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25/11/08

HMC - Aula 16

6.6.- Conflito na Jugoslávia

O conflito na Jugoslávia atinge em 1992 proporções tais que a intervenção da comunidade internacional passa a ser imprescindível. Em 1992, Miterrand dá um impulso à CEE para que esta se transforme numa potência política principal do mundo, com a intenção de que a Europa deveria voltar a protagonizar o papel de outroral. O centro do mundo seria a UE que com a sua experiência, reorganizaria o resto do mundo. Assim, a nova UE parte para a cena internacional tentando resolver o conflito na Jugoslávia, com mediadores europeus entre os vários povos e uma conferência que é um fracasso e demonstra que a Europa não consegue resolver o problema da Jugoslávia. A ideia de Miterrand era que através da guerra, os países uniam-se na Europa com um objectivo comum mas isso não acontece.

As forças na Jugoslávia eram nacionalistas extremistas: os croatas só querem a independência e a Sérvia só quer a federação, sem encontro ao meio. Todos têm posições muito extremas, tanto sérvios como croatas como muçulmanos. A UE também não teve meios para os pressionar: pôde dar dinheiro mas não consegue manter a Paz pois falta-lhes os "capacetes azuis" para se instalarem no local. Enviam os "capacetes brancos", que usavam uma farda branca e são gozados pelos jugoslavos, que lhes chamam "vendedores de gelados", associando a eles os albaneses, que tinham essa profissão por hábito e eram considerados menos desenvolvidos. Por outro lado, o Reino Unido opôe-se à existência de um exército europeu, fazendo a vontade aos americanos, que são quem se opôe de verdade a esse exército.

A guerra na Bósnia dura três anos porque se trata de uma guerra entre EUA e UE, ambos dizendo que não podem haver duas super-potências a mandar no mundo. Em 1992, Bill Clinton ganha as eleições de surpresa, dada a má situação da economia norte-americana, e os EUA governam o mundo como única super-potência, estando o mundo inteiro à espera que após décadas de Guerra Fria, estes optem por uma política de democratização do mundo. Porém tal não acontece e há antes a teoria do domínio, do império, a partir do segundo mandato de Bill Clinton, que é caracterizado pela imposição da vontade dos EUA conta o resto do mundo. E quem se opôe enfrenta o exército americano: Madeleine Allbright fica famosa pela frase: 'para que serve o exército senão para o utilizar'. Enquanto a UE propôe uma negociação, os EUA bombardeiam.

E é assim que entram na Jugoslávia. Em 1992, ainda restavam algumas bolsas de comunismo no mundo e os EUA encarregam-se de as exterminar. Consideram Milosevic comunista e portanto afirmam que têm de o destruir. Contudo, Milosevic era director de um banco, capitalista, passando grande parte da sua vida nos EUA, onde aprendeu tudo. Já a sua esposa é marxista e é considerada ideologicamente como a líder do regime na Sérvia. Milosevic, porém, era tão comunista quanto qualquer outro dos "ex-comunistas" que assumiram governos na Europa de Leste depois da queda do muro. No entanto, a comunicação social continua a associá-lo ao comunismo de estado e ao partido. Os sérvios da Bósnia, porém, eram ferozes anti-comunistas, como Karadic, por exemplo, ligados à extrema-direita e à religião.

Outra ideia que é apontada nesta altura é de que os EUA querem continuar a destruir a URSS e para isso têm que debilitar a Rússia para que estes nunca mais apareçam. A Sérvia é considerada uma aliada natural da Rússia, segundo o Ocidente representa uma ilha de interesses russos. Contudo, Sérvia e Rússia são foram aliadas na I Guerra Mundial e desde então têm chocado de frente, nomeadamente durante todo o séc.XX e o comunismo de Tito. Estas e outras razões levam os EUA a considerar os sérvios os maus da fita e a ter de os neutralizar.

Em 1992, a Croácia parou a guerra porque os croatas não tinham dinheiro e os sérvios ficaram satisfeitos com a decisão. Porém, em Agosto de 1995 os croatas recebem ajuda militar e económica maciça dos EUA e da Alemanha. O exército croata é preparado pela OTAN, por oficiais na reserva e por isso não oficialmente na OTAN, numa agência contratada pela Croácia. Do outro lado, os sérvios da Croácia, com um exército pequeno mas armado. Nesta altura, Milosevic colabora com Bill Clinton, tomando medidas económicas contra os sérvios da Croácia. Quando novamente o exército croata ataca os sérvios no seu território, o exército foge em dois dias, seguidos por todo o povo sérvio da Croácia. Trata-se de uma limpeza étnica em que 250 mil pessoas são expulsas das suas terras (apenas 50 mil croatas tinham sido expulsos da Sérvia), nunca mais voltaram e foram apagados do mapa da Croácia, tendo-se espalhado um pouco por toda a parte. Após a guerra, a Croácia transformou-se num país corrupto, com problemas económicos e com créditos exagerados.

Na Bósnia, os EUA dizem que os sérvios são de novo os maus e os muçulmanos as vítimas, pelo que intervêm para neutralizar os sérvios. Após uma conferência de Paz, negoceia-se a Paz dividindo a Bósnia em duas partes: a República Sérvia da Bósnia e a Federação Muçulmano-Croata da Bósnia (não se dividem muçulmanos e croatas em nome da tolerância multi-étnica). Ou seja, uma federação dentro doutra. A partir de então, assiste-se de novo a um clima de violência, nomeadamente em Sarajevo, com os sérvios a expulsar os muçulmanos e croatas. Antes, porém, a convivência era tranquila entre todas as religiões. Hoje em dia, as mesquitas brilham em todo o lado, em Sarajevo, pagas pelo Irão e pela Arábia Saudita, no meio da pobreza da cidade e gerando ódio entre os povos. Há, em Sarajevo, um verdadeiro apartheid entre os três povos, que é obra de Clinton e Allbright e representa um rotundo falhanço da política norte-americana. E um falhanço de um presidente que está hoje em dia conectado com todos os negócios escuros em ditaduras latinas, africanas, etc.

Em 1999 acontece a última guerra na Jugoslávia, no Kosovo. Este é uma província sérvia onde a maioria da população é albanesa. É o território onde nasceu a Sérvia medieval, considerado o berço do país. Com o passar dos anos, os albaneses do Kosovo vão aceitando a religião islâmica, favorecidos pelos turcos que os incentivam a ocupar aquela zona. Teve uma situação jurídica de província autónoma, com um Parlamento e autonomia jurídica mas não é República, ou seja, na federação não teve o direito de se separar. Vários conflitos entre albaneses e sérvios faz com que não haja uma tradição de bom entendimento entre os dois povos, ao longo da História. Confitos que reincidem nos anos 80, após a morte de Tito e são despoletados pelos albaneses do Kosovo.

A Sérvia vai conseguindo controlar os separatistas mas em 1991 o Kosovo assume que se quer tornar independente da Sérvia, proclamando a independência e escolhendo um Parlamento. Milosevic manda mais exército para a região e os albaneses estão com pouca ajuda- o líder do Kosovo pode apenas almejar uma resistência pacífica pois não possui armas.

Em 1998, o Kosovo começa a tornar-se interessante. Estávamos numa altura em que Clinton se vê envolvido no escândalo de Monica Lewinsky, que o leva a jurar em falso na televisão, prestando falso testemunho quanto ao seu envolvimento com a estagiária. Há-que desviar as atenções mundiais e, como sempre, isso foi feito pelos americanos provocando uma guerra. Assim, a guerra do Kosovo teve apenas a ver com o facto dos EUA quererem apagar o caso Lewinsky: não há outra razão significativa, seja económica ou de outra índole. Por um lado, o Kosovo é um território sem nenhuns recursos e por outro a Sérvia nunca se opôs aos americanos no seu território, seja com bases militares ou com a compra de indústrias (Milosevic vendera três grandes fábricas sérvias aos americanos...)

Contudo, a resistência militar é organizada no Kosovo, a partir de um grupo de narcotraficantes e outro grupo de radicais de esquerda, albaneses hoxhistas. Os americanos dão-lhes armas e estes atacam Milosevic, provocando uma escalada de violência. É organizada a conferência de Rambouillet, em que os sérvios aceitam todas as exigências norte-americanas no prazo definido. Allbright resolve então adicionar mais uma exigência, a de que a OTAN pudesse permanecer no território sérvio quando quisesse. Milosevic não aceita esta perda de independência formal e a OTAN ataca Belgrado. Não se trata de uma guerra porque a Sérvia não tem qualquer força e o seu armamento é obsoleto- os generais sérvios optam por esconder-se dos americanos.

Contudo, os sérvios conseguem abater o famoso avião invisível norta-americano e há uma cena de um filme, famosa, em que um grupo de ciganos dança em cima desse avião (Kusturica). Milosevic não se rende e a OTAN deixa de destruir o exército e passa a destruir indústrias e a televisão de Belgrado, com a desculpa de que estavam a emitir mentiras e destruindo anos de evolução da Sérvia enquanto país. É o actual prémio Nobel da Paz que leva Milosevic a render-se, sendo levado para Haia para ser julgado por um Tribunal contra crimes de guerra e onde acaba por morrer.

Em Fevereiro de 2008 o Kosovo proclama a independência unilateralmente, imediatamente reconhecida pelos EUA. Portugal não reconheceu durante muito tempo por causa do testemunho de um general português, com uma posição de chefia no terreno, que informa o país de que o território jamais poderá ser independente pois é governado por máfias de interesses. Foi por interferência de Condolezza Rice que, em Outubro de 2008, Portugal reconhece a independência do Kosovo. Contudo, nem um terço dos países do mundo reconhece ainda o Kosovo como país. Este reconhecimento constitui um precedente grave na medida em que pela primeira vez se aceita uma declaração de independência unilateral e é aberta assim uma "caixa de Pandora".

Hoje em dia, a Eslovénia está bem na UE, com um nível de vida muito superior ao português. A Croácia começou bem mas agora é corrupta e não tem dinheiro. Sérvia e Croácia continuam a acusar-se mutuamente. Na Bósnia, os sérvios da Bósnia ganharam um argumento, com o Kosovo, para a proclamação da independência unilateral. Sob estes estados, a Rússia recuperou e tenta recuperar zonas de influência, estando a relançar-se no mundo. A única forma de "salvar" a ex-Jugoslávia é integrar a zona na UE para que haja crescimento económico e esperança de Paz. Hoje em dia, Rússia e muçulmanos estão mais fortes e podem reagir: está de novo tudo "a ferver" para aqueles lados. Tendo em conta que os valores europeus são diferentes dos americanos, defendendo a negociação e não o bombardeamento, a UE poderia e deveria ser muito melhor para a Paz no mundo e daí a importância de ser aprovado o Tratado de Lisboa.

24/11/08

HMC - Aula 15

6.6. Conflito na Jugoslávia

Após a I Guerra Mundial, a Sérvia lidera o processo de integração da Jugoslávia, sendo desde esta altura que começam os conflitos entre sérvios e croatas: os croatas têm tradições ocidentais, religião cristã católica, enquanto os sérvios se identificam com o império oriental, escrevem em cirílico e são cristãos ortodoxos. Existe portanto uma diferença grande entre croatas e sérvios, que nunca fizeram parte de um estado comum. Em relação à Jugoslávia, os sérvios entendem a Jugoslávia como uma "Grande Sérvia" enquanto os croatas entendem o estado como partilha de poder, baseado no federalismo. O novo estado criado, a Jugoslávia, é palco de conflitos permanentes, embora seja uma monarquia parlamentar. Apenas como exemplo, um dos episódios ais característicos desta instabilidade foi o assassinato de três croatas no Parlamento, por um montenegrino e o assassínio do rei sérvio em França, pelos croatas.

Estes episódios demonstram que o relacionamento entre sérvios e croatas não funciona. Porém durante a II Guerra, perante o perigo de Hitler, sérvios e croatas entendem-se e pedem a Hitler neutralidade. Porém, Churchill incentiva o golpe de estado em Belgrado e proclamam guerra a Hitler, incentivando as forças Aliadas ao rompimento do pacto de neutralidade com Hitler. Em 1941, Hitler invade a Sérvia, perdendo assim dois ou três meses preciosos para atacar a URSS. A Jugoslávia é desmembrada, passando parte para o III Reich, outra para Mussolini, Hungria, Bulgária, Roménia, Albânia, etc.

Assim, a Jugoslávia desaparece do mapa, ficando apenas uma pequena parte da Sérvia, dominada por Hitler e o estado independente da Croácia, construído e liderado por um grupo nazi que obedece a Hitler e faz tudo o que os nazis faziam, incluindo uma brutal perseguição aos sérvios. Deste modo, o fim da II Guerra é também a terrível guerra civil na Jugoslávia, com forças nacionalistas extremistas, prontas a matar. No entanto, aparece uma nova força neutral, reconciliadora, anti-fascista de libertação nacional, liderada pelos comunistas e por Tito.

Tito é um croata, comunista, que esteve em Moscovo e que lidera depois o movimento de libertação nacional. De facto, a Jugoslávia é libertada por comunistas nacionais, sem a ajuda do exército Vermelho, facto que dá a Tito grande independência face à URSS e lhe permite uma forma autónoma de interpretação própria do Comunismo, impondo-se a Stalin. São organizadas eleições e ganham os comunistas, implementando-se um regime duro para depois do conflito com Stalin, Tito adoptar uma interpretação diferente do marxismo. Baseia-se na descentralização, com maior respeito pelos direitos do Homem e alguma iniciativa privada.

Nos anos 60, a Jugoslávia conhece um progresso extraordinário e pratica uma política de não-agressão entre os dois blocos. A Jugoslávia é muito importante também para Portugal: Tito foi conselheiro das forças revolucionárias em Portugal no pós 25 de Abril, sendo amigo próximo de Ramalho Eanes. Goza de uma imagem positiva em todo o mundo, tendo levado nos anos 60 e 70 a Jugoslávia a um bom crescimento económico e a um socialismo de rosto humano.

Nos anos 80, porém, e após a morte de Tito, a Jugoslávia começa a enfrentar novos problemas. Finalmente a crise norte-americana dos anos 70 chega à Europa. Durante o Comunismo, a Jugoslávia era uma federação, um espaço onde se resolviam todos os problemas internos. Era constituída por seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um Partido. Os seis estados eram a Eslovénia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedónia. Este último, parte é eslavo, parte grego e daí hoje em dia os gregos impedirem o novo país de se chamar Macedónia: chama-se FYROM porque os gregos não autorizam a que se chame Macedónia, embora estes tenham apresentado uma queixa no Tribunal Internacional contra a Grécia. Na Bósnia-Herzegovina, convivem sérvios, croatas e eslavos muçulmanos. Os comunistas resolvem o conflito entre os povos, dando a cada povo um estado e fazendo a federação, onde os interesses seriam proporcionalmente respeitados.

Porém, nos anos 80 a crise económica chega à Jugoslávia, uma vez que dois terços do comércio jugoslavo era feito com um Ocidente em crise. O sistema já não consegue responder e começam os problemas económicos, renascendo fantasmas políticos com forças extremistas de Direita a tentar tomar o poder. A crise económica e política fragiliza muito as ligações entre os povos e em 1989, os comunistas jugoslavos têm de abandonar o poder, contra a vontade de muitos dos habitantes da federação. A luta na Jugoslávia é mais complicada do que noutros países e provoca o conflito entre os diferentes povos. A resolução passou pela realização de eleições em cada estado da Federação, em 1990, onde participam muitos partidos mas onde as eleições se discutem entre os ex-comunistas (SD) e os anti-comunistas (nacionalismo e extrema-direita).

Na Eslovénia ganham os anti-comunistas mas houve uma reconciliação- o presidente da Eslovénia é um ex-comunista, coligado com vários partidos. Na Croácia ganham os anti-comunistas, nacionalistas e a favor da independência da Croácia, que consideram ser a continuação do estado independente da altura nazi. Na Sérvia, vencem os ex-comunistas, com o novo Partido Socialista de Slobodan Milosevic. Na Bósnia, vencem os nacionalistas de cada povo. Estes novos poderes são legitimados pelas eleições: alguns querem o prolongamento da Jugoslávia mas outros querem que esta acabe e se façam estados independentes. Há um empate técnico: 4 querem continuar a federação, 4 não querem e há um impasse, sem decisão, fomentada por propaganda de cada um dos lados e um papel odioso dos meios de comunicação.

Na Primavera de 1991, duas das repúblicas ocidentais proclamam a independência unilateral - Eslovénia e Croácia. As outras repúblicas não aceitam e há um desentendimento. Na Eslovénia não há grande problema pois esta é vista desde há muito tempo como a nona província da Áustria. Acontece aí uma "guerra de fim de semana", de 4 ou 5 dias em que há cerca de 40 mortos. A justificação para a guerra é de que ao proclamar a independência, a Eslovénia alterou as fronteiras da federação e um dos papéis do exército é defender as fronteiras: a declaração eslovena seria assim um acto ilegítimo que seria preciso anular pela força. Mas por outro lado, segundo a constituição da federação, a Eslovénia tem direito a separar-se. Sem consenso, recorre-se à força e ao choque entre o exército federal e os eslovenos, que têm o apoio da Áustria e da OTAN. A Eslovénia derrota o exército federal destacado (com pouca força) e a guerra é pouco importante, com a Eslovénia a tornar-se independente.

Já a guerra da Croácia é bastante mais complicada pois aí vivem sérvios e croatas. A Croácia proclama a separação da Jugoslávia e os sérvios da Croácia dizem que o acto é ilegal e alegam que se os croatas têm direito à independência, eles também têm direito a proclamar independência da região da Croácia onde vivem. Croatas e sérvios não se entendem quanto ao território que acaba de proclamar a independência e dá-se uma segunda guerra na Jugoslávia, no território da Croácia. Os sérvios da Croácia têm o apoio da Sérvia enquanto os croatas não têm grande apoio externo- todos se aproveitam da situação para lhes vender armas ilegais, inclusivé Portugal, que vende armas à Croácia através de um esquema ilegal com a Colômbia.

No Verão de 1991, dá-se um conflito sério entre sérvios e croatas que envolve forças sérvias. Primeiro, o episódio de Dubrovnik, uma zona de património protegido, a "Veneza do Adriático", zona de elites. Os sérvios cercam a cidade e bombardeiam-na, segundo o Ocidente. O que aconteceu de facto não se sabe ainda mas a situação é exagerada e aproveitada pelo Ocidente. Outro episódio dá-se em Bukova, onde vivem conjuntamente sérvios e croatas em número igual e onde acontecem batalhas populares, entre vizinhos que sempre se tinham dado bem. A partir desta altura o exército federal passa a actuar do lado da Sérvia, ficando abertamente do seu lado e expulsando os croatas desta cidade. Os sérvios ganham esta guerra mas perdem no plano internacional, factor que é muito discutível.

Em Janeiro de 1992, Tujman e Milosevic entendem-se e assinam o cessar-fogo: os sérvios controlam o território onde vivem, crca de 30% da Croácia. Esta decisão foi possível porque aos croatas faltava-lhes dinheiro e apoio ocidental. Mas isto apenas porque os americanos ainda não sabem o que fazer e que posição tomar: era ano de eleições e sem EUA a situação não se resolve. A ONU entra no território para recolher armas mas tem um papel tão fraco que os capacetes azuis ficam desacreditados de tal forma que ainda não recuperaram: a força que iria impor a paz é responsável por prostituição, contrabando, etc.

Em 1992, dá-se novo conflito, desta vez na Bósnia. Os croatas querem a independência da Bósnia e os sérvios querem que esta permaneça na federação. Os muçulmanos estão do lado dos croatas. Mais tarde, declarada a independência da Bósnia, os sérvios querem a independência dos sérvios da Bósnia, à semelhança do que se passou na Croácia. Estava prestes a começar uma guerra, em Abril de 1992, que dura três anos e tem consequências terríveis. Tal como refere Ivo Andreas, escritor galardoado com o Prémio Nobel, "quando se agitam as águas, a porcaria sobe" e foi o que aconteceu na Jugoslávia nesta altura, com tudo o que existia de mau nas várias facções a ser trazido à superfície. O Ocidente falou de 14 mil sérvios mortos e 250 mil bósnios. Já sabemos que estes números são falsos porque o número total de mortos foi de 90 mil, de forma quase equivalente entre sérvios e muçulmanos. Tanto é falso que hoje em dia os muçulmanos da Bósnia se opôem ao recenseamento da população...

HMC - Aula 14

7.2. Conflito israelo-árabe
7.3. Guerra Iraque – Irão (Primeira Guerra do Golfo, 1980-1988)
7.4. Segunda Guerra do Golfo (1991)
7.5. Terceira Guerra do Golfo (2003)

O Médio Oriente reúne todas as condições propícias, como vimos, para a origem de conflitos, seja por razões económicas, religiosas ou políticas.

Em 1947, após a II Guerra, o protectorado britânico da Palestina é transformado em estado da Palestina e estado de Israel, onde se alojam os judeus. São traçadas fronteiras e tenta-se satisfazer os dois em linhas gerais. A 14 de Maio de 1948 é proclamado o estado de Israel e logo a 15 de Maio começam os conflitos entre judeus e árabes: estes não estão satisfeitos com os dois estados e a solução não é pacífica. A primeira guerra israelo-árabe dura um ano e acaba com a vitória de Israel pela força, ocupando os territórios que a ONU tinha decidido atribuir à Palestina. Trata-se, portanto, de uma situação irregular, de territórios ocupados que nunca deveriam pertencer aos israelitas. As terras foram ocupadas sob o pretexto da protecção e segurança à zona mas oculta verdadeiros interesses económicos.

As guerras seguintes vieram significar mais ocupação e controlo por parte de Israel, tendo sido provocadas com a intenção de que Israel abandone os territórios que ocupou. Israel acabou por desocupar alguns dos territórios que ocupou, tendo destruído todas as infraestruturas criadas durante os anos de ocupação, antes da entrega dos territórios aos árabes.

A segunda guerra israelo-árabe acontece em 1956 e o iniciador foi Israel, sendo o adversário o Egipto. Antes, Nasser tinha feito um golpe de estado no Egipto, destituindo o rei e nacionalizando o canal do Suez. Os ingleses, descontentes com esta situação, incentivam Israel a atacar o Egipto, para depois, juntamente com os franceses, irem em auxílio dos egípcios e ocuparem o canal do Suez. Contudo, URSS e EUA dizem que britânicos e franceses estão lá ilegalmente e mandam capacetes azuis da ONU para o Suez.

A terceira guerra é a Guerra dos 6 Dias e acontece em 1967. Enquadra-se no contexto da Guerra Fria e da cruzada anti-comunista. Vários países da zona chegam a ser governados por generais pró-soviéticos, que pensam já estar bem equipados para derrotar Israel em 1967: contudo, numa ofensiva que artiu da Síria e Egipto, os aviões soviéticos nem chegam a levantar, tendo sido eliminados por Israel logo nos aeroportos. Ajudados pelos EUA, os israelitas possuem novos materiais de guerra, como helicópteros e os mísseis de fio. Como resultuado desta guerra, os árabes acabam por perder mais territórios, os Montes Golã.

A quarta guerra israelo-árabe acontece em 1973, quando no dia do Yom Kippur (Dia de Grande Persão), os árabes atacam Israel. Neste dia, os israelitas estão retirados em casa, dedicando-se a rezar e a contemplar: é um bom dia para os inimigos atacarem o país. Egipto, Síris, Iraque, Marrocos, Líbia estão unidos e mais preparados, tendo ido a Moscovo aprender novas artes bélicas. E de facto conseguem surpreender , avançando no primeiro e segundo dia com grandes prejuízos ao governo israelita. Os árabes têm mísseis soviéticos e conseguem abater cerca de cem aviões israelitas. Porém, ao terceiro dia os norte-americanos já lá estão e começa o contra-ataque israelita, que acaba por derrotar a ofensiva árabe.

Novo conflito acontece aquando da Guerra Civil do Líbano. Em 1945, os franceses não conseguem continuar no Médio Oriente, tendo dado a independência à Síria, que se torna totalmente muçulmana. Porém, os franceses separam uma parte da Síria onde a maioria é cristã e declaram aí o estado do Líbano. Assim, a França continua a ter grande influência na zona, tendo até apelidado a capital do Líbano, Beirute, da "Paris do Médio Oriente. O Líbano torna-se assim num pequeno país controlado pela França e EUA, com certa prosperidade. No entanto, há várias facções muçulmanas que ganham força, assim como facções cristãs. Em 1975, dá-se uma guerra entre cristãos e muçulmanos com várias milícias de ambas as partes. De um lado e do outro não faltam armas e a guerra dura vários anos. Os palestinianos refugiam-se na zona muçulmana do Líbano em campos de refugiados, onde mais tarde os cristãos radicais, apoiados por Israel, são culpados de um massacre terrível contra os árabes refugiados e desarmados. As facções continuam a lutar entre si, sem encontrarem a Paz.

Em 1982, os israelitas, com a preocupação de manter a segurança, ocupam preventivamente uma parte do território do Líbano para impedir as forças radicais islâmicas de entrar no seu território. Em 2002 dá-se a última batalha no Líbano, com o Hamas a ser financiado pelo Irão e atacando permanentemente forças israelitas. Israel retira-se do território do Líbano e é substituído pela ONU. Em 2006, o Hamas raptou um soldado israelita- Israel exige a sua libertação e prepara a guerra para libertar o soldado e destruir a base militar do Hezbollah. Entra no Líbano e aí fica dois meses: não realiza nem nem outro objectivo e é obrigado a retirar-se do Líbano, sofrendo pela primeira vez uma derrota numa guerra, em Agosto de 2006. O soldado israelita ainda não foi libertado e o movimento do Hezzbolah reforçou-se, indo governar o Líbano. Israel perdeu porque os árabes tinham armas que fizeram dano: os chamados aviões "cachuchas" que em russo significa Catarina, trsnaportam os mísseis rocket que levam pouco explosivo mas têm a capacidade de entrar em cidades israelitas. Nesta guerra, a situação altera-se porque Israel é pela primeira vez derrotado.

A guerra continua ainda hoje, com várias tentativas de assinar a Paz. O Egipto reconciliou-se com Israel e os EUA financiam ambos os países com dinheiro e armas. Em 1992, Israel reconciliou-se com a Jordânia porém ainda não foram feitas as pazes com a Síria e, claro, com o Líbano.

A Primeira Guerra do Golfo acontece entre o Iraque e o Irão, dois dos mais antigos povos do mundo, que habitam um território desenvolvido desde muito cedo: quando na Europa ainda éramos caçadores nómadas, na Mesopotâmia havia já uma civilização organizada. O Irão é continuador do grande império persa, com tradições muito diferentes das muçulmanas: no séc. XVIII livram-se do império Otomano. No período entre guerras, têm uma independência formal, funcionando como um protectorado inglês e francês. Só depois da II Guerra têm a verdadeira independência: durante a II Guerra, o Irão foi ocupado pela URSS e Reino Unido, para evitar que Hitler lá chegasse e conseguisse vencer. No fim da guerra, as duas potências hesitam bastante em sair do território e há tensão entre elas: a URSS sai mas a província do Azerbaijão declara-se independente e entra na URSS. O resto fica britânico mas dada a incapacidade destes tomarem conta do território, são substituídos pelos EUA.

Assim, durante a Guerra Fria, o Irão fica na zona de influência ocidental. Realizam-se eleições multipartidárias, em que o rei ganha (é nesta altura que vive a princesa Soraia, ícone mundial de beleza, que não pode ter filhos e por isso que se divorciar do rei, que se casa com outra). Porém, acontece nesta altura que o rei vende o petróleo aos americanos e gasta o dinheiro proveniente nos países europeus, nos casinos, levando o seu povo à miséria.

No Iraque, em 1958, jovens coronéis que estudaram em Moscovo fazem um golpe de estado e impementaram um regime nacionalista. Em 1968, dá-se um novo golpe de estado feito em nome do partido político Baas, que pretende conciliar as ideias marxistas com a religião árabe, naquilo que é conhecido como o socialismo árabe: o governo pro-socialista gasta o dinheiro para constuir escolas e comprar armas de defesa para o país. Em 1979, chega ao poder Saddam Hussein, com uma orientação socialista. Saddam, de forma a conseguir negociar com o Ocidente, introduz no país várias reformas de democratização, como eleições livres e partidos políticos. O regime político de Saddam Hussein é nesta altura, no Médio Oriente, o mais parecido com o Ocidente e torna-se amigo próximo dos EUA. Ramsfeld é grande amigo de Saddam Hussein e é ele que vende o gás tóxico ao regime de Saddam.

Ao mesmo tempo, o Iraque mantem amizade com a URSS, por causa do petróleo e com a Jugoslávia: os jugoslavos pagam o petróleo iraquiano com mão-de-obra e por curiosidade, foram os jugoslavos que construíram o bunker onde foi descoberto Saddam. Por isso, na altura, enquanto no Irão sofriam, no Iraque prosperavam, estando nas boas graças de todo o mundo, inclusivé dos dois oponentes da Guerra Fria.

Em 1979, acontecimentos críticos dão-se na região. No Irão, a polícia secreta controlava o povo mas aparece uma oposição religiosa, nas mesquitas, que não conseguem controlar e que vai terminar numa Revolução Islâmica. O povo é todo organizado contra o governo e vêm no aiatola Kheomeini o seu líder. A visão deste aiatola de como deve ser organizado o estado é radical e a Lei Sharia é introduzida no estado, que passa a ser uma república islâmica: trata-se de um regime reaccionário que pretende incluir guerras islâmicas.

Para todos os efeitos, o regime no Irão realiza eleições, com vários partidos políticos. No entanto as eleições não têm valor pois quem confirma os vencedores são os molahs- a última palavra cabe sempre ao conselho religioso, que pode escolher quem vence. Também nesta altura, a posição da mulher altera-se no Irão; a elite estabelece um radicalismo islamita feroz e nasce um anti-americanismo em que se considera que a pobreza é culpa dos EUA, que apoiavam o rei, gastador do dinheiro iraniano no Ocidente. Nasce o conflito entre Irão e EUA que culmina com a ocupação da embaixada dos EUA por jovens revolucionários islâmicos, que fazem os funcionários da embaixada reféns. Trata-se de um episódio não permitido pela lei da diplomacia internacional, consistindo numa grande violação. Os EUA tentam libertar os reféns mas a investida é um fracasso estrondoso (cf. força delta).

Contudo, se a revolução islâmica se espalha, é criada uma região muito perigosa para a hegemonia dos EUA no mundo.E por isso, os americanos instigam Saddam Hussein a atacar o Irão: Saddam está muito bem, tem o apoio do povo, comprou muitas armas e tem um conflito fronteiriço com o Irão há anos. Por outro lado, quando o aiatola entrou teve resistência dos comunistas, que tentavam subir ao poder- Kheomeini teve que lutar contra os comunistas para se impor no país. Em 1980, Saddam ataca o Irão e começa a primeira Guerra do Golfo.

Em 1979, a URSS ocupara o Afeganistão, para impedir que a revolução islâmica atingisse o Paquistão. A guerra na zona dura oito anos porque no início Saddam ganha mas no Irão, o fervor religioso organiza-se e consegue neutralizar o ataque iraquiano. Em 1986 Saddam prepara e executa um ataque e parece ganhar, fortalecendo o seu poder na região. Nesta altura, os EUA mudam de posição e passam a ajudar o Irão pois convem-lhes não um Irão fraco e um Iraque forte mas ambos os países fracos e dependentes. Em 1988, a região está num impasse: a guerra acabou mas ambos os lados estão sem forças para nada: URSS e EUA ficam contentes.

Contudo, Saddam diz que entrou na guerra para fazer um favor e alguém tem de o ressarcir. No entanto, ninguém quer pagar as perdas da guerra a Saddam e este diz que há uma forma de o compensarem e será entregando o pequeno território do Koweit. O Koweit era uma parte do território iraquiano até 1961 e como Saddam entrou na guerra para salvar o Koweit, quer instalar-se lá. Manda o exército ocupar o pequeno país em Agosto de 1990, com uma claro intenção de lá ficar a indeminizar-se com petróleo.

Um ano antes desta invasão, tinha caído o Muro de Berlim e a URSS está de rastos: quando o Iraque invade o Koweit, os cinco membros permanentes da ONU estão de acordo e contra o Iraque, ou seja, tanto Bush como Gorbachov concordam com a ofensiva ao Iraque. A ONU diz que o Iraque cometeu uma violação do direito internacional e que tem que abandonar o Koweit. O ultimato é dado e no dia 17 de Janeiro de 1991 começam os bombardeamentos do Iraque pela ONU, principalmente pelos EUA. Bombardeiam em poucos dias o Iraque, numa batalha sobretudo terrestre onde em poucos dias Saddam é totalmente derrotado. Os EUA afirmam que esta é uma guerra de estrelas, com um novo tipo de armas, as bombas inteligentes e mísseis guiados por satélite. Contudo, apenas 30% dos mísseis eram inteligentes e por isso há muitas mortes civis. Perpassa a imagem de apenas uma super-potência, os EUA, que metem medo e que podem fazer no mundo o que lhes apetece.

Outro aspecto desta segunda guerra do Golfo é de que nenhum jornalista viu a guerra: a opinião pública virou-se contra o governo na altura da Guerra do Vietname e por isso desta vez a imprensa é controlada: só acontece o que a CNN nos mostra. No fim da guerra, Bush não retirou Saddam do poder porque a ordem da ONU era a de repor a ordem anterior à invasão do Koweit.

Já em 2000, George W. Bush ganha as eleições contra Al Gore, numa batalha renhida em que o Presidente apontado não é o que tem mais votos. Em 2000, antes da decisão final, o presidente dos EUA foi temporariamente o juíz do Tribunal Supremo: W.Bush entra já fragilizado. Porém, após os ataques de 11 de Setembro, W.Bush torna-se muito popular, chegando a ser o Presidente americano mais popular de sempre. No poder, Bush declara o eixo do mal como sendo o Irão, o Iraque e a Coreia do Norte, estados segundo ele patrocinadores do terrorismo. No entanto, já se provou que isto era mentira: Saddam nunca teve armas de destruição maciça e nunca patrocinou a actividade da Al Qaeda. A questão é que Bush opta por controlar e conquistar o Médio Oriente, de forma a controlar o petróleo e a instalar regimes favoráveis a Washington. Em Março de 2003, invade o Iraque e inicia a 3ª Guerra do Golfo.

A apoiar Bush estão, entre outros, Blair e Aznar. Reunem-se juntamente com Durão Barroso na cimeira das Lajes e aí planeiam a invasão do Iraque. Hoje, Barroso já admitiu que a invasão do Iraque foi um erro e na altura Jorge Sampaio não queria enviar tropas portuguesas para a guerra. Por isso, Barroso manda apenas a GNR, força da responsabilidade do governo que não está debaixo da alçada do Presidente. Entre outros episódios de (des)preparação dos GNR portugueses, a entrega por Berlusconi de blindados à GNR. Sócrates retirou discretamente todos os portugueses presentes no Iraque.

Hoje, esta Guerra no Golfo não acabou e está longe disso. Ao longo do séc.XX, o conflito israelo-árabe foi também um conflito entre os EUA e aURSS, que acabou ficando a ser substituída pelas forças radicais islâmicas. Se dentro deste panorama, o Irão conseguir a bomba atómica, o cenário mundial fica seriamente ameaçado.

18/11/08

HMC - Aula 13

VII – CONFLITOS NO MÉDIO ORIENTE
7.1. Complexidade do Médio Oriente

O Médio Oriente aparece na cena internacional como um território onde a guerra ainda não parou, desde a II Guerra Mundial. Nenhum conflito do Golfo está resolvido: apenas nãos e fala tanto deles por causa da recente guerra na Geórgia e das eleições americanas. Mas o território é tão problemático ao ponto de ter causado o primeiro conflito com dimensões substanciais depois da II Guerra.

A complexidade do Médio Oriente prende-se com razões históricas, religiosas e civilizacionais ou económicas. A nível histórico, é palco de conflitos frequentes, a nível religioso, co-abitam no médio oriente as 3 grandes religiões, que continuam num conflito permanente; a nível económico, é a zona no mundo onde existe mais petróleo, sendo isso considerado um milagre e uma maldição.

Em termos de definições, existem "3 Orientes": o Oriente Longínquo (Índia, China, Japão), o Próximo Oriente (Turquia e Balcãs, segundo uns, ou Magrebe segundo outros) e o Médio Oriente, que tem origem na divisão estratégica que Churchill fez na II Guerra e que compreende a zona à volta da Península Arábica, entre eles o Egipto, Turquia, Irão, Afeganistão, Paquistão e alguns países do Cáucaso.

Tratam-se neste último caso de povos incluídos no Império Romano, que acaba no séc. VI, VI. São sucedidos pelo Império Árabe, no séc.VI, com o Profeta Maomé como figura central, organizando toda a população desse território num reinado. No séc. VIII, o Império Árabe chega à Península Ibérica, ao Norte de África e à Índia. É um império baseado na ciência, que deixa muitas marcas, entre elas a Matemática, a Astronomia e o astrolábio. Quando chega ao fim, inicia o Império Otomano, depois de uma série de guerras civis que levaram ao controlo Otomano de todo o Médio Oriente.

Os Otomanos ficam na zona até ao fim da I Guerra Mundial, onde por terem estado ao lado da Alemanha saem derrotados: Reino Unido e França tomam conta do território. É nesta ocasião que se fala de Lawrence da Arábia, que anima os árabes para expulsar os turcos da região. Nesta altura, os britânicos e franceses são os donos da região mas têm de partir por não disporem de capital para sustentar aquele vasto território. São subsituídos na região pelos EUA e durante a Guerra Fria há uma luta constante entre as duas potências para se impor nas guerras da região. Do lado soviético, a Síria, o Egipto e o Iraque. Do lado americano, Israel. Esta divisão impôe também uma divisão religiosa: os judeus com os americanos e os árabes com os soviéticos. A história da região traz assim conflitos permanentes.

No que respeita à religião, há 3 grandes religiões em Jerusalém, sendo que encaramos a religião no sentido estreito do termo, como uma crença num Deus omnipotente e presente. São essas religiões o Judaísmo (clássicos ou ortodoxos e moderados), o Cristianismo (ortodoxos, católicos e protestantes) e o Islão (chiitas e sunitas, estes representando 80%).

Para perceber a problemática da religião naquela zona, é preciso perceber a figura de um profeta. Um profeta é um homem que consegue perceber a verdade de Deus. O profeta mais importante do judaísmo é Moisés, do cristianismo Jesus e do Islão, Maomé. Os judeus e os cristãos nunca se deram bem: os judeus rejeitam Jesus como filho de Deus; os cristãos consideram que foram os judeus quem matou Jesus e daí perseguem-nos. Os judeus culpam o Papa de Roma de ser aliado dos Nazis na II Guerra. E de facto a Igreja nunca condenou nem pediu desculpa pela perseguição aos judeus.

Os judeus foram expulsos do Médio Oriente no séc. VII e VI a.C. aquando daquilo que apelidam a catástrofe, em que perderam os seus estados. Espalham-se pelo mundo todo e continuam muito fiéis à sua religião. As sociedades judaicas são sempre de bom sucesso: estudam muito mais do que os outros e pelas circunstâncias em que viviam tinham que ser mais solidários e poupados. Aliando estas duas coisas, percebem cedo o que é a tecnologia e fundam os primeiros bancos. Conseguem ganhar dinheiro e tornar-se os melhores em várias profissões e vários países, como médicos americanos, por exemplo.

No séc. XIX, os judeus formam o seu próprio movimento nacionalista, o Sionismo, sendo Sião uma das sete colinas de Jerusalém. O objectivo era reconstruir o estado de Israel na Terra Prometida. No início do séc. XX, quando acaba a I Guerra, os americanos favorecem os judeus na região, de modo a terem lá um aliado fiel. Após a II Guerra, o movimento sionista tem o apoio da maioria do mundo. O território de Israel, antes Palestina, é dividido entre árabes e judeus. Hoje, o estado de Israel tem menos de 4 milhões de habitantes, sendo constituído por judeus que vieram de todo o mundo e é um território pequeno. Porém, tem informalmente 100 bombas atómicas ilegais (ilegais porque apenas os membros do Conselho de Segurança da ONU podem supostamente ter). Porém, calcula-se que 36 países tenham armamento atómico, entre os quais o Paquistão e a Índia. Graças ao apoio dos EUA, Israel é uma força militar extraordinária.

No que respeita aos cristãos, não existem muitos no Médio Oriente, embora considerem o local como território santo.

O Islão divide-se entre os muçulmanos (versão persa que quer dizer fiel e é igual a muslim) e mouros, árabes do Norte de África que conquistaram a Península Ibérica. Islão significa a religião dos que são fiéis. Foi criada pelo profeta Maomé, que é o último e mais importante profeta do Islão. Reconhecem a existência de mais profetas como Moisés e Jesus mas a crença e de que Maomé é que trouxe a palavra verdadeira. Maomé era de uma família pobre, trabalhou desde cedo como pastor com um primo que morre e deixa uma viúva, com quem Maomé se casa e tem Fátima, filha única desse casamento. Casa-se mais 19 vezes e tem mais 19 filhas. Como não deixa nenhum filho varão, quando Maomé morre, há o problema da sucessão: ao longo da sua vida Maomé, que era muito inteligente e convincente, criou um grande império em todo o mundo, o Império Árabe.

É aqui que tem início a guerra entre sunitas e xiitas. Os sunitas querem a sucessão pelos reis, pelos califa de cada região; os xiitas querem a sucessão por sangue e dizem que quem deve suceder a Maomé é Ali, marido de Fátima. Este é assassinado pelos sunitas para não se tornar sucessor e desde então os xiitas celebram o aniversário da sua morte. Em Medina, uma batalha sangrenta conta com o apoio dos judeus aos adversários de Maomé, no séc. VII: desde então há um conflito de desconfiança que não cessa.

Antes, porém, Maomé casa-se e começa a sentir a sua ligação com Deus, tornando-se profeta. O transmissor da palavra entre Deus e Maomé foi ditada pelo anjo Gabriel para escrever o Corão (todo escrito em versos, pronunciados de forma solena, que parece que está a cantar, sendo que existe entre Imãs uma competição para ver quem lê o texto de forma mais solene.) É esta a origem da força do Irão, um sistema de professar onde não há igrejas nem padres, cada um professa a religião se quiser. A mesquita não é uma igreja, é um centre de reunião para oração- é eleita na comunidade uma pessoa letrada, o Imã, que não é um padre, é um leitor do livro de Deus, financiado pela comunidade. Os aiatolas também não são bispos: são bons interpretadores da palavra de Deus. O Islão espalhou-se pelo mundo e é hoje a segunda religião com mais fiéis, com fiéis em África, Europa, Ásia.

Entre os cristãos e os muçulmanos, há também conflitos: os cristãos dizem que os muçulmanos são fundamentalistas, agressores e terroristas. É um conflito recente que surge por culpa de uma interpretação fundamentalista do Islão, a Sharia. O Corão não é apenas o livro sagrado, ele tem também a ambição de organizar a sociedade, de ser a lei, perseguindo determinados tipos de comportamentos. Porém, são adoptados na maior parte dos países e culturas árabes outros livros jurídicos, desde o séc. X e XII. Há no entanto uma minoria absoluta que acham que a Lei Sharia deveria ser aplicada. É uma minoria tão escassa como a dos Evolucionistas, na religião cristã. Mas segundo os norte-americanos, quem quer esta lei são os xiitas do Irão- esta premissa é falsa, uma vez que há radicais em todo o lado mas neste caso são minorias absolutas. Tal como os talibãs, uma minoria fundamentalista criada e financiada pelos EUA para destruir a URSS.

Assim, apenas uma parte muito pequena dos muçulmanos quer a Sharia e a Jihad, a guerra islâmica. O que acontece é que de tanto espalharem a mentira que diz o contrário, esta se torna verdade. Outros mitos são apenas isso: cada muçulmano, segundo o Corão, pode casar-se no máximo com quatro mulheres. Porém têm que mostrar à comunidade que têm capacidade de sustentar a segunda mulher. As mulheres no Islão podem divorciar-se e se a primeira mulher não aceitar, não pode haver segunda mulher. O homem tem de indminizar a mulher que se quer divorciar. Contudo, apenas 1% dos muçulmanos está casado com mais do que uma mulher. A situação da mulher no Islão não é perfeita mas não é também como se diz: a maioria das mulheres já não andam de lenço e, por exemplo no Irão, as mulheres representam 33% do Parlamento.

Nas religiões, Deus é igual, o que muda é a interpretação da sua palavra e essa é uma das razões pela qual não existe Paz.

Quanto à economia, o petróleo surge como factor de disputa. Já se conhece a sua existência desde há muito tempo mas só se tornou importante quando aparece o motor de explosão interna- é do petróleo que se extrai o combustível para movimentar este motor. Descobre-se pela primeira vez no Texas e começam depois a procurá-lo em todo o lado, sendo na Arábia Saudita onde existe mais, no mundo todo. Nos anos 30, com o avanço na refinação do petróleo, este torna-se imprescindível para a civilização, utilizando-se para o combustível, aquecimento, vários tipos de gordura e lubrificantes. O petróleo entra na produção de 29 tipos de produtos, sendo que o adubo artificial, insubstituível na produção de comida, é a sua principal utilização. Seguem-se os pesticidas, os produtos de higiene, etc.

O problema do petróleo é que um dia vai acabar, dentro de 20 anos dizem alguns, e daí a corrida para o Polo Norte, porque abaixo do gelo haverá petróleo. Sabe-se que vai acabar, não se sabe quando e por isso até lá a luta para controlar o petróleo é também uma luta pela civilização. Não há substituto que permita manter um nível de vida tão alto. Porém, em 1970 o petróleo custava 1,08 dólares por barril e em 2008 chegou a custar 160 dólares. O Médio Oriente e o Cáspio têm 80% do petróleo mundial e daí a tentativa por parte das potências dominantes de controlar aquelas zonas.

Por todas estas razões, o Médio Oriente vai continuar a ser uma zona de conflito permanente.

04/11/08

HMC - Aula 11

VI - TRANSIÇÃO PARA A DEMOCRACIA
6.1. Raízes da transição: três personalidades, três políticas (João Paulo II, Ronald Reagan, Mikhail Gorbatchov)
6.2. "Queda do Muro de Berlim"
6.3. Transição nos países de Leste
6.4. Fim da URSS
6.5. Reunificação alemã

O Muro de Berlim tinha sido construído durante a madrugada de um dia de Agosto de 1961. A cidade era então governada por comissões conjuntas indicadas pelos estados ocupadores. O muro foi construído na sequência da migração de leste para a parte ocidental da cidade: devido ao intenso fluxo de pessoas, Nikita fala com Ulbricht e decidem fazer um impedimento físico para que não passe ninguém de Berlim Leste para Berlim Ocidental. As versões divergem quanto ao comprimento do muro mas certo é que tinha três metros de altura e no topo arame farpado, vidro, electricidade, etc.

Trata-se de um dos muros físicos contruído para dividir famílias e daí ter ficado conhecido como "Muro da Vergonha". Outros muros fazem o mesmo que este mas não se tornaram tão famosos: em Israel, o que separa Gaza do resto do país, chamado de "Muro de Segurança", que impede os árabes de irem para território judeu. O Tribunal Internacional ordenou a demolição deste muro mas na ONU, apoiados pelos Estados Unidos, os israelitas conseguiram-no manter em pé. Outro muro, desta vez chamado de "Muro da Cooperação", é o que separa a fronteira dos EUA com o México, tentando assim impedir a emigração ilegal para solo americano.

No dia 8 de Novembro de 1989 dá-se a Queda do Muro de Berlim, com a contribuição de ambos os lados. Porquê? A URSS estava nessa altura em franco declínio: a década de 80 trouxe também problemas à Alemanha de Leste e Gorbatchov, Presidente da URSS, adoptou a "doutrina Sinatra": cada um faz o que entender e como melhor entender ("my way"). Tanto levou a cabo esta política que a Polónia é o primeiro país do Leste a abandonar o Comunismo, mesmo antes da queda do muro.

Em relação à Alemanha, o que acontece é que a Alemanha Ocidental, ao formar uma república em 1949, nunca reconheceu a Alemanha de Leste como um país mas sim como um território ocupado. Assim, tratam os de Leste como se fossem seus cidadãos e se um se dirige a uma embaixada da Alemanha Ocidental noutro país, é-lhe concedido um passaporte ocidental. Em 1989, cada vez mais cidadãos da Alemanha de Leste vão para outros estados fazer isto. A certa altura, estão em Praga, na embaixada da Alemanha Ocidental, mais de 10.000 cidadãos da Alemanha de Leste a pedir passaporte e saída do seu país. Trata-se de um país inteiro a querer fugir do seu território. Praga pergunta a Moscovo o que deveria fazer e estes demarcam-se. Para se livrarem das hordas de alemães de Leste, os checos carimbam os passaportes e mandam-nos para a Áustria.

Vive-se então uma tensão incontrolável entre as duas Alemanhas. No dia 8 de Novembro de 1989, acontece uma conferência de imprensa transmitida em directo na Alemanha de Leste pela rádio. Nessa conferência, um porta-voz do governo responde assustado à pergunta de quando irá o governo abrir as passagens para a Alemanha Ocidental: "Agora." e o povo começa a debandar para as fronteiras. Os guardas não sabem o que fazer e permitem a passagem dos cidadãos: o sistema soviético desmorona-se perante a falta de autoridade. O Ocidente recebe os alemães de Leste de braços abertos e nesse Natal, a prenda mais importante nos EUA é um pedaço do muro de Berlim.

Nesta altura há três personalidades que são a personificação de três tipos de pensamento e que contribuem em larga escala para o fim da Guerra Fria. São elas o Papa João Paulo II, Ronald Reagan e Mikail Gorbatchov.

João Paulo II nasceu na Polónia em 1920 e morreu em Roma em 2005. Em jovem era um saudável desportista que sentiu muito cedo a vocação de servir Deus. Comot al, choca com os comunistas polacos e vai para um sacerdócio clandestino, uma vez que pelo materialismo dialéctico não existe conciliação entre a Igreja e o comunismo. João Paulo II é um ferveroso anti-comunista, que luta toda a sua vida para derrubar o regime e instalar outro que seja favorável à Fé. É doutorado em Teologia e as suas teses são todas à volta do controlo da natalidade, sendo contra o uso do preservativo e demonstrando sempre posições ultra-conservadoras. É eleito Papa a 16 de Outubro de 1978, causando polémica por ser o primeiro Papa não italiano desde há 450 anos.

Como Papa, é politicamente muito activo, sempre contra o comunismo. É um bom comunicador, utiliza música para pregar a sua doutrina em concertos juntam multidões: sabe ser moderno pelo uso da tecnologia e línguas mas é conservador, defendendo uma Igreja típica do séc. XIX. João Paulo II apoia a Polónia de Lech Walesa, protagonista de um movimento católico anti-comunista. O Papa apoia este movimento com dinheiro- o Vaticano é uma das maiores empresas do mundo, com bancos, investimentos, etc. Consegue assim derrubar o comunismo na Polónia mas não se fica por aqui. João Paulo II viaja por toda a Europa de Leste, dizendo aos fieis que "não devem ter medo de amar Cristo". A sua luta pela religião significa, naquela altura, a luta contra o comunismo.

Outra das personalidades desta altura foi Ronald Reagan, que viveu entre 1911 e 2004. Vem de uma família da classe média alta americana, que insiste para que ele se forme em Direito. Porém, depois da Licenciatura, Reagan decide ouvir a sua vocação e envereda por uma carreira como actor, em Hollywood. Porém aí é um actor mediano, destacando-se antes na vida política através dos sindicatos dos actores. É um conservador extremo, perseguindo as "bruxas comunistas" com sucesso. Elege-se governador da Califórnia, que é ainda hoje o 7º ou 8º maior estado do mundo. Em 1980, é eleito Presidente dos Estados Unidos da América. É um católico declarado, ressuscitando os medos americanos de uma invasão católica idêntica à que ocorreu com a imigração europeia no início do século.

Como presidente do país, a nível interno, Reagan instaurou aquilo a que chamaram "reaganomics": uma drástica diminuição de impostos, que provocou um autêntico choque fiscal- a ideia era que os ricos investissem o dinheiro que não pagam em impostos e assim se recuperasse o orgulho nacional. Uma das frases que se ouvia nessa altura era "America is Back". Esta receita funciona no primeiro ano de mandato: Reagan diminui 33% dos impostos, o dinheiro é investido e cresce o emprego. Porém, no ano seguinte, começa a faltar dinheiro para a educação e a saúde. Reagan pede créditos e dá-se o gigante endividamento norte-americano, que perdura até hoje e que foi contrabalançado com o facto da China ter comprado a dívida externa dos EUA.

George Bush sucede a Reagan, que perde passados quatro anos para Bill Clinton por razões de ordem económica: os resultados da política de Reagan foram um imenso desastre económico e Clinton repete: "it's the economy, you stupid".

No plano externo, Reagan faz a chamada "guerra das estrelas". Quando chegou ao poder, não tinha inimigos uma vez que a URSS está com problemas económicos, enfrenta uma grave crise de insatisfação e está virada para a guerra no Afeganistão. Reagan recebeu imenso investimento da indústria do armamento e tem que fazer essa "guerra das estrelas" para justificar o dinheiro que lhe deram os empresários do armamento. Trata-se da construção de um verdadeiro escudo de defesa norte-americano, capaz de anular qualquer ataque nuclear, ao mesmo tempo que deixava o resto do mundo refém.

No exterior, Reagan é um político de pouco sucesso, que ficou conhecido como destruidor do Muro de Berlim apenas porque era ele que estava no poder. Foi um feroz anti-comunista e estava lá quando o Comunismo desapareceu ainda que não tivesse feito grande coisa para isso.

A terceira figura desta fase é Mikhail Gorbachov, nascido em 1931 e ainda vivo. Vem de uma família pobre da Rússia, estuda Direito e depois engenharia de máquinas agrícolas. Vai subindo aos poucos na hierarquia do partido comunista até se tornar secretário geral, em 1985. Então, escolhe ser Presidente da União Soviética. Gorbachov apercebe-se que a economia de planeamento e o regime em si não funcionam e como dizia Lenine, eram apenas uma fase transitória na revolução comunista. Porém, na URSS as pessoas estão fartas de esperar por um comunismo que nunca mais chega.

É então que Gorbachov muda radicalmente a atitude dos líderes russos e opta por uma política de "glasnost", ou transparência, permitindo às pessoas falarem o que pensam, numa abertura para a liberdade de expressão. Gorbachov convida as pessoas a falarem directamente, criando um socialismo de rosto humano para melhorar as condições de vida na URSS. Ao mesmo tempo, a política de "perestroika" pretende reorganizar, reconstruir, mudar o sistema soviético, num paralelo com o que pretende agora Barack Obama na sua política de "change".

Gorbachov nunca quis destruir o socialismo mas antes adoptar liberdades da economia de mercado. No entanto, abriu-se nesta altura uma "caixa de Pandora" e a URSS termina, por diversas razões que têm a ver com a podridão do sistema e de todo o regime soviético. Com a morte do sovietismo, acaba também a Guerra Fria. A transição para o Liberalismo é uma transição pacífica, sem mortes nem guerras. Calmamente se implementou o sistema multi-partidário, as eleições democráticas e as liberdades individuais. Nessa altura, na Europa de Leste, a maioria das eleições foram ganhas por anti-comunistas filósofos como Vaclav Havel ou Lech Walesa.

A nível económico, acontece a privatização do que dantes era propriedade colectiva. Essa privatização foi liderada por máfias, que pilhavam e roubavam as propriedades com a ajuda dos bancos ocidentais. Tirando na Checoslováquia, onde houve alguma razoabilidade, as máfias controlaram toda a distribuição das terras na Europa de Leste. Ainda hoje, os grupos organizados, ou seja, as máfias, estão a matar a economia de países como a Hungria, a Polónia, a Croácia, a Sérvia com a total exploração do povo. Ainda hoje pagamos e sofremos com o modelo de transição: países como a Bulgária, Roménia e a Rússia, onde numa altura apenas sete máfias controlavam as sete produções mais importantes (gás, gasolina, etc...)

Foi no entanto uma transição pacífica, à excepção da antiga Jugoslávia.

O fim da Guerra Fria acontece então com o desaparecimento da União Soviética, devido ao colapso económico e tendências separatistas no conjunto das 22 províncias que a integravam. Algumas reclamam independência, como as Repúblicas do Báltico, ao que se seguem outras. Dá-se o caos na URSS. Os generais do Exército Vermelho acham que devem evitar esse caos e em 1991 preparam um golpe de estado para repor o regime soviético. Enviam tanques para Moscovo para tomar a polícia, escolas, hospitais, etc, enquanto Gorbachov estava fora. Entretanto, aparece em cena Boris Ieltsin, um comunista eleito mas que durante o golpe de estado diz que já não é comunista e é contra o golpe. Entra em Moscovo, sobe aos tanques e convida o povo e os soldados a não lutar pelo comunismo. Assim, o povo opôe-se ao golpe de estado e neutraliza-o. Seguidamente dá-se o desmantelamento da URSS, com a Ucrânia, Bielorrússia, Cáucaso, etc, a pedir independência.

A 25 de Dezembro de 1991 Gorbachov pede a demissão do cargo de Presidente da União Soviética, que assim cessa a sua existência. Cria-se em Janeiro de 1992 a Comunidade dos Estados Independentes, formada por 14 estados da ex-URSS. Esta comunidade é criada principalmente para fazer a gestão do armamento nuclear: a Ucrânia era a 3ª potência nuclear, o Cazaquistão tinha mísseis apontados a satélites, etc. Também a decisão sobre as armas nucleares é pacífica. A URSS desaparecia assim de vez e surgia a substitui-la no panorama internacional uma Rússia em colapso económico, sem força. O território que dantes dava comida e bebida ao seu povo e ao resto do mundo tem uma queda de 70% da produção e grassa a fome no território. Na altura, Portugal envia um avião cheio de carne de porco, que ao chegar a Moscovo as autoridades verificam estar fora do prazo de validade...

Com a extinção da URSS, a potência que venceu está mais forte que nunca. Os EUA sobressaem na sua força de uma forma inimaginável- são uma hiperpotência. Nunca se viu nenhum estado na História com uma força tão grande como a dos EUA após 1992.

E na Europa, um novo gigante ganha forma. A reunificação da Alemanha acontece após eleições livres na Alemanha de Leste. Dão-se negociações entre ambas as partes para a reunificação e o acordo do ocidente "engolir" o leste é tomado sem problemas. Os responsáveis pela reunificação são os quatro vencedores da II Guerra Mundial: França e Reino Unido, ameaçados pela nova super-potência europeia e sob o governo de Miterrand e Tatcher, querem a unificação sim mas sem pressas e controlada, de forma a não alterar o seu estatuto na Europa. A ainda URSS de Gorbachov está sem força para exigir o que seja, apenas tenta negociar alguns pagamentos para o seu lado e consegue; os EUA e Bush apoiam sem restrições a unificação da Alemanha, em busca de uma futura aliada no coração da Europa.

Em Abril de 1990, reunem-se em Dublin os 12 da então CEE e discute-se o que se vai fazer com a Alemanha. Quer-se uma Alemanha Europeia ou uma Europa Alemã? A Alemanha reunificada tornar-se-á o maior estado europeu, com capacidade de dominar a CEE. Ao mesmo tempo, há uma preocupação enorme com os fundos estruturais que provinham da Alemanha Ocidental: estes seriam orientados para a reconstrução do Leste alemão.

Em Dublin, às duas da manhã, o chanceler Helmut Kohl envia champagne aos jornalistas para celebrar o acordo: a Alemanha unida permanecerá membro da OTAN, não significando assim perigo para os seus vizinhos. Os fundos estruturais continuam intocados, continuando a dirigir-se para Espanha, Portugal, Itália e Grécia. A integração da Alemanha de Leste será feita às custas da Alemanha Ocidentaç. Hoje, a Alemanha continua a partilhar o dinheiro e a sua riqueza na Europa e lidera a União Europeia, tirando o protagonismo à França e ao Reino Unido.

31/10/08

HMC - Aula 10

5.6. "Revoltas" no bloco de leste (Jugoslávia, Polónia, Hungria, Checoslováquia) e no bloco de oeste (França, República Federal da Alemanha)

Durante a Guerra Fria, surgem alguns conflitos, quer no bloco de leste quer no bloco ocidental, de países que tentam fugir aos regimes "impostos", quer por Moscovo, quer por Washington, tentando assim não alinhar com nenhuma das super potências.

De 1941 a 1945, exactamente durante a Segunda Guerra Mundial, italianos e alemães ocuparam a Jugoslávia, e Hitler e Mussolini impuseram o seu regime, fazendo com que católicos e muçulmanos ficassem contra os próprios sérvios, judeus e ciganos. Isso resultou em muita matança e muitas atrocidades. Assim surgiram movimentos de resistência, nos quais os partizans - guerrilheiros comunistas de Josip Broz Tito, primeiro-ministro jugoslavo de 1945 a 1953 e presidente de 1953 a 1980, nascido na Croácia - e soldados monárquicos conhecidos como chetniks, lutaram contra a ocupação e conseguiram libertar-se sem a ajuda do Exército Vermelho. Tito fundou a República Socialista Federativa da Jugoslávia, que agrupava seis repúblicas: Sérvia, Croácia, Eslovénia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Macedónia. Ele criou também um sistema rotativo para o governo, para as repúblicas não ficarem insatisfeitas, que consistia na indicação do presidente a cada período ser feita por cada uma das repúblicas. O regime iugoslavo sob Tito ficou conhecido como titoísmo.
Uma anedota que sintetizava o sistema político-étnico da Jugoslávia sob Tito era: "Seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um Partido".
Tito seguiu uma linha de independência em relação às orientações de Moscovo, enfurecendo a liderança soviética. Em 1948, os dois países romperam oficialmente, a Jugoslávia foi expulsa do Comintern, dando início ao período do Informbiro nos Balcãs. Com a desestalinização, Nikita Khruschov restaurou e normalizou as relações entre os dois países, mas os jugoslavos mantiveram sua autonomia geopolítica. Isso permitiu a Tito liderar o Movimento Não-Alinhado, que se tornou uma força expressiva no Terceiro Mundo da década de 1950 à de 1980.

Tito e seus seguidores eram socialistas, e o sistema político estabelecido no país após a guerra foi o socialismo. Inicialmente a Jugoslávia manteve-se alinhada com a União Soviética de Stalin. Mas já em 1948 Tito afastou-se das diretrizes impostas pela União Soviética e definiu um modelo próprio de socialismo. Uma das características desse modelo era a autogestão das fábricas pelos operários. A partir de 1953 foi autorizada a dissolução das comunas rurais e o ressurgimento da pequena propriedade urbana. Mas o maior mérito do regime chefiado por Tito foi a manutenção da unidade de um país que congregava diversos povos, de culturas e religiões diferentes, alguns inimigos há muitos séculos: sérvios (cristãos ortodoxos), croatas (católicos), eslovenos (católicos), bósnios (muçulmanos), húngaros e albaneses, entre outros. Apesar dessas diferenças, enquanto Tito viveu a Jugoslávia usufruiu de um período de estabilidade política. Quanto à economia, em 1967 foram feitas reformas para alcançar o que era denominado socialismo de mercado. Tratava-se de uma tentativa de combinar a livre iniciativa com alguns princípios socialistas e melhorar o desempenho do setor produtivo. Nessa difícil passagem para a economia de mercado, sobreveio um período de crise, com desemprego, inflação e endividamento externo.

Outro dos países que tentou desafiar a influência soviética foi a Polónia. Sem qualquer tradição comunista, o comunismo na Polónia era imposto pelos tanques do exército russo. Nos anos 50, os polacos apercebem-se que o comunismo afinal não trouxe tudo aquilo que prometera no início e em 1953 dão-se manifestações contra a presença da União Soviética no país. Como resposta, os soviéticos alteram a liderança do Partido Trabalhista polaco e impôem uma mão mais dura no país. Em 1956, dá-se mesmo uma intervenção soviética para que um dos países para lá da Cortina de Ferro não saia da sua influência.

Apenas na década de 80, o Papa João Paulo II apoia as manifestações lideradas por Lech Walesa, um católico devoto e conseguem ambos derrubar o comunismo. Em 1989, a Polónia é o primeiro governo não-comunista do Leste da Europa.

Também na Hungria se deu um conflito que pôs em causa a hegemonia soviética na região. A Hungria era antes um grande império, que foi depois derrubado e entregue à Áustria, formando assim o Império Austro-Húngaro até metade do séc.XIX. Depois da I Guerra Mundial, a República da Hungria conheceu governos de direita pró-fascistas e após a II Guerra Mundial foi ocupada pela URSS. Realizam-se aí eleições e o Exército Vermelho impôe a vitória dos comunistas, facto que causa a revolta dos húngaros.

Em 1952, surge uma linha reformadora no interior do PC- querem reformá-lo do regime soviético, aproximando-o de regimes do Ocidente liberal. Chegam a instituir de volta a propriedade privada, entre outras reformas no sentido do capitalismo. Em 1956, chegam a pedir a Moscovo a independência política e a retirada do Exército Vermelho do país.

É nesse ano que se dá a primeira intervenção militar da URSS na sua zona de controlo: Moscovo ordena o envio de tanques para a Hungria, e como o país é muito plano, os tanques rapidamente avançam e chegam a Budapeste. Aí conhecem resistência dos húngaros e dá-se uma batalha, na capital, entre o Exército Vermelho e o exército húngaro. Fontes do ocidente falam em 2 milhões de mortos e do Leste em 2000 mortos. Após abertos os arquivos oficiais, percebe-se que o número de mortos na batalha de Budapeste se situará perto dos 20.000. Alguns húngaros fugiram para sempre do seu país, entre eles os pais do actual presidente francês, Nicolas Sarkozy. Após a batalha, os russos vencem e instalam no país um novo governo pró-URSS.

Na Checoslováquia dá-se o terceiro conflito deste período. A Checoslováquia é um país nascido do fim do grande Império Austro-Hungaro. Trata-se d eum território muito evoluído tecnologicamente, nomeadamente ao nível da indústria automóvel (cf. Skoda). No pré II guerra, são vendidos pelo Ocidente a Hitler, na base da política de apaziguamento e é o exército Vermelho quem liberta o país, findo o conflito e instala aí um governo pró-russo.

Nos anos 60, surge no país um movimento no seio da comunidade de escritores favoráveis a reformas. Simultaneamente, vence no PC local a linha liberal reformadora, que quer anular a linha conservadora do partido. Começam assim a dar liberdades ao povo, a praticar uma economia de mercado, introduzindo assim praticamente um regime liberal.

Em 1968, Bresnev, secretário geral do PCUS, envia o exército para Praga, para acabar com esta "Primavera de Praga" de reformas liberalistas. A apoiá-lo, todos os regimes comunistas da Europa de Leste menos a Roménia. Dado o carácter pacífico e prático do povo checoslovaco, estes não se sentem capazes de entrar em conflito armado com os exércitos invasores e cedem.

A Checoslováquia só viria a desintegrar-se após a queda do Muro de Berlim, na chamada "Revolução de Veludo", onde não há nenhum conflito armado para derrubar o comunismo e tudo é liderado e conduzido por artistas e escritores.

No Ocidente, também há revoltas, desta vez contra o outro "ocupante", os Estados Unidos da América. O primeiro desse conflito dá-se em França. Charles de Gaulle, um militar oriundo de uma família rica, que participa na I Guerra Mundial, dedica-se após esse conflito a escrever livros e a ser uma espécie de intelectual do exército francês. Porém quando Hitler ocupa a França, retira-se para o Norte de África e regressa depois como libertador do país, impulsionado pelos americanos que são, de facto, os verdadeiros libertadores de França.

A França dos anos 40 e 50 é um país com graves problemas económicos, dividido em vários assuntos, entre os quais a questão das colónias, como o Vietname e a Argélia. Dá-se por esta altura a independência da maior parte das suas colónias, acompanhado pelo crescimento exponencial dos apoiantes do comunismo. Tanto que, a certo ponto, uma guerra civil parecia inevitável. Em 1958 Charles de Gaulle assume o poder e altera as relações no interior do país, refundando a República Francesa e instaurando a V República. Nessa nova França, é introduzido o sistema presidencial, em que o Presidente da República nomeia e destitui o governo. O Presidente da República, em França, é a principal figura no interior e a principal instituição política. Não se trata contudo de um regime totalitário porque há um Parlamento e há constantemente referendos como modo de realizar uma democracia directa.

Charles de Gaulle afirma, no entanto, que caso os EUA não tivessem traído a França e os tivesse apoiado de início na II Guerra, a França poderia ter resistido à invasão Nazi. Por conseguinte, há um sentimento de desconfiança geral em relação à América. Pensa-se antes que a França deve ser forte e investir em tecnologia, armamento, etc. A França, na altura, torna-se o país que contraria tudo o que os EUA fazem, num anti-americanismo galopante. Esta tensão aumenta com a França a dar independência às suas colónias e com a abertura de relações com a URSS. De Gaulle afirma mesmo que se deve quebrar aos poucos a cortina de ferro e conseguir um equilíbrio na Europa.

Tudo isto é permitido pelos EUA porque após a Crise de Cuba a estratégia de ataque norte-americana altera-se: percebem que de repente algo pode correr mal e surge a chamada Doutrina McNamara: a resposta de ataque deve ser gradual, aos poucos, tendo em conta os interesses: “A Melhor Forma de Manter Um Povo Pobre e Subdesenvolvido é Fornecer-lhe Tecnologia Pronta ”. Desta forma, os países mantêm-se sempre dependentes do seu fornecedor e não se desenvolvem.

De Gaulle chega mesmo a visitar Moscovo, investe na Roménia (o grupo Renault é detentor da marca Dacia) e cria grandes tensões na OTAN, retirando-se a partir de 1966: continua a participar politicamente mas não com o exército francês. Esta é uma realidade que ainda hoje se verifica. Dentro da Europa, De Gaulle quer uma Europa europeia e não uma Europa atlântica. Os que proclamam esta última Europa, querem uma Europa intimamente ligada aos EUA. São eles o Reino Unido, Holanda, Noruega, Dinamarca e Portugal, que tem que ter um aliado forte para anular o "eterno inimigo" espanhol. O caso mais flagrante desta Europa atlântica é precisamente português: Durão Barroso fica do lado de Bush na guerra do Iraque e escreve uma carta à Europa chamada "Europa Velha, Europa Nova". Isto rende-lhe a simpatia de Bush que consegue elegê-lo para Presidente do Conselho Europeu.

O outro grande conflito de relações acontece na Alemanha Ocidental. Em 1945, a Alemanha é ocupada e dividida em quatro. Em 1949 os ocidentais proclamam a independência do país e ensaiam o nascimento de um estado novo, a República Federativa Alemã. Este novo país tem um grande handicap: ele não possui armas devido ao acordo pós-guerra e tem um exército pequeno para a altura, de apenas 100 mil homens. Assim, a Alemanha Ocidental passa a utilizar outra arma, o dinheiro. Graças ao Plano Marshall, nos anos 70 a Alemanha Ocidental já é a segunda ou terceira potência a nível mundial.

Numa tentativa de evitar a guerra civil, a Alemanha Ocidental com o Leste, aquela compra a sua segurança. A figura de proa é Willy Brandt, alemão democrata que é um dos fundadores da Alemanha do pós-guerra. Torna-se famoso na Alemanha e no mundo depois da crise de Berlim porque é o presidente da câmara de Berlim Ocidental. Nos anos 60 é um político muito popular e é eleito chanceler da Alemanha. Contudo, uma das suas secretárias é apanhada como espia da Alemanha de Leste e ele vê-se forçado a demitir-se.

Em Portugal, no Porto, existe um busto de Willy Brandt, na Av. Marechal Gomes da Costa. Trata-se de um tributo português feito por Mário Soares pelo facto do alemão ter dado dinheiro a Portugal para a reconstrução pós 25 de Abril. De facto, o que aconteceu foi que Brandt, socialista e amigo de Mário Soares, financiou a sua campanha, impondo assim um caminho democrático em Portugal e evitando a subida dos comunistas.

Willy Brandt fez também uma homenagem sincera aos judeus mortos pelos alemães, pondo-se de joelhos em frente a um monumento erguido em honra daqueles e pedindo um sentido perdão a Deus. Fica conhecido, sobretudo, pela sua Ostpolitik - a política de aproximação ao Leste. Como vimos, Brandt negocia com o Leste, dá-lhes dinheiro e assina um acordo de Paz e não agressão. Assina acordos também com polacos, jugoslavos, checos, etc.

Brandt enfrenta contudo um grave problema: a Constituição da Alemanha Federal não reconhece a existência da Alemanha de Leste, reconhece apenas uma ocupação temporária. Assim sendo, nenhum político pode reconhecer a outra Alemanha e Brandt é forçado a fazer um reconhecimento sem reconhecimento, através de acordos culturais com a Alemanha de Leste mas sempre alegando que, de facto, não existe reconhecimento do outro país.

Tanto se entendem as Alemanhas que a ONU admite-as como dois países diferentes, contrariando as imposições de Washington e no Campeonato Europeu de Futebol as duas participam, por coincidência defrontando-se. Brandt apagou assim um foco de conflito que poderia explodir a qualquer momento, ultrapassando-o. A sua política incentivou vários acordos entre o ocidente europeu e o leste, tanto que em 1975, a Acta Final de Helsínquia reconhece pacificamente todas as fronteiras da Europa. Willy Brandt consegue um degelo e desanuviamento entre as Europas, graças à sua Ostpolitik. É galardoado com o Prémio Nobel da Paz.

Assim, também a Alemanha e a França se afastam do controlo dos EUA, tornando-se o motor da União Europeia, até há pouco tempo. Brandt e De Gaulle estão na origem de um movimento depois liderado por Helmut Kohl e Miterrand.

28/10/08

HMC - Aula 9

V - GUERRA FRIA
5.5. Guerra do Vietname

Durante a Guerra Fria houve várias guerras civis apoiadas pela URSS e pelos EUA, pelo mundo fora. Por exemplo, a guerra civil de Angola, disputada durante anos e anos pelo MPLA, apoiado pela URSS e a Unita, apoiada pelos Estados Unidos. Estas guerras entre duas facções apoiadas pelas duas grandes potências sucederam-se um pouco por todo o mundo.

No Vietname, a história foi parecida mas não exactamente assim. O país foi palco da primeira e única guerra no séc. XX que os Estados Unidos perderam, facto que originou uma grave crise económica subsequente. É possível até criar um paralelismo com a actualidade: também a crise actual é desencadeada por um falhanço militar dos Estados Unidos, neste caso no Iraque. Trata-se de guerras muito caras, que quando falham acabam por arrastar a nação mais poderosa do mundo para a crise, e por conseguinte todo o planeta que dela está dependente.

Quanto ao Vietname, trata-se hoje de um território com cerca de 80 milhões de habitantes, um estado que cresce de forma expoente graças à nova economia de um comunismo do séc. XXI baseado na captação de indústria estrangeira e no turismo. De facto, o Vietname é um território que sempre foi cobiçado pelas potências europeias, desde a altura do colonialismo. Está organizado à volta de dois rios, o Vermelho e o Mecong, o que torna o seu terreno muito fértil, acompanhado de um clima tropical chuvoso que propiciam a produção e colheita de arroz duas ou três vezes por ano.

Assim, na segunda metade do século XIX, a França consegue finalmente controlar aquela zona, a da Indochina, constituída pelo Vietname, Laos, Cambodja e uma parte da Tailândia. Trata-se de uma ocupação mal vista pelos locais, que lutam até 1940 pela independência do território. Nesse ano, Hitler invade a Alemanha e a Indochina passa a ser administrada pelo Japão, aliado nazi. Em 1945, depois de perder a guerra e no seguimento de revoltas antecedentes, o Japão retira-se de vez da Indochina e Churchill pressiona os franceses a reconquistarem o território, de forma a poder contrabalançar o poder soviético na zona, já que a China e a URSS eram aliadas à altura. Porém também no Vietname há movimentos independentistas comunistas que fazem com que caso a França não regresse ao local, o território seja dominado pelos comunistas. Churchill, principal impulsionador da cruzada anti-comunista, empurra a França de novo ao local.

Em 1945 acontece a 1ª guerra do Vietname, opondo as guerrilhas vietnamitas apoiadas pela URSS (Vietmin a Norte e Vietcong a Sul) e a França. Após um sucesso francês inicial, a guerrilha consegue cercar todo o exército quando este se preparava para uma batalha crucial em que eliminariam a guerrilha de vez. O exército francês é assim cercado pela guerrilha, impedindo-o de se abastecer e tendo assim que se render. As negociações pós-guerra duram dois anos e são feitas em Genebra, sede da ONU- é acordado um cessar fogo baseado na divisao do Vietname em duas partes pelo paralelo 17 e são organizadas eleições democráticas.

O Norte e o Sul organizam eleições, nas quais o Norte elege comunistas e o Sul não-comunistas (ditadores nomeados pelos Estados Unidos). Gera-se um clima de tensões e acusações permanentes. E no âmbito da política de contenção do comunismo, os americanos envolvem-se na guerra: Kennedy em 1961 envia conselheiros militares para o Vietname e posteriormente envia armamento e mais "conselheiros". Tanto que, em 1964 os Estados Unidos declaram no Congresso oficialmente aberta a guerra contra o Vietname. Enviam 500 mil soldados para aquilo que chamam de luta pela liberdade, lema com o qual pretendem a adesão dos povos ocidentais.

Porém, a Europa não apoia a ofensiva americana: apenas a Austrália e a Coreia do Sul. Embora se refira por vezes o combate dos vietnamitas do sul contra os do norte, quem combate na realidade são os americanos contra os vietnamitas do norte. Esta facto é tornado mais que evidente na Ofensiva Teth, ocorrida no dia 30 de Janeiro de 1968: aqui, os vietcongs, do sul, preparam uma acção militar e atacam simultaneamente 105 cidades no Sul do Vietname, demonstrando que se trata de uma resistência militar maciça contra os americanos e não de uma luta interna ou de um terrorismo do norte contra o sul.

A ofensiva é de tal ordem que até a Embaixada norte-americana em Shangai é atacada. Esta ofensiva é neutralizada pelos americanos mas a partir daqui percebe-se claramente que não haverá nunca vitória no Vietname. Há-que arranjar uma solução e sair do Vietname, à semelhança do que se procura agora no Iraque. Uma solução que mantenha o orgulho americano intacto: desta forma, são iniciadas as negociações entre o norte e o sul conduzidas por Henry Kissinger.

Henry Kissinger, Prémio Nobel da Paz, foi um judeu que fugiu para os Estados Unidos e fez a sua tese de doutoramento sobre Meterlin, um general austríaco da altura pós-Napoleão. Era especialista na história diplomática do século XIX e o seu livro "Diplomacia" é uma obra de grande qualidade.

Nesta altura, Kissinger começa as negociações com os comunistas, que exigem uma retirada americana. Kissinger propôe ao presidente norte-americano uma nova ofensiva no Vietname e assim, em Dezembro de 1972, Nixon autoriza o bombardeamento de Natal, durante onze dias, deitando sobre o Vietname mais bombas do que durante toda a 2ª Guerra Mundial. São bombas de Napalm lançadas sobre cidades, incendiando casas e povoações inteiras, causando mais de 3 milhões de mortos. Por causa desta ofensiva, recomeçam as negociações e o Norte recua. Porém só apenas até os Estados Unidos abandonarem o país, porque o exército do Sul é fraco e após 30 de Abril de 1975, quando os últimos norte-americanos deixam o Vietname, o norte passa a controlar o sul e os comunistas unificam o país.

Porém, a guerra na região está longe de acabar: ao longo da guerra com o Vietname, o Laos e o Cambodja foram sucessivamente "utilizados" por ambas as forças, que não respeitam os países vizinhos ao conflito e os Estados Unidos ocupam o Cambodja. Já o Laos sofreu menos nesta altura porque não foi ocupado. Mas no Cambodja, após a retirada norte-americana, os comunistas locais tomam o poder na figura de Pol Pot, instalando um comunismo bárbaro, medieval, utópico. Por exemplo, Pol Pot não autoriza a circulação de dinheiro: tudo é trocado em géneros; as pessoas são movidas da cidade para a aldeia e o regime mata de forma cruel os dissidentes. São muitos milhões que morrem na mão da ditadura terrível de Pol Pot e do Khmer Rouge.

Os comunistas moderados do Vietname invadem o Cambodja e neutralizam Pol Pot e o Khmer Rouge, que foge para as florestas, onde ainda hoje há guerrilhas seguidoras de um dos regimes mais crueis da História. Na altura, os comunistas do Cambodja e do Vietname lutam entre si numa terrível guerra civil onde não se sabe identificar quem está contra quem. Esta guerra termina apenas em 1994, com o fim da Guerra Fria: aí reunem-se à mesa, fazem-se eleições e implementa-se a Paz, com a presença de militares japoneses da ONU que substituem os norte-americanos. O Cambodja está hoje em pleno crescimento económico.

Outra das guerras do Vietname foi contra a China, em 1978,9. Ambos os países tiveram desde sempre uma crescente tensão histórica por problemas de fronteiras. Durante a guerra com os Estados Unidos, o Vietname tem o apoio da URSS e na década de 70 está no auge a tensão entre a URSS e a China. Como tal, há também tensão entre a China e o Vietname. Este ataca a China e após uma vitória inicial, a China desce com o seu vasto exército e o Vietname perde a guerra, retirando-se e não tentando nenhuma ofensiva mais contra os chineses. Hoje terminaram as guerras entre os dois e tenta-se a Paz. Depois da queda do muro de Berlim, o Vietname passa por uma intensa modificação: continua a haver o Partido Comunista no poder mas a economia agora é democrática, permitindo uma expansão económica em larga escala.

Nesta altura, é importante falar também de Watergate. "Gate" é uma palavra inglesa que serve para denunciar um escândalo e Water o nome de um bairro: "o escândalo do bairro Water".

Em 1968, dão-se as eleições para o Parlamento dos Estados Unidos. Este é eleito metade de 2 em dois anos, alternadamente: é uma prática política que visa diminuir a corrupção e hábitos criados pelo que os políticos se vão reciclando de dois em dois anos, interpoladamente. Porém nesta eleição descobre-se um caso de espionagem política: os Republicanos no poder espiam os Democratas e a sua estratégia e isso é revelado, não causando à altura um grande escândalo. Em 1970, Nixon ganha as eleições presidenciais pelos Republicanos. É aí que dois jornalistas, Woodward e Bernstein, pegam no assunto de espiongem e tornam-se novos heróis da sociedade ao conseguirem derrubar o presidente Nixon.

Os dois publicam a história da espionagem quatro anos depois dela acontecer, numa altura em que outro partido estava interessado na história. Nixon reagiu da pior maneira, rejeitando a história e fazendo com que ela crescesse dia após dia. Tanto que começa a impedir a investigação decorrente do processo, num claro abuso de poder e prejúrio, que só teve de novo par na História dos Estados Unidos quando Bill Clinton jurou não ter tido relações com Monica Lewinsky e mentiu também ao povo americano. Aquando de Watergate, a situação aqueceu de tal forma que iam destituir o presidente e antes que isso acontecesse, Nixon demite-se. Isto, em plena saída da guerra do Vietname.

Numa altura em que os americanos se perguntava porque teriam perdido na guerra. Em termos militares poderiam ter continuado a guerra pois eram muito superiores aos vietnamitas. Porém, acontece uma alteração no interior do próprio país: a guerra custa cada vez mais dinheiro e isso começa a pesar no bolso dos americanos. Nixon tenta neutralizar esse facto fazendo com que o mundo inteiro pague a guerra, através de uma desvalorização competitiva da moeda americana. Desvalorizando o dólar, os americanos conseguem que os seus produtos sejam mais baratos e por isso mais atractivos no exterior: baixam 25% do valor à moeda para fazer face à crise. Por outro lado, optam por uma política proteccionista de aumento de taxas aduaneiras para produtos estrangeiros. O reverso da medalha é um decréscimo no poder de compra, que origina falha de produção e desemprego. A guerra do Vietname foi assim a principal causa da crise dos anos 70.

Essa crise fez-se sentir em todo o mundo, com o racionamento do petróleo e da energia. A queda económica traz problemas políticos interiores, conflitos e protestos de jovens contra a guerra, movimentos dos negros, feministas, hippies, etc. Tudo isto debilita os EUA e do outro lado a URSS está a crescer cada vez mais. Tudo cresce a favor do comunismo: o auge é quando em Portugal, no coração da Europa capitalista e da NATA, durante alguns dias, após a Revolução de Abril, os comunistas estiveram no poder, causando o pânico nos Estados Unidos, que prestam toda a atenção política ao desenrolar dos acontecimentos em Portugal.

Nesta altura os Estados Unidos perguntam-se o que hão-de fazer para neutralizar a URSS e a resposta vem mais uma vez de Kissinger. A opção foi a "política do ping-pong", ou seja, estreitar as relações com a China. Quando acaba a guerra civil naquele país, Mao proclama a República Popular da China e os Estados Unidos reconhecem apenas os nacionalistas da Ilha Formosa, que representa a China na ONU. Aconselhado por Kissinger, Nixon reconhece a República Popular da China, iniciando a política diplomática com a deslocação da equipa de ping-pong à China. Assina-se um acordo e os chineses ocupam o seu lugar no Conselho de Segurança da ONU. Trata-se de um acordo estratégico para neutralizar a URSS.

Assim, a guerra do Vietname foi uma fas guerras da Guerra Fria, onde houve milhões de mortos e onde os Estados Unidos perdem não devido à falta de poder militar mas graças à insatisfação e perda de poder económico do país. Não se percebe, no interior do país, qual é o papel dos Estados Unidos no Vietname. É a guerra da televisão, em que esta entra na vida das pessoas e mostra a guerra, ultrapassando a informação dos jornais e permitindo ver e ouvir o que se passa. As imagens são gravadas no Vietname e enviadas de avião no próprio dia, onde são vistas quase em directo e contribuem enormemente para toda a questionação da acção norte-americana.

22/10/08

HMC - Aula 8

5.4. Conflitos da "guerra fria rígida": crise de Berlim, guerra da Coreia, crise de Cuba

No âmbito da situação de Guerra Fria instalada no mundo no pós II Guerra, surgem uma série de conflitos em vários pontos do globo, na fase em que foi chamada de "guerra fria rígida" pois não existiam relações entre os Estados Unidos e a União Soviética. O primeiro desses confrontos foi a crise de Berlim, em 1958.

Não obstante os esforços soviéticos para a reconstrução do lado comunista da Alemanha, a RDA continua anos-luz de se aproximar do desenvolvimento e da recuperação presente no lado ocidental. Além disso, as fronteiras abertas da cidade de Berlim faziam com que milhares de alemães fugissem da Alemanha comunista, fascinados com as facilidades e as montras das lojas da Alemanha Ocidental. Numa tentativa de impedir o abastecimento da zona ocidental de Berlim, circundada pela Alemanha comunista e na esperança de que os Aliados fossem ceder o resto da cidade aos comunistas, Stalin manda realizar um bloqueio a Berlim ocidental. Nada nem ninguém podia chegar àquela cidade, causando graves cortes de produtos básicos e colocando a parte ocidental da cidade num total isolamento.

Os Aliados não sabem como reagir, uma vez que o confronto directo estava fora de questão, quer pelo poderio do exército Vermelho, quer pela ameaça do ataque nuclear. A solução para evitar uma guerra entre as duas potências é encontrada pelos Ocidente, que inicia uma ponte aérea: de avião, os ocidentais transportam comida e bebida nos aviões B52 que antes foram utilizados na guerra para carregar bombas. Por outro lado, a tecnologia dos radares permitem também ao Ocidente levar a cabo um vai-vém de aviões: enquanto uns aterram, outros estão a decolar indo buscar mais mantimentos.

Assim, Stalin não consegue quebrar o abastecimento de Berlim, permitindo passado um ano que continue o abastecimento a ser feito pela via terrestre, acalmando a tensão e a crise entre as duas Alemanhas nos dez anos seguintes. Em 1961, já depois da morte de Stalin e com Nikita Kruchtchev no comando da União Soviética, é feita uma nova tentativa para suster a população em fuga para o Ocidente e para pressionar os ocidentais a sair de Berlim. Não conseguindo, os comunistas vão cercar Berlim ocidental para que não haja qualquer contacto com o exterior nem possibilidade de êxodo populacional através da construção, na madrugada de 12 para 13 de Agosto de 1961, do Muro de Berlim, sob o comando de Walter Ulbricht.

Berlim passa então a estar circunscrita por um muro de três metros, intransponível, que contém entre 60 a 250 quilómetros, consoante as versões ocidentais ou comunistas. Do lado de cá, torna-se necessário apoiar a isolada Berlim ocidental, pelo que John Kennedy se desloca à cidade e proclama o célebre discurso em que diz apaixonadamente "Ich bin ein Berliner!"

O segundo destes conflitos entre as duas potências ideológicas é a guerra da Coreia, onde além de conflito e tensão, houve efectivamente guerra. A Coreia é uma península asiática, cuja cultura é relativamente independente da China e do Japão. No início do séc. XX, o Japão anexa a Coreia em parte do seu território e assim fica até ao final da 2ª Guerra. Após o final da guerra, a Coreia recupera a independência mas surge a situação idêntica a outros pontos do globo, como a Grécia, em que a Norte o movimento de libertação é liderado pelos comunistas, apoiado pela União Soviética e China e a Sul pelos capitalistas, apoiados pelos americanos. Criam-se assim, também, dois exércitos libertadores com duas ideologias diferentes. Nessa altura fazem-se eleições e o povo decide qual o regime: porém no Norte ganham os comunistas e no sul os liberais, não se entendendo quanto a um consenso e criando uma situação insustentável de tensão entre dois governos: o do norte, comunista e coreano, o do sul, liberal e com presença efectiva dos americanos.

A 25 de Junho de 1950, os comunistas exigem a retirada dos americanos do território coreano e das suas tropas no sul. Uma vez que esta vontade não foi obedecida, os coreanos do norte iniciam investidas contra os americanos, empurrando-os para uma linha de defesa a sul, praticamente perdendo todo o território da Coreia. Como retaliação os americanos queixam-se na ONU contra a ofensiva, que designam como agressão do norte ao sul. A ONU pede esforços aos países para ajudar e no Conselho de Segurança é dado o apoio aos Estados Unidos. Isto, unicamente porque a União Soviética não está presente e a China é representada pela insignificante região de Taiwan, controlada pelos americanos. A ausência da Rússia, para os média, prende-se com um atraso no trânsito mas o que de facto aconteceu é que houve uma jogada política, em que a União Soviética imaginou que não estando presente, não seria nada decidido. Foi úm de dois únicos Conselhos de Segurança da ONU em que todos estiveram de acordo quanto a uma investida militar: o segundo foi já nos anos 90, quando Ieltsin concordou com Bush para a Guerra do Golfo.

Tomada a decisão por maioria no Conselho de Segurança da ONU, a jogada ocidental vence e a ONU envia os seus capacetes azuis para expulsar a Coreia do Norte do território que ocupou. Em 1950 e 51 as tropas da ONU, que eram constituídas apenas por americanos e alguns australianos "voluntários", começam a puxar os coreanos para o norte, a ponto de se aproximar da República Popular da China. Mao assusta-se com a proximidade dos americanos e ordena aos seus soldados, supostamente "voluntários" que vão ajudar os comunistas coreanos.

Pela primeira e única vez na História há um choque directo entre tropas chinesas e norte-americanas. E como a China não possui nesta altura a bomba atómica, McCarthy, general americano responsável, quer lançar na China a bomba atómica, facto que dificilmente deixaria a União Soviética quieta e que poderia assim ser o rastilho para a guerra atómica.

Em 1952, a guerra torna-se uma terrível crise, com os chineses a conseguirem empurrar os americanos cada vez mais para o Sul: não são tecnologicamente avançados mas são num número tão grande que conseguem derrotar os americanos. A 27 de Julho de 1953 cessa o combate e é assinado o armistício, dividindo as duas Coreias pelo paralelo 38, que ainda hoje as divide. Uma sob a alçada chinesa e soviética, a Norte, outra sob a alçada norte-americana, a sul. Hoje, a Coreia do Norte permanece um regime comunista, um dos regimes mais radicais do mundo; a Coreia do Sul é um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo, graças à ajuda americana. A ideia da união entre as Coreias era defendida por todas as partes tendo-se estudado esse molde até chegar George Bush e afastar a união da Coreia do Sul com um dos países do "eixo do mal".

A guerra da Coreia era no início uma guerra local mas com a ameaça atómica podia tornar-se um conflito mundial. Não se tornou porque o presidente Truman demitiu McCarthy, muito também por causa de um jogo entre eles, que se confrontaram nas eleições presidenciais.

O terceiro conflito deste período é a crise de Cuba. Cuba foi a primeira ilha colonial espanhola a ser povoada, a menina dos olhos da coroa para onde emigraram muitos galegos, principalmente. Trata-se de um território maior que Portugal e com cerca de 11 milhões de habitantes. Embora não possua muito petróleo, tem agricultura (tabaco, cana de açucar, rum) e turismo. No fim do séc. XIX dá-se uma guerra entre Espanha e os Estados Unidos por causa de Cuba: como habitualmente, os americanos instigam uma força qualquer à independência para depois a provocarem e lá se instalarem. Espanha e a sua "frota invencible" são derrotadas e os Estados Unidos passam a controlar Cuba, assim como muitos outros territórios na América Latina e Sul Asiático que perteceram aos espanhóis. Surge depois a discussão sobre se deveria Cuba ser integrada nos Estados Unidos mas optam por oficialmente não incluir o país, embora enviem exército e obriguem o governo provisório local a autorizar a intervenção americana sempre que estes assim o desejem.

Cuba torna-se assim o "bordel" dos americanos, com bom clima, muito rum, charutos e o controlo total de qualquer resistência à ocupação americana. Porém, nos anos 50, devido à desastrosa e odiada governação de Urgencio Baptista, uma força levanta-se contra ele, liderada por Fidel Castro e "Che" Ernesto Guevara. Fidel consegue, com o apoio de toda a população, destruir o detestado regime de Baptista e entra triunfalmente em Havana, depois de uma breve luta com 80 homens na Sierra Maestra. Isto acontece na noite de Ano Novo, de 58 para 59, enquanto os governantes pró-americanos comemoravam o Ano Novo: a partir de 1 de Janeiro de 1959 começa uma nova governação em Cuba.

A partir de então começa a nacionalização de propriedade americana, facto que leva à revolta dos Estados Unidos e a uma investida militar, a Baía dos Porcos, onde os americanos saem vergonhosamente derrotados. Fidel Castro derrota a invasão da Baía dos Porcos e há várias histórias e teorias sobre a preparação desse golpe, de ambos os lados. Os americanos contavam com o apoio dos cubanos mas a verdade é que naquela altura estavam todos ao lado de Fidel. Este pede ajuda à União Soviética, proclamando só aqui a adopção da doutrina marxista. Este pedido cai como uma luva nas intenções da União Soviética: tempos antes os Estados Unidos haviam montado misseis na Turquia apontados à União Soviética- esta será a hipótese da URSS colocar agora mísseis perto do território americano, em Cuba.

A 22 de Outubro de 1962, Kennedy descobre através de aviões espia que a URSS tem mísseis com ogivas nucleares em Cuba e faz um ultimato: ou retiram o arsenal de guerra de Cuba ou os Estados Unidos vão atacar. Antes da URSS responder, foram dez dias de suspense que mudaram o mundo. Tratou-se de uma situação verdadeiramente dramática, de verdadeira crise, em que não se sabe o que vai acontecer. A 28 de Outubro de 1962, os soviéticos iniciam a desmontagem dos seus mísseis em Cuba, com a contrapartida dos americanos desmontarem os seus mísseis na Turquia e em Itália. Ainda hoje não se sabe bem quem ganhou esta crise...

Sabe-se sim que a partir de então estabelece-se o famoso "telefone vermelho" entre o presidente soviético e o americano, apelidado de "hotline": isto porque se compreende que a origem desta crise foi muito em parte devido à falta de comunicação entre os dois estados, apenas uma guerra rígida, em que se imagina que ambos os estados possuem um "botão vermelho" capaz de acabar com a Humanidade.

No período da guerra rígida, duas personalidades destacam-se de cada um dos polos ideológicos: John Kennedy, do lado americano e Nikita Khruchtchev, do lado soviético.

John Kennedy nasceu em 1917 e foi assassinado em 1963, em Dallas. Estudou em Harvard, foi um herói da 2ª Guerra em batalhas no Pacífico e provém de uma família abastada. Líder dos democratas, foi o mais jovem presidente americano, com apenas 43 anos. Era um homem jovem, bonito, bom aluno, com um casamento exemplar com uma mulher igualmente bonita, Jackie Kennedy e com fama de sedutor entre as mulheres, entre as quais Marilyn Monroe. Era também o primeiro presidente católico, o que desperta tensão entre os protestantes, que começam a imaginar se não será um avanço do Papa nos EUA. Ganha as eleições sem se esperar, muito por causa de um famoso debate televisivo, onde se consta que Kennedy utilizou a televsião para se aproveitar do seu aspecto em detrimento de Nixon e assim superá-lo.

Seja como for, Kennedy foi um político fraco. A sua principal inovação, a "nova fronteira" era uma política interna de acção social que por estar vagamente definida, fracassou e nunca foi realizada. Externamente, promoveu a "Aliança para o Progresso" com vista a resolver os inúmeros conflitos na América Latina, onde tinham sido instaladas ditaduras de direita patrocinadas pelos EUA e suas empresas. Foi Kennedy que começou, também, a Guerra do Vietname. Trata-se assim de uma governação desastrosa- o ícone de mito fica só para a História porque Kennedy foi assassinado e porque era duro com os soviéticos. Porém, tudo o que fez falhou e nem do ponto de vista pessoal parecia ter, volvidos os anos, algum interesse. Kennedy conduziu a crise de Cuba e como era um político inexperiente falhou ao lançar um ultimato e colocar assim o mundo inteiro em risco. Ainda se desconhece oficialmente quem o matou e hoje é um símbolo nos Estados Unidos, principalmente pela sua resistência e dureza com os comunistas.

Do lado soviético, sobressai Nikita Kruchtchev, que nasceu em 1894, na Ucrânia e morreu em 1971, em Moscovo. Nikita é filho do proletariado russo, subiu na lista do Partido e não possuía grande instrução e de todo não tinha maneiras refinadas nem regras de etiqueta. Depois da morte de Lenin, em 1953, ganha a guerra pela liderança do Partido Comunista da URSS e é eleito no 20º Congresso do partido, secretário geral e por conseguinte líder da URSS. Num famoso discurso, Nikita denuncia os crimes que Stalin cometeu, acusando-o de genocídio com as suas deslocações de camponeses. Se com esta denúncia se torna muito popular no Ocidente, torna-se impopular entre as camadas conservadoras do PCUS, que vêm nele um embaraço para os soviéticos e nas suas reformas uma ameaça ao comunismo.

Entre outras coisas, Nikita tinha atitudes grosseiras de interromper líderes de estado para os insultar, tendo chegado a tirar os sapatos e a batê-los na mesa de discussão do Conselho de Segurança da ONU, esfregado uma bota na cara de Mao ou tecido comentários racistas sobre os búlgaros na presença do representante búlgaro. Não era, assim, o líder soviético típico. Sabia porém utilizar bem o poder da televisão e manipulá-la para os seus interesses. Embora não tivesse grandes conhecimentos do mundo exterior, foi convidado a visitar os Estados Unidos, onde chegou a discursar, tornando-se muito popular no Ocidente. Era impetuoso, voluntarioso e como recuou na crise de Cuba e como queria impor algumas reformas, foi afastado passados dois anos da liderança soviética.

Em suma, no decorrer da guerra rígida, dão-se os conflitos de Berlim, Coreia e Cuba. Este último resultou num bloqueio naval dos Estados Unidos a Cuba que dura até hoje, não permintindo que nada entre na ilha via marítima. Barack Obama promete uma negociação com os cubanos.