conservador tolerante e Manuel Monteiro tivesse virado à direita para um PP de Paulo Portas quase extremo.
A extrema-direita compreende neo-fascistas, neo-nazis, entre outros extremos, e são contra qualquer forma de individualismo. Existem em Portugal pelo PNR, embora as manifestações de índole fascista ou nazi estejam proibidas por lei. Fazem parte do governo, por exemplo, na Áustria.
No que respeita à esquerda, existe um sem número de -ismos associados a movimentos ideologicamente considerados de esquerda. Vamos estudar o socialismo, comunismo e anarquismo e depois algumas figuras importantes no pensamento da esquerda.
O Socialismo nasce na década de 30 do séc.XIX. Nasce de dois filósofos, um francês e um inglês. Desde cedo começa a confusão entre socialismo, comunismo e anarquismo, conceitos que aparecem separados no Manifesto Comunista de 1848. Em 1890, numa das edições do manifesto, Engels escreve um prefácio: "socialistas são charlatões que querem fazer a reforma do comunismo. Os comunistas são os verdadeiros reformadores, que querem fazer a reforma da sociedade e anular o liberalismo. É na década de 20 do séc.XX que Lenine começa a utilizar definitvamente a palavra Comunismo e é definitiva a dissociação entre os dois movimentos.
Existem pelo menos 300 definições de socialismo, pelo que a definição da palavra não é fácil. Nasce no séc.XIX em reacção ao Liberalismo pois devido a este algumas classes tornaram-se ainda mais ricas e outras ainda mais pobres. Diz que a sociedade se deve organziar para determinar um mínimo de sobrevivência do social, da sociedade que está a sofrer com o Liberalismo. Na primeira metade do séc.XIX, o socialismo surge assim com a inspiração de proteger os mais fracos. As ideias são reformuladas na 2ª metade do séc.XIX, afirmando-se que o direito à propriedade privada tem que ser limitado e não anulado: limitar apenas onde há actividade social para que a sociedade em conjunto tenha garantias. Afirma também que os principais recursos económicos devem estar sob controlo dos trabalhadores, num grande banco principal que é propriedade estatal que tem que ser controlada e não servirá para enriquecer os privados. A gestão da riqueza nacional deve ser no sentido de promover igualdade e justiça social- a fraternidade que proclamou a Revolução Francesa.
O Comunismo é uma ideia utópica que existe há muitos séculos, desde o Evangelho, que proclama que todos somos iguais e que tudo o que existe na Natureza deve ser repartido. Platão, na "Republica" ou Thomas Moore na "Utopia" falam já do que mais tarde se chamou Comunismo. Trata-se de criar uma sociedade sem conflitos, onde todos são tratados de igual forma. No Ocidente, Comunismo aparece ligado ao regime Soviético ou a partidos que querem criar um regime soviético porém na Europa de Leste Comunismo é algo bem diferente.
Para os povos de Leste, Comunismo é a fase última a que chega a evolução da Humanidade e da qual o Socialismo é o nível intermédio. O Comunismo pretende eliminar conflitos e como Marx explicou que a verdadeira causa de conflito é a propriedade privada, o objectivo do comunismo passa a ser o de eliminar a propriedade privada. O Comunismo é originalmente a favor de todas as liberdades do Homem, tendo-as escritas. Porém, na prática, o Leninismo veio limitar as liberdades individuais.
O Comunismo é assim uma sociedade sem classes, sem propriedade privada, onde a riqueza vai sendo distribuída segundo as necessidades: trabalhar segundo as capacidades, receber segundo as necessidades.
O Anarquismo prevê uma liberdade total. Afirma que quando o Homem apareceu não havia nenhuma lei nem instituição, pelo que esse mesmo Homem pode viver sem governo, sem lei, sem instituições. Uma anarquia seria uma sociedade totalmente livre, onde o Homem poderá ser feliz. Assim, querem destruir o estado mas não pela via pacífica e progressiva: querem destruí-lo através de atentados, terrorismo e lutas e daí recorrerem frequentemente a actos terroristas, numa ideia trotskyana de revolução permanente.
Em suma, o Socialismo critica o liberalismo, protege a maioria e reforma o liberalismo, preservando a sociedade actual mas limitanto a propriedade privada. O controlo é feito através das instituições. O Socialismo prevê alguma actividade pública. O Comunismo afirma que definitivamente o liberalismo não serve, é precisa uma nova sociedade sem conflitos e para isso querem anular a propriedade privada, mantendo as liberdades individuais. O Anarquismo varia relativamente à diferença sobre como chegar ao comunismo: querem destruir, romper, matar... Seja como for, toda a esquerda gira em torno de Karl Marx.
Marx era um judeu alemão que foi morar para Inglaterra e que viveu entre 1818 e 1883. A sua obra principal chama-se "O Capital". A filosofia de Marx baseia-se na dialética materialista: a dialética prevê uma lei fundamental de progresso e negação, de luta entre dois pólos. Para Marx, toda a dialética é sobre matéria uma vez que não existe espírito, não existe Deus. Existe sim um conflito permanente, nomeadamente na área que Marx refere acontecerem as relações mais importantes, ou seja, na economia. Para Marx, existe uma permanente exploração duns pelos outros, que apenas se altera na forma de exploração: escravidão ou capitalismo é a mesma coisa. Diz que essa relação tem de ser alterada e deu fundamento científico às suas afirmações para se distanciar da religião, a que chama o "ópio do povo".
O seu socialismo científico afirma que a sociedade está a progredir, num progresso tecnológico que não tem limites e que levará a que um dia as máquinas produzam tudo e que o homem não precise de trabalhar. Para haver lucro e eficácia há necessidade de integração das empresas e do capital: o número de proprietários será cada vez mais pequeno (como já se verifica desde há muito tempo com o desaparecimento do comércio local) e o número de proletários vai ser absurdamente grande. Esse número reduzido de grandes proprietários torna-se absurdo e há necessidade de alterar a relação na sociedade. Porém, a burguesia não deixará que essa alteração seja feita de forma pacífica e daí ser necessária uma revolução.
Em 1871, na Comuna de Paris, os comunistas assumem o comando e fazem demasiada violência. É aí que Marx se torna a favor de uma alteração não violenta na sociedade: revolução sim mas violência não. Este ponto torna-o diferente de Lenine, que chega ao poder de forma violenta. Marx propôe eleições democráticas a fim de iniciar aquilo que apelida de social democracia.
A social democracia original pretende uma reforma do Liberalismo pela via não violenta. Deve ser feita pela via democrática, indo a eleições, formando governos, introduzindo na sociedade as ideias socialistas. Em 1875, em Gotha, reunem-se representantes dos partidos socialistas, que discutem como se organizar e de que forma. Dividem-se em dois grupos: uns para fazer reformas de forma pacífica (sociais democratas) e outros não. Ambos formam a I Internacional Socialista, uma associação dos partidos socialistas europeus. Na I Internacional, quem domina é a social democracia, força que funciona até ao fim da I Guerra Mundial.
Uma nova discussão em 1919 forma a II Internacional, que continua a ser dominada pela social-democracia mas já lá está Lenine e os seus revolucionários que formam a III Internacional, desta vez dominada pelos comunistas e Lenine.
Outra figura de proa na esquerda e em particular na social democracia, é Karl Kautsky, um alemão, seguidor de Marx, que diz que as reformas que pretendem os socialistas e comunistas podem fazer-se pela via democrática.
O socialismo era a força política predominante depois da II Guerra Muncial mas hoje já não é. Oque afirma o socialismo contemporâneo é que se deve fazer um reforço do estado social, ou seja mais serviço público, mais funcionários públicos, mais médicos, mais bolsas de estudo, etc. Deve-se conseguir através da intervenção do estado na sociedade e na economia controlar grande parte da riqueza nacional no sentido de a distribuir- estado como actor social. A política fiscal deve ser prograssiva: quem ganha mais, paga mais.
No entanto, a esquerda fica órfã com a queda do Muro de Berlim: os socialistas não sabem o que fazer, uma vez que tudo o que defendiam parece não ter resultado. À espreita está o perigo dos neo-liberais, as verdadeiras ameaças a uma sociedade comunista. Uma das soluções que ganha nos anos 90 e 00 é a 3ª via de Tony Blair: diz-se socialista mas mente, uma vez que impôe um liberalismo puro e duro. É uma fórmula que serve para ganhar eleições e que se repete no PS português, que implementou algumas das receitas de Tony Blair. Com o avançar dos anos, avançam também os liberais, perde o socialismo original e tudo converge para o centro.
Vladimir Lenine é outra das figuras mais presentes na esquerda. Faz uma interpretação própria sobre o pensamento marxista, a que chama marxismo-leninismo. O marxismo afirma que a revolução acontecerá quando houver tecnologia e indústria em grande quantidade- Lenine adapta a teoria da revolução a uma Rússia onde ainda não havia indústria. Afirma que tem que se chegar ao poder de forma violenta e fala de um centralismo democrático, ou seja, dentro da sociedade há um grupo que tem consciência e que é a vanguarda do proletariado: são membros do proletariado que emergem e fazem parte do Partido Comunista. Esse PC é a vanguarda da sociedade que a vai conduzir e guiar. Lenine necessita do Estado forte e introduz a ditadura de um grupo de vanguarda, ou seja, a Ditadura do Proletariado. Aqui, vai contra a teoria de Marx que refere que o estado irá morrer, uma vez que a sua função de apagar o conflito irá cessar.
Porém, a realidade da Rússia é outra: Lenine interpreta as palavras de Marx para uma situação que ele tem necessidade de moldar e adaptar.
Leon Trotsky é o chefe do exército vermelho, partidário do PC, defensor da ideia de uma revolução permanente, a chamada 3ª via além da bolchevique e da menchevique. Trotsky afirma que é necessário fazer a revolução não pela violência- a democracia tem que estar presente e tem que haver uma mudança permanente de forma a que todo o mundo se transforme segundo os princípios comunistas. Trotsky entra em conflito com Estaline, que afirma que basta haver comunismo na URSS, não é precisa a propagação. Trotsky afirma que é necessário exportar a revolução, pois só quando o mundo inteiro se tornar comunista esta é válida. Trotsky quer uma revolução permanente e global.
Josef Estaline é responsável por seu lado por uma Ditadura do Proletariado, ouseja, uma ditadura da burocracia, afirmando, como vimos que quem deve exercer o poder nessa ditadura é o Comité Central, os burocratas do partido.
Mao Tse Tung, outra das figuras de proa do Comunismo. Mao consegue uma vitória militar na guerra civil chinesa, fazendo a sua revolução com os camponeses e não com os operários, como os russos: reinterpreta Marx, neste sentido, uma vez que a China era sobretudo agrícola e a força comunista estava nos campos. Faz uma guerrilha de desgaste, com poucos soldados e menos armas do que o adversário mas que consegue vencê-lo passados dez anos de desgaste. Mao instala uma Revolução Cultural na sua luta pelo poder, com os guardas vermelhos, os livros e outros esquerdismos radicais suficientes para neutralizar adversários políticos na sua luta pelo poder. Rapidamente consegue industrializar a China, desenvolvendo-a e produzindo comida suficiente para todos os chineses. Mao desenvolve um pensamento esquerdista na população, que traz primeiro o comunismo na cabeça e só depois pensa em comer e beber, sem questionar nunca a liderança de Mao.
Quanto ao comunismo ocidental, ou Eurocomunismo, fala de uma chegada ao comunismo por via pacífica, dentro do sistema político plural partidário. Desenvolve-se depois da II guerra através de partidos comunistas ocidentais muito fortes, como o italiano ou o francês.
Hoje em dia, aparecem neo-marxistas, da Escola de Frankfurt, uma escola formada no tempo entre guerras e que continua a ser hoje em dia um centro essencial do pensamento marxista. Afirmam também que é possível chegar ao comunismo através da participação no sistema eleitoral. Em Portugal, por exemplo, os neo-marxistas são representados pelo Bloco de Esquerda, que se afirmam diferentes do PCP, que mantém as raízes marxistas-leninistas mas abandonam a ideia de revolução violenta. O BE afirma-se também como os defensores do verdadeiro socialismo, reformador do Liberalismo e introdutor de novas políticas.
A esquerda actualmente esqueceu estes conceitos e divide-se antes em centro esquerda, esquerda e esquerda radical. Os primeiros são os sociais democratas, representados em Portugal pelo PS e, por exemplo, no Brasil, pelo PT. A esquerda, que refere a redução da propriedade privada e o controlo dos trabalhadores sobre a riqueza, é representada em Portugal pelo Bloco de Esquerda e a esquerda mais radical está nas mãos do PCP, que continuam a falar em marxismo, leninismo, revolução, etc.
Actualmente, as ideias de Marx estavam a perder força política até à intervenção por parte dos governos aquando da crise financeira. Sócrates evitava mesmo utilizar a palavra socialismo, preferindo colocar-se cada vez mais ao centro. Entre Liberalismo e Socialismo, Esquerda ou Direita, já não existem grandes diferenças, como se vê entre o PS e o PSD.
As principais diferenças entre os dois partidos do centro residem nas liberdades fundamentais, como por exemplo, o aborto, a eutanásia, os casamentos gay, a utilização de drogas leves na medicina, etc. Também na economia há grandes diferenças: o PSD é contra qualquer intervenção do estado na economia, enquanto o PS quer essa intervenção, muito embora após a queda do Muro de Berlim sejam muito discretos quanto a essa intervenção e a usem apenas agora, em tempo de crise. Também a propriedade privada separa os dois partidos, com o PSD a querer uma propriedade totalmente privada e o PS a querer a propriedade pública de algumas instituições.
Na esquerda, surgem vários movimentos para maior justiça social. Movimentos anti-globalização e outros, que procuram equilíbrio. A ecologia também está geralmente associada à esquerda uma vez que todos os movimentos ecologistas são de esquerda ("Verdes") e a esquerda é sempre contra a poluição, as emissões de CO2 e a favor das fontes de energia renovável. Também o feminismo, que exige a igualdade entre homens e mulheres, é típico de esquerda, assim como os movimentos pacifistas.
Para além destas ideologias, que podem compactuar com um sistema democrático, existem outro tipo de ideologias políticas, as ideologias totalitárias, ligadas à não-democracia. O totalitarismo abarca o nacionalismo, o fascismo, o nazismo e o neo-fascismo e diz que o estado deve controlar toda a sociedade, não deixando ninguém escapar ao seu controlo. Há totalitarismos de direita e de esquerda (estes, os mais conhecidos são os de Estaline e Mao).
O Nacionalismo não é necessariamente totalitarista- quando aparece é uma força nacional contra um império. Quando os movimentos nacionalistas começam são movimentos progressivos, como por exemplo a emancipação das colónias que leva à descolonização. Porém, no séc. XIX o nacionalismo alinha-se com ideias totalitárias e no séc.XX o fascismo e o nazismo vêm-lhe trazer uma forte força conservadora.
O Nacionalismo tem várias formas de manifestação: o patriotismo, que é um nacionalismo positivo e que significa apenas alguém gostar da sua pátria, nação ou país. O chauvinismo, que nasce no séc.XVIII, de um líder de um movimento da Alsácia que quer expulsar os estrangeiros: chauvinismo é já uma primeira forma de intolerância com os estrangeiros. A xenofobia, que quer expulsar os estrangeiros pela violência e que reaparece na direita extrema contra os imigrantes, na Europa. E o por fim o racismo, que considera que uma raça é superior às outras.
O Nacionalismo cria um estado-nação, ou seja, um estado baseado na ideia da raça e da nação como únicos objectos válidos. O nacionalismo controla toda a sociedade para a única finalidade de criar um estado-nação. Porém, a nação forma-se do ponto de vista cultural (uma língua e uma mesma identidade cultural), jurídico (escreve-se a lei e a constituição) e político (forma de governo que comunica à nação que é um estado). Em Portugal não é um problema mas todos os estados da Europa têm no seu território estrangeiros vizinhos e vivem todos misturados.
O Fascismo é um sistema corporativo, ou seja, uma forma de organizar a sociedade que existe desde do Antigo Regime: faz-se uma sociedade de uma respectiva função, a pessoa entra pelo patamar mais baixo dessa corporação e vai subindo na organização. O Liberalismo destroi estas corporações e os fascistas têm uma nostalgia por este Antigo Regime e acham que devem restabelecer o sistema corporativo. A Igreja, por seu lado, apoia a ideia de devolver corporações à sociedade.
O Fascismo aparece com Mussolini e é em Itália que se forma o primeiro governo fascista. A maioria dos estados europeus vão ser, posteriormente, estados fascistas, sendo que poucos estados europeus ficam liberais (Nórdicos, franceses, britânicos, jugoslávia e pouco mais). O carácter do Fascismo é totalitário: o líder e o governo controlam tudo, num sistema hierárquico que vai desde baixo até ao grande chefe, que pode ser o Duce, o Fuhrer, o Caudillo, etc. É profundamente anti-liberal e anti-individual, contra a cooperação no interior de uma classe, como forma de combater o socialismo e comunismo.
O sistema corporativo é um regime expansionista, ou seja, afirma que as nações são pobres e que devem por isso conquistar territórios dos ricos. Mobilizam também massas, incentivando-as a juntar-se no culto do líder. A economia é controlada, com tendência a ser planificada, pelo que já não existe empresários nem iniciativa privada. O Fascismo aniquila qualquer oposição, que embora exista é impedida de chegar ao poder.
O Nazismo, nacional socialismo, provém do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Os nazis proferem uma raça pura, ariana, descendente de um povo antigo, próximo da Índia, que em nada tem a ver com a imagem dos alemães como raça pura. A ideia da raça ariana provém de Nietsche, que afirma que "Deus morreu" e que como tal não existe limitação para o Homem- Hitler pega nesta ideia do super-homem para criar uma raça que, no seu entender, deve ser purificada e daí iniciar a expulsão de raças e condições consideradas inferiores daquele que é o espaço vital alemão.
Os neo-nazis e neo-fascistas, ou também pós-fascistas, evoluem do fascismo e têm igualmente como símbolos a ideia da raça superior. Aparecem actualmente um pouco por toda a Europa mas é na Áustria e em Itália que a situação é mais grave pois estas forças chegaram já ao poder.
06/11/08
PP - Aula 3
II - NOÇÃO DA PSICOLOGIA
2.3. Temas principais
2.4. Psicologia experimental
2.5. Psicologia teórica
A Psicologia das emoções nasceu na década de 80 e encara a emoção como algo cognitivo. Até então, razão e emoção eram coisas separadas. As emoções dependem da análise individual que fazemos dos acontecimentos: o tom, a intensidade e a expectativa em relação a uma finalidade no momento presente, mais imediata do que o sentimento.
As emoções têm uma componente cognitiva (avaliação do estímulo ou da situação), neuro-fisiológica (alterações corporais), experiencial (aspectos ligados ao sentir), expressiva (expressão facial e posturas corporais) e comportamental (actos expressivos). A activação é consequencia de certas avaliações: as emoções diferenciam-se pela identificação de padrões cognitivos, fisiológicos e comportamentais. Factores culturais influenciam a percepção: das relações sociais, dos estímulos emotivos e das expressões emotivas.
Parkinson, em 1994, realizou uma teoria de síntese: a experiência emocional depende da avaliação de estímulos externos, a situação, que por sua vez provoca reacções corporais, também estas concorrendo para a experiência emocional, que envolve uma expressão facial e a tendência para agir, motivada também pela avaliação dos estímulos externos.
De que forma os processos cognitivos são afectados pelas emoções? As relações entre cognição e emoção têm a ver com o papel dos processos cognitivos na abordagem e génese da emoção na forma como os pensamentos modelam as emoções. Por outro lado, estuda-se como as emoções modelam os pensamentos, através de efeitos de diferentes estados emotivos nos processos cognitivos.
Os estados emotivos dos sujeitos também influenciam a percepção: a ansiedade, por exemplo, influencia a percepção na medida em que afecta a selecção de informação ameaçadora. A atenção tem também um papel importante, na medida em que os estímulos emocionais que provoquem ansiedade são processados a um nível de elaboração baixo- evitamento cognitivo. No que respeita à memória, as memórias, por exemplo, de experiências de vida consistentes com o estado emotivo do sujeito, podem ser recuperadas mais depressa ou com maior probabilidade. As diferenças na realização de tarefas de memória explícita e implícita mostram, através de testes de memória implícita, que os sujeitos normais recordam melhor as palavras não ameaçadoras, enquanto os sujeitos ansiosos apresentam uma tendência ao contrário. Em testes explícitos, os ansiosos evitam-nas; os deprimidos recordam melhor as palavras tristes em qualquer um dos testes.
Existem diferenças entre estados emotivos positivos e negativos: nos positivos, temos tendência para recordar as palavras positivas do teste enquanto que o estado negativo não é tão evidente. Isto porque o afecto positivo é motivação para continuar esse estado. Lidamos com o presente construindo e reajustando o passado e com isso aumentamos a felicidade.
A recordação de um ambiente doloroso subestima a dor: após um tempo, conclui-se que até se beneficiou de determinada experiência dolorosa, facto que nos faz aumentar a felicidade presente.
Em relação à tomada de decisão e emoção, quando o sujeito está num estado positivo, passa menos tempo a decidir e elimina dimensões não relevantes. Verifica-se o aumento de desempenho em tarefas que requerem processamento criativo. No que toca aos estilos de processamento e emoção, o estado de espírito positivo pode diminuir o desempenho em tarefas analíticas: o estado de espírito negativo estimula um estilo sistemático, analítico e orientado para o detalhe.
Estudamos agora o que entende por inteligência emocional. Diz respeito ao estudo do que as pessoas decidem estudando as suas emoções. Há um conjunto de capacidades que contribui para a compreensão, avaliação, regulação e expressão precisa das emoções e para usar os sentimentos para planear, motivar e obter finalidades muito precisas. Estudamos cinco domínios: conhecer as suas próprias emoções, gerir as emoções (capacidade de tranquilizar), motivar-se a si mesmo (emoções ao serviço de um objectivo- maior produtividade e eficácia), reconhecer as emoções dos outros (empatia que gera altruísmo) e gerir relacionamentos (gerir as emoções dos outros- popularidade, liderança e eficácia pessoal).
Alguns aspectos estão envolvidos no estudo da inteligência emocional. A família e o tipo de relacionamento entre pais e filhos- se este é inadequado, quer dizer que ignora os sentimentos da criança, que é demasiado "laissez faire", que é desdenhoso e não mostra respeito pelo que a criança sente. A escola- o insucesso na aprendizagem está relacionado com componentes da inteligência emocional: a confiança em si e em ter ajuda dos adultos, a curiosidade pois descobrir é positivo e dá prazer, a intencionalidade através da sensação de competência e eficácia e o auto-controlo, através da sensação de controlo interior.
Outro aspecto é a capacidade de relacionaento e a capacidade de comunicar, trocar ideias, sentimentos e conceitos com os outros. A cooperação em grupo, equilibrando as suas necessidades com as dos outros.
A Psicologia do Desenvolvimento fala-nos do estudo do desenvolvimento e de capacidades que vamos desenvolvendo: Kohlberg, nos anos 70, mostra-nos estudos realizados a partir de entrevistas sobre dilemas morais para definir sistemas de raciocínio, pensamento e julgamento.
Existem estádios de desenvolvimento relacionados com cada idade: cada estádio relaciona-se com a forma como processamos questões etico-morais e de valor, havendo uma sequência invariável de seis estádios qualitativamente diferentes: 2 em cada um dos níveis.
No nível pré-convencional, as regras são impostas por outros: o estádio 1 é orientado para a punição e obediência- as consequências físicas das acções determinam se são boas ou más; o estádio 2 é orientado para o relativismo instrumental: o que está certo é o que satisfaz as necessidades próprias.
O nível convencional adopta as regras e por vezes submete os seus desejos ao grupo: o primeiro estádio é orientado para o bom comportamento como o que agrada e ajuda os outros e é aprovado por eles; o segundo estádio é orientado para lei e ordem- o que está certo é cumprir o seu dever, respeitar a autoridade e manter a ordem social.
No nível pós-convencional, os valores são definidos em termos de princípios éticos que se escolhe seguir. O primeiro estádio é orientado para o contrato social- o que está bem é definido em termos de direitos individuais. No segundo estádio, orienta-se para princípios éticos universais- o que está certo é definido em termos de estar de acordo com os princípios éticos escolhidos.
2.3. Temas principais
2.4. Psicologia experimental
2.5. Psicologia teórica
A Psicologia das emoções nasceu na década de 80 e encara a emoção como algo cognitivo. Até então, razão e emoção eram coisas separadas. As emoções dependem da análise individual que fazemos dos acontecimentos: o tom, a intensidade e a expectativa em relação a uma finalidade no momento presente, mais imediata do que o sentimento.
As emoções têm uma componente cognitiva (avaliação do estímulo ou da situação), neuro-fisiológica (alterações corporais), experiencial (aspectos ligados ao sentir), expressiva (expressão facial e posturas corporais) e comportamental (actos expressivos). A activação é consequencia de certas avaliações: as emoções diferenciam-se pela identificação de padrões cognitivos, fisiológicos e comportamentais. Factores culturais influenciam a percepção: das relações sociais, dos estímulos emotivos e das expressões emotivas.
Parkinson, em 1994, realizou uma teoria de síntese: a experiência emocional depende da avaliação de estímulos externos, a situação, que por sua vez provoca reacções corporais, também estas concorrendo para a experiência emocional, que envolve uma expressão facial e a tendência para agir, motivada também pela avaliação dos estímulos externos.
De que forma os processos cognitivos são afectados pelas emoções? As relações entre cognição e emoção têm a ver com o papel dos processos cognitivos na abordagem e génese da emoção na forma como os pensamentos modelam as emoções. Por outro lado, estuda-se como as emoções modelam os pensamentos, através de efeitos de diferentes estados emotivos nos processos cognitivos.
Os estados emotivos dos sujeitos também influenciam a percepção: a ansiedade, por exemplo, influencia a percepção na medida em que afecta a selecção de informação ameaçadora. A atenção tem também um papel importante, na medida em que os estímulos emocionais que provoquem ansiedade são processados a um nível de elaboração baixo- evitamento cognitivo. No que respeita à memória, as memórias, por exemplo, de experiências de vida consistentes com o estado emotivo do sujeito, podem ser recuperadas mais depressa ou com maior probabilidade. As diferenças na realização de tarefas de memória explícita e implícita mostram, através de testes de memória implícita, que os sujeitos normais recordam melhor as palavras não ameaçadoras, enquanto os sujeitos ansiosos apresentam uma tendência ao contrário. Em testes explícitos, os ansiosos evitam-nas; os deprimidos recordam melhor as palavras tristes em qualquer um dos testes.
Existem diferenças entre estados emotivos positivos e negativos: nos positivos, temos tendência para recordar as palavras positivas do teste enquanto que o estado negativo não é tão evidente. Isto porque o afecto positivo é motivação para continuar esse estado. Lidamos com o presente construindo e reajustando o passado e com isso aumentamos a felicidade.
A recordação de um ambiente doloroso subestima a dor: após um tempo, conclui-se que até se beneficiou de determinada experiência dolorosa, facto que nos faz aumentar a felicidade presente.
Em relação à tomada de decisão e emoção, quando o sujeito está num estado positivo, passa menos tempo a decidir e elimina dimensões não relevantes. Verifica-se o aumento de desempenho em tarefas que requerem processamento criativo. No que toca aos estilos de processamento e emoção, o estado de espírito positivo pode diminuir o desempenho em tarefas analíticas: o estado de espírito negativo estimula um estilo sistemático, analítico e orientado para o detalhe.
Estudamos agora o que entende por inteligência emocional. Diz respeito ao estudo do que as pessoas decidem estudando as suas emoções. Há um conjunto de capacidades que contribui para a compreensão, avaliação, regulação e expressão precisa das emoções e para usar os sentimentos para planear, motivar e obter finalidades muito precisas. Estudamos cinco domínios: conhecer as suas próprias emoções, gerir as emoções (capacidade de tranquilizar), motivar-se a si mesmo (emoções ao serviço de um objectivo- maior produtividade e eficácia), reconhecer as emoções dos outros (empatia que gera altruísmo) e gerir relacionamentos (gerir as emoções dos outros- popularidade, liderança e eficácia pessoal).
Alguns aspectos estão envolvidos no estudo da inteligência emocional. A família e o tipo de relacionamento entre pais e filhos- se este é inadequado, quer dizer que ignora os sentimentos da criança, que é demasiado "laissez faire", que é desdenhoso e não mostra respeito pelo que a criança sente. A escola- o insucesso na aprendizagem está relacionado com componentes da inteligência emocional: a confiança em si e em ter ajuda dos adultos, a curiosidade pois descobrir é positivo e dá prazer, a intencionalidade através da sensação de competência e eficácia e o auto-controlo, através da sensação de controlo interior.
Outro aspecto é a capacidade de relacionaento e a capacidade de comunicar, trocar ideias, sentimentos e conceitos com os outros. A cooperação em grupo, equilibrando as suas necessidades com as dos outros.
A Psicologia do Desenvolvimento fala-nos do estudo do desenvolvimento e de capacidades que vamos desenvolvendo: Kohlberg, nos anos 70, mostra-nos estudos realizados a partir de entrevistas sobre dilemas morais para definir sistemas de raciocínio, pensamento e julgamento.
Existem estádios de desenvolvimento relacionados com cada idade: cada estádio relaciona-se com a forma como processamos questões etico-morais e de valor, havendo uma sequência invariável de seis estádios qualitativamente diferentes: 2 em cada um dos níveis.
No nível pré-convencional, as regras são impostas por outros: o estádio 1 é orientado para a punição e obediência- as consequências físicas das acções determinam se são boas ou más; o estádio 2 é orientado para o relativismo instrumental: o que está certo é o que satisfaz as necessidades próprias.
O nível convencional adopta as regras e por vezes submete os seus desejos ao grupo: o primeiro estádio é orientado para o bom comportamento como o que agrada e ajuda os outros e é aprovado por eles; o segundo estádio é orientado para lei e ordem- o que está certo é cumprir o seu dever, respeitar a autoridade e manter a ordem social.
No nível pós-convencional, os valores são definidos em termos de princípios éticos que se escolhe seguir. O primeiro estádio é orientado para o contrato social- o que está bem é definido em termos de direitos individuais. No segundo estádio, orienta-se para princípios éticos universais- o que está certo é definido em termos de estar de acordo com os princípios éticos escolhidos.
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