25/11/08

HMC - Aula 16

6.6.- Conflito na Jugoslávia

O conflito na Jugoslávia atinge em 1992 proporções tais que a intervenção da comunidade internacional passa a ser imprescindível. Em 1992, Miterrand dá um impulso à CEE para que esta se transforme numa potência política principal do mundo, com a intenção de que a Europa deveria voltar a protagonizar o papel de outroral. O centro do mundo seria a UE que com a sua experiência, reorganizaria o resto do mundo. Assim, a nova UE parte para a cena internacional tentando resolver o conflito na Jugoslávia, com mediadores europeus entre os vários povos e uma conferência que é um fracasso e demonstra que a Europa não consegue resolver o problema da Jugoslávia. A ideia de Miterrand era que através da guerra, os países uniam-se na Europa com um objectivo comum mas isso não acontece.

As forças na Jugoslávia eram nacionalistas extremistas: os croatas só querem a independência e a Sérvia só quer a federação, sem encontro ao meio. Todos têm posições muito extremas, tanto sérvios como croatas como muçulmanos. A UE também não teve meios para os pressionar: pôde dar dinheiro mas não consegue manter a Paz pois falta-lhes os "capacetes azuis" para se instalarem no local. Enviam os "capacetes brancos", que usavam uma farda branca e são gozados pelos jugoslavos, que lhes chamam "vendedores de gelados", associando a eles os albaneses, que tinham essa profissão por hábito e eram considerados menos desenvolvidos. Por outro lado, o Reino Unido opôe-se à existência de um exército europeu, fazendo a vontade aos americanos, que são quem se opôe de verdade a esse exército.

A guerra na Bósnia dura três anos porque se trata de uma guerra entre EUA e UE, ambos dizendo que não podem haver duas super-potências a mandar no mundo. Em 1992, Bill Clinton ganha as eleições de surpresa, dada a má situação da economia norte-americana, e os EUA governam o mundo como única super-potência, estando o mundo inteiro à espera que após décadas de Guerra Fria, estes optem por uma política de democratização do mundo. Porém tal não acontece e há antes a teoria do domínio, do império, a partir do segundo mandato de Bill Clinton, que é caracterizado pela imposição da vontade dos EUA conta o resto do mundo. E quem se opôe enfrenta o exército americano: Madeleine Allbright fica famosa pela frase: 'para que serve o exército senão para o utilizar'. Enquanto a UE propôe uma negociação, os EUA bombardeiam.

E é assim que entram na Jugoslávia. Em 1992, ainda restavam algumas bolsas de comunismo no mundo e os EUA encarregam-se de as exterminar. Consideram Milosevic comunista e portanto afirmam que têm de o destruir. Contudo, Milosevic era director de um banco, capitalista, passando grande parte da sua vida nos EUA, onde aprendeu tudo. Já a sua esposa é marxista e é considerada ideologicamente como a líder do regime na Sérvia. Milosevic, porém, era tão comunista quanto qualquer outro dos "ex-comunistas" que assumiram governos na Europa de Leste depois da queda do muro. No entanto, a comunicação social continua a associá-lo ao comunismo de estado e ao partido. Os sérvios da Bósnia, porém, eram ferozes anti-comunistas, como Karadic, por exemplo, ligados à extrema-direita e à religião.

Outra ideia que é apontada nesta altura é de que os EUA querem continuar a destruir a URSS e para isso têm que debilitar a Rússia para que estes nunca mais apareçam. A Sérvia é considerada uma aliada natural da Rússia, segundo o Ocidente representa uma ilha de interesses russos. Contudo, Sérvia e Rússia são foram aliadas na I Guerra Mundial e desde então têm chocado de frente, nomeadamente durante todo o séc.XX e o comunismo de Tito. Estas e outras razões levam os EUA a considerar os sérvios os maus da fita e a ter de os neutralizar.

Em 1992, a Croácia parou a guerra porque os croatas não tinham dinheiro e os sérvios ficaram satisfeitos com a decisão. Porém, em Agosto de 1995 os croatas recebem ajuda militar e económica maciça dos EUA e da Alemanha. O exército croata é preparado pela OTAN, por oficiais na reserva e por isso não oficialmente na OTAN, numa agência contratada pela Croácia. Do outro lado, os sérvios da Croácia, com um exército pequeno mas armado. Nesta altura, Milosevic colabora com Bill Clinton, tomando medidas económicas contra os sérvios da Croácia. Quando novamente o exército croata ataca os sérvios no seu território, o exército foge em dois dias, seguidos por todo o povo sérvio da Croácia. Trata-se de uma limpeza étnica em que 250 mil pessoas são expulsas das suas terras (apenas 50 mil croatas tinham sido expulsos da Sérvia), nunca mais voltaram e foram apagados do mapa da Croácia, tendo-se espalhado um pouco por toda a parte. Após a guerra, a Croácia transformou-se num país corrupto, com problemas económicos e com créditos exagerados.

Na Bósnia, os EUA dizem que os sérvios são de novo os maus e os muçulmanos as vítimas, pelo que intervêm para neutralizar os sérvios. Após uma conferência de Paz, negoceia-se a Paz dividindo a Bósnia em duas partes: a República Sérvia da Bósnia e a Federação Muçulmano-Croata da Bósnia (não se dividem muçulmanos e croatas em nome da tolerância multi-étnica). Ou seja, uma federação dentro doutra. A partir de então, assiste-se de novo a um clima de violência, nomeadamente em Sarajevo, com os sérvios a expulsar os muçulmanos e croatas. Antes, porém, a convivência era tranquila entre todas as religiões. Hoje em dia, as mesquitas brilham em todo o lado, em Sarajevo, pagas pelo Irão e pela Arábia Saudita, no meio da pobreza da cidade e gerando ódio entre os povos. Há, em Sarajevo, um verdadeiro apartheid entre os três povos, que é obra de Clinton e Allbright e representa um rotundo falhanço da política norte-americana. E um falhanço de um presidente que está hoje em dia conectado com todos os negócios escuros em ditaduras latinas, africanas, etc.

Em 1999 acontece a última guerra na Jugoslávia, no Kosovo. Este é uma província sérvia onde a maioria da população é albanesa. É o território onde nasceu a Sérvia medieval, considerado o berço do país. Com o passar dos anos, os albaneses do Kosovo vão aceitando a religião islâmica, favorecidos pelos turcos que os incentivam a ocupar aquela zona. Teve uma situação jurídica de província autónoma, com um Parlamento e autonomia jurídica mas não é República, ou seja, na federação não teve o direito de se separar. Vários conflitos entre albaneses e sérvios faz com que não haja uma tradição de bom entendimento entre os dois povos, ao longo da História. Confitos que reincidem nos anos 80, após a morte de Tito e são despoletados pelos albaneses do Kosovo.

A Sérvia vai conseguindo controlar os separatistas mas em 1991 o Kosovo assume que se quer tornar independente da Sérvia, proclamando a independência e escolhendo um Parlamento. Milosevic manda mais exército para a região e os albaneses estão com pouca ajuda- o líder do Kosovo pode apenas almejar uma resistência pacífica pois não possui armas.

Em 1998, o Kosovo começa a tornar-se interessante. Estávamos numa altura em que Clinton se vê envolvido no escândalo de Monica Lewinsky, que o leva a jurar em falso na televisão, prestando falso testemunho quanto ao seu envolvimento com a estagiária. Há-que desviar as atenções mundiais e, como sempre, isso foi feito pelos americanos provocando uma guerra. Assim, a guerra do Kosovo teve apenas a ver com o facto dos EUA quererem apagar o caso Lewinsky: não há outra razão significativa, seja económica ou de outra índole. Por um lado, o Kosovo é um território sem nenhuns recursos e por outro a Sérvia nunca se opôs aos americanos no seu território, seja com bases militares ou com a compra de indústrias (Milosevic vendera três grandes fábricas sérvias aos americanos...)

Contudo, a resistência militar é organizada no Kosovo, a partir de um grupo de narcotraficantes e outro grupo de radicais de esquerda, albaneses hoxhistas. Os americanos dão-lhes armas e estes atacam Milosevic, provocando uma escalada de violência. É organizada a conferência de Rambouillet, em que os sérvios aceitam todas as exigências norte-americanas no prazo definido. Allbright resolve então adicionar mais uma exigência, a de que a OTAN pudesse permanecer no território sérvio quando quisesse. Milosevic não aceita esta perda de independência formal e a OTAN ataca Belgrado. Não se trata de uma guerra porque a Sérvia não tem qualquer força e o seu armamento é obsoleto- os generais sérvios optam por esconder-se dos americanos.

Contudo, os sérvios conseguem abater o famoso avião invisível norta-americano e há uma cena de um filme, famosa, em que um grupo de ciganos dança em cima desse avião (Kusturica). Milosevic não se rende e a OTAN deixa de destruir o exército e passa a destruir indústrias e a televisão de Belgrado, com a desculpa de que estavam a emitir mentiras e destruindo anos de evolução da Sérvia enquanto país. É o actual prémio Nobel da Paz que leva Milosevic a render-se, sendo levado para Haia para ser julgado por um Tribunal contra crimes de guerra e onde acaba por morrer.

Em Fevereiro de 2008 o Kosovo proclama a independência unilateralmente, imediatamente reconhecida pelos EUA. Portugal não reconheceu durante muito tempo por causa do testemunho de um general português, com uma posição de chefia no terreno, que informa o país de que o território jamais poderá ser independente pois é governado por máfias de interesses. Foi por interferência de Condolezza Rice que, em Outubro de 2008, Portugal reconhece a independência do Kosovo. Contudo, nem um terço dos países do mundo reconhece ainda o Kosovo como país. Este reconhecimento constitui um precedente grave na medida em que pela primeira vez se aceita uma declaração de independência unilateral e é aberta assim uma "caixa de Pandora".

Hoje em dia, a Eslovénia está bem na UE, com um nível de vida muito superior ao português. A Croácia começou bem mas agora é corrupta e não tem dinheiro. Sérvia e Croácia continuam a acusar-se mutuamente. Na Bósnia, os sérvios da Bósnia ganharam um argumento, com o Kosovo, para a proclamação da independência unilateral. Sob estes estados, a Rússia recuperou e tenta recuperar zonas de influência, estando a relançar-se no mundo. A única forma de "salvar" a ex-Jugoslávia é integrar a zona na UE para que haja crescimento económico e esperança de Paz. Hoje em dia, Rússia e muçulmanos estão mais fortes e podem reagir: está de novo tudo "a ferver" para aqueles lados. Tendo em conta que os valores europeus são diferentes dos americanos, defendendo a negociação e não o bombardeamento, a UE poderia e deveria ser muito melhor para a Paz no mundo e daí a importância de ser aprovado o Tratado de Lisboa.

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