15/10/08

HMC - Aula 6

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
4.3. Conferências dos aliados
4.4. Organização das Nações Unidas

Depois da guerra terminar, e mesmo antes, têm lugar uma série de reuniões com vista a organizar o mundo depois do conflito. A primeira dá-se entre Franklin Roosevelt e Winston Churchill, em Agosto de 1941, a bordo de um navio de guerra no meio do Atlântico. Numa altura em que Hitler bombardeava Inglaterra e os EUA ainda não tinham entrado no conflito, a reunião serviu para discutir como ficaria o mundo depois da guerra e para a assinatura da "Carta do Atlântico", onde ambos reiteram o Liberalismo e afirmam não ter desejos expansionistas.

A segunda reunião dá-se em Janeiro de 1942, nos EUA, e dela fazem parte 24 países que declararam guerra à Alemanha e à Itália, incluindo a União Soviética. Desta reunião sai um documento chamado "Declaração das Nações Unidas contra o Nazismo e Fascismo". Antes do fim da guerra, há mais uma reunião, em 1943 entre os Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Soviética, EUA, Reino Unido e China onde são tomadas várias decisões.

Todas estas reuniões para demonstrar que a partir do momento que começa a guerra, começam também as negociações.

Da II Guerra Mundial, saem vitoriosos a URSS, os EUA e o Reino Unido, cada um com a sua figura de proa. O primeiro é Winston Churchill, primeiro-ministro britânico. Churchill provém de uma família nobre inglesa, é um lorde britânico com educação na marinha real que depois vem para o Reino Unido e se torna jornalista. Churchill parte depois para África, para lutar na guerra dos Boers, que opôe o Reino Unido à Holanda por questões relacionadas com as colónias. Aí, foi preso pelos Boers e relatou o que se passou na prisão, tornando-se famoso em Inglaterra. Entra na política, é eleito deputado e nomeado chefe da marinha britânica. Churchill participa depois na I Guerra Mundial, dirigindo a marinha britânica contra os turcos, numa batalha em que os britânicos foram dizimados pelos turcos, perdendo mais de 20.000 soldados.

No seguimento desta vergonhosa derrota, Churchill demite-se e faz-se voluntário para combater em Flandres, na lama, como forma de se redimir do seu erro. Recupera assim algum prestígio entre os britânicos e regressa à política, entrando agora no Partido Conservador e sempre com posições à Direita. Churchill pode ser considerado um visionário no que respeita à II Guerra Mundial, na medida em que sempre alertou os britânicos para esta e se opunha à política de apaziguamento de Chamberlain.

Por conseguinte, Churchill é eleito para formar gabinete e ser primeiro-ministro no governo de unidade nacional decorrente da guerra. Porém, uma vez terminada a guerra, Churchill organiza de novo eleições, em 1945 mas perde para os Trabalhistas, que organizam o governo pós-guerra no Reino Unido. Governo esse que não corre bem e como tal os britânicos elegem Churchill em 1951 para que em 1955 ele se demita, já com 80 anos de idade. Churchill foi Prémio Nobel da Literatura em 1953 com o seu livro "Memórias da Segunda Guerra Mundial", onde num discurso acessível e jornalístico, relata as suas vivências de guerra.

A segunda figura que sai vitoriosa da II Guerra Mundial é Franklin Roosevelt, presidente norte-americano, que não chega a viver para ver o sucesso dos aliados no conflito pois morre em Abril de 1945. Roosevelt foi o único presidente americano eleito quatro vezes e é um intelectual que estudou em Harvard. Em 1932, vence a sua primeira eleição oferecendo um programa de recuperação dos EUA após a Grande Depressão. A sua receita era o "new deal": adopção de medidas socialistas de investimento público, crédito pedido em nome dos cidadãos para fazer grandes obras públicas. Com essas obras, Roosevelt conseguiu empregar muitos trabalhadores e por conseguinte aumentar a procura e a necessidade de produção. Os EUA saem, assim, da crise.
Em 1936 é reeleito por mais quatro anos e em 1940, com a aproximação da guerra, os americanos questionam-se mas não hesitam em atribuir-lhe, pela primeira vez na sua História, um terceiro mandado. E em 1944 já ninguém questionou quando Roosevelt se candidata de novo a um quarto mandato e continua a conduzir os EUA até ao fim da guerra e da sua própria vida.

Após a sua morte, os EUA introduziram uma emenda na Constituição que limita a presidência do país a dois mandatos de quatro anos. Este facto é positivo na medida em que há uma renovação mas negativo pois o segundo mandato, os últimos quatro anos, são já "coxos", ou seja, a decisão do presidente é já pouco valorada e apenas se espera pelo seu substituto.

A terceira figura vencedora da guerra, líder na URSS, é Josef Stalin, que nasceu na Geórgia e frequentou o seminário para se tornar padre, muito por causa das precárias condições económicas e sociais da sua família. Desistiu do seminário e saíu em apoio de Lenine e da Revolução Bolchevique, tendo sucedido a Lenine em 1928 como Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética, após uma sangrenta e conflituosa luta pela sucessão.

Durante a II Guerra, Stalin nunca foi chefe de governo nem presidente de Estado: teve alguns cargos militares mas actuou sempre como secretário geral do Partido Comunista. Instalou na URSS uma revolução burocrática, uma ditadura política do Partido Comunista, juntamente com um culto de adoração à sua figura, à medida dos grandes líderes totalitários. Stalin eliminou todos os seus oponentes, todos os que tinham uma visão diferente da sua, mandando-os para a Sibéria e livrando-se assim da sua influência. Um destes generais afastados é uma das grandes figuras do socialismo, Trotsky.

Este afastamento dizia respeito não só a altos cargos do exército como também a dissidentes do próprio exército, que era organizado por Trotsky, e a camponeses. Os camponeses incluem-se neste grupo na medida em que a nacionalização das terras por vezes contava com alguma oposição dos seus proprietários: estes eram enviados para a Sibéria, para aldeias onde estavam numa "prisão a campo aberto": podiam sair dessa aldeia quando quisessem mas o frio e as condições adversas tornavam essa fuga impossível. Não se tratavam, por isso, de campos de concentração, como na Alemanha ou nos EUA, mas antes de um castigo a viver isolado.

Neste sentido, são muitas as versões sobre os mortos de Stalin: embora se falasse de 15 ou 7 milhões, a verdade é que quando Ieltsin abriu os arquivos do Kremlin ao Ocidente, os mortos causados pelas políticas de Stalin não excedem os 3 milhões. Uma só morte que fosse tornaria Stalin um homicida mas os números reais estão bem distantes da propaganda ocidental. Seja como for, Stalin e a URSS foram decisivos na vitória dos Aliados na Europa e são um dos vencedores da guerra.

Assim, os três decidem o futuro do mundo depois de terminar a II Guerra Mundial. Churchill é mais tradicional, baseado em costumes conservadores e por isso quer restabelecer relações anteriores e equilíbrios pré-guerra. Dessa forma, apoia Charles de Gaulle de forma a que a França também se restabeleça na Europa e para que conjuntamente com o Reino Unido a controlem. Por outro lado, Churchill quer travar a expansão soviética, não lhes permitindo que entrem na Europa Ocidental. Churchill quer então travar o comunismo e restabelecer o equilíbrio anterior à guerra.

Já Stalin tem como grande objectivo recuperar o território perdido na I Guerra Mundial e controlar o chamado "corredor sanitário". Este era um grupo de países que serviam de tampão à expansão soviética pois estavam controlados por forças ocidentais com esse mesmo objectivo. Eram eles a Polónia, Checoslováquia, Roménia, Hungria e Bulgária. Stalin instala o exército soviético nesses países, impondo aí governos comunistas. Tem assim como principais objectivos no pós-guerra a expansão comunista e a recuperação do império russo.

Roosevelt quer recuperar o idealismo de Wilson, criando um novo mundo governado pela lei. Parte dele a ideia de escrever uma nova constituição para o mundo, que passa a chamar-se "Carta das Nações Unidas". Deste documento constam leis básicas implementadas por uma instituição muito mais firme e actuante do que a Sociedade das Nações, a ONU, Organização das Nações Unidas.

Para a decisão do que iria ser o mundo pós-guerra, três conferências são essenciais. Em primeiro lugar, a Conferência de Teerão, entre 28 Novembro e 1 Dezembro de 1943, onde Stalin pede a abertura da frente ocidental para derrotar os nazis e Roosevelt fala da ONU. Escolheu-se Teerão por ser uma cidade onde os aviões não chegariam e também por ser um local com um clima agradável, de forma a que Roosevelt, cuja saúde era já débil, não decaísse.

A outra conferência decorreu entre 4 e 11 de Fevereiro de 1945 em Ialta, na Crimeia, na URSS. Aqui nunca se saberá ao certo o que aconteceu: consta-se que Stalin e Churchill combinaram zonas de influência, estabelecendo um mapa do mundo pós-guerra. Churchill negou a existência destas divisões mas consta-se que escreveu informalmente num guardanapo, durante a refeição, o destino dos vários países, dividindo-os entre ocidente e URSS. Consta-se também que Stalin nunca respondeu afirmativamente a essa divisão mas que sorriu, concordando. Assinou-se nesta conferência a Declaração sobre a Europa Libertada.

Nessa declaração, decide-se que os países libertados dos nazis e fascistas vão fazer eleições livres e escolher qual o regime que querem ter. O que aconteceu foi que de facto houve eleições mas quem ganhou em cada país foi a côr respectiva do exército que lá estava na altura. O caso mais flagrante é o da Europa de Leste: em todos os estados estava estacionado o exército vermelho, à excepção de um, a Grécia. Em todos os estados ganhou o Partido Comunista, à excepção da Grécia.

Assim, os três saem satisfeitos da conferência de Ialta: Roosevelt com a ONU, Stalin com as zonas de influência e apenas Churchill, embora satisfeito, crê que Roosevelt se está a deixar levar por Stalin e a sua perfídia.

Por fim, e já sem Churchill que não foi eleito nem Roosevelt que faleceu, tem lugar a Conferência de Potsdam, entre 17 Julho e 2 Agosto de 1945, onde é discutido o que fazer com a Alemanha que surge depois da guerra. Este país é então dividido em quatro esferas de influência: a leste a soviética, a norte a americana, ao centro o Reino Unido e ao sul a França. Berlim, embora situada no coração da zona de influência soviética, é também dividida em quatro zonas de ocupação. É nesta conferência que é criado o Tribunal de Nurenberga, para julgar os crimes nazis e é também apenas nesta altura que a URSS declara guerra ao Japão. Nesta altura, o Japão encontrava-se já fragilizado e foi fácil aos soviéticos conquistarem algumas ilhas e penínsulas do extremo oriente, territórios que ainda hoje continuam sob disputa.

Entre Abril e Julho, 40 países aliados contra o nazismo e o fascismo juntam-se em São Francisco para adoptar a Carta das Nações Unidas, um documento com 111 artigos. A 24 de Outubro a Carta é aprovada e com ela é aprovada a institucionalização da ONU. É este o dia de nascimento da organização que nasce com o objectivo principal de preservar a Paz, sendo que para isso é preciso assegurar também a prosperidade económica. Para isso, é preciso a cooperação conjunta de todos os estados envolvidos.

A ONU é considerada a estrutura, Parlamento do mundo, Assembleia Geral de todos os povos onde todos os estados têm um voto e têm o mesmo valor para efeitos de votação. Porém, a Assembleia Geral da ONU apenas discute, vota e aprova uma recomendação sem qualquer carácter vinculativo. O Conselho de Segurança da ONU é a instituição que deve preservar a Paz como princípio aristocrático. É constituído por 15 estados, sendo 5 estados permanentes, precisamente aqueles que saíram vencedores da guerra: EUA, Rússia, China, França e Reino Unido. Qualquer um destes tem o poder de veto pelo que nenhuma decisão pode ser tomada sem o acordo destes cinco estados. Durante a Guerra Fria, o Conselho de Segurança quase não existiu, uma vez que a URSS vetava tudo o que provinha dos EUA e vice-versa. Aquando da China maoísta, este país era representado apenas pela pequena e insignificante península de Taiwan, facto que só se alterou com a abertura da China ao capitalismo.

O Conselho Económico e Social da ONU é constituído por 54 estados membros e preocupa-se com a cooperação, o comércio e o progresso, de forma a manter a Paz: para haver Paz tem que se eliminar o conflito, que tem a maior parte das vezes uma causa económica e como tal deve-se eliminar a pobreza. Pode-se dizer que este conselho tem muito pouco sucesso, uma vez que a meta traçada para os países ricos doarem 1% do seu PIB aos países pobres nunca foi cumprida.

O Conselho de Tutela da ONU faz a gestão de recém-estados que ainda não têm condições de formar governo, como por exemplo o caso de Timor. Quanto ao Conselho dos Direitos do Homem, discute sobre a situação dos direitos humanos no mundo, tendo sido, nestes últimos anos, os EUA o país mais discutido devido à situação de Guantanamo.

A ONU tem um Secretário Geral, chefe dos burocratas e que se tem vindo a tornar cada vez mais um cargo político de maior importância no mundo, com um mandato de cinco anos com possibilidade de uma renovação. Apenas Boutros Gali, por se opor à intenção bélica dos EUA na ex-Jugoslávia, não foi reconduzido ao segundo mandato, tendo sido substituído pelo pro-americano Kofhi Anan que apenas foi afastado quando se descobriu que o seu filho desviava dinheiro dos fundos de ajuda humanitária da ONU. Entre outros secretários gerais, Kurt Weildheim, um austríaco que após os seus dois mandatos se veio a descobrir que esteve ao lado de Hitler no exército nazi e o actual, o coreano Ban Ki-Moon.

Polémicas à parte, a ONU tem cerca de 50 instituições e organizações associadas, ligadas ao trabalho, aviação civil, comércio, património, crianças, finanças, etc. Entre elas a UNESCO, UNICEF e o Tribunal Internacional de Haia. Este tribunal julga apenas estados que aceitem e reconheçam a soberania deste tribunal. Tem no entanto pouca influência uma vez que um estado, como a Indonésia em relação a Timor, pode alegar que se trata de um conflito interno e por isso fora da alçada da ONU.

Em 2000 institui-se o Tribunal Internacional Penal, que visa castigar o crime e julgar as pessoas individualmente. Os EUA não fazem parte deste tribunal e neste sentido, os países seus aliados, entre os quais Portugal, assinaram uma declaração formal de que nunca perseguirão qualquer americano neste tribunal. Trata-se de um organismo que começa com algumas deficiências e que serão precisos vários anos para que funcione na sua plenitude.

Para além destes tribunais internacionais, há também o Tribunal de Justiça da UE e o Tribunal Europeu dos Direitos dos Homens, em Estrasburgo. Aqui, qualquer cidadão de qualquer país estado-membro tem acesso ao tribunal e é o único que aceita uma causa individual contra qualquer um dos estados membros.

Voltando ao final da II Guerra Mundial, todos juram nunca mais quererem guerra e para a manutenção da Paz mundial formam a Organização das Nações Unidas e as suas dependências.

Sem comentários: