SECÇÃO 2: TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO DE UM CORPUS DE PESQUISA
1. Técnicas de entrevista (individuais e de grupo)
2. Observação participante
3. Inquérito por questionário
Como resumo, podemos dizer que as ciências sociais demarcam-se de alguns conhecimentos, como o senso comum, por exemplo. Trabalham com técnicas, métodos e teorias: ferramentas com diferentes papeis em todo o processo. As teorias disponíveis servem de apoio à formulação de hipóteses e permitem clarificar a investigação. Juntamente com o pensamento imaginativo sobre algo mais do que o que já sabemos, organizamos hipóteses. Estas são construídas para que a partir do problema possamos procurar algo mais do que já sabemos. Procuramos um sentido social, sentidos novos através de hipóteses ricas e pertinentes: uma posição científica deve ser refutável e não ter tido já refutação. Se já foram refutadas, as proposições científicas não servem: é aqui que se dá a ruptura para a verificação.
Através da ruptura com o senso comum, apoiamo-nos em teorias e formulamos hipóteses, rompendo com as teorias existentes. Iniciamos então a pesquisa empírica utilizando o método, com forte utilização das técnicas, estabelecido pela metodologia, ou seja, a estratégia de investigação.
No que respeita aos métodos, estes dividem-se pelos métodos experimentais, qualitativos e quantitativos. Os métodos experimentais contemplam contextos de observação controlada, artificiais ou quase artificiais e são pouco usados em ciências sociais. Por exemplo, grupos em sociologia para se analisar os líderes de determinado contexto consoante um conjunto de variáveis. Trata-se de indivíduos com planos de acção muito claros em contextos específicos. Porém, não sabemos nunca o que fica de fora do nosso controlo. As experiências de laboratório em Ciências Sociais em que as pessoas são escolhidas são muito mais complexas: os comportamentos e a reflexividade dos indivíduos alteram-se consoante o contexto. São, de facto, experiências muito complicadas mas onde podemos pensar do ponto de vista epistemológico, vendo que qualquer entrevista é experimental, uma vez que foge do quotidiano normal do entrevistado.
Em relação aos métodos quantitativos, estes procuram causas, são mais gerais e permitem encontrar grandes regularidades objectivas que estão para lá da observação directa. Procuram explicar fenómenos, trabalhando com populações grandes para encontrar padrões e assim trabalhá-los estatisticamente. Um inquérito, o veículo mais utilizado nos métodos quantitativos, têm um guião rígido que não se pode alterar e como tal o inquérito é entregue a alguém que o administra e que pode perfeitamente estar de fora da investigação: o inquérito é imutável, rígido.
Já os métodos qualitativos, trabalham com a compreensão, o sentido e por isso em pequenos contextos que são controláveis pelo próprio investigador. São populações muito pequenas, capazes de serem controladas e onde não há delegação. A procura de sentido faz com que as técnicas não sejam usadas de forma definida logo à partida: podemos usar inquéritos ou não, entrevistas ou não. No estudo em profundidade, não temos a mesma rigidez técnica dos métodos quantitativos. Nos métodos qualitativos, quero saber porquê e como os estudantes fazem as suas escolhas e não apenas quantos fazem determinada escolha. Podem utilizar-se perguntas abertas, quando não sei que respostas devo pôr ou quando procuro, de facto, um novo discurso. As perguntas abertas podem depois ser tratadas do ponto de vista qualitativo ou quantitativo ou ambos.
Pelo método quantitativo, pretendo agrupar e comparar, obtendo apenas grandes regularidades: embora o inquérito possa conter questões mais finas, chego pouco ao profundo das questões. Isto também porque embora o inquérito possa ser anónimo, sentimos sempre desconforto perante a hipótese de ver as nossas respostas lidas. O inquérito é superficial mas depois o investigador aprofunda, na sua análise. Como as desvantagens dum são as vantagens doutro, o melhor é utilizar os dois métodos: inquérito e entrevista.
No que respeita às técnicas de observação, estas podem ser directas ou indirectas/ deferidas. A observação directa pode ser participante, quando o investigador entra no grupo e vive como as pessoas desse grupo ("Street Corner Society" p.e.); semi-participante, onde a participação é difícil de definir mas onde a distância é mantida, embora seja o resultado de uma situação em que mesmo inconscientemente o investigador intervém- o contacto poderá ser feito, por exemplo, no chamado "contexto de corredor"; e não participante ou sistemática em que se faz a observação directa, por exemplo, de um evento mas não participo dele: ouço, vejo, registo sem fazer perguntas uma vez que as perguntas por si só interferem. Como exemplo da observação não participante, o público num cinema.
A problemática do distanciamento e envolvimento prende-se intimamente com os estudos de caso, ou seja, as análises qualitativas. Posso-me "apaixonar" pelo documento que estudo, seja um filme, um texto ou uma pessoa e corro o risco de não me distanciar o suficiente do objecto: tenho, por isso que gerir o envolvimento e o distanciamento da melhor forma. Trata-se da "arte de bem perguntar", segundo Virgínia Ferreira ou da "arte de obter respostas sem fazer perguntas", segundo Firmino Costa.
No que respeita às entrevistas, estas podem ser estruturadas, semi-estruturadas e não estruturadas. Podem ser ainda indivíduais ou de grupo (focus group). Quanto às técnicas documentais, pode recorrer-se à amostragem, estatística e análise de conteúdos. Esta última a nível do discurso escrito e oral e da narrativa (oral, visual, imagética ou gestual.
Relativamente às técnicas, pode haver diferentes interpretações: as técnicas documentais são relativamente transversais aos métodos, dependendo apenas uma maior ou menor estruturação dessas técnicas. O inquérito é a mais estruturada das entrevistas. Porém, o tipo ideal de entrevistas não estruturadas é quando não há perguntas (p.e. entrevistas clínicas psicanalíticas). Normalmente, em investigação usamos um misto entre estruturada e não estruturada. A entrevista não é tão rígida comoo questionário e é feita sempre por um entrevistador qualificado, ao passo que o inquérito pode ser realizado por qualquer pessoa que reuna as condições mínimas (saber ler, compreender a amostra, ter boa apresentação).
As entrevistas semi e não estruturadas são entrevistas em profundidade: vou querer conhecer algo a partir do meu entrevistado, quero que ele me mostre mais do que aquilo que diz à partida. Assim, as análises qualitativas levam-me a descobrir um sentido pela singularidade, enquanto as quantitativas pretendem chegar a informação que permita fazer uma análise estatística.
Relativamente à amostra, além daquelas que vimos existe a amostra por painel e o focus group. A amostra por painel trata-se da construção de uma amostra probabilística que se mantem por observação repetida. Por exemplo, selecciona-se dez pessoas e em dois momentos administra-se o mesmo inquérito. A audiometria, por exemplo, constitui um exemplo de amostragem por painel, neste caso de famílias.
O focus group pode ser homo ou heterogéneo. Fazemos uma entrevista mais estruturada ou menos a um grupo seleccionado para o efeito, como por exemplo os quadros de topo de uma empresa. Tentamos apanhar regularidades cuja manifestação seja transversal aos indivíduos. O grupo pode ser homogeneizado pelo grupo de pertença para tentar obter respostas sobre algo de forma a que as respostas sejam representativas sobre o assunto.
Por fim, damos uma codificação, no método estatístico, às categorias, que é numérica nos métodos quantitativos e uma palavra nos qualitativos. Transformamos assim toda a informação em números, organizando desta forma as diversas variáveis.
23/10/08
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