18/11/08

HMC - Aula 13

VII – CONFLITOS NO MÉDIO ORIENTE
7.1. Complexidade do Médio Oriente

O Médio Oriente aparece na cena internacional como um território onde a guerra ainda não parou, desde a II Guerra Mundial. Nenhum conflito do Golfo está resolvido: apenas nãos e fala tanto deles por causa da recente guerra na Geórgia e das eleições americanas. Mas o território é tão problemático ao ponto de ter causado o primeiro conflito com dimensões substanciais depois da II Guerra.

A complexidade do Médio Oriente prende-se com razões históricas, religiosas e civilizacionais ou económicas. A nível histórico, é palco de conflitos frequentes, a nível religioso, co-abitam no médio oriente as 3 grandes religiões, que continuam num conflito permanente; a nível económico, é a zona no mundo onde existe mais petróleo, sendo isso considerado um milagre e uma maldição.

Em termos de definições, existem "3 Orientes": o Oriente Longínquo (Índia, China, Japão), o Próximo Oriente (Turquia e Balcãs, segundo uns, ou Magrebe segundo outros) e o Médio Oriente, que tem origem na divisão estratégica que Churchill fez na II Guerra e que compreende a zona à volta da Península Arábica, entre eles o Egipto, Turquia, Irão, Afeganistão, Paquistão e alguns países do Cáucaso.

Tratam-se neste último caso de povos incluídos no Império Romano, que acaba no séc. VI, VI. São sucedidos pelo Império Árabe, no séc.VI, com o Profeta Maomé como figura central, organizando toda a população desse território num reinado. No séc. VIII, o Império Árabe chega à Península Ibérica, ao Norte de África e à Índia. É um império baseado na ciência, que deixa muitas marcas, entre elas a Matemática, a Astronomia e o astrolábio. Quando chega ao fim, inicia o Império Otomano, depois de uma série de guerras civis que levaram ao controlo Otomano de todo o Médio Oriente.

Os Otomanos ficam na zona até ao fim da I Guerra Mundial, onde por terem estado ao lado da Alemanha saem derrotados: Reino Unido e França tomam conta do território. É nesta ocasião que se fala de Lawrence da Arábia, que anima os árabes para expulsar os turcos da região. Nesta altura, os britânicos e franceses são os donos da região mas têm de partir por não disporem de capital para sustentar aquele vasto território. São subsituídos na região pelos EUA e durante a Guerra Fria há uma luta constante entre as duas potências para se impor nas guerras da região. Do lado soviético, a Síria, o Egipto e o Iraque. Do lado americano, Israel. Esta divisão impôe também uma divisão religiosa: os judeus com os americanos e os árabes com os soviéticos. A história da região traz assim conflitos permanentes.

No que respeita à religião, há 3 grandes religiões em Jerusalém, sendo que encaramos a religião no sentido estreito do termo, como uma crença num Deus omnipotente e presente. São essas religiões o Judaísmo (clássicos ou ortodoxos e moderados), o Cristianismo (ortodoxos, católicos e protestantes) e o Islão (chiitas e sunitas, estes representando 80%).

Para perceber a problemática da religião naquela zona, é preciso perceber a figura de um profeta. Um profeta é um homem que consegue perceber a verdade de Deus. O profeta mais importante do judaísmo é Moisés, do cristianismo Jesus e do Islão, Maomé. Os judeus e os cristãos nunca se deram bem: os judeus rejeitam Jesus como filho de Deus; os cristãos consideram que foram os judeus quem matou Jesus e daí perseguem-nos. Os judeus culpam o Papa de Roma de ser aliado dos Nazis na II Guerra. E de facto a Igreja nunca condenou nem pediu desculpa pela perseguição aos judeus.

Os judeus foram expulsos do Médio Oriente no séc. VII e VI a.C. aquando daquilo que apelidam a catástrofe, em que perderam os seus estados. Espalham-se pelo mundo todo e continuam muito fiéis à sua religião. As sociedades judaicas são sempre de bom sucesso: estudam muito mais do que os outros e pelas circunstâncias em que viviam tinham que ser mais solidários e poupados. Aliando estas duas coisas, percebem cedo o que é a tecnologia e fundam os primeiros bancos. Conseguem ganhar dinheiro e tornar-se os melhores em várias profissões e vários países, como médicos americanos, por exemplo.

No séc. XIX, os judeus formam o seu próprio movimento nacionalista, o Sionismo, sendo Sião uma das sete colinas de Jerusalém. O objectivo era reconstruir o estado de Israel na Terra Prometida. No início do séc. XX, quando acaba a I Guerra, os americanos favorecem os judeus na região, de modo a terem lá um aliado fiel. Após a II Guerra, o movimento sionista tem o apoio da maioria do mundo. O território de Israel, antes Palestina, é dividido entre árabes e judeus. Hoje, o estado de Israel tem menos de 4 milhões de habitantes, sendo constituído por judeus que vieram de todo o mundo e é um território pequeno. Porém, tem informalmente 100 bombas atómicas ilegais (ilegais porque apenas os membros do Conselho de Segurança da ONU podem supostamente ter). Porém, calcula-se que 36 países tenham armamento atómico, entre os quais o Paquistão e a Índia. Graças ao apoio dos EUA, Israel é uma força militar extraordinária.

No que respeita aos cristãos, não existem muitos no Médio Oriente, embora considerem o local como território santo.

O Islão divide-se entre os muçulmanos (versão persa que quer dizer fiel e é igual a muslim) e mouros, árabes do Norte de África que conquistaram a Península Ibérica. Islão significa a religião dos que são fiéis. Foi criada pelo profeta Maomé, que é o último e mais importante profeta do Islão. Reconhecem a existência de mais profetas como Moisés e Jesus mas a crença e de que Maomé é que trouxe a palavra verdadeira. Maomé era de uma família pobre, trabalhou desde cedo como pastor com um primo que morre e deixa uma viúva, com quem Maomé se casa e tem Fátima, filha única desse casamento. Casa-se mais 19 vezes e tem mais 19 filhas. Como não deixa nenhum filho varão, quando Maomé morre, há o problema da sucessão: ao longo da sua vida Maomé, que era muito inteligente e convincente, criou um grande império em todo o mundo, o Império Árabe.

É aqui que tem início a guerra entre sunitas e xiitas. Os sunitas querem a sucessão pelos reis, pelos califa de cada região; os xiitas querem a sucessão por sangue e dizem que quem deve suceder a Maomé é Ali, marido de Fátima. Este é assassinado pelos sunitas para não se tornar sucessor e desde então os xiitas celebram o aniversário da sua morte. Em Medina, uma batalha sangrenta conta com o apoio dos judeus aos adversários de Maomé, no séc. VII: desde então há um conflito de desconfiança que não cessa.

Antes, porém, Maomé casa-se e começa a sentir a sua ligação com Deus, tornando-se profeta. O transmissor da palavra entre Deus e Maomé foi ditada pelo anjo Gabriel para escrever o Corão (todo escrito em versos, pronunciados de forma solena, que parece que está a cantar, sendo que existe entre Imãs uma competição para ver quem lê o texto de forma mais solene.) É esta a origem da força do Irão, um sistema de professar onde não há igrejas nem padres, cada um professa a religião se quiser. A mesquita não é uma igreja, é um centre de reunião para oração- é eleita na comunidade uma pessoa letrada, o Imã, que não é um padre, é um leitor do livro de Deus, financiado pela comunidade. Os aiatolas também não são bispos: são bons interpretadores da palavra de Deus. O Islão espalhou-se pelo mundo e é hoje a segunda religião com mais fiéis, com fiéis em África, Europa, Ásia.

Entre os cristãos e os muçulmanos, há também conflitos: os cristãos dizem que os muçulmanos são fundamentalistas, agressores e terroristas. É um conflito recente que surge por culpa de uma interpretação fundamentalista do Islão, a Sharia. O Corão não é apenas o livro sagrado, ele tem também a ambição de organizar a sociedade, de ser a lei, perseguindo determinados tipos de comportamentos. Porém, são adoptados na maior parte dos países e culturas árabes outros livros jurídicos, desde o séc. X e XII. Há no entanto uma minoria absoluta que acham que a Lei Sharia deveria ser aplicada. É uma minoria tão escassa como a dos Evolucionistas, na religião cristã. Mas segundo os norte-americanos, quem quer esta lei são os xiitas do Irão- esta premissa é falsa, uma vez que há radicais em todo o lado mas neste caso são minorias absolutas. Tal como os talibãs, uma minoria fundamentalista criada e financiada pelos EUA para destruir a URSS.

Assim, apenas uma parte muito pequena dos muçulmanos quer a Sharia e a Jihad, a guerra islâmica. O que acontece é que de tanto espalharem a mentira que diz o contrário, esta se torna verdade. Outros mitos são apenas isso: cada muçulmano, segundo o Corão, pode casar-se no máximo com quatro mulheres. Porém têm que mostrar à comunidade que têm capacidade de sustentar a segunda mulher. As mulheres no Islão podem divorciar-se e se a primeira mulher não aceitar, não pode haver segunda mulher. O homem tem de indminizar a mulher que se quer divorciar. Contudo, apenas 1% dos muçulmanos está casado com mais do que uma mulher. A situação da mulher no Islão não é perfeita mas não é também como se diz: a maioria das mulheres já não andam de lenço e, por exemplo no Irão, as mulheres representam 33% do Parlamento.

Nas religiões, Deus é igual, o que muda é a interpretação da sua palavra e essa é uma das razões pela qual não existe Paz.

Quanto à economia, o petróleo surge como factor de disputa. Já se conhece a sua existência desde há muito tempo mas só se tornou importante quando aparece o motor de explosão interna- é do petróleo que se extrai o combustível para movimentar este motor. Descobre-se pela primeira vez no Texas e começam depois a procurá-lo em todo o lado, sendo na Arábia Saudita onde existe mais, no mundo todo. Nos anos 30, com o avanço na refinação do petróleo, este torna-se imprescindível para a civilização, utilizando-se para o combustível, aquecimento, vários tipos de gordura e lubrificantes. O petróleo entra na produção de 29 tipos de produtos, sendo que o adubo artificial, insubstituível na produção de comida, é a sua principal utilização. Seguem-se os pesticidas, os produtos de higiene, etc.

O problema do petróleo é que um dia vai acabar, dentro de 20 anos dizem alguns, e daí a corrida para o Polo Norte, porque abaixo do gelo haverá petróleo. Sabe-se que vai acabar, não se sabe quando e por isso até lá a luta para controlar o petróleo é também uma luta pela civilização. Não há substituto que permita manter um nível de vida tão alto. Porém, em 1970 o petróleo custava 1,08 dólares por barril e em 2008 chegou a custar 160 dólares. O Médio Oriente e o Cáspio têm 80% do petróleo mundial e daí a tentativa por parte das potências dominantes de controlar aquelas zonas.

Por todas estas razões, o Médio Oriente vai continuar a ser uma zona de conflito permanente.

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