10/11/08

CP - Aula 3

I - INTRODUÇÃO

1.2. Enquadramento teórico-conceptual

Como vimos, Thomas Hobbes, filósofo inglês do sec. XVI, foi uma das personalidades que inspiraram os Liberalistas, no que respeita à instalação de uma ordem baseada na Lei, como forma de regular as liberdades individuais: "Limita-se a liberdade mas traz-se a Liberdade respeitando a ordem."

Também Emanuel Kant, no sécu. XVIII e XIX, fala de um idealismo moral no qual se baseia a direita conservadora. Kant afirma que a moral acompanha o homem de forma inata e que procuramos fazer sempre o bem, apesar de fazermos sempre o errado. Kant fala de uma transformação democrática, pacífica, afirmando que os estados deveriam ser cada vez mais democráticos e que uma vez totalmente democráticos apareceria a Paz perpétua naquela que seria uma grande federação a nível mundial. Kant afirma que países democráticos não lutal entre si mas está enganado, como vimos várias vezes ao longo da História.

Adam Smith, filósofo inglês, realiza uma investigação sobre a Natureza e a causa da riqueza das nações, chamada precisamente "Riqueza das Nações", em 1776. Smith diz que na economia existe também a lei divina e que é a lei da oferta e da procura. Esta lei é apenas regulada por uma mão invisível de auto regulação do mercado: as leis são imutáveis e ao Homem cabe-lhe apenas o papel de tentar percebê-las. Assim, para Adam Smith, o estado não deve interferir na economia, apenas cuidar para que a iniciativa capitalista seja livre e a lei divina funcione. É ele quem está na origem do capitalismo moderno, com o seu "laissez faire laissez passer" que significa precisamente deixar passar a mercadoria sem limitar, não limitar a sua venda e não pagar impostos sobre as vendas. Segundo ele, este é o garante do progresso da nação.

No séc.XIX, o Liberalismo é dominante no mundo ocidental. A nível político, o Liberalismo Radical vai ganhando terreno no panorama mundial: a tendência para dar o direito de voto a todos os cidadãos, progressivamente. Todos os homens brancos têm o direito de voto na segunda metade do séc.XIX mas apenas no séc.XX essa liberdade é alargada às mulheres. O Liberalismo ganha liberdade formal com o direito de voto e as constituições mas a liberdade efectiva continua a ser apenas para as classes privilegiadas.

No séc.XX dão-se duas grandes crises do liberalismo. A primeira é a Crise dos anos 30, ou Grande Recessão, que começa nos EUA e se alastra à Europa. Uma crise da qual só se sai graças a Maynard Keynes, um filósofo e economista que reformula o liberalismo. Uma vez que a alternativa ao liberalismo em 1929 era o socialismo, Keynes pergunta-se qual será a melhor forma de combater isso mesmo e chega à conclusão de que a forma mais eficaz para combater o socialismo é aceitar algumas das suas formas. Keynes instala reformas no sistema, muitas delas aproveitadas ainda hoje pelos neo-liberalistas, e que afirmam sobretudo que a política fiscal tem que ser em função do desenvolvimento e com uma função social. Passa-se a fazer assim uma tributação progressiva. Em relação a esta tributação progressiva surge depois a pergunta sobre o que fazer com o dinheiro dos impostos. A resposta vai para o investimento para criação de emprego, para que haja mais dinheiro a circular.

Os neo-liberalistas, como Cavaco Silva, que são mais à esquerda no sentido liberal reformador, apoiam-se nas ideias de Keynes. Também na altura do New Deal norte-americano se recorre a Keynes e até Hitler adopta as medidas socialistas de Keynes, no início. O estado do bem-estar é aplicado depois da 2ª Guerra Mundial e dá um progresso extraordinário à Europa Ocidental.

A outra crise do Liberalismo aconteceu nos anos 70 e é em tudo idêntica à crise que se vive hoje. Começou com os EUA enfraquecidos devido à Guerra do Vietname, decidindo proteger-se e diminuir o valor do dólar. É acompanhada de um forte choque petrolífero. A resposta à crise veio à direita, desta vez, nas ideias de Adam Smith, protagonizada por Margaret Tatcher e Ronald Reagan. O estado não tem dinheiro para financiar gastos com saúde, educação e reformas, pelo que se opta por se diminuir os gastos sociais. Opta-se também por uma desregulamentação em relação a leis que proibiam despedir, obrigavam os estados a ter uma reserva de ouro e por outro lado fazem-se novas leis, privatizações, revisões de leis de trabalho, etc. A palavra de ordem era "quanto menos estado, melhor estado" e quanto menos houver intervenção do estado melhor.

Em suma, o Liberalismo surge para destruir o Antigo Regime, propondo uma nova sociedade, liberdades individuais e não tanto direitos políticos ou sociais. É uma ideologia que cresce e vai tendo crises cíclicas.

Dentro da direita, e mais à direita do que o Liberalismo há o Conservadorismo. Edmund Burke, um filósofo inglês, publicou um livro com reflexões sobre a Revolução Francesa. Trata-se de uma reacção eclíptica do Liberalismo, que diz que este é uma ilusão e um erro histórico. Burke refere que não há igualdade entre os homens, que existem classes sociais que são o resultado de uma evolução lógica e natural ao longo dos séculos. As classes sociais são uma evolução que se confirma ao longo do tempo.

Na base do conservadorismo está a "tradition", ou seja, a manutenção e fundamento de relações na sociedade baseadas na tradição. Num caso judicial, por exemplo no Reino Unido, uma vez tomada uma decisão num caso judicial adopta-se noutros por tradição. Não obstante, o Reino Unido é uma das sociedades mais justas e tolerantes da história.

O Conservadorismo aparece numa altura em que surgem vários partidos políticos que são contra os liberalistas e a favor de se manter as diferenças entre classes e grupos sociais: consideram a sociedade desigual e criam formas políticas para defender essas desigualdades. Depois da 2ª Guerra estes partidos ficam postos de parte mas renascem depois da queda do Muro de Berlim. Actualmente fala-se dos "neo-con", entre os quais George W. Bush é o mais famoso. Bush privilegiou toda a elite tecnológica, executivos de grandes empresas, vistos como um Deus que cria riqueza e que portanto é preciso manter rico pois ele merece. Bush e os neo-conservadores afirmam que estes grandes gestores estão a levar a riqueza ao mundo e como tal devem ser privilegiados.

Entre Liberalismo e Conservadorismo organizam-se as principais tendências da Direita. A divisão esquerda/ direita tem várias explicações: antes da Revolução Francesa são convocadas reuniões gerais para burgueses e nobres: os que querem alterações sentam-se à esquerda, os que querem preservar sentam-se à direita. Também a imagem do Parlamento britânico separa à esquerda os Trabalhistas e à direita os Conservadores, tendo o "speaker" ao centro. Também em Portugal os partidos se organizam à direita ou à esquerda do Presidente da Assembleia da República (actualmente Jaime Gama).

Em Portugal existe o centro direita, a direita e a extrema direita, com várias flutuações. O centro direita proclama um Liberalismo reformado, tipo Keynes, respeitando as liberdades individuais, a propriedade privada, a liberdade de empreendimento e a possibilidade de intervenção do estado em caso de crise. O Liberalismo reformador português é representado pelo PSD, onde mesmo assim Manuela Ferreira Leite está mais à esquerda e Durão Barroso e Pedro Santana Lopes mais à direita. Sá Carneiro era o representante principal deste centro direita.

A direita defende o conservadorismo e admite diferenças na sociedade. Diz que se deve privilegiar o grande capital pois este dá emprego e desenvolve a sociedade. É representada em Portugal pelo PP, embora Freitas do Amaral fosse um conservador tolerante e Manuel Monteiro tivesse virado à direita para um PP de Paulo Portas quase extremo.

A extrema-direita compreende neo-fascistas, neo-nazis, entre outros extremos, e são contra qualquer forma de individualismo. Existem em Portugal pelo PNR, embora as manifestações de índole fascista ou nazi estejam proibidas por lei. Fazem parte do governo, por exemplo, na Áustria.

No que respeita à esquerda, existe um sem número de -ismos associados a movimentos ideologicamente considerados de esquerda. Vamos estudar o socialismo, comunismo e anarquismo e depois algumas figuras importantes no pensamento da esquerda.

O Socialismo nasce na década de 30 do séc.XIX. Nasce de dois filósofos, um francês e um inglês. Desde cedo começa a confusão entre socialismo, comunismo e anarquismo, conceitos que aparecem separados no Manifesto Comunista de 1848. Em 1890, numa das edições do manifesto, Engels escreve um prefácio: "socialistas são charlatões que querem fazer a reforma do comunismo. Os comunistas são os verdadeiros reformadores, que querem fazer a reforma da sociedade e anular o liberalismo. É na década de 20 do séc.XX que Lenine começa a utilizar definitvamente a palavra Comunismo e é definitiva a dissociação entre os dois movimentos.

Existem pelo menos 300 definições de socialismo, pelo que a definição da palavra não é fácil. Nasce no séc.XIX em reacção ao Liberalismo pois devido a este algumas classes tornaram-se ainda mais ricas e outras ainda mais pobres. Diz que a sociedade se deve organziar para determinar um mínimo de sobrevivência do social, da sociedade que está a sofrer com o Liberalismo. Na primeira metade do séc.XIX, o socialismo surge assim com a inspiração de proteger os mais fracos. As ideias são reformuladas na 2ª metade do séc.XIX, afirmando-se que o direito à propriedade privada tem que ser limitado e não anulado: limitar apenas onde há actividade social para que a sociedade em conjunto tenha garantias. Afirma também que os principais recursos económicos devem estar sob controlo dos trabalhadores, num grande banco principal que é propriedade estatal que tem que ser controlada e não servirá para enriquecer os privados. A gestão da riqueza nacional deve ser no sentido de promover igualdade e justiça social- a fraternidade que proclamou a Revolução Francesa.

O Comunismo é uma ideia utópica que existe há muitos séculos, desde o Evangelho, que proclama que todos somos iguais e que tudo o que existe na Natureza deve ser repartido. Platão, na "Republica" ou Thomas Moore na "Utopia" falam já do que mais tarde se chamou Comunismo. Trata-se de criar uma sociedade sem conflitos, onde todos são tratados de igual forma. No Ocidente, Comunismo aparece ligado ao regime Soviético ou a partidos que querem criar um regime soviético porém na Europa de Leste Comunismo é algo bem diferente.

Para os povos de Leste, Comunismo é a fase última a que chega a evolução da Humanidade e da qual o Socialismo é o nível intermédio. O Comunismo pretende eliminar conflitos e como Marx explicou que a verdadeira causa de conflito é a propriedade privada, o objectivo do comunismo passa a ser o de eliminar a propriedade privada. O Comunismo é originalmente a favor de todas as liberdades do Homem, tendo-as escritas. Porém, na prática, o Leninismo veio limitar as liberdades individuais.

O Comunismo é assim uma sociedade sem classes, sem propriedade privada, onde a riqueza vai sendo distribuída segundo as necessidades: trabalhar segundo as capacidades, receber segundo as necessidades.

O Anarquismo prevê uma liberdade total. Afirma que quando o Homem apareceu não havia nenhuma lei nem instituição, pelo que esse mesmo Homem pode viver sem governo, sem lei, sem instituições. Uma anarquia seria uma sociedade totalmente livre, onde o Homem poderá ser feliz. Assim, querem destruir o estado mas não pela via pacífica e progressiva: querem destruí-lo através de atentados, terrorismo e lutas e daí recorrerem frequentemente a actos terroristas, numa ideia trotskyana de revolução permanente.

Em suma, o Socialismo critica o liberalismo, protege a maioria e reforma o liberalismo, preservando a sociedade actual mas limitanto a propriedade privada. O controlo é feito através das instituições. O Socialismo prevê alguma actividade pública. O Comunismo afirma que definitivamente o liberalismo não serve, é precisa uma nova sociedade sem conflitos e para isso querem anular a propriedade privada, mantendo as liberdades individuais. O Anarquismo varia relativamente à diferença sobre como chegar ao comunismo: querem destruir, romper, matar... Seja como for, toda a esquerda gira em torno de Karl Marx.

Marx era um judeu alemão que foi morar para Inglaterra e que viveu entre 1818 e 1883. A sua obra principal chama-se "O Capital". A filosofia de Marx baseia-se na dialética materialista: a dialética prevê uma lei fundamental de progresso e negação, de luta entre dois pólos. Para Marx, toda a dialética é sobre matéria uma vez que não existe espírito, não existe Deus. Existe sim um conflito permanente, nomeadamente na área que Marx refere acontecerem as relações mais importantes, ou seja, na economia. Para Marx, existe uma permanente exploração duns pelos outros, que apenas se altera na forma de exploração: escravidão ou capitalismo é a mesma coisa. Diz que essa relação tem de ser alterada e deu fundamento científico às suas afirmações para se distanciar da religião, a que chama o "ópio do povo".

O seu socialismo científico afirma que a sociedade está a progredir, num progresso tecnológico que não tem limites e que levará a que um dia as máquinas produzam tudo e que o homem não precise de trabalhar. Para haver lucro e eficácia há necessidade de integração das empresas e do capital: o número de proprietários será cada vez mais pequeno (como já se verifica desde há muito tempo com o desaparecimento do comércio local) e o número de proletários vai ser absurdamente grande. Esse número reduzido de grandes proprietários torna-se absurdo e há necessidade de alterar a relação na sociedade. Porém, a burguesia não deixará que essa alteração seja feita de forma pacífica e daí ser necessária uma revolução.

Em 1871, na Comuna de Paris, os comunistas assumem o comando e fazem demasiada violência. É aí que Marx se torna a favor de uma alteração não violenta na sociedade: revolução sim mas violência não. Este ponto torna-o diferente de Lenine, que chega ao poder de forma violenta. Marx propôe eleições democráticas a fim de iniciar aquilo que apelida de social democracia.

A social democracia original pretende uma reforma do Liberalismo pela via não violenta. Deve ser feita pela via democrática, indo a eleições, formando governos, introduzindo na sociedade as ideias socialistas. Em 1875, em Gotha, reunem-se representantes dos partidos socialistas, que discutem como se organizar e de que forma. Dividem-se em dois grupos: uns para fazer reformas de forma pacífica (sociais democratas) e outros não. Ambos formam a I Internacional Socialista, uma associação dos partidos socialistas europeus. Na I Internacional, quem domina é a social democracia, força que funciona até ao fim da I Guerra Mundial.

Uma nova discussão em 1919 forma a II Internacional, que continua a ser dominada pela social-democracia mas já lá está Lenine e os seus revolucionários que formam a III Internacional, desta vez dominada pelos comunistas e Lenine.

Outra figura de proa na esquerda e em particular na social democracia, é Karl Kautsky, um alemão, seguidor de Marx, que diz que as reformas que pretendem os socialistas e comunistas podem fazer-se pela via democrática.

O socialismo era a força política predominante depois da II Guerra Muncial mas hoje já não é. Oque afirma o socialismo contemporâneo é que se deve fazer um reforço do estado social, ou seja mais serviço público, mais funcionários públicos, mais médicos, mais bolsas de estudo, etc. Deve-se conseguir através da intervenção do estado na sociedade e na economia controlar grande parte da riqueza nacional no sentido de a distribuir- estado como actor social. A política fiscal deve ser prograssiva: quem ganha mais, paga mais.

No entanto, a esquerda fica órfã com a queda do Muro de Berlim: os socialistas não sabem o que fazer, uma vez que tudo o que defendiam parece não ter resultado. À espreita está o perigo dos neo-liberais, as verdadeiras ameaças a uma sociedade comunista. Uma das soluções que ganha nos anos 90 e 00 é a 3ª via de Tony Blair: diz-se socialista mas mente, uma vez que impôe um liberalismo puro e duro. É uma fórmula que serve para ganhar eleições e que se repete no PS português, que implementou algumas das receitas de Tony Blair. Com o avançar dos anos, avançam também os liberais, perde o socialismo original e tudo converge para o centro.

Vladimir Lenine é outra das figuras mais presentes na esquerda. Faz uma interpretação própria sobre o pensamento marxista, a que chama marxismo-leninismo. O marxismo afirma que a revolução acontecerá quando houver tecnologia e indústria em grande quantidade- Lenine adapta a teoria da revolução a uma Rússia onde ainda não havia indústria. Afirma que tem que se chegar ao poder de forma violenta e fala de um centralismo democrático, ou seja, dentro da sociedade há um grupo que tem consciência e que é a vanguarda do proletariado: são membros do proletariado que emergem e fazem parte do Partido Comunista. Esse PC é a vanguarda da sociedade que a vai conduzir e guiar. Lenine necessita do Estado forte e introduz a ditadura de um grupo de vanguarda, ou seja, a Ditadura do Proletariado. Aqui, vai contra a teoria de Marx que refere que o estado irá morrer, uma vez que a sua função de apagar o conflito irá cessar.

Porém, a realidade da Rússia é outra: Lenine interpreta as palavras de Marx para uma situação que ele tem necessidade de moldar e adaptar.

Leon Trotsky é o chefe do exército vermelho, partidário do PC, defensor da ideia de uma revolução permanente, a chamada 3ª via além da bolchevique e da menchevique. Trotsky afirma que é necessário fazer a revolução não pela violência- a democracia tem que estar presente e tem que haver uma mudança permanente de forma a que todo o mundo se transforme segundo os princípios comunistas. Trotsky entra em conflito com Estaline, que afirma que basta haver comunismo na URSS, não é precisa a propagação. Trotsky afirma que é necessário exportar a revolução, pois só quando o mundo inteiro se tornar comunista esta é válida. Trotsky quer uma revolução permanente e global.

Josef Estaline é responsável por seu lado por uma Ditadura do Proletariado, ouseja, uma ditadura da burocracia, afirmando, como vimos que quem deve exercer o poder nessa ditadura é o Comité Central, os burocratas do partido.

Mao Tse Tung, outra das figuras de proa do Comunismo. Mao consegue uma vitória militar na guerra civil chinesa, fazendo a sua revolução com os camponeses e não com os operários, como os russos: reinterpreta Marx, neste sentido, uma vez que a China era sobretudo agrícola e a força comunista estava nos campos. Faz uma guerrilha de desgaste, com poucos soldados e menos armas do que o adversário mas que consegue vencê-lo passados dez anos de desgaste. Mao instala uma Revolução Cultural na sua luta pelo poder, com os guardas vermelhos, os livros e outros esquerdismos radicais suficientes para neutralizar adversários políticos na sua luta pelo poder. Rapidamente consegue industrializar a China, desenvolvendo-a e produzindo comida suficiente para todos os chineses. Mao desenvolve um pensamento esquerdista na população, que traz primeiro o comunismo na cabeça e só depois pensa em comer e beber, sem questionar nunca a liderança de Mao.

Quanto ao comunismo ocidental, ou Eurocomunismo, fala de uma chegada ao comunismo por via pacífica, dentro do sistema político plural partidário. Desenvolve-se depois da II guerra através de partidos comunistas ocidentais muito fortes, como o italiano ou o francês.

Hoje em dia, aparecem neo-marxistas, da Escola de Frankfurt, uma escola formada no tempo entre guerras e que continua a ser hoje em dia um centro essencial do pensamento marxista. Afirmam também que é possível chegar ao comunismo através da participação no sistema eleitoral. Em Portugal, por exemplo, os neo-marxistas são representados pelo Bloco de Esquerda, que se afirmam diferentes do PCP, que mantém as raízes marxistas-leninistas mas abandonam a ideia de revolução violenta. O BE afirma-se também como os defensores do verdadeiro socialismo, reformador do Liberalismo e introdutor de novas políticas.

A esquerda actualmente esqueceu estes conceitos e divide-se antes em centro esquerda, esquerda e esquerda radical. Os primeiros são os sociais democratas, representados em Portugal pelo PS e, por exemplo, no Brasil, pelo PT. A esquerda, que refere a redução da propriedade privada e o controlo dos trabalhadores sobre a riqueza, é representada em Portugal pelo Bloco de Esquerda e a esquerda mais radical está nas mãos do PCP, que continuam a falar em marxismo, leninismo, revolução, etc.

Actualmente, as ideias de Marx estavam a perder força política até à intervenção por parte dos governos aquando da crise financeira. Sócrates evitava mesmo utilizar a palavra socialismo, preferindo colocar-se cada vez mais ao centro. Entre Liberalismo e Socialismo, Esquerda ou Direita, já não existem grandes diferenças, como se vê entre o PS e o PSD.

As principais diferenças entre os dois partidos do centro residem nas liberdades fundamentais, como por exemplo, o aborto, a eutanásia, os casamentos gay, a utilização de drogas leves na medicina, etc. Também na economia há grandes diferenças: o PSD é contra qualquer intervenção do estado na economia, enquanto o PS quer essa intervenção, muito embora após a queda do Muro de Berlim sejam muito discretos quanto a essa intervenção e a usem apenas agora, em tempo de crise. Também a propriedade privada separa os dois partidos, com o PSD a querer uma propriedade totalmente privada e o PS a querer a propriedade pública de algumas instituições.

Na esquerda, surgem vários movimentos para maior justiça social. Movimentos anti-globalização e outros, que procuram equilíbrio. A ecologia também está geralmente associada à esquerda uma vez que todos os movimentos ecologistas são de esquerda ("Verdes") e a esquerda é sempre contra a poluição, as emissões de CO2 e a favor das fontes de energia renovável. Também o feminismo, que exige a igualdade entre homens e mulheres, é típico de esquerda, assim como os movimentos pacifistas.

Para além destas ideologias, que podem compactuar com um sistema democrático, existem outro tipo de ideologias políticas, as ideologias totalitárias, ligadas à não-democracia. O totalitarismo abarca o nacionalismo, o fascismo, o nazismo e o neo-fascismo e diz que o estado deve controlar toda a sociedade, não deixando ninguém escapar ao seu controlo. Há totalitarismos de direita e de esquerda (estes, os mais conhecidos são os de Estaline e Mao).

O Nacionalismo não é necessariamente totalitarista- quando aparece é uma força nacional contra um império. Quando os movimentos nacionalistas começam são movimentos progressivos, como por exemplo a emancipação das colónias que leva à descolonização. Porém, no séc. XIX o nacionalismo alinha-se com ideias totalitárias e no séc.XX o fascismo e o nazismo vêm-lhe trazer uma forte força conservadora.

O Nacionalismo tem várias formas de manifestação: o patriotismo, que é um nacionalismo positivo e que significa apenas alguém gostar da sua pátria, nação ou país. O chauvinismo, que nasce no séc.XVIII, de um líder de um movimento da Alsácia que quer expulsar os estrangeiros: chauvinismo é já uma primeira forma de intolerância com os estrangeiros. A xenofobia, que quer expulsar os estrangeiros pela violência e que reaparece na direita extrema contra os imigrantes, na Europa. E o por fim o racismo, que considera que uma raça é superior às outras.

O Nacionalismo cria um estado-nação, ou seja, um estado baseado na ideia da raça e da nação como únicos objectos válidos. O nacionalismo controla toda a sociedade para a única finalidade de criar um estado-nação. Porém, a nação forma-se do ponto de vista cultural (uma língua e uma mesma identidade cultural), jurídico (escreve-se a lei e a constituição) e político (forma de governo que comunica à nação que é um estado). Em Portugal não é um problema mas todos os estados da Europa têm no seu território estrangeiros vizinhos e vivem todos misturados.

O Fascismo é um sistema corporativo, ou seja, uma forma de organizar a sociedade que existe desde do Antigo Regime: faz-se uma sociedade de uma respectiva função, a pessoa entra pelo patamar mais baixo dessa corporação e vai subindo na organização. O Liberalismo destroi estas corporações e os fascistas têm uma nostalgia por este Antigo Regime e acham que devem restabelecer o sistema corporativo. A Igreja, por seu lado, apoia a ideia de devolver corporações à sociedade.

O Fascismo aparece com Mussolini e é em Itália que se forma o primeiro governo fascista. A maioria dos estados europeus vão ser, posteriormente, estados fascistas, sendo que poucos estados europeus ficam liberais (Nórdicos, franceses, britânicos, jugoslávia e pouco mais). O carácter do Fascismo é totalitário: o líder e o governo controlam tudo, num sistema hierárquico que vai desde baixo até ao grande chefe, que pode ser o Duce, o Fuhrer, o Caudillo, etc. É profundamente anti-liberal e anti-individual, contra a cooperação no interior de uma classe, como forma de combater o socialismo e comunismo.

O sistema corporativo é um regime expansionista, ou seja, afirma que as nações são pobres e que devem por isso conquistar territórios dos ricos. Mobilizam também massas, incentivando-as a juntar-se no culto do líder. A economia é controlada, com tendência a ser planificada, pelo que já não existe empresários nem iniciativa privada. O Fascismo aniquila qualquer oposição, que embora exista é impedida de chegar ao poder.

O Nazismo, nacional socialismo, provém do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Os nazis proferem uma raça pura, ariana, descendente de um povo antigo, próximo da Índia, que em nada tem a ver com a imagem dos alemães como raça pura. A ideia da raça ariana provém de Nietsche, que afirma que "Deus morreu" e que como tal não existe limitação para o Homem- Hitler pega nesta ideia do super-homem para criar uma raça que, no seu entender, deve ser purificada e daí iniciar a expulsão de raças e condições consideradas inferiores daquele que é o espaço vital alemão.

Os neo-nazis e neo-fascistas, ou também pós-fascistas, evoluem do fascismo e têm igualmente como símbolos a ideia da raça superior. Aparecem actualmente um pouco por toda a Europa mas é na Áustria e em Itália que a situação é mais grave pois estas forças chegaram já ao poder.

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