24/11/08

HMC - Aula 14

7.2. Conflito israelo-árabe
7.3. Guerra Iraque – Irão (Primeira Guerra do Golfo, 1980-1988)
7.4. Segunda Guerra do Golfo (1991)
7.5. Terceira Guerra do Golfo (2003)

O Médio Oriente reúne todas as condições propícias, como vimos, para a origem de conflitos, seja por razões económicas, religiosas ou políticas.

Em 1947, após a II Guerra, o protectorado britânico da Palestina é transformado em estado da Palestina e estado de Israel, onde se alojam os judeus. São traçadas fronteiras e tenta-se satisfazer os dois em linhas gerais. A 14 de Maio de 1948 é proclamado o estado de Israel e logo a 15 de Maio começam os conflitos entre judeus e árabes: estes não estão satisfeitos com os dois estados e a solução não é pacífica. A primeira guerra israelo-árabe dura um ano e acaba com a vitória de Israel pela força, ocupando os territórios que a ONU tinha decidido atribuir à Palestina. Trata-se, portanto, de uma situação irregular, de territórios ocupados que nunca deveriam pertencer aos israelitas. As terras foram ocupadas sob o pretexto da protecção e segurança à zona mas oculta verdadeiros interesses económicos.

As guerras seguintes vieram significar mais ocupação e controlo por parte de Israel, tendo sido provocadas com a intenção de que Israel abandone os territórios que ocupou. Israel acabou por desocupar alguns dos territórios que ocupou, tendo destruído todas as infraestruturas criadas durante os anos de ocupação, antes da entrega dos territórios aos árabes.

A segunda guerra israelo-árabe acontece em 1956 e o iniciador foi Israel, sendo o adversário o Egipto. Antes, Nasser tinha feito um golpe de estado no Egipto, destituindo o rei e nacionalizando o canal do Suez. Os ingleses, descontentes com esta situação, incentivam Israel a atacar o Egipto, para depois, juntamente com os franceses, irem em auxílio dos egípcios e ocuparem o canal do Suez. Contudo, URSS e EUA dizem que britânicos e franceses estão lá ilegalmente e mandam capacetes azuis da ONU para o Suez.

A terceira guerra é a Guerra dos 6 Dias e acontece em 1967. Enquadra-se no contexto da Guerra Fria e da cruzada anti-comunista. Vários países da zona chegam a ser governados por generais pró-soviéticos, que pensam já estar bem equipados para derrotar Israel em 1967: contudo, numa ofensiva que artiu da Síria e Egipto, os aviões soviéticos nem chegam a levantar, tendo sido eliminados por Israel logo nos aeroportos. Ajudados pelos EUA, os israelitas possuem novos materiais de guerra, como helicópteros e os mísseis de fio. Como resultuado desta guerra, os árabes acabam por perder mais territórios, os Montes Golã.

A quarta guerra israelo-árabe acontece em 1973, quando no dia do Yom Kippur (Dia de Grande Persão), os árabes atacam Israel. Neste dia, os israelitas estão retirados em casa, dedicando-se a rezar e a contemplar: é um bom dia para os inimigos atacarem o país. Egipto, Síris, Iraque, Marrocos, Líbia estão unidos e mais preparados, tendo ido a Moscovo aprender novas artes bélicas. E de facto conseguem surpreender , avançando no primeiro e segundo dia com grandes prejuízos ao governo israelita. Os árabes têm mísseis soviéticos e conseguem abater cerca de cem aviões israelitas. Porém, ao terceiro dia os norte-americanos já lá estão e começa o contra-ataque israelita, que acaba por derrotar a ofensiva árabe.

Novo conflito acontece aquando da Guerra Civil do Líbano. Em 1945, os franceses não conseguem continuar no Médio Oriente, tendo dado a independência à Síria, que se torna totalmente muçulmana. Porém, os franceses separam uma parte da Síria onde a maioria é cristã e declaram aí o estado do Líbano. Assim, a França continua a ter grande influência na zona, tendo até apelidado a capital do Líbano, Beirute, da "Paris do Médio Oriente. O Líbano torna-se assim num pequeno país controlado pela França e EUA, com certa prosperidade. No entanto, há várias facções muçulmanas que ganham força, assim como facções cristãs. Em 1975, dá-se uma guerra entre cristãos e muçulmanos com várias milícias de ambas as partes. De um lado e do outro não faltam armas e a guerra dura vários anos. Os palestinianos refugiam-se na zona muçulmana do Líbano em campos de refugiados, onde mais tarde os cristãos radicais, apoiados por Israel, são culpados de um massacre terrível contra os árabes refugiados e desarmados. As facções continuam a lutar entre si, sem encontrarem a Paz.

Em 1982, os israelitas, com a preocupação de manter a segurança, ocupam preventivamente uma parte do território do Líbano para impedir as forças radicais islâmicas de entrar no seu território. Em 2002 dá-se a última batalha no Líbano, com o Hamas a ser financiado pelo Irão e atacando permanentemente forças israelitas. Israel retira-se do território do Líbano e é substituído pela ONU. Em 2006, o Hamas raptou um soldado israelita- Israel exige a sua libertação e prepara a guerra para libertar o soldado e destruir a base militar do Hezbollah. Entra no Líbano e aí fica dois meses: não realiza nem nem outro objectivo e é obrigado a retirar-se do Líbano, sofrendo pela primeira vez uma derrota numa guerra, em Agosto de 2006. O soldado israelita ainda não foi libertado e o movimento do Hezzbolah reforçou-se, indo governar o Líbano. Israel perdeu porque os árabes tinham armas que fizeram dano: os chamados aviões "cachuchas" que em russo significa Catarina, trsnaportam os mísseis rocket que levam pouco explosivo mas têm a capacidade de entrar em cidades israelitas. Nesta guerra, a situação altera-se porque Israel é pela primeira vez derrotado.

A guerra continua ainda hoje, com várias tentativas de assinar a Paz. O Egipto reconciliou-se com Israel e os EUA financiam ambos os países com dinheiro e armas. Em 1992, Israel reconciliou-se com a Jordânia porém ainda não foram feitas as pazes com a Síria e, claro, com o Líbano.

A Primeira Guerra do Golfo acontece entre o Iraque e o Irão, dois dos mais antigos povos do mundo, que habitam um território desenvolvido desde muito cedo: quando na Europa ainda éramos caçadores nómadas, na Mesopotâmia havia já uma civilização organizada. O Irão é continuador do grande império persa, com tradições muito diferentes das muçulmanas: no séc. XVIII livram-se do império Otomano. No período entre guerras, têm uma independência formal, funcionando como um protectorado inglês e francês. Só depois da II Guerra têm a verdadeira independência: durante a II Guerra, o Irão foi ocupado pela URSS e Reino Unido, para evitar que Hitler lá chegasse e conseguisse vencer. No fim da guerra, as duas potências hesitam bastante em sair do território e há tensão entre elas: a URSS sai mas a província do Azerbaijão declara-se independente e entra na URSS. O resto fica britânico mas dada a incapacidade destes tomarem conta do território, são substituídos pelos EUA.

Assim, durante a Guerra Fria, o Irão fica na zona de influência ocidental. Realizam-se eleições multipartidárias, em que o rei ganha (é nesta altura que vive a princesa Soraia, ícone mundial de beleza, que não pode ter filhos e por isso que se divorciar do rei, que se casa com outra). Porém, acontece nesta altura que o rei vende o petróleo aos americanos e gasta o dinheiro proveniente nos países europeus, nos casinos, levando o seu povo à miséria.

No Iraque, em 1958, jovens coronéis que estudaram em Moscovo fazem um golpe de estado e impementaram um regime nacionalista. Em 1968, dá-se um novo golpe de estado feito em nome do partido político Baas, que pretende conciliar as ideias marxistas com a religião árabe, naquilo que é conhecido como o socialismo árabe: o governo pro-socialista gasta o dinheiro para constuir escolas e comprar armas de defesa para o país. Em 1979, chega ao poder Saddam Hussein, com uma orientação socialista. Saddam, de forma a conseguir negociar com o Ocidente, introduz no país várias reformas de democratização, como eleições livres e partidos políticos. O regime político de Saddam Hussein é nesta altura, no Médio Oriente, o mais parecido com o Ocidente e torna-se amigo próximo dos EUA. Ramsfeld é grande amigo de Saddam Hussein e é ele que vende o gás tóxico ao regime de Saddam.

Ao mesmo tempo, o Iraque mantem amizade com a URSS, por causa do petróleo e com a Jugoslávia: os jugoslavos pagam o petróleo iraquiano com mão-de-obra e por curiosidade, foram os jugoslavos que construíram o bunker onde foi descoberto Saddam. Por isso, na altura, enquanto no Irão sofriam, no Iraque prosperavam, estando nas boas graças de todo o mundo, inclusivé dos dois oponentes da Guerra Fria.

Em 1979, acontecimentos críticos dão-se na região. No Irão, a polícia secreta controlava o povo mas aparece uma oposição religiosa, nas mesquitas, que não conseguem controlar e que vai terminar numa Revolução Islâmica. O povo é todo organizado contra o governo e vêm no aiatola Kheomeini o seu líder. A visão deste aiatola de como deve ser organizado o estado é radical e a Lei Sharia é introduzida no estado, que passa a ser uma república islâmica: trata-se de um regime reaccionário que pretende incluir guerras islâmicas.

Para todos os efeitos, o regime no Irão realiza eleições, com vários partidos políticos. No entanto as eleições não têm valor pois quem confirma os vencedores são os molahs- a última palavra cabe sempre ao conselho religioso, que pode escolher quem vence. Também nesta altura, a posição da mulher altera-se no Irão; a elite estabelece um radicalismo islamita feroz e nasce um anti-americanismo em que se considera que a pobreza é culpa dos EUA, que apoiavam o rei, gastador do dinheiro iraniano no Ocidente. Nasce o conflito entre Irão e EUA que culmina com a ocupação da embaixada dos EUA por jovens revolucionários islâmicos, que fazem os funcionários da embaixada reféns. Trata-se de um episódio não permitido pela lei da diplomacia internacional, consistindo numa grande violação. Os EUA tentam libertar os reféns mas a investida é um fracasso estrondoso (cf. força delta).

Contudo, se a revolução islâmica se espalha, é criada uma região muito perigosa para a hegemonia dos EUA no mundo.E por isso, os americanos instigam Saddam Hussein a atacar o Irão: Saddam está muito bem, tem o apoio do povo, comprou muitas armas e tem um conflito fronteiriço com o Irão há anos. Por outro lado, quando o aiatola entrou teve resistência dos comunistas, que tentavam subir ao poder- Kheomeini teve que lutar contra os comunistas para se impor no país. Em 1980, Saddam ataca o Irão e começa a primeira Guerra do Golfo.

Em 1979, a URSS ocupara o Afeganistão, para impedir que a revolução islâmica atingisse o Paquistão. A guerra na zona dura oito anos porque no início Saddam ganha mas no Irão, o fervor religioso organiza-se e consegue neutralizar o ataque iraquiano. Em 1986 Saddam prepara e executa um ataque e parece ganhar, fortalecendo o seu poder na região. Nesta altura, os EUA mudam de posição e passam a ajudar o Irão pois convem-lhes não um Irão fraco e um Iraque forte mas ambos os países fracos e dependentes. Em 1988, a região está num impasse: a guerra acabou mas ambos os lados estão sem forças para nada: URSS e EUA ficam contentes.

Contudo, Saddam diz que entrou na guerra para fazer um favor e alguém tem de o ressarcir. No entanto, ninguém quer pagar as perdas da guerra a Saddam e este diz que há uma forma de o compensarem e será entregando o pequeno território do Koweit. O Koweit era uma parte do território iraquiano até 1961 e como Saddam entrou na guerra para salvar o Koweit, quer instalar-se lá. Manda o exército ocupar o pequeno país em Agosto de 1990, com uma claro intenção de lá ficar a indeminizar-se com petróleo.

Um ano antes desta invasão, tinha caído o Muro de Berlim e a URSS está de rastos: quando o Iraque invade o Koweit, os cinco membros permanentes da ONU estão de acordo e contra o Iraque, ou seja, tanto Bush como Gorbachov concordam com a ofensiva ao Iraque. A ONU diz que o Iraque cometeu uma violação do direito internacional e que tem que abandonar o Koweit. O ultimato é dado e no dia 17 de Janeiro de 1991 começam os bombardeamentos do Iraque pela ONU, principalmente pelos EUA. Bombardeiam em poucos dias o Iraque, numa batalha sobretudo terrestre onde em poucos dias Saddam é totalmente derrotado. Os EUA afirmam que esta é uma guerra de estrelas, com um novo tipo de armas, as bombas inteligentes e mísseis guiados por satélite. Contudo, apenas 30% dos mísseis eram inteligentes e por isso há muitas mortes civis. Perpassa a imagem de apenas uma super-potência, os EUA, que metem medo e que podem fazer no mundo o que lhes apetece.

Outro aspecto desta segunda guerra do Golfo é de que nenhum jornalista viu a guerra: a opinião pública virou-se contra o governo na altura da Guerra do Vietname e por isso desta vez a imprensa é controlada: só acontece o que a CNN nos mostra. No fim da guerra, Bush não retirou Saddam do poder porque a ordem da ONU era a de repor a ordem anterior à invasão do Koweit.

Já em 2000, George W. Bush ganha as eleições contra Al Gore, numa batalha renhida em que o Presidente apontado não é o que tem mais votos. Em 2000, antes da decisão final, o presidente dos EUA foi temporariamente o juíz do Tribunal Supremo: W.Bush entra já fragilizado. Porém, após os ataques de 11 de Setembro, W.Bush torna-se muito popular, chegando a ser o Presidente americano mais popular de sempre. No poder, Bush declara o eixo do mal como sendo o Irão, o Iraque e a Coreia do Norte, estados segundo ele patrocinadores do terrorismo. No entanto, já se provou que isto era mentira: Saddam nunca teve armas de destruição maciça e nunca patrocinou a actividade da Al Qaeda. A questão é que Bush opta por controlar e conquistar o Médio Oriente, de forma a controlar o petróleo e a instalar regimes favoráveis a Washington. Em Março de 2003, invade o Iraque e inicia a 3ª Guerra do Golfo.

A apoiar Bush estão, entre outros, Blair e Aznar. Reunem-se juntamente com Durão Barroso na cimeira das Lajes e aí planeiam a invasão do Iraque. Hoje, Barroso já admitiu que a invasão do Iraque foi um erro e na altura Jorge Sampaio não queria enviar tropas portuguesas para a guerra. Por isso, Barroso manda apenas a GNR, força da responsabilidade do governo que não está debaixo da alçada do Presidente. Entre outros episódios de (des)preparação dos GNR portugueses, a entrega por Berlusconi de blindados à GNR. Sócrates retirou discretamente todos os portugueses presentes no Iraque.

Hoje, esta Guerra no Golfo não acabou e está longe disso. Ao longo do séc.XX, o conflito israelo-árabe foi também um conflito entre os EUA e aURSS, que acabou ficando a ser substituída pelas forças radicais islâmicas. Se dentro deste panorama, o Irão conseguir a bomba atómica, o cenário mundial fica seriamente ameaçado.

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