24/11/08

HMC - Aula 15

6.6. Conflito na Jugoslávia

Após a I Guerra Mundial, a Sérvia lidera o processo de integração da Jugoslávia, sendo desde esta altura que começam os conflitos entre sérvios e croatas: os croatas têm tradições ocidentais, religião cristã católica, enquanto os sérvios se identificam com o império oriental, escrevem em cirílico e são cristãos ortodoxos. Existe portanto uma diferença grande entre croatas e sérvios, que nunca fizeram parte de um estado comum. Em relação à Jugoslávia, os sérvios entendem a Jugoslávia como uma "Grande Sérvia" enquanto os croatas entendem o estado como partilha de poder, baseado no federalismo. O novo estado criado, a Jugoslávia, é palco de conflitos permanentes, embora seja uma monarquia parlamentar. Apenas como exemplo, um dos episódios ais característicos desta instabilidade foi o assassinato de três croatas no Parlamento, por um montenegrino e o assassínio do rei sérvio em França, pelos croatas.

Estes episódios demonstram que o relacionamento entre sérvios e croatas não funciona. Porém durante a II Guerra, perante o perigo de Hitler, sérvios e croatas entendem-se e pedem a Hitler neutralidade. Porém, Churchill incentiva o golpe de estado em Belgrado e proclamam guerra a Hitler, incentivando as forças Aliadas ao rompimento do pacto de neutralidade com Hitler. Em 1941, Hitler invade a Sérvia, perdendo assim dois ou três meses preciosos para atacar a URSS. A Jugoslávia é desmembrada, passando parte para o III Reich, outra para Mussolini, Hungria, Bulgária, Roménia, Albânia, etc.

Assim, a Jugoslávia desaparece do mapa, ficando apenas uma pequena parte da Sérvia, dominada por Hitler e o estado independente da Croácia, construído e liderado por um grupo nazi que obedece a Hitler e faz tudo o que os nazis faziam, incluindo uma brutal perseguição aos sérvios. Deste modo, o fim da II Guerra é também a terrível guerra civil na Jugoslávia, com forças nacionalistas extremistas, prontas a matar. No entanto, aparece uma nova força neutral, reconciliadora, anti-fascista de libertação nacional, liderada pelos comunistas e por Tito.

Tito é um croata, comunista, que esteve em Moscovo e que lidera depois o movimento de libertação nacional. De facto, a Jugoslávia é libertada por comunistas nacionais, sem a ajuda do exército Vermelho, facto que dá a Tito grande independência face à URSS e lhe permite uma forma autónoma de interpretação própria do Comunismo, impondo-se a Stalin. São organizadas eleições e ganham os comunistas, implementando-se um regime duro para depois do conflito com Stalin, Tito adoptar uma interpretação diferente do marxismo. Baseia-se na descentralização, com maior respeito pelos direitos do Homem e alguma iniciativa privada.

Nos anos 60, a Jugoslávia conhece um progresso extraordinário e pratica uma política de não-agressão entre os dois blocos. A Jugoslávia é muito importante também para Portugal: Tito foi conselheiro das forças revolucionárias em Portugal no pós 25 de Abril, sendo amigo próximo de Ramalho Eanes. Goza de uma imagem positiva em todo o mundo, tendo levado nos anos 60 e 70 a Jugoslávia a um bom crescimento económico e a um socialismo de rosto humano.

Nos anos 80, porém, e após a morte de Tito, a Jugoslávia começa a enfrentar novos problemas. Finalmente a crise norte-americana dos anos 70 chega à Europa. Durante o Comunismo, a Jugoslávia era uma federação, um espaço onde se resolviam todos os problemas internos. Era constituída por seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um Partido. Os seis estados eram a Eslovénia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedónia. Este último, parte é eslavo, parte grego e daí hoje em dia os gregos impedirem o novo país de se chamar Macedónia: chama-se FYROM porque os gregos não autorizam a que se chame Macedónia, embora estes tenham apresentado uma queixa no Tribunal Internacional contra a Grécia. Na Bósnia-Herzegovina, convivem sérvios, croatas e eslavos muçulmanos. Os comunistas resolvem o conflito entre os povos, dando a cada povo um estado e fazendo a federação, onde os interesses seriam proporcionalmente respeitados.

Porém, nos anos 80 a crise económica chega à Jugoslávia, uma vez que dois terços do comércio jugoslavo era feito com um Ocidente em crise. O sistema já não consegue responder e começam os problemas económicos, renascendo fantasmas políticos com forças extremistas de Direita a tentar tomar o poder. A crise económica e política fragiliza muito as ligações entre os povos e em 1989, os comunistas jugoslavos têm de abandonar o poder, contra a vontade de muitos dos habitantes da federação. A luta na Jugoslávia é mais complicada do que noutros países e provoca o conflito entre os diferentes povos. A resolução passou pela realização de eleições em cada estado da Federação, em 1990, onde participam muitos partidos mas onde as eleições se discutem entre os ex-comunistas (SD) e os anti-comunistas (nacionalismo e extrema-direita).

Na Eslovénia ganham os anti-comunistas mas houve uma reconciliação- o presidente da Eslovénia é um ex-comunista, coligado com vários partidos. Na Croácia ganham os anti-comunistas, nacionalistas e a favor da independência da Croácia, que consideram ser a continuação do estado independente da altura nazi. Na Sérvia, vencem os ex-comunistas, com o novo Partido Socialista de Slobodan Milosevic. Na Bósnia, vencem os nacionalistas de cada povo. Estes novos poderes são legitimados pelas eleições: alguns querem o prolongamento da Jugoslávia mas outros querem que esta acabe e se façam estados independentes. Há um empate técnico: 4 querem continuar a federação, 4 não querem e há um impasse, sem decisão, fomentada por propaganda de cada um dos lados e um papel odioso dos meios de comunicação.

Na Primavera de 1991, duas das repúblicas ocidentais proclamam a independência unilateral - Eslovénia e Croácia. As outras repúblicas não aceitam e há um desentendimento. Na Eslovénia não há grande problema pois esta é vista desde há muito tempo como a nona província da Áustria. Acontece aí uma "guerra de fim de semana", de 4 ou 5 dias em que há cerca de 40 mortos. A justificação para a guerra é de que ao proclamar a independência, a Eslovénia alterou as fronteiras da federação e um dos papéis do exército é defender as fronteiras: a declaração eslovena seria assim um acto ilegítimo que seria preciso anular pela força. Mas por outro lado, segundo a constituição da federação, a Eslovénia tem direito a separar-se. Sem consenso, recorre-se à força e ao choque entre o exército federal e os eslovenos, que têm o apoio da Áustria e da OTAN. A Eslovénia derrota o exército federal destacado (com pouca força) e a guerra é pouco importante, com a Eslovénia a tornar-se independente.

Já a guerra da Croácia é bastante mais complicada pois aí vivem sérvios e croatas. A Croácia proclama a separação da Jugoslávia e os sérvios da Croácia dizem que o acto é ilegal e alegam que se os croatas têm direito à independência, eles também têm direito a proclamar independência da região da Croácia onde vivem. Croatas e sérvios não se entendem quanto ao território que acaba de proclamar a independência e dá-se uma segunda guerra na Jugoslávia, no território da Croácia. Os sérvios da Croácia têm o apoio da Sérvia enquanto os croatas não têm grande apoio externo- todos se aproveitam da situação para lhes vender armas ilegais, inclusivé Portugal, que vende armas à Croácia através de um esquema ilegal com a Colômbia.

No Verão de 1991, dá-se um conflito sério entre sérvios e croatas que envolve forças sérvias. Primeiro, o episódio de Dubrovnik, uma zona de património protegido, a "Veneza do Adriático", zona de elites. Os sérvios cercam a cidade e bombardeiam-na, segundo o Ocidente. O que aconteceu de facto não se sabe ainda mas a situação é exagerada e aproveitada pelo Ocidente. Outro episódio dá-se em Bukova, onde vivem conjuntamente sérvios e croatas em número igual e onde acontecem batalhas populares, entre vizinhos que sempre se tinham dado bem. A partir desta altura o exército federal passa a actuar do lado da Sérvia, ficando abertamente do seu lado e expulsando os croatas desta cidade. Os sérvios ganham esta guerra mas perdem no plano internacional, factor que é muito discutível.

Em Janeiro de 1992, Tujman e Milosevic entendem-se e assinam o cessar-fogo: os sérvios controlam o território onde vivem, crca de 30% da Croácia. Esta decisão foi possível porque aos croatas faltava-lhes dinheiro e apoio ocidental. Mas isto apenas porque os americanos ainda não sabem o que fazer e que posição tomar: era ano de eleições e sem EUA a situação não se resolve. A ONU entra no território para recolher armas mas tem um papel tão fraco que os capacetes azuis ficam desacreditados de tal forma que ainda não recuperaram: a força que iria impor a paz é responsável por prostituição, contrabando, etc.

Em 1992, dá-se novo conflito, desta vez na Bósnia. Os croatas querem a independência da Bósnia e os sérvios querem que esta permaneça na federação. Os muçulmanos estão do lado dos croatas. Mais tarde, declarada a independência da Bósnia, os sérvios querem a independência dos sérvios da Bósnia, à semelhança do que se passou na Croácia. Estava prestes a começar uma guerra, em Abril de 1992, que dura três anos e tem consequências terríveis. Tal como refere Ivo Andreas, escritor galardoado com o Prémio Nobel, "quando se agitam as águas, a porcaria sobe" e foi o que aconteceu na Jugoslávia nesta altura, com tudo o que existia de mau nas várias facções a ser trazido à superfície. O Ocidente falou de 14 mil sérvios mortos e 250 mil bósnios. Já sabemos que estes números são falsos porque o número total de mortos foi de 90 mil, de forma quase equivalente entre sérvios e muçulmanos. Tanto é falso que hoje em dia os muçulmanos da Bósnia se opôem ao recenseamento da população...

Sem comentários: