22/10/08

HMC - Aula 8

5.4. Conflitos da "guerra fria rígida": crise de Berlim, guerra da Coreia, crise de Cuba

No âmbito da situação de Guerra Fria instalada no mundo no pós II Guerra, surgem uma série de conflitos em vários pontos do globo, na fase em que foi chamada de "guerra fria rígida" pois não existiam relações entre os Estados Unidos e a União Soviética. O primeiro desses confrontos foi a crise de Berlim, em 1958.

Não obstante os esforços soviéticos para a reconstrução do lado comunista da Alemanha, a RDA continua anos-luz de se aproximar do desenvolvimento e da recuperação presente no lado ocidental. Além disso, as fronteiras abertas da cidade de Berlim faziam com que milhares de alemães fugissem da Alemanha comunista, fascinados com as facilidades e as montras das lojas da Alemanha Ocidental. Numa tentativa de impedir o abastecimento da zona ocidental de Berlim, circundada pela Alemanha comunista e na esperança de que os Aliados fossem ceder o resto da cidade aos comunistas, Stalin manda realizar um bloqueio a Berlim ocidental. Nada nem ninguém podia chegar àquela cidade, causando graves cortes de produtos básicos e colocando a parte ocidental da cidade num total isolamento.

Os Aliados não sabem como reagir, uma vez que o confronto directo estava fora de questão, quer pelo poderio do exército Vermelho, quer pela ameaça do ataque nuclear. A solução para evitar uma guerra entre as duas potências é encontrada pelos Ocidente, que inicia uma ponte aérea: de avião, os ocidentais transportam comida e bebida nos aviões B52 que antes foram utilizados na guerra para carregar bombas. Por outro lado, a tecnologia dos radares permitem também ao Ocidente levar a cabo um vai-vém de aviões: enquanto uns aterram, outros estão a decolar indo buscar mais mantimentos.

Assim, Stalin não consegue quebrar o abastecimento de Berlim, permitindo passado um ano que continue o abastecimento a ser feito pela via terrestre, acalmando a tensão e a crise entre as duas Alemanhas nos dez anos seguintes. Em 1961, já depois da morte de Stalin e com Nikita Kruchtchev no comando da União Soviética, é feita uma nova tentativa para suster a população em fuga para o Ocidente e para pressionar os ocidentais a sair de Berlim. Não conseguindo, os comunistas vão cercar Berlim ocidental para que não haja qualquer contacto com o exterior nem possibilidade de êxodo populacional através da construção, na madrugada de 12 para 13 de Agosto de 1961, do Muro de Berlim, sob o comando de Walter Ulbricht.

Berlim passa então a estar circunscrita por um muro de três metros, intransponível, que contém entre 60 a 250 quilómetros, consoante as versões ocidentais ou comunistas. Do lado de cá, torna-se necessário apoiar a isolada Berlim ocidental, pelo que John Kennedy se desloca à cidade e proclama o célebre discurso em que diz apaixonadamente "Ich bin ein Berliner!"

O segundo destes conflitos entre as duas potências ideológicas é a guerra da Coreia, onde além de conflito e tensão, houve efectivamente guerra. A Coreia é uma península asiática, cuja cultura é relativamente independente da China e do Japão. No início do séc. XX, o Japão anexa a Coreia em parte do seu território e assim fica até ao final da 2ª Guerra. Após o final da guerra, a Coreia recupera a independência mas surge a situação idêntica a outros pontos do globo, como a Grécia, em que a Norte o movimento de libertação é liderado pelos comunistas, apoiado pela União Soviética e China e a Sul pelos capitalistas, apoiados pelos americanos. Criam-se assim, também, dois exércitos libertadores com duas ideologias diferentes. Nessa altura fazem-se eleições e o povo decide qual o regime: porém no Norte ganham os comunistas e no sul os liberais, não se entendendo quanto a um consenso e criando uma situação insustentável de tensão entre dois governos: o do norte, comunista e coreano, o do sul, liberal e com presença efectiva dos americanos.

A 25 de Junho de 1950, os comunistas exigem a retirada dos americanos do território coreano e das suas tropas no sul. Uma vez que esta vontade não foi obedecida, os coreanos do norte iniciam investidas contra os americanos, empurrando-os para uma linha de defesa a sul, praticamente perdendo todo o território da Coreia. Como retaliação os americanos queixam-se na ONU contra a ofensiva, que designam como agressão do norte ao sul. A ONU pede esforços aos países para ajudar e no Conselho de Segurança é dado o apoio aos Estados Unidos. Isto, unicamente porque a União Soviética não está presente e a China é representada pela insignificante região de Taiwan, controlada pelos americanos. A ausência da Rússia, para os média, prende-se com um atraso no trânsito mas o que de facto aconteceu é que houve uma jogada política, em que a União Soviética imaginou que não estando presente, não seria nada decidido. Foi úm de dois únicos Conselhos de Segurança da ONU em que todos estiveram de acordo quanto a uma investida militar: o segundo foi já nos anos 90, quando Ieltsin concordou com Bush para a Guerra do Golfo.

Tomada a decisão por maioria no Conselho de Segurança da ONU, a jogada ocidental vence e a ONU envia os seus capacetes azuis para expulsar a Coreia do Norte do território que ocupou. Em 1950 e 51 as tropas da ONU, que eram constituídas apenas por americanos e alguns australianos "voluntários", começam a puxar os coreanos para o norte, a ponto de se aproximar da República Popular da China. Mao assusta-se com a proximidade dos americanos e ordena aos seus soldados, supostamente "voluntários" que vão ajudar os comunistas coreanos.

Pela primeira e única vez na História há um choque directo entre tropas chinesas e norte-americanas. E como a China não possui nesta altura a bomba atómica, McCarthy, general americano responsável, quer lançar na China a bomba atómica, facto que dificilmente deixaria a União Soviética quieta e que poderia assim ser o rastilho para a guerra atómica.

Em 1952, a guerra torna-se uma terrível crise, com os chineses a conseguirem empurrar os americanos cada vez mais para o Sul: não são tecnologicamente avançados mas são num número tão grande que conseguem derrotar os americanos. A 27 de Julho de 1953 cessa o combate e é assinado o armistício, dividindo as duas Coreias pelo paralelo 38, que ainda hoje as divide. Uma sob a alçada chinesa e soviética, a Norte, outra sob a alçada norte-americana, a sul. Hoje, a Coreia do Norte permanece um regime comunista, um dos regimes mais radicais do mundo; a Coreia do Sul é um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo, graças à ajuda americana. A ideia da união entre as Coreias era defendida por todas as partes tendo-se estudado esse molde até chegar George Bush e afastar a união da Coreia do Sul com um dos países do "eixo do mal".

A guerra da Coreia era no início uma guerra local mas com a ameaça atómica podia tornar-se um conflito mundial. Não se tornou porque o presidente Truman demitiu McCarthy, muito também por causa de um jogo entre eles, que se confrontaram nas eleições presidenciais.

O terceiro conflito deste período é a crise de Cuba. Cuba foi a primeira ilha colonial espanhola a ser povoada, a menina dos olhos da coroa para onde emigraram muitos galegos, principalmente. Trata-se de um território maior que Portugal e com cerca de 11 milhões de habitantes. Embora não possua muito petróleo, tem agricultura (tabaco, cana de açucar, rum) e turismo. No fim do séc. XIX dá-se uma guerra entre Espanha e os Estados Unidos por causa de Cuba: como habitualmente, os americanos instigam uma força qualquer à independência para depois a provocarem e lá se instalarem. Espanha e a sua "frota invencible" são derrotadas e os Estados Unidos passam a controlar Cuba, assim como muitos outros territórios na América Latina e Sul Asiático que perteceram aos espanhóis. Surge depois a discussão sobre se deveria Cuba ser integrada nos Estados Unidos mas optam por oficialmente não incluir o país, embora enviem exército e obriguem o governo provisório local a autorizar a intervenção americana sempre que estes assim o desejem.

Cuba torna-se assim o "bordel" dos americanos, com bom clima, muito rum, charutos e o controlo total de qualquer resistência à ocupação americana. Porém, nos anos 50, devido à desastrosa e odiada governação de Urgencio Baptista, uma força levanta-se contra ele, liderada por Fidel Castro e "Che" Ernesto Guevara. Fidel consegue, com o apoio de toda a população, destruir o detestado regime de Baptista e entra triunfalmente em Havana, depois de uma breve luta com 80 homens na Sierra Maestra. Isto acontece na noite de Ano Novo, de 58 para 59, enquanto os governantes pró-americanos comemoravam o Ano Novo: a partir de 1 de Janeiro de 1959 começa uma nova governação em Cuba.

A partir de então começa a nacionalização de propriedade americana, facto que leva à revolta dos Estados Unidos e a uma investida militar, a Baía dos Porcos, onde os americanos saem vergonhosamente derrotados. Fidel Castro derrota a invasão da Baía dos Porcos e há várias histórias e teorias sobre a preparação desse golpe, de ambos os lados. Os americanos contavam com o apoio dos cubanos mas a verdade é que naquela altura estavam todos ao lado de Fidel. Este pede ajuda à União Soviética, proclamando só aqui a adopção da doutrina marxista. Este pedido cai como uma luva nas intenções da União Soviética: tempos antes os Estados Unidos haviam montado misseis na Turquia apontados à União Soviética- esta será a hipótese da URSS colocar agora mísseis perto do território americano, em Cuba.

A 22 de Outubro de 1962, Kennedy descobre através de aviões espia que a URSS tem mísseis com ogivas nucleares em Cuba e faz um ultimato: ou retiram o arsenal de guerra de Cuba ou os Estados Unidos vão atacar. Antes da URSS responder, foram dez dias de suspense que mudaram o mundo. Tratou-se de uma situação verdadeiramente dramática, de verdadeira crise, em que não se sabe o que vai acontecer. A 28 de Outubro de 1962, os soviéticos iniciam a desmontagem dos seus mísseis em Cuba, com a contrapartida dos americanos desmontarem os seus mísseis na Turquia e em Itália. Ainda hoje não se sabe bem quem ganhou esta crise...

Sabe-se sim que a partir de então estabelece-se o famoso "telefone vermelho" entre o presidente soviético e o americano, apelidado de "hotline": isto porque se compreende que a origem desta crise foi muito em parte devido à falta de comunicação entre os dois estados, apenas uma guerra rígida, em que se imagina que ambos os estados possuem um "botão vermelho" capaz de acabar com a Humanidade.

No período da guerra rígida, duas personalidades destacam-se de cada um dos polos ideológicos: John Kennedy, do lado americano e Nikita Khruchtchev, do lado soviético.

John Kennedy nasceu em 1917 e foi assassinado em 1963, em Dallas. Estudou em Harvard, foi um herói da 2ª Guerra em batalhas no Pacífico e provém de uma família abastada. Líder dos democratas, foi o mais jovem presidente americano, com apenas 43 anos. Era um homem jovem, bonito, bom aluno, com um casamento exemplar com uma mulher igualmente bonita, Jackie Kennedy e com fama de sedutor entre as mulheres, entre as quais Marilyn Monroe. Era também o primeiro presidente católico, o que desperta tensão entre os protestantes, que começam a imaginar se não será um avanço do Papa nos EUA. Ganha as eleições sem se esperar, muito por causa de um famoso debate televisivo, onde se consta que Kennedy utilizou a televsião para se aproveitar do seu aspecto em detrimento de Nixon e assim superá-lo.

Seja como for, Kennedy foi um político fraco. A sua principal inovação, a "nova fronteira" era uma política interna de acção social que por estar vagamente definida, fracassou e nunca foi realizada. Externamente, promoveu a "Aliança para o Progresso" com vista a resolver os inúmeros conflitos na América Latina, onde tinham sido instaladas ditaduras de direita patrocinadas pelos EUA e suas empresas. Foi Kennedy que começou, também, a Guerra do Vietname. Trata-se assim de uma governação desastrosa- o ícone de mito fica só para a História porque Kennedy foi assassinado e porque era duro com os soviéticos. Porém, tudo o que fez falhou e nem do ponto de vista pessoal parecia ter, volvidos os anos, algum interesse. Kennedy conduziu a crise de Cuba e como era um político inexperiente falhou ao lançar um ultimato e colocar assim o mundo inteiro em risco. Ainda se desconhece oficialmente quem o matou e hoje é um símbolo nos Estados Unidos, principalmente pela sua resistência e dureza com os comunistas.

Do lado soviético, sobressai Nikita Kruchtchev, que nasceu em 1894, na Ucrânia e morreu em 1971, em Moscovo. Nikita é filho do proletariado russo, subiu na lista do Partido e não possuía grande instrução e de todo não tinha maneiras refinadas nem regras de etiqueta. Depois da morte de Lenin, em 1953, ganha a guerra pela liderança do Partido Comunista da URSS e é eleito no 20º Congresso do partido, secretário geral e por conseguinte líder da URSS. Num famoso discurso, Nikita denuncia os crimes que Stalin cometeu, acusando-o de genocídio com as suas deslocações de camponeses. Se com esta denúncia se torna muito popular no Ocidente, torna-se impopular entre as camadas conservadoras do PCUS, que vêm nele um embaraço para os soviéticos e nas suas reformas uma ameaça ao comunismo.

Entre outras coisas, Nikita tinha atitudes grosseiras de interromper líderes de estado para os insultar, tendo chegado a tirar os sapatos e a batê-los na mesa de discussão do Conselho de Segurança da ONU, esfregado uma bota na cara de Mao ou tecido comentários racistas sobre os búlgaros na presença do representante búlgaro. Não era, assim, o líder soviético típico. Sabia porém utilizar bem o poder da televisão e manipulá-la para os seus interesses. Embora não tivesse grandes conhecimentos do mundo exterior, foi convidado a visitar os Estados Unidos, onde chegou a discursar, tornando-se muito popular no Ocidente. Era impetuoso, voluntarioso e como recuou na crise de Cuba e como queria impor algumas reformas, foi afastado passados dois anos da liderança soviética.

Em suma, no decorrer da guerra rígida, dão-se os conflitos de Berlim, Coreia e Cuba. Este último resultou num bloqueio naval dos Estados Unidos a Cuba que dura até hoje, não permintindo que nada entre na ilha via marítima. Barack Obama promete uma negociação com os cubanos.

2 comentários:

Rachelet disse...

Damn, menos um mito... Mas gostava de ter visto o Nikita a esfregar a bota na cara do Mao!

Anónimo disse...

Devias gostar do Nikita que em matéria de inconveniência ele bate-te aos pontos :P