V - GUERRA FRIA
5.5. Guerra do Vietname
Durante a Guerra Fria houve várias guerras civis apoiadas pela URSS e pelos EUA, pelo mundo fora. Por exemplo, a guerra civil de Angola, disputada durante anos e anos pelo MPLA, apoiado pela URSS e a Unita, apoiada pelos Estados Unidos. Estas guerras entre duas facções apoiadas pelas duas grandes potências sucederam-se um pouco por todo o mundo.
No Vietname, a história foi parecida mas não exactamente assim. O país foi palco da primeira e única guerra no séc. XX que os Estados Unidos perderam, facto que originou uma grave crise económica subsequente. É possível até criar um paralelismo com a actualidade: também a crise actual é desencadeada por um falhanço militar dos Estados Unidos, neste caso no Iraque. Trata-se de guerras muito caras, que quando falham acabam por arrastar a nação mais poderosa do mundo para a crise, e por conseguinte todo o planeta que dela está dependente.
Quanto ao Vietname, trata-se hoje de um território com cerca de 80 milhões de habitantes, um estado que cresce de forma expoente graças à nova economia de um comunismo do séc. XXI baseado na captação de indústria estrangeira e no turismo. De facto, o Vietname é um território que sempre foi cobiçado pelas potências europeias, desde a altura do colonialismo. Está organizado à volta de dois rios, o Vermelho e o Mecong, o que torna o seu terreno muito fértil, acompanhado de um clima tropical chuvoso que propiciam a produção e colheita de arroz duas ou três vezes por ano.
Assim, na segunda metade do século XIX, a França consegue finalmente controlar aquela zona, a da Indochina, constituída pelo Vietname, Laos, Cambodja e uma parte da Tailândia. Trata-se de uma ocupação mal vista pelos locais, que lutam até 1940 pela independência do território. Nesse ano, Hitler invade a Alemanha e a Indochina passa a ser administrada pelo Japão, aliado nazi. Em 1945, depois de perder a guerra e no seguimento de revoltas antecedentes, o Japão retira-se de vez da Indochina e Churchill pressiona os franceses a reconquistarem o território, de forma a poder contrabalançar o poder soviético na zona, já que a China e a URSS eram aliadas à altura. Porém também no Vietname há movimentos independentistas comunistas que fazem com que caso a França não regresse ao local, o território seja dominado pelos comunistas. Churchill, principal impulsionador da cruzada anti-comunista, empurra a França de novo ao local.
Em 1945 acontece a 1ª guerra do Vietname, opondo as guerrilhas vietnamitas apoiadas pela URSS (Vietmin a Norte e Vietcong a Sul) e a França. Após um sucesso francês inicial, a guerrilha consegue cercar todo o exército quando este se preparava para uma batalha crucial em que eliminariam a guerrilha de vez. O exército francês é assim cercado pela guerrilha, impedindo-o de se abastecer e tendo assim que se render. As negociações pós-guerra duram dois anos e são feitas em Genebra, sede da ONU- é acordado um cessar fogo baseado na divisao do Vietname em duas partes pelo paralelo 17 e são organizadas eleições democráticas.
O Norte e o Sul organizam eleições, nas quais o Norte elege comunistas e o Sul não-comunistas (ditadores nomeados pelos Estados Unidos). Gera-se um clima de tensões e acusações permanentes. E no âmbito da política de contenção do comunismo, os americanos envolvem-se na guerra: Kennedy em 1961 envia conselheiros militares para o Vietname e posteriormente envia armamento e mais "conselheiros". Tanto que, em 1964 os Estados Unidos declaram no Congresso oficialmente aberta a guerra contra o Vietname. Enviam 500 mil soldados para aquilo que chamam de luta pela liberdade, lema com o qual pretendem a adesão dos povos ocidentais.
Porém, a Europa não apoia a ofensiva americana: apenas a Austrália e a Coreia do Sul. Embora se refira por vezes o combate dos vietnamitas do sul contra os do norte, quem combate na realidade são os americanos contra os vietnamitas do norte. Esta facto é tornado mais que evidente na Ofensiva Teth, ocorrida no dia 30 de Janeiro de 1968: aqui, os vietcongs, do sul, preparam uma acção militar e atacam simultaneamente 105 cidades no Sul do Vietname, demonstrando que se trata de uma resistência militar maciça contra os americanos e não de uma luta interna ou de um terrorismo do norte contra o sul.
A ofensiva é de tal ordem que até a Embaixada norte-americana em Shangai é atacada. Esta ofensiva é neutralizada pelos americanos mas a partir daqui percebe-se claramente que não haverá nunca vitória no Vietname. Há-que arranjar uma solução e sair do Vietname, à semelhança do que se procura agora no Iraque. Uma solução que mantenha o orgulho americano intacto: desta forma, são iniciadas as negociações entre o norte e o sul conduzidas por Henry Kissinger.
Henry Kissinger, Prémio Nobel da Paz, foi um judeu que fugiu para os Estados Unidos e fez a sua tese de doutoramento sobre Meterlin, um general austríaco da altura pós-Napoleão. Era especialista na história diplomática do século XIX e o seu livro "Diplomacia" é uma obra de grande qualidade.
Nesta altura, Kissinger começa as negociações com os comunistas, que exigem uma retirada americana. Kissinger propôe ao presidente norte-americano uma nova ofensiva no Vietname e assim, em Dezembro de 1972, Nixon autoriza o bombardeamento de Natal, durante onze dias, deitando sobre o Vietname mais bombas do que durante toda a 2ª Guerra Mundial. São bombas de Napalm lançadas sobre cidades, incendiando casas e povoações inteiras, causando mais de 3 milhões de mortos. Por causa desta ofensiva, recomeçam as negociações e o Norte recua. Porém só apenas até os Estados Unidos abandonarem o país, porque o exército do Sul é fraco e após 30 de Abril de 1975, quando os últimos norte-americanos deixam o Vietname, o norte passa a controlar o sul e os comunistas unificam o país.
Porém, a guerra na região está longe de acabar: ao longo da guerra com o Vietname, o Laos e o Cambodja foram sucessivamente "utilizados" por ambas as forças, que não respeitam os países vizinhos ao conflito e os Estados Unidos ocupam o Cambodja. Já o Laos sofreu menos nesta altura porque não foi ocupado. Mas no Cambodja, após a retirada norte-americana, os comunistas locais tomam o poder na figura de Pol Pot, instalando um comunismo bárbaro, medieval, utópico. Por exemplo, Pol Pot não autoriza a circulação de dinheiro: tudo é trocado em géneros; as pessoas são movidas da cidade para a aldeia e o regime mata de forma cruel os dissidentes. São muitos milhões que morrem na mão da ditadura terrível de Pol Pot e do Khmer Rouge.
Os comunistas moderados do Vietname invadem o Cambodja e neutralizam Pol Pot e o Khmer Rouge, que foge para as florestas, onde ainda hoje há guerrilhas seguidoras de um dos regimes mais crueis da História. Na altura, os comunistas do Cambodja e do Vietname lutam entre si numa terrível guerra civil onde não se sabe identificar quem está contra quem. Esta guerra termina apenas em 1994, com o fim da Guerra Fria: aí reunem-se à mesa, fazem-se eleições e implementa-se a Paz, com a presença de militares japoneses da ONU que substituem os norte-americanos. O Cambodja está hoje em pleno crescimento económico.
Outra das guerras do Vietname foi contra a China, em 1978,9. Ambos os países tiveram desde sempre uma crescente tensão histórica por problemas de fronteiras. Durante a guerra com os Estados Unidos, o Vietname tem o apoio da URSS e na década de 70 está no auge a tensão entre a URSS e a China. Como tal, há também tensão entre a China e o Vietname. Este ataca a China e após uma vitória inicial, a China desce com o seu vasto exército e o Vietname perde a guerra, retirando-se e não tentando nenhuma ofensiva mais contra os chineses. Hoje terminaram as guerras entre os dois e tenta-se a Paz. Depois da queda do muro de Berlim, o Vietname passa por uma intensa modificação: continua a haver o Partido Comunista no poder mas a economia agora é democrática, permitindo uma expansão económica em larga escala.
Nesta altura, é importante falar também de Watergate. "Gate" é uma palavra inglesa que serve para denunciar um escândalo e Water o nome de um bairro: "o escândalo do bairro Water".
Em 1968, dão-se as eleições para o Parlamento dos Estados Unidos. Este é eleito metade de 2 em dois anos, alternadamente: é uma prática política que visa diminuir a corrupção e hábitos criados pelo que os políticos se vão reciclando de dois em dois anos, interpoladamente. Porém nesta eleição descobre-se um caso de espionagem política: os Republicanos no poder espiam os Democratas e a sua estratégia e isso é revelado, não causando à altura um grande escândalo. Em 1970, Nixon ganha as eleições presidenciais pelos Republicanos. É aí que dois jornalistas, Woodward e Bernstein, pegam no assunto de espiongem e tornam-se novos heróis da sociedade ao conseguirem derrubar o presidente Nixon.
Os dois publicam a história da espionagem quatro anos depois dela acontecer, numa altura em que outro partido estava interessado na história. Nixon reagiu da pior maneira, rejeitando a história e fazendo com que ela crescesse dia após dia. Tanto que começa a impedir a investigação decorrente do processo, num claro abuso de poder e prejúrio, que só teve de novo par na História dos Estados Unidos quando Bill Clinton jurou não ter tido relações com Monica Lewinsky e mentiu também ao povo americano. Aquando de Watergate, a situação aqueceu de tal forma que iam destituir o presidente e antes que isso acontecesse, Nixon demite-se. Isto, em plena saída da guerra do Vietname.
Numa altura em que os americanos se perguntava porque teriam perdido na guerra. Em termos militares poderiam ter continuado a guerra pois eram muito superiores aos vietnamitas. Porém, acontece uma alteração no interior do próprio país: a guerra custa cada vez mais dinheiro e isso começa a pesar no bolso dos americanos. Nixon tenta neutralizar esse facto fazendo com que o mundo inteiro pague a guerra, através de uma desvalorização competitiva da moeda americana. Desvalorizando o dólar, os americanos conseguem que os seus produtos sejam mais baratos e por isso mais atractivos no exterior: baixam 25% do valor à moeda para fazer face à crise. Por outro lado, optam por uma política proteccionista de aumento de taxas aduaneiras para produtos estrangeiros. O reverso da medalha é um decréscimo no poder de compra, que origina falha de produção e desemprego. A guerra do Vietname foi assim a principal causa da crise dos anos 70.
Essa crise fez-se sentir em todo o mundo, com o racionamento do petróleo e da energia. A queda económica traz problemas políticos interiores, conflitos e protestos de jovens contra a guerra, movimentos dos negros, feministas, hippies, etc. Tudo isto debilita os EUA e do outro lado a URSS está a crescer cada vez mais. Tudo cresce a favor do comunismo: o auge é quando em Portugal, no coração da Europa capitalista e da NATA, durante alguns dias, após a Revolução de Abril, os comunistas estiveram no poder, causando o pânico nos Estados Unidos, que prestam toda a atenção política ao desenrolar dos acontecimentos em Portugal.
Nesta altura os Estados Unidos perguntam-se o que hão-de fazer para neutralizar a URSS e a resposta vem mais uma vez de Kissinger. A opção foi a "política do ping-pong", ou seja, estreitar as relações com a China. Quando acaba a guerra civil naquele país, Mao proclama a República Popular da China e os Estados Unidos reconhecem apenas os nacionalistas da Ilha Formosa, que representa a China na ONU. Aconselhado por Kissinger, Nixon reconhece a República Popular da China, iniciando a política diplomática com a deslocação da equipa de ping-pong à China. Assina-se um acordo e os chineses ocupam o seu lugar no Conselho de Segurança da ONU. Trata-se de um acordo estratégico para neutralizar a URSS.
Assim, a guerra do Vietname foi uma fas guerras da Guerra Fria, onde houve milhões de mortos e onde os Estados Unidos perdem não devido à falta de poder militar mas graças à insatisfação e perda de poder económico do país. Não se percebe, no interior do país, qual é o papel dos Estados Unidos no Vietname. É a guerra da televisão, em que esta entra na vida das pessoas e mostra a guerra, ultrapassando a informação dos jornais e permitindo ver e ouvir o que se passa. As imagens são gravadas no Vietname e enviadas de avião no próprio dia, onde são vistas quase em directo e contribuem enormemente para toda a questionação da acção norte-americana.
28/10/08
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